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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Música 2023 #4: Ainda sobre feels

Finalmente, a última parte do balanço musical de 2023. Chegámos à secção das miscelâneas, das músicas soltas que se mantiveram na minha rotação ao longo do ano.

 

 

Uma delas, mais no início do ano, foi The Thing That Wrecks You, um dueto entre Bryan Adams e a cantora canadiana Tenille Townes. Não tenho muito a dizer sobre ela, é linda. 

 

Outra marcante foi Don’t Take the Money, do projeto Bleachers de Jack Antonoff – com Lorde contribuindo com vocais de apoio, embora não seja creditada. Existe uma versão acústica, da MTV Unplugged, em que Lorde canta mais, é um dueto como deve ser. 

 

Foi a minha irmã quem me mostrou a música. É muito gira. 

 

Outra música que comecei a ouvir mais ou menos na mesma altura foi Dreams, dos Cranberries – depois de os Paramore a terem tocado durante um dos seus concertos na Irlanda. É uma canção de amor, é fofinha – e vocês sabem que não resisto a uma boa música pop rock cantada por uma mulher. Andei viciada nela por uns tempos. 

 

Um grupo que me cativou forte este ano – e que descobri através da família HT – foi a dupla GNTK. Ainda ando a explorar a música deles, mas já houveram dois temas suficientemente marcantes para serem referidos aqui. Por sinal, são ambos duetos. 

 

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O primeiro é Raízes, uma parceria com Jéssica Cipriano. Estou chocada por esta música não ser mais conhecida. É das melhores músicas portuguesas que ouvi. 

 

A letra para começar é excelente: daquelas que nos dão vontade de ligar aos avós. A sonoridade é muito única: uma mistura de hip-hop moderno com guitarras portuguesas. Já de si fantástica. Mas existe uma versão ao vivo em que arranjaram maneira de enfiar guitarras elétricas na música, incluindo um solo. Ficou brutal.

 

Uma das melhores partes é o refrão, na voz fabulosa de Jéssica Cipriano. Voz de fadista e muito mais. Até a minha mãe ficou rendida quando ouviu a música. Existe também uma versão a solo, gravada durante o podcast Canta-me uma História de David Antunes, também excelente. 

 

Existem várias outras versões “gravadas” pela Jéssica durante esse podcast. Um dos mais célebres é de O Pastor, dos Madredeus. Também gravou um de Underneath Your Clothes, da Shakira. E também gravou um, fantástico, de In the End. Em janeiro, fui com a família HT mais próxima assistir ao Canta-me Uma História ao vivo, em Santarém. Como éramos nós, “obrigámos” Jéssica a cantar In the End. Mais tarde descobrimos que a Jéssica ficara aflita naquele momento, receava não estar à altura do desafio.

 

Não sei porquê, sinceramente. Ela arrasou. 

 

Pena a Jéssica ainda não ter música inédita em nome próprio, tirando colaborações como esta com os GNTK. Dizem-me que ela estará a tratar disso. Fico à espera – para ouvir e, depois, mostrar a toda a gente.

 

 

Regressando aos GNTK, a segunda música deles que me marcou foi Diamante, a colaboração com N Fly. Esta canção tem uma sonoridade mais familiar – pelo menos em relação à ideia que tenho da música pop portuguesa atual – mas agradável à mesma, cativante.

 

Aquilo que me cativou a sério, no entanto, foi a letra. A mensagem principal é que tanto alegrias como tristezas (talvez mesmo mais) fazem parte da vida, da natureza humana, tornam-nos mais fortes (“Um dia a sorrir, outro dia a chorar faz de mim um diamante”). Num ano de muitos feels, como já referi antes, não é de surpreender que esta letra me tenha tocado. 

 

Também já escrevi antes que não me sinto muito confortável com tristeza e outros sentimentos mais negativos – e como me senti triste ou ansiosa muitas vezes este ano, tive de aprender a lidar com isso. Ainda estou a aprender – “dá-me capacidade p’ra decifrar que quando chove nem sempre é tempestade”

 

Diamante reza mesmo que “é quando os olhos choram que mais brilham”. Soa um bocadinho a frase inspiradora do Facebook, mas percebo o sentido e vale a pena falar sobre ela. Já começa a entrar em território de romantização de tristeza. Este tem sido um tema recorrente cá no estaminé, sobretudo a propósito de Crave, dos Paramore. Mas também me pergunto se será sempre assim tão saudável. 

 

Por um lado, é perfeitamente válido ser-se otimista. Nem acho que seja mera ingenuidade. Muitas vezes, como reza Diamante, “se há portas que fecham, outras se abrirão”. Ou, como reza Bryan Adams, um otimista por natureza (como vimos antes), em Never Gonna Rain, “If there’s a heart that’s been broken, a love that’s been thrown away, it’s gonna be somebody’s treasure, someone else’s happy day”. Às vezes, coisas más dão oportunidades para coisas boas acontecerem. Podia dar exemplos disso ocorrendo na minha vida, mas nesta altura vocês já estão fartos de me ler falando sobre isso.

 

Mesmo quando isso não acontece… a tristeza é inevitável. Mais vale tentarmos tirar algum sentido disso, tirar lições, mesmo tirar alguma beleza. É o que poetas, músicas e outros artistas têm feito desde tempos imemoriais. Além disso, é da tristeza que nasce a empatia. E, conforme aprendemos com Inside Out e, uma vez mais, com o final da primeira temporada de Ted Lasso, quando lidamos com a tristeza de uma forma saudável, esta tem o potencial para nos aproximar de outras pessoas. 

 

 

@gntk_official

Porque é quando os olhos choram que mais brilham…

♬ Diamante N Fly and GNTK - GNTK

 

A questão é mesmo essa, no entanto: quando lidamos de forma saudável. Existem maneiras boas e maneiras destrutivas. Em teoria somos nós a escolher a forma como lidamos. Na prática não sei se é sempre assim. Depende de muitos fatores, cada caso é um caso.

 

E muitas vezes, há que dizê-lo, as coisas más são apenas isso. Às vezes não significam nada, não ensinam nada, não têm lado positivo. São apenas coisas que não deviam ter acontecido. Nestas alturas, há que ter compaixão com os demais e connosco mesmo.

 

É sempre bom quando músicas convidam à introspecção desta forma. Grata a Diamante por isso. Existem mais temas dos GNTK de que gosto – por exemplo, Voltas à Cabeça (quase parece uma música dos Linkin Park, misturando rock, rap e discos giratórios), Perdoa (João Correia faz sobretudo rap mas também sabe cantar, tem boa voz) e, agora mais recentemente, Amor Eterno – mas ainda preciso de passar mais tempo com elas. Vou continuar a acompanhar o trabalho desta dupla. Talvez torne a escrever sobre músicas deles cá no blogue no futuro.

 

Ainda dentro do tema dos feels, temos outra das minhas canções preferidas em 2023: What Was I Made For, de Billie Eilish, composta e gravada para o filme da Barbie (spoilers nos parágrafos abaixo). 

 

Toda a gente se lembra do fenómeno Barbenheimer no verão passado. Gostei tanto como qualquer um – a grande vantagem foi ter motivado as pessoas a irem ao cinema, nesta era pós-pandemia. Da mesma forma, gostei do filme da Barbie q.b. A parte do feminismo não me impressionou por aí além. À semelhança de muitos, achei-o básico. Ao mesmo tempo, como dizem aqui, reconheço que foi suficiente para ser banido em vários países. Ou seja, um feminismo superficial mas ainda incómodo.

 

O que, na verdade, é triste.

 

Em todo o caso, a parte humanista, existencialista, do filme foi a que mais me tocou. A protagonista sentindo emoções pela primeira vez e tendo dificuldades em lidar com isso.

 

 

A minha cena preferida em todo o filme foi a da estação de autocarros, mostrada acima. Barbie tentando ligar-se à mente da sua dona, acabando por observar várias cenas da vida humana em seu redor e as emoções associadas a elas. Reparando numa senhora de idade sentada a seu lado e achando-a linda. Fez-me pensar em mim mesma que, como tenho comentado imensas vezes, passei 2023 sentindo tudo e mais alguma coisa.

 

Ainda acontece, na verdade. Continuo a ter fases em que passo por todas as emoções do espectro em poucas horas e chegou ao fim do dia exausta. Não sei o que se passa. Foi algo dentro de mim que se quebrou no ano passado, tornando-me mais sensível a tudo? Ou eu é que sempre fui assim, apenas tenho mais consciência do que sinto?

 

Não sei. Só sei que não é fácil. Às vezes canso de me aturar a mim mesma.

 

Por outro lado, o momento com a senhora de idade também me recorda aquilo que escrevi neste infame texto sobre ver os membros restantes dos Linkin Park envelhecendo. 

 

É possível que a intenção desta última cena seja passar uma mensagem feminista. Talvez não seja “correto” da minha parte pensar em homens envelhecendo – até porque, regra geral, a sociedade lida melhor com o envelhecimento masculino. Mas, lá está, prefiro olhar para o ângulo humanista. Afinal de contas, tal como as emoções, a criatividade, o conflito, a mortalidade, as imperfeições em geral, envelhecer é humano, faz parte da vida. Daí Barbie, que (ainda) não é humana, sentir-se tão fascinada com a senhora.

 

E, no fim, Barbie escolhe precisamente ser humana, com todas as suas emoções, contradições e mortalidade. Tal como, agora que penso nisso, Ulisses no conto “A Perfeição”, de Eça de Queiroz. Vale a pena lê-lo. 

 

Dava um bom clickbait: semelhanças entre Eça de Queiroz e o filme da Barbie. 

 

 

What Was I Made For reflete, então, esse conflito. A narradora reclamando a sua humanidade, tentando adaptar-se a ela. Billie disse que, inicialmente, escreveu a letra pensando apenas na Barbie. Só depois percebeu que escrevera também sobre ela mesma. 

 

A narradora de What Was I Made For apercebe-se que os demais não a veem como humana e sim como um objeto, um símbolo em que projetam aquilo que bem entendem. A Barbie é uma boneca, um ícone – como toda a gente sabe, como o próprio filme explora. Ao mesmo tempo, Billie é um ser humano, sim, mas também é a Billie Eilish: uma estrela pop, um ícone, um produto para ser comercializado.

 

Também não surpreende que Billie tenha, inconscientemente, vertido parte de si quando a letra fala de emoções. Ela nunca escondeu o seu histórico com depressão – “When did it end? All the enjoyment”. Eu identifico-me com os versos “I’m sad again, don’t tell my boyfriend” – não querer sobrecarregar os demais, entes queridos incluídos, com as nossas tretas, deixá-los pensar que está tudo bem. Também “I think I forgot how to be happy” – acontece-me de vez em quando, demasiadas vezes, estarem a acontecer coisas boas e eu estou demasiado presa à minha cabeça para disfrutar.

 

A música termina numa nota de esperança, no entanto. A narradora apercebendo-se que poderá obter as respostas que procura. Que pode ser ela a decidir para que foi feita.

 

É uma música linda que merece toda a aclamação que tem recebido. Espero que Billie lance mais música nova a médio prazo.

 

Queria agora falar de mais música que conheci através dos Hybrid Theory – direta ou indiretamente. A sequência Du Hast, dos Rammstein, Last Resort, dos Papa Roach, e Rollin’, dos Limp Biskit, que a banda põe a tocar antes do início de cada concerto. Tola como sou, só me apercebi que eram estas três com o concerto de Gondomar – e mesmo assim só consegui confirmar a ordem no último concerto deles a que fui, em Amiais de Baixo. 

 

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Ainda assim, lembro-me de ouvir pelo menos Rollin’ no ano passado, antes do concerto no Pavilhão Atlântico. Pensei, não sei se não comentei mesmo com a minha irmã:

 

– Pois… é a mesma geração. É a minha geração.

 

Vou ser sincera, até gosto destas músicas, mas não diria que estão entre as minhas preferidas. Estão cá mais pelo sentimentalismo, pela reação pavloviana de início de concerto dos Hybrid Theory. Nem sequer sei se eles as mantiveram como introdução agora, com o novo alinhamento (estou a tentar evitar spoilers até ao meu próximo concerto deles, em Grândola... não está fácil). Não importa, ficam nesta cápsula de 2023. As novas, se houverem, ficam na de 2024.

 

Ainda em relação aos Papa Roach, esta é uma banda que tenho ouvido muito nos últimos três meses, mais coisa menos coisa, precisamente por sugestão de gente da família HT. Tenho gostado muito – a minha preferida neste momento é Scars – mas, como só comecei a ouvir perto do final do ano, já não conta para 2023. Talvez escreva sobre eles no balanço de 2024.

 

Ainda assim, comecei ouvir Leave a Light On antes, mais ou menos na altura em que foi lançada como single. Já não me lembro ao certo como é que descobri a música. Sei que foi através de um reel do Instagram – não me lembro se foi alguém da família HT a partilhá-lo, se foi o próprio Ivo, o vocalista, numa story. Mas definitivamente falámos sobre a banda no Messenger ou num grupo de WhatsApp.

 

 

Em todo o caso, como os próprios Papa Roach assinalaram aqui, acaba por ser uma sequela à já referida Last Resort (cujo narrador se debate com ideação suicida). Leave a Light On é uma mão estendida a alguém passando por essas dificuldades. De tal forma que, em outubro passado, a banda lançou-a como single, com os lucros revertendo para a campanha Talk Away the Dark, da Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio. Chegou mesmo a ser dedicada a Chester Bennington – até porque ele e o vocalista Jacoby Shaddix eram amigos e passaram por dificuldades semelhantes. 

 

É uma música linda. Gosto imenso da voz de Jacoby.

 

Na mesma linha, temos A Reason to Fight, dos Disturbed. Com uma mensagem semelhante e igualmente bonita. Também fiquei a conhecê-la através da família HT. E os Disturbed merecem a referência, depois de momentos como este e este.

 

Agora queria falar de uma música com um tom semelhante a estas, ainda que o tema seja ligeiramente diferente. One More Time dos Blink 182.

 

Mesmo sem nenhum contexto, só com a música em si, esta é de partir o coração – para depois repará-lo de novo. Sobre amizades que se desfizeram e se recompuseram após uns quantos sustos. “I know next time ain’t always gonna happen, I gotta say I love you while we’re here”. Quase nem é preciso referir que a letra foi inspirada pelo regresso dos Blink 182 como banda após anos de separação. Após a luta de Mark Hoppus contra um cancro – felizmente venceu. 

 

Note-se que temos os três membros da banda cantando à vez.

 

 

Outra música linda. Para além da beleza da letra, a instrumentação e produção simples estão perfeitas. Para mim One More Time é uma irmã de I Miss You, uma música dos Blink a que me afeiçoei na última meia dúzia de anos. 

 

Há uns tempos, a propósito de Already Over, Mike Shinoda deu uma entrevista que incluiu uma secção de perguntas e respostas rápidas. Perguntaram-lhe que música ele gostaria de ter composto. Mike respondeu precisamente com One More Time. Como eram respostas rápidas, ele não elaborou muito mas, para além de elogiar a composição e a gravação, Mike assinalou o seu impacto, o seu “lugar no mundo”. 

 

Pensemos nisto por um minuto.

 

Pois. Ainda bem que esta música não saiu uns meses antes. Teria dado cabo de mim. Mesmo agora, se for um dia errado…

 

Avancemos. Já que falamos sobre o Mike, outras músicas marcantes em 2023 foram as que ele lançou a solo: In My Head e Already Over. Desde que escrevi sobre a segunda, Mike lançou um EP no início de dezembro, intitulado The Crimson Chapter – esclarecendo aquilo que ele tinha referido acerca de “capítulos”.

 

Vou ser sincera, tirando a Already Over propriamente dita e In My Head, a única faixa de que verdadeiramente gosto é da introdução. O remix Fort Minor não é mau, admito. De qualquer forma, é admirável a maneira como Mike consegue pegar num conceito, numa ideia para uma música, e executá-la de tantas maneiras diferentes. 

 

Ele é dos músicos mais talentosos e criativos da nossa geração. Ninguém me pode dissuadir disso.

 

Por outro lado, não gosto da nova versão de fine. A original é perfeita!  Havia necessidade de andar a mexer?

 

 

Tenho também visto e ouvido as sessões que ele tem feito em diferentes países. No entanto, nenhuma teve o impacto da primeira, na Austrália. Continua a ser a minha preferida. Em todo o caso, Mike andou entretido.

 

Estava a contar que, em 2024, Mike continuasse a lançar música a solo, “capítulos”. Mas agora os Linkin Park preparam-se para lançar um álbum de êxitos, que incluiu uma inédita das sessões de One More Light, Friendly Fire, já lançada como single.

 

Fiquei contente, tal como qualquer fã. A música é linda (podia elaborar mais, mas isso foge ao assunto deste texto). Por outro lado, o timing desta música e deste álbum deixa-me intrigada – sobretudo quando, supostamente, o Mike ia continuar a lançar música a solo. Porquê agora? Significa alguma coisa? Talvez tenham gostado do sucesso de Lost e tenham querido tentar replicar. Talvez tenha sido ideia da gravadora. Talvez os Linkin Park queiram manter-se na consciência do público, porque não tencionam manter-se em pausa durante muito mais tempo…?

 

Não quero pensar muito nesta última hipótese. Em parte para não criar falsas expectativas, em parte porque, mais de seis anos depois, continuo sem saber como me sentir em relação a isso. Até porque, neste último ano, uma certa banda de tributo entrou na equação e complicou ainda mais a coisa (essa e muitas outras). 

 

A solução é a mesma de sempre: aguardar notícias, se houverem, e ir lidando com elas.

 

E como já estamos a olhar para o futuro, recordar que os Sum 41 lançam este mês o seu último álbum, Heaven :x: Hell. Já falei brevemente sobre Landmines antes. Ainda em 2023, lançaram um single da parte Hell, Rise Up. Gosto, mas confesso que ainda não lhe tenho dado muita rotação. Hei de lhe dar quando sair o álbum todo.

 

 

Os Sum vêm ao NOS Alive despedir-se de nós, no dia 13 de julho. Eu queria ir, só que demorei demasiado tempo a decidir-me. Os bilhetes para esse dia esgotaram antes que se conseguisse dizer “Os Pearl Jam também atuam no dia 13”. 

 

Não me vou queixar muito pois já vou a muitos concertos este ano. Além de que já os vi duas vezes ao vivo. Que o pessoal que lá vai se despeça deles por mim, que lhes deem um grande abraço e que peçam ao Deryck para, por amor de Deus, deixar de ter experiências de quase-morte. 

 

Pois é, já perdi a conta aos concertos a que vou este ano e/ou a que quero ir. Como já referi antes, já fui outra vez aos Hybrid Theory há um mês, em Amiais de Baixo. Vou vê-los outra vez em Grândola, a 23 de março, e também ao Rock in Rio – eles acabaram de ser anunciados para o dia 15 de junho. 

 

O Rock in Rio! Para além de ser um grande feito para eles – são a primeira banda de tributo a chegar lá – foi o festival onde vi os Linkin Park duas vezes, onde me apaixonei a sério por eles. Será um outro nível de homenagem. 

 

De caminho, vejo o resto do cartaz nesse dia.

 

E não devo ficar por aqui este ano em termos de HT. Hei de continuar a ir a concertos deles, consoante as minhas possibilidades. Talvez consiga ir a mais um no verão – ainda não tenho a certeza, mas vou tentar. Eles vão ficar fartos de mim.

 

 

Para além destes, já referi no blogue que vou ver os Delfins, com a minha tia, e que vou à Eras Tour. Também vou a uns outros quantos com parte da família HT: ao Diogo Piçarra, a 20 de abril, ao dos Anjos, a 28 de dezembro. Não conheço a discografia destes dois super bem. Um pouco melhor a dos Anjos e, mesmo assim, mais o início de carreira deles (acho que não vão tocar a versão deles de As Long As You Love Me). 

 

Mas pronto, são músicos portugueses, são simpáticos, o Diogo cantou com os Hybrid Theory no Pavilhão Atlântico, é um dos nossos. Já tenho andado a ouvir a música do Piçarra como quem estuda para um teste. Hei de fazer o mesmo com a música dos Anjos – tenho tempo até dezembro.

 

Por outro lado, os Within Temptation vão regressar a Portugal no dia 26 de novembro e vou vê-los – também com malta da família HT. A banda holandesa está numa situação semelhante aos Simple Plan e aos Sum 41, quando os vi em 2022: tenho-os negligenciado nos últimos anos. Como escrevi na altura, não gostei de Resist quando saiu. Ainda dei uma ouvidela a Entertain You, quando saiu em 2020, mas não gostei. Depois disso, nem me dei ao trabalho de ouvir as outras músicas que foram lançando.

 

No entanto, nem eu nem o pessoal da família HT quis desperdiçar a oportunidade quando esta se apresentou. Já aprendemos a nossa lição.

 

De qualquer forma, espero que os Within Temptation sigam o exemplo dos Sum 41 e dos Simple Plan e se foquem no material mais antigo. 

 

Por fim, Bryan Adams, o meu velho, vai voltar a Portugal para dois concertos: em Gondomar e cá em Lisboa, no Pavilhão Atlântico. Não estava à espera que voltasse cá tão cedo, ainda durante o ciclo de So Happy it Hurts. Mas claro que fico contente. À hora desta publicação, ainda não comprei bilhetes – a minha irmã não está a viver em Lisboa, ainda precisa que lhe aprovem as férias para estes dias – mas à partida devo estar lá. E também deve vir gente da família HT. 

 

No pouco provável caso de não estar… bem, ninguém morre por isso. Já o vi muitas vezes, a última delas há relativamente pouco tempo. Quase de certeza haverão outras oportunidades e, como dá para ver, já estou muito bem servida de concertos.

 

E isto são apenas os concertos planeados até ao momento. Poderão haver mais. Aparentemente esta é a minha vida agora. Uma parte de mim acha uma loucura. Mas a verdade é que concertos são das melhores coisas do mundo, rejuvenescem, são o meu excesso, são a melhor versão de mim mesma. E agora tenho mais gente com quem ir – gente que, por sinal, conheci graças a um tributo à banda que me ensinou a gostar de concertos. Na minha idade e depois de dois anos de pandemia, esta é a altura para a curtir, à minha maneira, enquanto posso. 

 

Algumas alegações finais sobre 2023. Como escrevi antes, foi um ano de altos e baixos mas terminou muito bem. E 2024 tem corrido mais ou menos da mesma forma. 

 

Uma coisa com que não estou muito muito satisfeita, no entanto, é com este blogue. Ficou um bocadinho negligenciado em 2023. Já sabia que seria assim, que queria dar atenção a outros projetos e que continuaria sem muito tempo para escrever. Não significa que esteja contente com isso.

 

Já o disse antes, não é pela falta de qualidade, antes pelo contrário. Nem é tanto pela pouca quantidade. É pela falta de diversidade. Tirando este balanço, só deu universo Linkin Park e universo Paramore.

 

Nem tudo foi culpa minha. Esperava já ter visto o filme de Digimon nesta altura, mas ainda não foi possível. Entretanto, anunciaram a sua exibição nos cinemas portugueses no próximo verão. Tão bom! Assim sendo, vou esperar até lá.

 

Mas assim, e como o outro texto nos meus planos é o guia para Swifties sobre os Paramore, o próximo texto que irei escrever será sobre a terceira temporada de Ted Lasso. Para variar, para exercitar músculos que não uso há algum tempo. 

 

 

É possível, no entanto, que não seja o próximo texto que publicarei. Aconteça o que acontecer, em abril terei de começar a tratar do guia para Swifties, para ver se consigo publicá-lo antes do início da Eras Tour na Europa. Ou, na pior das hipóteses, antes dos concertos em Lisboa.

 

Porque a verdade é que vou continuar a ter pouco tempo para escrever. Não me vou queixar muito porque um dos motivos pela minha falta de tempo diz respeito a todos estes concertos e outros convívios. Não me vou ralar demasiado se estes textos continuarem a vir com atraso, com semanas ou meses de intervalo – tenho outras coisas mais sérias com que me preocupar. Este blogue é um passatempo, é auto-indulgência, é algo que faço só para mim. Vocês, caros leitores, são apenas danos colaterais.

 

É estranho falar nisto nesta altura, quando já estamos em março, mas 2024 promete para mim. Já falei dos concertos todos. Também vem aí o Europeu de futebol, para o qual Portugal parte com ambições. 

 

Ao mesmo tempo, passam-se vinte anos desde 2004, um ano marcante para mim. Entre outros motivos, foi quando descobri a MTV e outros canais do género e me tornei fã de música oficialmente. Não acho que seja coincidência que muitos dos meus artistas e bandas preferidos hoje em dia tenham estado ativos em 2004 – mesmo que só tenha adotado oficialmente alguns deles anos mais tarde. Os ciclos de nostalgia seguem um período de vinte anos, vai ser excitante passar por este.

 

Mas vem aí algo ainda melhor, no próximo verão. Recebemos a notícia pouco antes do Natal: vou ser tia! O meu irmão, que vive em Zurique, vai ter uma menina! Não estava à espera, mas não podia estar mais feliz.

 

Na verdade, neste início de ano, sinto que na bolha que engloba a mim e as pessoas de quem gosto – que passou a incluir muita gente nestes últimos meses – as coisas estão estáveis, mesmo felizes. No entanto, olhando para fora, para a situação no país e no mundo em geral, só vejo tudo a piorar. Há uma estranha dissonância na minha vida. 

 

 

 

Não digo que não tenho esperanças de que as coisas melhorem, mas sinceramente já tive mais. De qualquer forma, o que me vale é que tenho as pessoas na minha bolha para tornarem tudo menos insuportável. 

 

E a minha escrita. Os meus blogues. E a minha música. Como nos anos anteriores, na verdade.

 

Como habitual, deixo-vos acima a minha playlist do ano, bem como o meu Spotify Wrapped. Obrigada, assim, por me terem acompanhado durante mais um ano. Que o resto de 2024 vos traga muitas coisas boas, tantas como, estou certa, me trará a mim. Continuem por aí. 

Músicas Não Tão Ao Calhas – Already Over

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No passado dia 6 de outubro, Mike Shinoda – fundador dos Linkin Park, homem de múltiplos ofícios artísticos e musicais e uma das minhas pessoas favoritas do mundo da música – lançou o single Already Over, uma canção a solo. 

 

Eu chamo-lhe single, mas Mike tem preferido falar de um “capítulo”. Um meio termo entre single e álbum. Algo lançado com tanta pompa e circunstância como um álbum, ou quase, mas sem correr o risco, que às vezes se corre com os álbuns, de que algumas músicas não-singles não recebam a atenção que merecem. 

 

Consigo entender a lógica. No que toca ao seu trabalho a solo, Mike sempre fez esforços nesse sentido. Veja-se Post Traumatic, em que todas as músicas (da edição-padrão) tiveram direito a videoclipe – ainda que Hold it Together só tenha chegado este ano. Julgo que Mike queira que Already Over, e quaisquer outras músicas que lançar depois, tenham cada uma uma mini-era, com uma estética própria, videoclipe (apesar de ainda não ter saído o de Already Over, à hora desta publicação) e sessões como a que fez com músicos australianos – mais sobre isso já a seguir. No fundo, dando-lhes oportunidade para causarem impacto.

 

Já se sabia há algum tempo (eu referi-o no meu texto sobre Meteora20) que Mike andava a criar música para si mesmo, depois de ter passado um par de anos, mais coisa menos coisa, compondo e produzindo para outros músicos. A certa altura, Mike terá sentido de novo o bichinho e quis criar música para si mesmo.

 

Tecnicamente, In My Head, que saiu há uns meses, é um exemplo disso, mas é um dueto com Kailee Morgue. Por sua vez, com Already Over, houve quem colocasse a hipótese de convidar alguém, mas Mike rejeitou-a e fez tudo sozinho. Compôs, produziu, tocou todos os instrumentos… e cantou. 

 

Esta será a parte mais importante de tudo: Mike cantando, cantando a sério, sem abusar do auto-tune ou de outros efeitos semelhantes, como em demasiadas músicas a solo dele. Durante muito tempo, demasiado, Mike não pareceu ter grande confiança na sua voz. Compreende-se, pelo menos em parte: qualquer um trabalhando durante tantos anos com Chester Bennington teria complexos de inferioridade. 

 

 

No entanto, Mike sempre se subvalorizou. Um dos meus aspectos preferidos dos álbuns mais recentes dos Linkin Park são as partes em que Mike e Chester harmonizam nos vocais – saudades. Mas também tivemos Sorry for Now no One More Light e Massive no Meteora20. Entretanto, descobri há pouco tempo No Roads Left, uma B-side de Minutes to Midnight que devia ter sido incluída no alinhamento principal – provavelmente o melhor desempenho vocal de Mike até ao momento.

 

Em todo o caso, no ano passado, Mike ter-se-á apercebido de que poderia aprender a cantar, desenvolver os seus dotes vocálicos e compôr música adequada à sua própria voz – tal como compõe música para as vozes de outros cantores (Chester, John Legend, Demi Lovato, etc). As expressões dele no vídeo acima enquanto explica isto dão-me vontade de rir – este totó levou décadas a descobrir que sabe cantar.

 

Dito isto, se Mike tivesse acreditado em si mesmo como cantor há coisa de vinte e cinco anos, depois de Mark Wakefield ter deixado os Xero, ele, Brad e os outros não teriam sentido a necessidade de procurarem um vocalista. Ou seja, não teriam conhecido Chester (mais sobre a génese dos Linkin Park aqui).

 

Olhemos, então, para Already Over. Confirma-se o que Mike dissera antes sobre regressar às raízes, sobre os fãs dos Linkin Park ficarem contentes. Esta é uma música rock (rock alternativo, segundo dizem), guiada pela guitarra elétrica – aparentemente a mesma de What I’ve Done. Gosto muito da bateria – Mike terá aprendido a tocá-la há pouco tempo. Diz que a editou em estúdio para soa bem… mas pergunto-me se será cem por cento verdade ou se está a ser modesto. 

 

A letra não é nada de extraordinário. Não é má, é apenas algo vaga e superficial. Basicamente sobre alguém que não tem noção do mal que faz. O narrador não sabe se é arrogância, ignorância, ilusão, uma mistura de todas. Mike deu a entender em entrevista que, na hora de escrever letras, por defeito, assume temas semi-sombrios como estes. Sempre foi assim – basta olhar na diagonal para a discografia dos Linkin Park.

 

Não é grave, mas nesse sentido perde em relação a In My Head, Happy Endings ou mesmo fine. Estas têm letras mais interessantes, mais autênticas. Pelo menos no que diz respeito a mim. 

 

 

Infelizmente, temos aqui outro exemplo de um refrão circular (que começa e acaba com o mesmo verso). Como poderão ler em textos recentes, é algo a que ganhei alergia nos últimos anos. Não chega a estragar a música, atenção, mas é a parte de que menos gosto.

 

O melhor de Already Over é mesmo o desempenho vocal de Mike. A versão de estúdio está menos produzida que outros temas (demasiados) a solo dele, mas os efeitos adicionados até são interessantes: um eco fantasmagórico no início da segunda parte, o coro no início do último refrão.

 

Ainda assim, a voz de Mike ficou ainda mais evidente nas sessões de Sydney, com músicos australianos. O vídeo foi publicado no dia 18. Aqui, a voz de Mike não teve produção nenhuma (isto é… penso eu), podemos ouvi-la em estado puro e… ficou fantástica.

 

Fico feliz por Mike ter lançado oficialmente o áudio dessas sessões. Para mim, esta é a versão definitiva de Already Over. Até porque, para além de Mike, os outros músicos fizeram um ótimo trabalho com instrumentos.

 

Uma palavra, já agora, para a apresentação de Bleed it Out que eles fizeram. Adorei. Não estava à espera de gostar tanto de ouvir uma mulher cantando as partes melódicas desta música. Bonnie Fraser, vocalista dos Stand Atlantic (já conhecia a música deles, Lavender Bones. É gira.), fez um ótimo trabalho.

 

Foi uma noite feliz, quando publicaram este vídeo.

 

 

Mike diz que virão mais sessões deste género no futuro, com músicos de diferentes partes do mundo. Se ele quiser fazer uma com músicos portugueses, eu tenho algumas sugestões… Mais sobre isso já a seguir.

 

Em suma, não sendo uma música do outro mundo, gostei de Already Over, sobretudo por causa da interpretação de Mike. Quero mais. Ele diz que virão mais músicas depois desta, mais “capítulos”. Chegou a comentar que Already Over pertence ao mesmo universo de In My Head e, curiosamente, de fine. 

 

Não referiu Happy Endings, o que faz sentido, suponho eu. Tem um tom diferente, mais leve – apesar de falar de coisas relativamente sérias, como a pandemia e a maneira como esta nos tornou menos tolerantes e pacientes (agora que penso nisso, lembra This is Why). Além disso, é uma colaboração a três. 

 

Mike irá, então, continuar em estúdio, gravando música a solo. Ou seja, para já não irá em digressão, o que dá um bocadinho de pena. Queria voltar a vê-lo ao vivo, quase uma década depois da última vez. A digressão de Post Traumatic não passou em Portugal, infelizmente. Se a próxima não passar, talvez vá vê-lo ao estrangeiro, mas obviamente preferia vê-lo por cá. Não só pela parte prática da coisa, mas também porque… quero que ele conheça os Hybrid Theory. Que faça qualquer coisa com eles (uma sessão, como a de Already Over em Sydney!) ou que, no mínimo, lhes dê a sua benção. 

 

Aqui entre nós, acho que Mike tem saudades dos palcos. Ele fez um par de aparições em concertos nos últimos meses (um com o grandson, outro com a G Flip, na Austrália) e, de ambas as vezes, pareceu estar a divertir-se à grande. Ao mesmo tempo, não me surpreende que não queria ir numa longa digressão. Post Traumatic foi difícil, como comentámos antes. Com a pandemia e tudo o resto, tem passado os últimos anos em casa e talvez lhe saiba bem. Talvez não lhe apeteça passar meses longe da mulher, Anna, e dos filhos. Não o censuro. 

 

Enfim, talvez vá daqui a um ano ou dois. Isso significa, também, que um eventual regresso dos Linkin Park, a acontecer, fica adiado durante mais uns anos. Uma pessoa vê Mike aprendendo a cantar, começa a pensar coisas… mas ainda não estou preparada para essa conversa. Neste momento estou muito feliz com os Hybrid Theory e os seus fãs. Ando a contar os dias até ir a Gondomar vê-los (à hora desta publicação, cinco semanas!). 

 

Para já chega. Não quero que os Linkin Park fiquem parados para sempre, lançando apenas reedições de álbuns anteriores, mas demos-lhe (mais) uns anos. 

 

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Não sei se cada um dos próximos capítulos da música a solo de Mike terá direito a um texto como este. Talvez escreva um texto para cada um, talvez escreva sobre dois ou três num só, quando a oportunidade surgir. Nem que seja só nos textos de fim de ano.

 

Quanto a nós, o próximo texto aqui do blogue será sobre Re: This is Why em geral e sobre a inédita Sanity em particular. Isto apesar de o texto anterior já ter sido sobre a This is Why original. Aparentemente, este ano aqui no blogue só dá Linkin Park (OK, não a banda propriamente dita mas parte do seu extenso universo) e Paramore. 

 

Olhem… c’est comme ça.

 

E em minha defesa, já Lost tinha saído no mesmo dia que This is Why e agora os Paramore lançaram um álbum de remixes no mesmo dia que Already Over. A culpa não é minha.

 

Voltamos, assim, a falar em breve. Continuem por aí. Obrigada pela vossa visita. 

Vinte anos de Meteora e outras coisas que mexem com as emoções #3

Tecnicamente esta é a terceira parte da minha análise a Meteora (podem ler as primeiras duas aqui e aqui) mas, na prática, os assuntos de que vamos falar aqui já não têm a ver com o álbum, pelo menos não diretamente. Mas achei importante escrever sobre eles.

 

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(foto: Travessa do Rock)

 

Para começar, queria falar melhor sobre os Hybrid Theory (já gosto mais deste nome de banda), o tributo português aos Linkin Park. Acho que a primeira vez que ouvi falar deles foi em 2018: eles deram um concerto na Fábrica da Pólvora no primeiro aniversário da morte de Chester e cheguei a pensar ir. Muito mais tarde, no verão do ano passado, eles tornaram-se virais… mas eu, mesmo assim, não vi os vídeos deles. Tive o separador aberto no meu telemóvel durante muito tempo, semanas ou meses, mas fui adiando, adiando. A certa altura devo tê-lo fechado – não me recordo bem. 

 

Finalmente, soube do concerto no Pavilhão Atlântico (só para recordar, por princípio evito chamar-lhe Altice Arena), pensei "Porque não?" e comprei bilhetes para mim e para a minha irmã. Depois disso, fiz de propósito por não pesquisar nada sobre eles, para não estragar a surpresa. 

 

Fiz bem porque houveram surpresas. Os Hybrid Theory abriram com New Divide e Burn it Down – logo as minhas duas preferidas. Eu fiquei parva porque eles estavam – e são – muito parecidos com os Linkin Park originais, até as movimentações em palco eram idênticas. O único mais diferente é o baterista Diogo Neuparth e mesmo assim – só mesmo porque Rob tem tido o cabelo comprido nos últimos anos. 

 

Ivo Rosário, o vocalista, então, não só se parece muito com Chester (o homem até usa óculos fora de palco!), como tem uma voz parecidíssima com a dele. Agora que já se passaram algumas semanas e já vi uma série de vídeos deles é que já consigo notar algumas diferenças, mas naquela noite ninguém deu por isso. Passei o concerto todo como aquele meme do Peter Parker colocando os óculos: de cinco em cinco minutos tinha de me lembrar a mim mesma que aqueles não eram os Linkin Park. A minha irmã comentou que uma pessoa que os conhecesse apenas pela rama seria capaz de pensar que aqueles eram mesmo a banda original, não um tributo.

 

Os Hybrid Theory tocaram Given Up relativamente cedo. Antes do icónico grito de dezassete segundos dei um toque à minha irmã, mas Ivo passou no teste com distinção, como poderão ouvir abaixo.

 

 

O concerto teve vários convidados. Por exemplo, Diogo Piçarra veio cantar Crawling. Só mais tarde é que descobri que a versão que apresentaram – começando com o instrumental de Krwling e parte de Hands Held High – é semelhante à que os Linkin Park tocaram quando Chris Cornell subiu ao palco para cantar com eles, em 2008. Não sei se foi coincidência ou se foi deliberado – para o Piçarra fazer de Chris.

 

A participação de Xande não me disse muito. Por outro lado, não estava à espera de gostar tanto do mash-up de Shadow of the Day com Só eu Sei, do Virgul. Se me dissessem antes, diria que era uma péssima ideia. Mas resultou.

 

Compreendo que alguns fãs não tenham achado tanta piada. Mas a verdade é que Linkin Park é isto. Mike aprendeu a criar música fazendo mash-ups de músicas rock com músicas hip-hop – daí às teorias híbridas foi apenas um passo. Daí ao Collision Course foi outro. Além disso, os Linkin Park sempre encorajaram os fãs a fazerem remixes das suas músicas, lançando versões instrumentais e à capela.

 

O mesmo é válido para o mash-up de One Step Closer com Tás na Boa, dos Da Weasel. Eles puseram-na a tocar antes do início do concerto. Mais tarde, no primeiro de maio, publicaram-no no YouTube. Ficou espetacular.

 

É uma versão portuguesa do Collision Course.

 

 

Tirando estas, fiquei com a ideia de que, se os Linkin Park estivessem ativos neste momento e com a discografia atual, seria este o concerto que dariam, mais coisa menos coisa – incluindo músicas como Don’t Stay e Lost. Gostava que tivessem tocado pelo menos mais uma não-single de Meteora – talvez Figure.09 ou Lying From You. Na altura do concerto ainda só tinha passado uma semana desde Meteora20, mas hoje gostaria de ouvir Fighting Myself e More the Victim.

 

Diverti-me imenso, aproveitei ao máximo. Pensei no Chester durante o concerto todo – foram várias as vezes em que apontei para o céu depois de uma música. Sei que ele ficou orgulhoso de nós. 

 

Só na manhã seguinte é que me caiu a ficha.

 

Mais sobre isso a seguir.

 

Depois do concerto, naturalmente, quis saber mais sobre os Hybrid Theory: artigos como este e este, entrevistas como as abaixo. Primeiro ponto a favor: eles são de Lagos (bem, uma parte deles, o Ivo é de Alvor), a cidade onde passo férias todos os anos, um dos meus lugares felizes.

 

Os membros dos Hybrid Theory já tinha tentado a sua sorte com bandas de originais. Estavam a isto de desistir de vez da música quando surgiu a ideia do tributo dos Linkin Park – porque, lá está, o Ivo tinha uma voz parecidíssima com a do Chester. Ainda assim, não a puseram logo em prática, em parte por falta de condições, em parte porque os Linkin Park estavam no ativo naquele momento.

 

 

Pois bem, deu-se o fatídico 20 de julho de 2017, os Linkin Park entraram num hiato que se mantém até hoje. De repente, ficou um buraco. Segundo o guitarrista Miguel Martins (o que “faz” de Brad), de início eram só para fazer dois ou três concertos de homenagem, que se foram multiplicando. Hoje, os Hybrid Theory já tocaram um pouco por todo o mundo: em vários países europeus, na Índia, na Austrália, na Nova Zelândia, no Brasil.

 

Agora que penso nisso, eles demoraram a chegar ao Pavilhão Atlântico. Mesmo assim, os Hybrid Theory, uma banda de tributo, conseguiram encher a sala principal – enquanto os Sum 41 e os Simple Plan, que não são bandas pequenas, só tiveram direito à Sala Tejo.

 

Como referi antes, eles são muito parecidos com os respectivos membros originais dos Linkin Park, mas garantem que, vá lá, noventa por cento disso não foi deliberado. Eles garantem que não precisaram de mudar muito a postura nem o estilo para assumirem os papéis. Aliás, existem muitas coincidências bizarras entre os Linkin Park e os Hybrid Theory. O Miguel partilha o aniversário com o Brad, por exemplo. O Ivo faz anos a 21 de julho – o dia a seguir ao da morte do Chester (“o pior presente de aniversário que recebi”).

 

Eu não acredito no destino mas, meu Deus!

 

Ora, se houver gente por aí que não alinhe nisto, eu compreendo. Por muito parecidos que sejam, os Hybrid Theory não são os Linkin Park, nunca serão. Os Linkin Park não são apenas as músicas, os visuais, as vozes. São eles mesmo, o Chester, o Mike, o Brad e os outros. São as pessoas que compuseram as músicas, são as personalidades, as histórias de vida, as amizades, as palhaçadas. Isso é impossível de replicar ou substituir – ninguém pode exigi-lo.

 

E nem é só uma questão de purismo. Depois de perdemos o Chester, talvez seja demasiado doloroso para algum de nós ouvir estas músicas em contexto de concerto – tal como existem fãs que nem sempre conseguem ouvir música dos Linkin Park, ponto. Mesmo comigo o rescaldo do concerto não foi fácil, algo de que falarei melhor mais à frente.

 

 

Dito isto tudo… é como disse o Miguel. Estas músicas são demasiado boas para viverem apenas nos CDs, ou no Spotify, ou no YouTube. O Chester já não está entre nós e não se sabe se os membros restantes dos Linkin Park alguma vez voltarão aos palcos. O que os Hybrid Theory estão a fazer é uma maneira de manter o legado vivo, garantir que o impacto não se perde. 

 

O próprio Mike disse uma vez que a música dos Linkin Park foi criada para servir de catarse, para formar um espaço seguro, uma comunidade, para exorcizarmos os nossos demónios. Ou, pura e simplesmente, para deixarmos o mundo lá fora e andarmos ao moche. Os Hybrid Theory estão a garantir que isso continua e se expande – dando inclusivamente a oportunidade a pessoas que nunca puderam ver os Linkin Park ao vivo de saberem como era. Os Hybrid Theory não são os Linkin Park, mas neste momento são o melhor que termos, são a “next best thing” – e não por uma grande margem. 

 

E, à boa maneira tuga, sinto um orgulho especial por serem portugueses. Espero voltar a vê-los em breve.

 

Antes de continuar, aviso desde já que as próximas quase duas mil palavras serão um pouco pesadas. Vou despejar imensa bagagem emocional. Estão à vontade para saltar à frente ou mesmo para clicarem noutro sítio. 

 

Nestas últimas semanas, tenho sentido a perda do Chester como não sentia há anos. A fase pior já passou, penso eu, mas mesmo assim as saudades continuam, demasiado fortes.

 

Pode ter sido de ter passado tanto tempo a pesquisar sobre a era de Meteora para este texto, mas eu acho que foi também do concerto dos Hybrid Theory. Não me interpretem mal, não retiro uma única palavra do que escrevi acima. Não me arrependo de ter ido ao concerto, cem por cento repetia – e quero repetir. Mas é evidente que voltar a ouvir estas músicas em contexto de concerto mexeu comigo. Talvez tenha soltado qualquer coisa mal resolvida cá dentro. Talvez fosse sempre doloroso, uma barreira a ultrapassar, um penso rápido para arrancar. 

 

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Uma parte é culpa: ter ouvido música dos Linkin Park em concerto sem Linkin Park, sem o Chester. Mas também a música dele continua a mover pessoas. Lost no topo das tabelas, o Pavilhão Atlântico cheio de fãs dos Linkin Park para ver os Hybrid Theory (embora também tenha sido mérito deles), também eles fãs dos Linkin Park. Nós ainda aqui estamos, prontos para curtir esta música, em Portugal e em todo o mundo, mas o Chester não está cá para vê-lo. 

 

E ele devia estar cá para vê-lo, ele merecia estar cá para vê-lo. Ele devia estar neste momento a dar entrevistas sobre Meteora, devia estar em palco com os colegas, harmonizando com o Mike, abraçando os fãs, fazendo palhaçadas nos bastidores. Ou pura e simplesmente, devia estar ao lado da esposa Talinda, envelhecendo com ela, vendo os filhos a crescer. 

 

Uma coisa em que tenho reparado nas entrevistas todas a propósito de Meteora20 é que os outros estão a ficar velhos. O Phoenix está com a barba quase toda branca. Os caracóis do Brad estão grisalhos. O Mike está a ficar com uns pés de galinha adoráveis – consequência do sorriso lindo dele. Adoro pessoas que sorriem com a cara toda como ele – o meu irmão também é assim, o Cristiano Ronaldo também. Existe uma certa beleza em ver os Linkin Park entrando na meia idade, como pais de adolescentes que gozam com eles. Dou valor especial a isso porque não podemos ver o Chester passando pelo mesmo. 

 

O que não é justo porque, depois de um início de vida horrível, o Chester merecia que as suas últimas décadas fossem de paz e felicidade, mesmo que fosse já fora do mundo da música. Não se deixem enganar, o live fast, die young é uma treta.

 

Além disso – e isto é algo que tenho sentido em relação a todas as pessoas que perdi até agora – a vida não é assim tão curta. Sim, nunca se sabe o que pode acontecer, mas o mais certo é muitos de nós vivermos até aos setenta, oitenta, noventa. Mesmo que acreditem, como eu acredito, que nos encontraremos todos uns aos outros depois da morte… é muito tempo sem vermos o Chester. 

 

Sinto-me estúpida por estar com esta agora – como se o Chester tivesse morrido no mês passado e não há quase seis anos. Como se não tivesse acontecido tanta coisa entretanto, incluindo uma fucking pandemia. Como se eu ainda hoje fosse a pessoa que era em 2017. 

 

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Isto para não dizer, claro, que eu não conhecia o homem e ele mal sabia que eu existia. Toquei-lhe na mão durante dois segundos no fim do concerto no Rock in Rio de 2014, é possível que tenha olhado para mim uma ou duas vezes – e só isso já foi um grande privilégio. Para o Chester fui apenas uma entre milhões. A vida já é suficientemente difícil, justifica-se andar eu a carregar o fardo extra do luto, com meia dúzia de anos de atraso, por um homem que não sabia o meu nome?

 

Mas, lá está, são emoções. São por definição irracionais, não obedecem a lógica. E, de qualquer forma, são parte da vida, não são nada de patológico. Não estou deprimida, estou só triste. 

 

Aliás, nem sequer é apenas tristeza. São emoções contraditórias: se fosse como no Inside Out/Divertida-mente, os bonecos estariam todos à bulha por controlo. E a Tristeza teima em sair do seu círculo. 

 

Tenho momentos em que sinto imensa alegria, como sempre senti com a música dos Linkin Park – o maior exemplo foi, lá está, o concerto dos Hybrid Theory. Eu adoro a música deles, Meteora e não só. Mas tenho alturas em que me atraiçoa. A música chama-me como um canto de sereia. Eu ainda sinto a serotonina, mas depois ataca-me. Começo a pensar na letra, a relacioná-la com o que aconteceu. Ou então, pura e simplesmente, penso no quão fantástica a voz do Chester é. As saudades apertam e vou ao fundo.

 

…eu acabei de comparar o Chester e os outros a sereias, não acabei? Bem, fiquem com a imagem mental. Não têm de quê.

 

Para ser justa, várias coisas têm ajudado. Escrever sobre isso aqui no blogue é uma delas. Também tem ajudado cantar em altos berros no carro – músicas com refrões agudos, uma excelente catarse (já percebo porque é que a Hayley Williams se tornou uma especialista nisto). 

 

 

Mas sabem aquilo que eu não esperava que ajudasse tanto? Falar com a minha Jane. Uma destas tardes estava sozinha com ela e pus-me a desabafar longamente sobre tudo isto. Quando dei por mim, o meu peito estava muito mais leve. 

 

Vendo agora em retrospetiva parece super óbvio. É o bê-á-bá da psicologia: deitar cá para fora aquilo que nos atormenta faz bem (em minha defesa, os narradores de uma grande parte das músicas de Meteora também parecem não se aperceber disso). Sou introvertida por natureza, tendo a interiorizar o que sinto, a ficar presa à minha própria cabeça. E acho sempre que os outros não querem saber, não irão compreender, irão tecer juízos de valor.

 

O que nem sequer é necessariamente verdade. Ainda há uns tempos publiquei uma versão condensada do que escrevi acima na página de Facebook e obtive mais feedback do que o costume. 

 

Em todo o caso, a Jane ouviu-me. Se tinha algo a dizer sobre o assunto, teve a delicadeza de guardá-lo para si. Apenas pareceu contente pelas festinhas que estava a receber. Está visto que tenho de fazer isto mais vezes.

 

Mesmo aqui no blogue, por um lado, sinto-me mal por não ser capaz de escrever sobre os Linkin Park sem trazer a morte do Chester à baila, possivelmente mexendo nas feridas de toda a gente. Por outro lado, é algo de que preciso e quem sabe? Pode ser que haja alguém por aí a ler isto e a passar também por este luto fora de horas. Caso vocês, caros leitores, sejam uma dessas pessoas, bem, não estão sozinhos. 

 

Tenho tentado lembrar-me que, apesar de tudo, a vida do Chester não foi assim tão má, em parte graças a nós. Ainda há pouco tempo dei com a entrevista abaixo, em que listava os seus três sítios preferidos: a sua casa, o estúdio e o palco. Na mesma linha, numa entrevista recente, o Mike disse que o Chester nasceu para isto: para o estúdio e para o palco. Suponho que seja um consolo para ele, saber que Mike, Joe, Phoenix e os outros contribuíram para isso. 

 

 

Nós também contribuímos, certo? Nós fomos uma das partes boas da vida dele. Nós que ouvimos as músicas, que fomos aos concertos, que permitimos que o Chester continuasse a cantar até ao fim da sua vida, por curta que tenha sido. Talvez tenhamos evitado que ela tivesse acabado ainda mais cedo. 

 

Sinto que é isto que o Chester quereria que recordássemos: o estúdio, o palco, a sua versão mais feliz. Penso que, apesar de tudo, ele está contente por estarmos a gostar tanto de Meteora20, de Lost e de todas as outras. Eu além disso recordo a simpatia, a gentileza e as palhaçadas. 

 

É disto que fala Leave Out All the Rest, não é? 

 

De qualquer forma, mesmo nos meus piores momentos, nunca me consegui arrepender de me ter afeiçoado ao Chester e aos Linkin Park. O Rock in Rio 2008 mudou a minha vida como amante de música. Nessa noite, eles ensinaram-me a gostar de concertos, passaram-me o bichinho, a determinação para ver os meus músicos preferidos ao vivo. Fizeram com que desejasse ainda mais ver a minha cantora preferida, Avril Lavigne, ao vivo – e finalmente consegui, menos de uma semana depois do concerto dos Hybrid Theory, por sinal.

 

E depois é a música em si. Mesmo que por estes dias me deixe triste, tem-me enchido de serotonina ao longo dos anos, acompanhou-me em muitas sessões de escrita e viagens de carro, tem-me inspirado, tem-me consolado. A mim, a tantos, a milhões. As comunidades que se criaram um pouco por todo o mundo, as vidas que salvaram, a influência que tiveram noutros músicos.

 

Os Hybrid Theory são apenas um exemplo. De uma maneira super retorcida, se o Chester não tivesse morrido, talvez eles não estivessem a ter o sucesso que estão a ter. E também se está a criar uma comunidade

 

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Há que celebrar tudo o que o Chester conseguiu fazer na sua curta vida, dar graças por esse impacto. Impacto esse que, se depender de nós, continuará a ser sentido por várias gerações. É o que os Hybrid Theory estão a fazer. É também para isso que serve este blogue.

 

Da minha parte, vou continuar a pôr em prática aquilo que os Linkin Park me ensinaram. Vou continuar a ir a concertos, dentro das minhas possibilidades. Vou continuar a curtir música, a deles e não só. Vou fazer por ser gentil para com os músicos de que gosto, para com as pessoas à minha volta, comigo mesma – #makeChesterproud e tudo o mais. 

 

O luto nunca desaparecerá por completo. Nunca será OK que o Chester nos tenha deixado tão cedo. A música dos Linkin Park terá sempre esta cor e é possível que, no futuro, eu volte a cair neste buraco. Mas hei de me levantar de novo. Vou tentar não obcecar por algo que não pode ser mudado. Vou tentar chorar menos e celebrar mais.

 

Nada disto é novidade, é praticamente o mesmo que temos dito uns aos outros nestes últimos anos. Mas são coisas que eu precisava de recordar.

 

Não quero encerrar este assunto sem deixar um apelo. Se houver alguém desse lado a debaterem-se com desejos de fazerem mal a si mesmos, por favor, não o façam. Peçam ajuda, existem recursos para isso: aqui, caso estejam a ler em Portugal, aqui, caso estejam a ler no Brasil. Como podem ver, se eu, mera fã, ainda sofro com o que aconteceu ao Chester quase seis anos depois, nem quero imaginar como se sentirão as pessoas que o amavam. Não façam isso aos vossos entes queridos.

 

E nem é só por eles. É por vocês mesmos também. Vocês merecem melhor que morrer antes do tempo. Vocês merecem coisas boas, fazer aquilo para que nasceram, ganhar cabelos brancos e pés de galinha, ver os vossos filhos crescer (caso os tenham). Deem uma oportunidade a vocês mesmos para que a vossa vida melhore, para que entre o amor, a amizade, a alegria. Não há garantias disso, claro, mas a probabilidade não é zero e vocês têm de estar cá para que isso aconteça. E o mundo só terá a ganhar. 

 

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Era isto que eu gostaria de ter dito ao Chester, se tivesse tido oportunidade. Não sei se chegaria para evitar o que lhe aconteceu – não sou profissional de saúde mental – mas talvez ajudasse um bocadinho. Ele já não pode ouvi-las ou lê-las, assim, deixo-as aqui. Pode ser que haja alguém que precise de lê-las, agora ou no futuro. Incluindo eu mesma. Espero que ajudem.

 

E agora? O que vai acontecer com os Linkin Park? Continua uma incógnita. Eles têm deixado mensagens contraditórias – o que é compreensível. Se eu mesma me sinto ambivalente… Há coisa de um ano, Mike dizia que não haviam planos, nem para música nova, nem para digressão, nada. Por estes dias, ele está menos categórico, diz que está tudo em cima da mesa tirando uma digressão. Por seu lado, Phoenix diz que sente que os Linkin Park ainda têm algo a dizer, embora admita que não saiba como. 

 

Depois de HybridTheory20 e de Meteora20, uma pessoa assume que os Linkin Park irão continuar com as edições de vigésimo aniversário. Pessoalmente gostava muito que houvesse MinutesToMidnight20 – foi nessa era que me tornei fã, teria um elevado valor nostálgico. Para além desse álbum, no entanto, começará a fazer cada vez menos sentido, na minha opinião. 

 

Sobretudo se isso for tudo o que os Linkin Park fizerem enquanto banda daqui para a frente: viver no passado. Seria deprimente. 

 

Por outro lado… música nova sem o Chester?

 

Em todo o caso, se eles derem esse passo, acho que não será para já – só daqui a um par de anos, pelo menos. Até porque Mike tem dado a entender que, um dia destes, lançará mais música a solo. 

 

 

@mshinoda Diving deep behind the making of #InMyHead. #ScreamVI #BehindTheSong ♬ original sound - Mike Shinoda

 

Como se devem recordar, o Mike lançou Post Traumatic um ano depois de o Chester morrer. Este foi um álbum e era bastante pesados emocionalmente. Consta que algumas pessoas se queixaram disso, mas, aqui entre nós, estavam à espera de quê? Foi o primeiro ano depois da morte do Chester!

 

De qualquer forma, creio que isso fez com que o Mike não tenha querido fazer música para si mesmo durante muito tempo. Tirando um ou outro single, o Mike tem passado os últimos anos composto e produzido música para outras pessoas. No entanto, criar In My Head para o último filme do Scream terá feito com que voltasse a sentir o bichinho. É possível que tenhamos um sucessor a Post Traumatic mais cedo ou mais tarde.

 

A ideia agrada-me. Em parte porque, para ser franca, é mais confortável do que música nova dos Linkin Park – não tem a mesma bagagem emocional. E a verdade é que tenho gostado daquilo que Mike tem lançado a solo até agora. 

 

É possível que esta não seja a primeira vez que o refiro mas, para mim, Post Traumatic é um excelente álbum de pandemia sem ser um álbum de pandemia. Afinal de contas, é sobre lidar com uma súbita disrupção da vida tal como a conhecíamos. Por estes dias, World’s On Fire é a minha preferida dele – nada como desgraças destas para nos recordarmos do que realmente importa.

 

No entanto, nesta altura, normalmente passo à frente de Place to Start e Over Again. Ninguém quer recordar essas situações específicas. A segunda, no entanto, descreve em o meu estado de espírito nestas últimas semanas, como escrevi longamente acima.

 

Também gostei de Waiting For Tomorrow, a colaboração com o DJ Martin Garrix, de fine – assustadoramente relevante durante a pandemia – e de Happy Endings. Ainda preciso de dar rotação a In My Head, mas acho interessante que, passados estes anos todos, Mike esteja a regressar à temática de Papercut.

 

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Por isso sim, venha daí mais música a solo – ou não. Decidam os Linkin Park o que decidirem, eu apoiarei. Podem haver lágrimas de novo da minha parte, a Jane pode ter de me aturar, poderei voltar a escrever sobre isso aqui no blogue, mas continuarei cá. 

 

Dito isto, a curto prazo, vou evitar o universo Linkin Park. Estes últimos meses, entre Meteora20 e os Hybrid Theory, foram divertidos mas também foram pesados, foram desgastantes. Preciso de me distrair com outras coisas, de escrever sobre outras coisas. Não posso estar sempre a pensar no Chester e no que lhe aconteceu. Preciso que doa menos, que regresse aos níveis a que estava há seis meses.

 

A única exceção será se, eventualmente, me cruzar de novo com os Hybrid Theory – o que não deverá acontecer assim tão cedo, penso eu.

 

O próximo texto daqui deverá ser a análise a This is Why, dos Paramore. Depois disso, talvez – talvez – escreva finalmente sobre Pokémon Go. É possível que, entretanto, outros artistas ou bandas do meu nicho lancem música, o que poderá baralhar estes planos. Como tenho vindo a dizer, quero escrever outras coisas, não quero ter pressa com este blogue.

 

Obrigada ao site Linkinpedia, que me facilitou imenso o trabalho de casa para esta análise, bem como a outros fãs de Linkin Park nas internetes. Destaque para o LPLive e para Brooding Ananas. Obrigada uma vez mais aos Hybrid Theory por manterem a chama acesa – espero voltar a ver-vos em breve. E obrigada a vocês, caros leitores, pela visita. Peço desculpa uma vez mais pela descarga emocional acima. Deixem o Chester orgulhoso. Continuem por aí. 

Vinte anos de Meteora e outras coisas que mexem com as emoções #2

Segunda parte a análise a Meteora. Podem ler a primeira parte aqui.

 

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Breaking the Habit foi a primeira música dos Linkin Park que conheci, em 2004. Este foi um ano marcante para mim em múltiplos aspetos, alguns bons, alguns maus, que ajudaram a definir muitas das minhas paixões de hoje em dia. Foi quando descobri as MTVs desta vida e, com ela, inúmeros artistas e bandas, músicas em praticamente todos os géneros musicais. Isso na verdade daria azo a um texto por si só (talvez o escreva no próximo ano). 

 

Para este, o que interessa é que a MTV, durante os intervalos, costumava passar excertos dos vários videoclipes em rotação naquele momento – incluindo, por exemplo, My Happy Ending e Nobody’s Home de Avril Lavigne – e Breaking the Habit era um deles. Ainda assim, na altura a música não me cativou logo, só o faria anos mais tarde. 

 

Diz que Breaking the Habit foi uma letra que Mike tentava escrever havia cinco anos. Durante os trabalhos de Meteora, eles compuseram um instrumental de dez minutos, eletrónico, com violinos, com a ideia de usá-lo como interlúdio. Os colegas, no entanto, convenceram Mike a convertê-la numa canção como deve ser. Mike voltou a pegar na ideia antiga e conseguiu concluí-la em duas horas. 

 

Mike refere muitas vezes Breaking the Habit como exemplo quando as pessoas parecem convencidas de que os Linkin Park só fazem música pesada e assim se devem manter e/ou quando as pessoas – incluindo os próprios colegas – acusam Meteora de ser Hybrid Theory parte 2.

 

– Breaking the Habit não tem guitarras – costuma dizer ele – não tem o Chester aos gritos, tem violinos, é uma música muito eletrónica. Nunca se encaixaria em Hybrid Theory. Estão a ver? Meteora é completamente diferente de Hybrid Theory!

 

Claro que aqui estou a exagerar para efeito cómico, mas Mike não está errado. Breaking the Habit é quiçá o maior exemplo da expansão do som dos Linkin Park em Meteora. E estou certa de que ninguém imagina Meteora (ou os próprios Linkin Park) sem Breaking the Habit. É demasiado icónica. 

 

 

Uma palavra para a demo incluída em Meteora20, cantada por Mike. A letra é ligeiramente diferente da versão do álbum, mas não é disso que quero falar – é da vozinha do Mike. Sei que isto não foi de todo trabalhado para ser editado como deve ser. É apenas Mike cantando para “um microfone mau”, sem efeitos, sem sequer se esforçar por cantar bem – ele não é nenhum Chester, mas todos sabemos que o Mike consegue cantar melhor do que aquilo. É apenas um rascunho da melodia para servir de guia para Chester fazer aquilo que melhor fazia. O próprio Mike admitiu que se expôs ao embaraço ao incluir esta demo em Meteora20. 

 

Dito isto tudo, sabendo isto tudo… eu fartei-me de rir quando ouvi esta demo pela primeira vez. 

 

E de qualquer forma, como disseram no YouTube, é assim que soamos quando nós, simples mortais, tentamos cantar como Chester. Ainda assim, eu acho que consigo cantar um bocadinho melhor do que aquilo, mas pronto. 

 

Durante muito tempo pensou-se que a letra de Breaking the Habit era sobre toxicodependência – talvez inspirada por Chester ou, como cheguei a ler num sítio qualquer, por um amigo ou conhecido de Mike. Mike desmentiu essa teoria há pouco tempo. Nesta fase do campeonato – Hybrid Theory e Meteora – as letras dos Linkin Park eram mais abstratas, focando-se menos em situações específicas e mais numa determinada emoção. Mike chegou a explicar que às vezes, quando ele e Chester escreviam letras em conjunto, cada um deles pensava em cenários diferentes. 

 

E, conforme referem neste artigo, o facto de as letras se focarem mais nas emoções em si em vez de cenários mais concretos poderá ter sido fulcral para Meteora e Hybrid Theory terem repercutido tanto entre adolescentes. Gente ainda sem a inteligência emocional para compreenderem o que estavam a sentir e porquê.

 

 

E a letra de Breaking Bad é particularmente sombria, mesmo quando comparada com o resto de Meteora. O narrador está em sofrimento profundo, em guerra consigo mesmo, possivelmente sem que os outros em volta reparem. 

 

O verso “You all assume I’m safe here in my room” chega a ser assustador. Sobretudo se o imaginarmos num contexto de família: pais que não sabem o que se passa quando os filhos estão sozinhos. Podem estar a consumir drogas, podem estar a ser abusados por pessoas próximas ou online, podem estar a auto-mutilar-se ou, pura e simplesmente, a sofrer com depressão, ansiedade ou outra doença mental. O próprio Chester costumava dizer que a sua mente era um lugar hostil, que ele não devia explorar sozinho. 

 

Na mesma linha, em “Clutching my cure”, suspeito que a cura poderá não ser bem uma cura. Pelo contrário, poderá ser um “coping mechanism” pouco saudável.

 

O narrador percebe, no entanto, que algo tem de mudar, que tem de terminar este ciclo – de uma boa forma ou de uma má forma (não me peçam para explicar a má forma). Os versos “I’ll never fight again and this is how it ends” podem ser interpretados como apontando para a segunda opção.

 

Eu no entanto prefiro acreditar que, bem, o hábito foi quebrado da melhor forma: o narrador abandonou a situação tóxica, largou as más práticas e procurou ajuda. Prefiro acreditar que Breaking the Habit deixa uma mensagem de esperança, semelhante a Somewhere I Belong, apesar do tom sombrio. 

 

Regressando à génese da música, como vimos acima, Mike escreveu a letra. Ao lê-la, o Chester reviu-se de tal maneira que se desfez em lágrimas. Durante as gravações, tinha de interromper a cada dois versos para chorar. 

 

 

Depois disto, Breaking the Habit passou a ser a música preferida do Chester, passou a ser a música do Chester, a história dele – mesmo que tenha sido o Mike a escrevê-la sobre outra coisa qualquer. Depois de ter sabido desta, arrependi-me de pelo menos parte das críticas que teci a One More Light por o Mike ter escrito letras do ponto de vista do Chester. Penso ter ouvido o Chester dizer há uma data de anos, já não me lembro onde, que quando cantava Breaking the Habit ao vivo sentia tudo de novo – dá para ver em vídeos como este. Breaking the Habit tornou-se tão a música do Chester que ninguém a cantou no concerto de homenagem no. Hollywood Bowl e o Mike nunca a tocou na digressão Post Traumatic. 

 

Falta falar sobre o videoclipe. Nunca liguei muito aos videoclipes dos Linkin Park (aqui entre nós, os AMVs que montei ficaram melhores que os respetivos vídeos oficiais), mas deste tenho de falar. Um vídeo animado, realizado por Joe Hahn em colaboração com estúdios de animação japoneses. 

 

Linkin Park e anime sempre casaram bem, em parte graças a este vídeo. Uma grande parte do impacto da música dos Linkin Park refletiu-se nos AMVs, começando nos primórdios do YouTube (ou mesmo antes?). Eu mesma contribuí para isso, ainda que vim vários anos de atraso. Mike revelou, aliás, que queria lançar um AMV para Lost, precisamente para prestar homenagem a isso. Só que is estúdios de animação japonesa são muito ciosos do seu material e não deixaram. 

 

É uma grande pena. 

 

Regressando ao vídeo de Breaking the Habit, na preparação desta análise, vi-o por completo pela primeira vez em vários anos e… au! Começa logo com uma cena de morte por suicídio: de Chester. 

 

Acho estranho isto não ter sido mais comentado ao longo dos últimos anos, que eu tenha visto pelo menos. Mas, sinceramente, foi pelo melhor. 

 

 

De resto, o vídeo mostra várias personagens em situações más, em sofrimento. A partir de certa altura, no entanto, as cenas começam a rebobinar. Da maneira como vejo, é a determinação do elenco em abandonar os maus hábitos que faz com que as situações voltem para trás, que faz com que os finais das histórias mudem.

 

E eu daria tudo para que o mesmo tivesse acontecido na vida real.

 

Chegámos finalmente a Numb – um caso óbvio de “last but not least”, provavelmente a música mais conhecida dos Linkin Park, a par de In the End. As notas de teclado na introdução são absolutamente icónicas, daquelas que toda a gente conhece. Quando era mais nova, costumava erguer a minha mão fechada durante a introdução, para a abrir quando entravam as guitarras elétricas – como que libertando a explosão (também fazia isso com Pushing Me Away). 

 

Também gosto imenso do piano nesta música.

 

Pode-se argumentar que Numb funciona como um resumo, uma conclusão do conceito de Meteora, pelo menos em termos de letra. Para além de falar de apatia e de cansaço, é a que melhor explora a ideia de supressão e mesmo mudança da própria identidade para agradar a outra pessoa. Uma vez mais, esta situação poderia aplicar-se a relações românticas – sobretudo se uma das partes se apaixonou por uma ideia que tinha da pessoa e não pela pessoa em si. 

 

Mas Numb marcou a adolescência de inúmeros por um motivo – mais do que qualquer outra explorando temas assim em Meteora, pois foi single. Toda a gente se identifica com Numb a certa altura da sua vida. Mesmo nas famílias mais saudáveis, todos têm uma ideia, uma expetativa de quem os filhos são, de quem se vão tornar. Procuram empurrá-los numa determinada direção, muitas vezes com boas intenções, até. O próprio Mike escreveria vários anos mais tarde, em Invisible, sob essa perspetiva.

 

 

No entanto, quase sempre (para não dizer sempre) os filhos contrariam esses planos. Faz parte do crescimento: a partir de certa altura, todos nós temos de nos libertar das expectativas dos demais, cometer os nossos próprios erros, traçar o nosso próprio caminho, abraçarmos quem realmente somos. Daí Numb ter uma mensagem tão universal (que eu sempre achei semelhante à de Nobody’s Fool, de Avril Lavigne). 

 

Eu adoro Numb. Foi uma das primeiras a cativar-me em 2007, no tal mp3 cheio de música dos Linkin Park. Mas, tenho de confessar: gosto um bocadinho mais de Numb/Encore.

 

Estava com receio de que o Collision Course fosse esquecido no meio do hype em torno de Meteora20. Afinal de contas, o vigésimo aniversário é só em finais do próximo ano. Felizmente não foi o caso – têm falado dele nalguns entrevistas.

 

Não que alguma vez tenha dado muita rotação a Collision Course – devia fazê-lo. No entanto, Numb/Encore tem elevado valor nostálgico para mim. Foi a segunda canção dos Linkin Park que conheci e a primeira a cativar-me. Fartava-se de ver o videoclipe na MTV e afins – há certas cenas do vídeo que ficaram logo gravadas na minha memória (espero que metam o vídeo em HD em breve, como fizeram com os de Meteora). Também me lembro de a ouvir na rádio da minha escola secundária.

 

Uma das partes que mais gosto é do acompanhamento, que reutiliza o melhor da versão original: a sequência no teclado e o piano. Gosto das partes do Jay Z quanto baste – nunca liguei muito à letra de Encore. É o típico braggadocio do rap que nunca foi a minha praia, mas que aqui tolero. 

 

 

Tirando isso, creio que o principal motivo pelo qual adoro Numb/Encore é nostalgia – pelo menos noventa por cento. Não consigo explicar, só sei que o meu sangue se enche de serotonina ao ouvir esta música. 

 

Nas últimas digressões, os Linkin Park ganharam o hábito de incluir o refrão de Numb/Encore no início e no fim das apresentações de Numb – alterando um dos versos para “Cooking raw with the LA boys”. Fizeram-no no Rock in Rio 2014, por exemplo (embora tenham mantido o "Brooklyn"), e na versão ao vivo de Numb imortalizada no One More Light Live. Gosto da piscadela de olho. 

 

Os Hybrid Theory, aliás, fizeram o mesmo no Pavilhão Atlântico. Eles por sua vez cantaram “Cooking raw with the HT boys”, o que faz sentido. Mas, aqui entre nós, tenho uma certa pena que não tenham cantado “Cooking raw with the Lagos boys” (eu explico mais tarde), mas pronto.

 

Não posso falar de Numb/Encore sem falar de Numb/Encore/Yesterday (títulos alternativos são Yesternumb ou Yesternumbencore). Como vimos acima, os Grammys ignoraram criminalmente Meteora, mas ao menos Numb/Encore foi nomeada para Melhor Dueto cantado ou em rap (não sei se é essa a tradução) e ganhou. Jay Z e os Linkin Park foram convidados para atuar na cerimónia dos Grammys, mas não lhes apeteceu cantar Numb/Encore outra vez – já o tinham feito no Roxy Theatre e no Live 8 – quiseram fazer algo diferente. Como Sir Paul McCartney ia estar presente na cerimónia, Mike e Brad Delson (guitarrista) resolveram fazer qualquer coisa com uma música dos Beatles. Yesterday encaixava-se bem num mash-up com Numb/Encore e Sir Paul aceitou cantá-la com Jay Z e os Linkin Park.

 

 

Ficou uma versão muito gira. Não existe áudio oficial, mas estava incluída no tal mp3 do meu irmão – só anos mais tarde é que me apercebi que Sir Paul também cantava. Na altura estava a ter aulas de guitarra e um dia o meu professor comentou comigo que Yesterday era das canções com mais versões no mundo. Eu falei-lhe desta, mas tive uma branca e não me lembrava do nome do Jay Z – só me recordava que era o namorado da Beyoncé (acho que ainda não estavam casados). 

 

Fica esta historieta pessoal.

 

Este mash-up também tem um valor especial porque consta que foi um dos momentos mais felizes da vida de Chester: cantar ao lado de Sir Paul, um dos seus heróis. Fico feliz por ele. 

 

Passemos agora às B-sides presenteadas em Meteora20. Essencialmente são cinco: Lost, Fighting Myself, More the Victim, Massive e Healing Foot. As outras que não são versões beta de outras músicas estão incompletas – ou então são Sold My Soul to Your Mama. Das cinco que referi acima, a única de que não gosto muito é Healing Foot. Adoro todas as outras, cada uma pelos seus próprios motivos, conforme explicarei de seguida.

 

Começando por Lost, claro. Este foi o primeiro single de Meteora20, lançado em meados de fevereiro. Como Mike e os outros já se fartaram de contar, Lost esteve muito perto de entrar no alinhamento final de Meteora. No entanto, era demasiado parecida com Numb (mais sobre isso adiante) e decidiram deixá-la de fora. Mike e os outros hoje garantem que sempre gostaram da música e que esperavam lança-la como B-side ou assim, mas não calhou. Quando avançaram para Minutes to Midnight, decidiram não olhar para trás, fazer tábua rasa dos seus métodos e esqueceram-se de Lost.

 

 

Ainda assim, partes do instrumental de Lost já eram conhecidas dos fãs mais hardcore da banda. Dá para ver no vídeo acima Chester cantando sobre este instrumental no Making of Meteora – Mike já confirmou que foi uma fase do desenvolvimento de Lost. O instrumental também aparece num par de vídeos antigos da LPTV.

 

Eu simpatizo com estes fãs ​​– e com aqueles, como este, que andavam há quase vinte anos à espera de Healing Foot (mais sobre isso já a seguir). Não tenho e nunca terei este nível de hardcore pelos Linkin Park, mas estive perto disso há uns quinze anos, mais coisa menos coisa, com Avril Lavigne. Ainda hoje tenho esperança de ouvir Daydream por completo na voz dela e de ouvir vocais neste instrumental espetacular (mesmo que até nem seja uma música dela).

 

Regressando a Lost, esta foi encontrada numa hard drive qualquer, quando os membros da banda e os seus colaboradores andavam à procura de material para Meteora20, praticamente pronta para ser editada.

 

Percebo porque é que Lost ficou de fora. Tem de facto muitas semelhanças com Numb em termos de estrutura: uma sequência de notas de teclado e/ou eletrónicas na abertura que servem de imagem de marca, guitarras elétricas juntando-se a elas (convidando-me a fazer o gesto que descrevi acima, de libertar a explosão), Chester cantando-a toda, Mike dizendo algumas frases no pré-refrão.

 

A voz de Chester soa tão bonita que dói. Como Brad gosta muito de assinalar, suave nas estâncias, poderosa e agressiva no refrão. Não admira que tenha deixado uma data de homens adultos a chorar no YouTube.

 

 

Confesso que gosto um bocadinho mais da mistura de 2002. É um pouco menos eletrónica, os instrumentos ouvem-se melhor. E fez com que me apercebesse que Lost também tem semelhanças com In the End, sobretudo na terceira parte.

 

A letra fala de alguém que está preso ao passado, a um passado doloroso. O narrador não consegue libertar-se das más recordações, sobretudo quando está sozinho, sem nada que o distraia da sua própria cabeça. É um tema muito Linkin Park, um tema muito Chester. Um cenário que se encaixa no “You all assume I’m safe here in my room” de Breaking the Habit, feridas que não saram, dor difícil de controlar, como em Crawling, uma mente que é um lugar hostil, como em Heavy e Papercut.

 

Lost está a ser o maior sucesso dos Linkin Park em anos, deixou, como referido acima, muita gente emocionada ao ouvir Chester de novo. Por um lado fico confusa – não me lembro de uma reação assim quando saiu Cross Off em 2019 ou quando saíram as faixas inéditas de Hybrid Theory no vigésimo aniversário, como She Couldn’t e Pictureboard.

 

Bem, não vou dizer que não compreenda. Cross Off não é uma música de Linkin Park (mas é excelente, oiçam-na). Por sua vez, She Couldn’t e Pictureboard têm qualidade de demos. Em contraste, Lost estava pronta para ser editada e… é fantástica.

 

Por isso sim, concordo com a opinião popular. Não lamento que não tenha sido editada com o resto da Meteora original, sobretudo se o preço fosse deixar Numb de fora – inconcebível! E, de certa forma, Deus escreveu direito por linhas tortas pois Lost está a ter o momento que merece, mesmo que com vinte anos de atraso. Dificilmente o teria se Lost tivesse sido lançada apenas como B-side.

 

Fighting Myself foi o segundo avanço de Meteora20, lançado algumas semanas depois de Lost. De início, pensei que era outra que estivera perto de alinhar na edição-padrão de Meteora. Pelos vistos não foi o caso. Consta que, durante muito tempo, Mike pensava que só existia uma versão com o seu rap, sem a voz de Chester. Mas depois alguém encontrou os ficheiros com os vocais e conseguiram fazer a mistura. Mike disse que, ainda assim, Fighting Myself não está bem no ponto. Se fosse para editá-la como deve ser em Meteora, ainda passaria por uma última ronda de produção.

 

 

Mike percebe melhor disto do que eu, mas a mim a música parece-me acabada. Enfim.

 

Gosto muito de Fighting Myself. É clássico Linkin Park: acompanhamento rock (com um sample lindíssimo da voz de Mike), rap e melodia de Chester. Gosto do ritmo do rap, combina bem com o instrumental, sobretudo com a bateria. 

 

Um dos meus momentos preferidos ocorre depois do segundo refrão, com a bateria e os acordes de guitarra. Recorda-me a terceira parte de Papercut, durante o “The face inside is right beneath the skin”.

 

O tema de Fighting Myself é muito parecido com o de Lost: sofrimento interior, esforço por ocultar esses sentimentos dos demais (com fracos resultados), incapacidade em deixar o passado no passado. Na terceira parte da música, Chester repete algumas vezes a expressão “inside of me”, o que me recorda a música com o mesmo nome de Dead By Sunrise

 

Destas cinco inéditas, na minha opinião, More the Victim é a mais interessante em termos de letra. Fala sobre pessoas que, lá está, gostam de se fazer de coitadinhas, que entram em competição para decidir quem tem a vida mais difícil. Conheço pessoas assim – aliás, acho que é uma coisa muito portuguesa. 

 

E nunca gostei. Concordo que existem pessoas com pior sorte na vida que outras e existem "problemas de primeiro mundo". Mas ninguém tem exclusividade sobre o sofrimento. Há quem se afogue em três metros de profundidade, há quem se afogue em meio metro. Ouvir alguém desabafar e responder com "Ah, isso não é nada comparado com os meus problemas" é de uma profunda falta de empatia – talvez mesmo uma variante da ditadura do pensamento positivo. Problemas são problemas, isto não é um concurso. 

 

 

Consta que a letra de More the Victim foi inspirada por um conhecido de Chester. Alguém que tentava pintar-se como menos afortunado que qualquer um. 

 

Se me permitem o humor negro, este tipo tentou mesmo competir com Chester Bennington por quem tinha uma vida mais difícil? 

 

Parece que o Chester estava verdadeiramente irritado enquanto contava a história ao Mike. Este praticamente empurrou-o para dentro da cabine de gravação, para que o Chester pudesse canalizar a sua raiva para a música. 

 

Em termos de sonoridade, esta é outra que é clássico Linkin Park: rap de Mike, melodia de Chester. Gosto imenso do instrumental – das notas de abertura, dos violinos e sobretudo da bateria. E adoro o refrão, adoro a interpretação de Chester. Dá-me vontade de dar headbangs, de cantar em altos berros. 

 

Aparentemente, os Linkin Park acharam que era demasiado pop para Meteora (ou talvez se estivessem a referir a Cumulus, uma versão beta de More the Victim que de facto é mais pop que o produto final). Talvez tivessem razão, mas fico com pena que não a tivessem aproveitado para Minutes to Midnight. Eu diria que é a minha preferida das B-sides, mas é difícil escolher. 

 

Existe uma história engraçada por detrás do título Healing Foot. Durante um concerto, Brad irritou-se com um problema técnico qualquer, pontapeou uma porta e partiu o pé (homens…). O evento inspirou o título para uma das demos de Meteora, Broken Foot, e mais tarde, uma outra, Healing Foot. 

 

 

É algo que eles fazem: usar palavras ao calhas como nomes provisórios para demos e ficheiros de música. Por vezes esses títulos sobrevivem até ao produto final, como por exemplo Faint e Figure.09. 

 

Broken Foot também foi editada em Meteora20. Infelizmente não parece ter grandes semelhanças com Healing Foot. Seria engraçado se Broken Foot fosse uma versão beta de Healing Foot. 

 

Como referi acima, esta é outra música de que os fãs estavam à espera há quase vinte anos. Desta feita, foi por causa deste excerto dos Making Of Meteora, do baterista Rob Bourdon tocando bateria sobre o instrumental de Healing Foot. 

 

Esta música abre com uma sequência de notas agudas de piano que lhe servem de imagem de marca, antes de os outros instrumentos se juntarem – como Numb ou Lost. Há aqui uma certa incongruência entre o piano, que soa quase a uma canção de embalar, o resto do acompanhamento mais pesado e a voz agressiva de Chester. Eu gosto.

 

Tirando isso, como disse acima, é a de que gosto menos das inéditas de Meteora. Não me diz muito.

 

A última música sobre a qual quero falar é Massive. Não que tenha muito a dizer sobre a sua letra e instrumental – ambos são OK. Para mim Massive é especial por ser uma nova prova de que Mike começou a cantar antes de Minutes to Midnight. Hybrid Theory teve So Far Away, de que ainda hoje gosto bastante, Meteora tem Massive. 

 

 

É possível que Mike tenha gravado estes vocais apenas para servirem de guia para Chester mas, sinceramente? Não sei se soaria melhor na voz de Chester – não teria o mesmo carácter, pelo menos. Gosto imenso da interpretação de Mike e não sou a única – são vocais naturais, sem efeitos. O problema é que a mistura não está muito bem feita – os instrumentos por vezes sobrepõem-se à voz de Mike. 

 

O pior é que aquele totó nem sequer se lembrava de ter cantado em Massive. Andava a estranhar os tweets que recebeu na altura em que Meteora20. E não concorda com os elogios (A sério, Shinoda…?). 

 

Se quisessem editar Massive em Meteora ou noutro álbum qualquer, Mike teria de ser o principal vocalista. Chester ficaria nos vocais de apoio, talvez no refrão, harmonizando com Mike, como tanto gosto. 

 

Como disse acima, existe mais material extra em Meteora20, mas sobre o qual não tenho muito a dizer. Os instrumentais em geral são muito fixes e vou mantê-los em rotação.

 

E é isto Meteora, essencialmente. Continuo a preferir Hybrid Theory e Living Things por uma quesão de sentimentalismo, mas consigo ver porque é o preferido de muitos. Além disso – no que toca à edição-padrão, claro – durante muito tempo liguei mais à sonoridade das músicas do que às letras (tal como já tinha acontecido com Hybrid Theory). Escrever esta análise permitiu-me dar a devida atenção a essa faceta e compreender ainda melhor porque é que Meteora ressoou com tantos de nós, sobretudo enquanto adolescentes. 

 

Ao mesmo tempo, continua a ter muitas semelhanças com Hybrid Theory. Compreendo o motivo pelo qual os Linkin Park sentiram necessidade de fazer tábua rasa para Minutes to Midnight – mesmo que nem esse álbum nem os posteriores tenham tido a aclamação que os dois primeiros tiveram. Eu pelo menos acho que veio muita coisa boa depois de Meteora… mas vou guardar essa conversa para textos futuros.

 

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Já que falo disso, em princípio, o próximo álbum dos Linkin Park sobre o qual escreverei será A Thousand Suns. No ano passado, dei-lhe a oportunidade que lhe devia há muito tempo e não me arrependi. 

 

Por outro lado, fi-lo no início da invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Ouvir A Thousand Suns numa altura em que se temia que os russos recorressem a armas nucleares foi… desagradável.

 

Estou a pensar escrever essa análise em 2025, a propósito do seu décimo-quinto aniversário. Depois, em 2027, lá escreverei sobre Minutes to Midnight e já terei coberto todos os álbuns de estúdio dos Linkin Park. Isto é… se nada mudar entretanto.

 

Mais sobre isso na próxima parte deste texto. Sim, ainda não acabámos, ainda há muito sobre que falar. Devo avisar, algumas das coisas serão pesadas. 

 

Em todo o caso, obrigada pela vossa visita. Continuem por aí.

Vinte anos de Meteora e outras coisas que mexem com as emoções #1

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No passado dia 25 de março, o segundo álbum de estúdio dos Linkin Park, Meteora, completou vinte anos desde a sua edição. Tal como já tinha acontecido com o seu antecessor, Hybrid Theory, a banda lançou uma edição comemorativa desse vigésimo aniversário com uma série de conteúdo extra: demos, versões ao vivo, faixas inéditas, o documentário do making of, entre outras coisas. Assim, tal como já tinha feito com Hybrid Theory, vou aproveitar a ocasião para escrever sobre Meteora. 

 

Tal como já tinha acontecido com Hybrid Theory, esta análise focar-se-á sobretudo na edição-padrão deste álbum. Não vou, no entanto, deixar de referir as demos lançadas na edição de vigésimo aniversário (vou passar a chamar-lhe Meteora20, por uma questão de simplicidade) quando achar relevante. E, claro, hei de falar de Lost e das outras inéditas. Como sempre, tenho imenso a dizer, logo, este texto virá dividido em três partes, mas só as duas primeiras é que se focarão na Meteora propriamente dita. Na última, vamos falar de um tipo diferente de Hybrid Theory – o excelente tributo português aos Linkin Park – e também sobre outros aspetos relacionados com a banda.

 

Vamos a isso, então. Meteora.

 

Antes de mais nada, contexto. Como toda a gente sabe, o álbum Hybrid Theory foi um sucesso monstruoso. Foi sugerido aos Linkin Park começarem a trabalhar num segundo álbum assim que possível, para aproveitarem a onda. Os trabalhos começaram ainda no autocarro da digressão – mais ou menos em paralelo com os trabalhos para Reanimation – ainda que não tenham aproveitado muito do que produziram, tirando coisas para samples. Por exemplo, aquele que deu origem a Somewhere I Belong terá saído desta fase. Em 2002, começaram a gravar no estúdio caseiro de Mike Shinoda – vocalista/rapper, compositor, multi-instrumentista, cérebro dos Linkin Park e no geral uma das pessoas mais fixes de sempre – e os trabalhos para o álbum durante o resto do ano.

 

Por esta altura, andava a circular pela imprensa musical um rumor de que os Linkin Park tinham, na verdade, sido fabricados pela editora, que eram pouco melhores que uma boysband.

 

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O que é irónico, tendo em conta a vida negra que a editora lhes fez durante os trabalhos de Hybrid Theory, como já tinha comentado quando escrevi sobre esse álbum. Nas entrevistas a propósito de Meteora20 descobri, por exemplo, que uma pessoa na editora quis expulsar Mike e meter um cantor de reggae em In the End.

 

O que é que aquela gente andava a fumar?

 

Uma das condições que os Linkin Park impuseram para voltarem a trabalhar com Don Gilmore foi que este os protegesse melhor do assédio da editora. Mas também, depois do sucesso de Hybrid Theory, claro que a editora ia deixá-los fazer o que quisessem.

 

Em todo ocaso, este tipo de comportamento por parte da comunicação social é uma das coisas de que não tenho saudades em relação ao início dos anos 2000. A Avril teve de lidar com o mesmo género de má-língua na altura. Na minha opinião não tinham de fazê-lo mas, para desmentir esses rumores, os Linkin Park decidiram filmar os trabalhos de Meteora – e acabaram por fazer o mesmo com todos os álbuns depois desse. Daí pérolas como esta e esta.

 

O nome Meteora foi inspirado por umas formações rochosas no centro da Grécia, onde está construído um complexo de mosteiros ortodoxos. Segundo os membros da banda, essas formações representam o carácter do álbum: conjugação de elementos que ninguém imaginava que fossem compatíveis, um misto de Natureza e obra humana, algo grandioso, quase sobrenatural. Pessoalmente, o nome Meteora lembra-me "meteoro" ou "meteorito", faz-me pensar em eventos astronómicos, o que também se encaixa no tema. 

 

Umas palavras sobre a minha história com este álbum. Só em 2017 é que ouvi estas músicas em contexto de álbum, quando comprei Meteora em CD (tal como Hybrid Theory). Durante muitos anos, ouvi-as em modo aleatório, à mistura com o resto da discografia dos Linkin Park, ou integradas noutras playlists. Como escrevi na análise ao primeiro álbum, a maior parte das músicas que preferia vinham de Hybrid Theory. No que toca a Meteora, preferia os singles e, vá lá, Figure.09. 

 

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É por isso que, apesar de concordar que Meteora é objetivamente o álbum melhor, gosto mais de Hybrid Theory: porque me afeiçoei mais depressa às músicas. E, em minha defesa, os próprios Linkin Park também parecem gostar mais do seu primeiro álbum. No que toca a concertos, nunca deixaram de dar rotação a músicas como With You e Points of Authority – enquanto temas como Easier to Run, Hit the Floor e Don’t Stay desapareceram relativamente depressa dos alinhamentos.

 

No entanto, quando ouvi o CD do princípio ao fim em 2017, gostei muito. Estas músicas mereciam mais atenção por parte da banda – isto é, antes desta edição de aniversário, claro.

 

Há quem acuse Meteora de ser um Hybrid Theory parte 2. Não estão completamente errados, mas não acho os dois álbuns assim tão parecidos. Diria que Meteora não é uma repetição de Hybrid Theory e sim uma expansão. Atinge um bom equilíbrio (não um perfeito equilíbrio) entre recriar aquilo que funcionou no seu antecessor e experimentar coisas novas. Não é fácil.

 

Claro que algumas faixas de Meteora encaixariam bem em Hybrid Theory. O exemplo mais óbvio é Easier to Run – musicalmente soando como uma Crawling 2.0. O instrumental é parecido, o estilo das melodias é parecido (vá lá, o refrão não é tão absurdamente agudo), a estrutura é parecida.

 

Dito isto, a certa altura Mike chamou a atenção para a bateria, surpreendentemente complexa, algo que nenhum baterista iniciado conseguiria tocar. Tem razão, de facto. Sugiro que oiçam, também, a demo instrumental Interrogation, onde se nota um bocadinho melhor. 

 

Não me interpretem mal. A musicalidade de Easier to Run é ótima. Estes elementos já tinham funcionado em Crawling, voltaram a funcionar aqui, mesmo sendo demasiado derivativo.

 

 

A letra de Easier to Run fala, como diz o título, de ser mais fácil fugir aos problemas do que tentar resolvê-los. Ser mais fácil suprimir os sentimentos negativos do que procurar lidar com eles, com ou sem ajuda, e adotar comportamentos mais saudáveis. 

 

Quem nunca?

 

Os Linkin Park depressa deixaram de tocá-la em concerto. Mais tarde, os membros da banda confessariam não gostar muito de Easier to Run, descrevendo-a como “melodramática”. Consigo compreender até certo ponto, mas o tema da letra é muito universal e faz sentido no contexto do resto de Meteora – incluindo as faixas-extra Lost e Fighting Myself.

 

Além de que Easier to Run é uma daquelas músicas dos Linkin Park que se torna trágica à luz da morte por suicídio do vocalista Chester Bennington, em 2017. Uma prova que todos dispensávamos daquilo que é senso comum: fugir não resulta a longo prazo. 

 

Claro que ninguém tem o direito de tecer juízos de valor sobre quem tem estes comportamentos escapistas, mesmo auto-destrutivos. Se aprendemos alguma coisa nos últimos anos, com toda esta conversa sobre saúde mental, é que muitas vezes as pessoas não conseguem lidar com estas coisas sozinhas. Muitas vezes é preciso ajuda.

 

Que isto sirva de lembrete a vocês, caros leitores, para pedirem ajuda caso estejam a passar por dificuldades em termos de saúde mental – tal como o narrador de Easier to Run e de, bem, a larga maioria de Meteora. 

 

Tirando este aspeto, no entanto, não adoro Easier to Run. Prefiro Crawling. Na minha opinião, executa melhor o conceito de música melodramática e estou mais afeiçoada a ela – penso que não sou a única.

 

 

Por sua vez, Figure.09 é uma das minhas preferidas em Meteora. Tem uma sonoridade muito Hybrid Theory (não lhe chamaria uma One Step Closer 2.0, mas o instrumental tem algumas semelhanças), podia ter sido incluída nesse primeiro álbum e ninguém daria pela diferença. Tive uma altura em que pensava que Figure.09 fazia parte do primeiro álbum. Tem aquela energia contagiante que caracteriza a larga maioria de Hybrid Theory – e que eu adoro. A edição de aniversário de Meteora inclui duas demos para Figure.09. É engraçado pois a Figure.09 parece uma combinação de ambas. 

 

A letra de Figure.09 é interessante. Parece ser sobre uma antiga relação abusiva – pode ser romântica ou não. As recordações dos maus tratores são tão marcantes, tão vívidas, que se tornaram parte da personalidade do narrador. Encaixa-se naquele que será o maior tema recorrente em Meteora: supressão da própria identidade. E na pior das hipóteses, em situações como esta, se a pessoa não tem cuidado, arrisca-se a perpetuar o ciclo de maus tratos.

 

Como disse acima, esta é uma das minhas preferidas neste álbum. E este ano está a ser engraçado com Meteora20, pois os Paramore lançaram uma música chamada Figure 8.

 

Pode haver quem inclua Don’t Stay nas que se assemelham ao estilo de Hybrid Theory. Concordo até certo ponto. Durante muito tempo considerei-a uma faixa quase puramente rock, com as guitarras elétricas e Chester cantando um verso em screamo no meio das estâncias – um estilo que, tanto quanto me lembro, não aparece em mais nenhuma música dos Linkin Park. Só recentemente, ao pesquisar para este texto, é que reparei melhor em elementos como a percussão de hip-hop e o solo do DJ Joe Hahn arranhando discos. 

 

Um instrumental muito bem conseguido, em suma.

 

 

Uma vez mais, em Don’t Stay o narrador está numa situação ou numa relação em que não se sente bem. Em que, lá está, sente que está a perder a sua identidade, a transformar-se em algo de que não gosta.

 

Por fim, temos Numb. Já tinha escrito a propósito de Hybrid Theory que esta soa a uma versão melhorada de Pushing Me Away. Eu no entanto não agrupo Numb juntamente com Easier to Run e as outras de que falámos antes. Numb é demasiado grande, demasiado icónica, com imenso carácter e peso. Sim, provavelmente não existiria se não fosse Pushing Me Away, mas Numb cresceu muito além de uma nova versão de uma música pré-existente. 

 

De tal forma que não vou falar dela para já. Fica para mais à frente.

 

Falemos, então, sobre músicas que pintam fora das linhas traçadas por Hybrid Theory. O primeiro single, Somewhere I Belong, já representa uma ligeira expansão. Sempre a considerei uma balada, ainda que dentro da fórmula rap-sobre-rock dos primeiros anos dos Linkin Park. Um ritmo mais pausado e sentido. 

 

A letra, aliás, está um passo à frente do espírito de Hybrid Theory e mesmo de outras partes de Meteora. Como em noventa por cento da discografia dos Linkin Park, mais coisa menos coisa, o narrador de Somewhere I Belong encontra-se numa situação má. A diferença em relação às demais é o desejo de mudança, determinação em fazer o trabalho necessário para sair do buraco e encontrar, se não a felicidade, pelo menos um alívio para a dor constante. “I will never know myself until I do this on my own”

 

From the Inside tem algumas semelhanças com Somewhere I Belong no sentido em que a vejo um pouco como uma balada – pelo ritmo mais lento e pela maneira como Chester canta nas estâncias. Gosto imenso do riff introdutório, como que indiciado algo épico. A letra fala essencialmente de, uma vez mais, tormenta interior e não confiar na outra pessoa. 

 

 

A demo de From the Inside, Shifter, é interessante. Tem mais rap – aliás, Mike canta tudo, o rap e as partes melódicas. A letra é intrigante – muito à moda de Meteora, fala sobre dificuldades em corresponder às expectativas dos outros.

 

Não tenho muito mais a dizer em relação a From the Inside. Não está entre as minhas preferidas.

 

Outra de que não gosto por aí além é Hit the Floor. Combina batidas hip-hop com acordes pesados de guitarra elétrica, rap de Mike nas estâncias e refrão de Chester em screamo e rap. A letra foge ao padrão de Meteora. Fala sobre pessoas que ascendem a posições de poder, muitas vezes à custa de outros, sem noção da posição precária em que se encontram. De que podem perder tudo a qualquer momento. 

 

Gosto muito mais de Lying From You, sobretudo pela musicalidade. Começa com notas de teclado, a que se juntam as guitarras pesadas. Uma vez, temos a estrutura clássica dos Linkin Park, estâncias em rap pontuadas por versos cantados, Chester no refrão. 

 

Gosto imenso deste refrão, aliás.

 

A minha parte preferida é a terceira. Nem sequer consigo descrever bem o que as guitarras estão a fazer: ganham um tom grave, dramático, criando um efeito de “descida” que fica excelente.

 

 

Uma vez mais, temos uma letra que descreve uma relação em que a outra parte não aceita o narrador tal como é. Uma vez mais, pode ser uma relação romântica, pode ser a relação de um adolescente com os adultos da sua vida – os versos “I remember what they taught to me, remember condescending talk of who I ought to be” aplicam-se bem a esse cenário. Em Lying From You, o narrador está a tentar ser a pessoa que os outros querem que seja, está a tentar manter a máscara, mas, subconscientemente ou não, começa a ter atitudes que desagradam à outra pessoa, como forma de afastá-la.

 

Não seria mais fácil terminarem de uma vez? 

 

Nobody’s Listening é uma das mais interessantes musicalmente em Meteora. Mais do que qualquer outra, esta é uma música hip-hop: usando um sample de High Voltage e outro de shakuhachi, uma flauta japonesa feita de bambu, como tem sido amplamente comentado. Consta que, na altura, a banda estava preocupada por ser um som demasiado diferente do resto do álbum, mas depois criaram um refrão mais rock, com vocais de Chester, para fazer a ponte com o resto de Meteora.

 

Não sei como é com vocês, mas gosto muito do resultado final. Tem aquele je ne sais quoi do hip-hop de meados dos anos 2000.

 

O meu primeiro contacto de que me recordo com Nobody’s Listening foi no mash-up com Step Up e It’s Going Down. O áudio fazia parte do mp3 cheio de música dos Linkin Park que o meu irmão trouxe de casa dos meus padrinhos, que já tinha referido no texto sobre Hybrid Theory. Pelos vistos, a designação “oficial” nos alinhamentos era Hip-Hop Medley.

 

Gostaria de referir, por nenhum motivo especial, que, como dá para ver no início do vídeo abaixo, durante o Rock Am Ring em 2004, o Chester atirou um “I love you, Mike” para o meio das instruções deste último para o público. Repito, falo deste momento por nenhum motivo especial. 

 

 

Por outro lado, é sempre fixe ver Chester na guitarra elétrica. Uma visão rara, mas não tão rara como se calhar alguns imaginam. 

 

Uma palavra rápida para Session, a faixa instrumental de Meteora, uma tradição em quase todos os álbuns dos Linkin Park. Quase literalmente, porque não tenho muito a dizer sobre Session em si. É uma faixa instrumental, agradável, é um mood – ainda que ache algumas das demos instrumentais de Meteora20 mais interessantes.

 

Queria só assinalar que esta é a única faixa em Meteora a receber uma nomeação para um Grammy… o que, pensando bem, é ridículo. Chester ficou particularmente aziado na altura. Acho alguma piada a isso por um lado, por outro compreendo. Session é a única música em Meteora, tirando Foreword (que é só Mike descarregando frustrações num leitor de CDs), em que Chester não participa. Claro que ele ia vê-lo como uma chapada de luva branca. E existem várias outras canções em Meteora que mereciam uma nomeação – e mesmo ganharem.

 

É por estas e por outras que, hoje em dia, ninguém leva os Grammys a sério.



As três músicas de que ainda não falámos na edição-padrão de Meteora são as minhas preferidas – penso que não sou caso único. Aliás, penso que todos concordamos que estas três fazem parte facilmente do top 10 dos Linkin Park.

 

Começando por Faint. Aquele sample com os violinos é icónico, bem como o ritmo acelerado – uma excelente bateria – e o rap de Mike a condizer. Consta que é (era? é?) uma das preferidas de Mike para tocar ao vivo e até concordo – a energia de Faint tem de ser libertada em palco.

 

 

Ou então na plateia. No concerto dos Hybrid Theory, Faint foi estrategicamente ensanduichada entre One Step Closer e Bleed it Out, mesmo para andarmos ao moche.

 

Ainda não vos contei, pois não? Eu andei ao moche no concerto dos Hybrid Theory. Eu! OK, não estava mesmo no meio, estava mais perto da borda dando uns headbangs mas, mesmo assim. Sou mais metaleira agora do que quando tinha dezoito anos. Espero que a progressão continue – hão de me apanhar aos oitenta anos fazendo crowd surfing.

 

E devo dizer, é mais fácil andar ao moche quando, se alguém caía, os outros ajudavam a levantar. Exatamente como Chester queria

 

Regressando a Faint, a letra desta encaixa-se no tema de Meteora e é bastante direta: o narrador sente-se rejeitado, negligenciado e está farto de sofrer em silêncio. É outra que serve para adolescentes projetarem as suas revoltas.

 

O verso mais associável a rebeldias juvenis e provavelmente o mais trágico de toda a letra é “But I’ll be here ‘cause you’re all that I’ve got. Aplica-se bem a relações entre pais e filhos, em que os segundos estão dependentes dos primeiros e não podem abandonar a situação de livre vontade, por mais tóxica que seja. Claro que também se pode aplicar a outras relações, como um romance ou um emprego, em que a pessoa sente (corretamente ou não) que estará pior sozinho. 

 

É um clássico.

 

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Ficamos aqui por hoje. Na próxima parte vamos, então, falar das duas faixas que faltam da edição-padrão e olhar para Lost e as outras inéditas. Continuem por aí.

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