Quando os Within Temptation concluíram o ciclo do álbum Hydra, lançado no início de 2014, os membros da banda deram por si sem saber o que fazer a seguir. Sharon den Adel, em particular, estava desgastada, com bloqueio criativo. Começava a sentir as consequências de ter passado uma boa parte da sua vida adulta em digressão, mesmo sendo mãe de três (com Robert Westerholt, guitarrista da banda). Por fim, o seu pai contraiu uma doença grave, de que viria a falecer.
Como tenho assinalado várias vezes, os últimos anos não têm sido fáceis para ninguém.
Sharon tinha, assim, muito com que lidar, muito para refletir. Quando conseguiu voltar a criar música, esta não se encaixava no leque habitual dos Within Temptation. Desse modo, decidiu lançá-la à parte, num projeto a solo, a que chamou My Indigo.
Sharon criou e editou este álbum faz hoje um ano, apenas para se satisfazer a si mesma. Sem a pressão de corresponder aos critérios da música dos Within Temptation, sem preocupações comerciais – daí não ter investido por aí além na divulgação. Em parte por isso e em parte porque o pai faleceu na altura em que My Indigo foi lançado.
Na minha opinião, foi uma decisão acertada lançar esta música como um projeto lateral. Tentar vender este material como Within Temptation podia não correr bem – até porque, como referi antes, fãs de metal nem sempre são fáceis de aturar.
My Indigo é uma mistura interessante de indie pop, folk, anos 80 e elementos orquestrais/grandiosos da música dos Within Temptation. É um som mais leve que o rock/metal sinfónico da banda holandesa, mas ao mesmo tempo e um pop mais adulto que a maioria da música que passa nas rádios, tal como referi antes.
Sharon escolheu My Indigo para nome deste álbum e deste projeto porque é essa a cor que esta música lhe evocava: índigo. Leve, mas melancólico, contemplativo. Um dos melhores exemplos é o tema-título.
My Indigo é também o nome da primeira música deste álbum a ser lançada como single em meados de novembro de 2017. Este não foi um mês fácil para mim, como penso ter referido antes – depois do concerto no Hollywood Bowl, a morte de Chester Bennington estava a atingir-me como ainda não tinha atingido antes. Misturando isso com alguns problemas pessoais e com o estado geral do Mundo (que, verdade seja dita, não melhorou deste essa altura), passei os últimos dois meses de 2017 debaixo de uma nuvem de desânimo.
Acabou por ser uma boa altura para My Indigo sair, pois o seu tom melancólico condizia de maneira agradável com o meu estado de espírito.
Mesmo hoje, My Indigo é uma das minhas músicas preferidas do álbum com o mesmo nome. O som mistura folk com sintetizadores. A letra fala de um amor não correspondido, descrevendo essa relação como “índigo” – o sentimento de melancolia, de resignação, de quem sabe que por muito que ame uma pessoa, por muito que faça por ela, ela nunca dará retorno.
Out of the Darkness seria lançada no mês seguinte. Tal como My Indigo, saiu numa boa altura, ressoando com o que andava a sentir naqueles tempos. Musicalmente, poderia funcionar como uma balada dos Within Temptation, mudando apenas alguns elementos. Começa só com piano e voz, com o resto da instrumentação – a percussão, os sintetizadores – juntando-se depois do primeiro refrão.
A letra, como o título sugere, fala de procurar fugir da escuridão, deixando para trás a nossa dor, os nossos fantasmas. Out of the Darkness refere mesmo uma pessoa que ajuda a narradora nesse processo, a suportar os momentos maus.
Acaba por ter um tema parecido ao de 26, dos Paramore – por sinal, outra música com que me identificava muito em finais de 2017. Tal como 26, Out of the Darkness explora diferentes facetas do idealismo. Por um lado, alerta para o perigo de nos perdermos nos nossos próprios sonhos e mágoas, nos versos “We dwell on our dreams and somehow we forget to live” – que, a propósito, ninguém me convence que não são a uma referência às palavras de Dumbledore, no primeiro livro de Harry Potter). Por outro, parece querer sonhar com algo mais – “See the bluebirds flying high, so I’m wondering down below, could I?”, estes uma possível referência a Somewhere Over the Rainbow.
Mais do que outra coisa, era a mensagem do refrão que ressoava comigo. Na altura em que Out of the Darkness saiu, via muita gente lidando com situações difíceis. Só para dar alguns exemplos, os fãs dos Linkin Park ainda em luto por Chester e apoiando-se uns aos outros; Hayley Williams, dos Paramore, que pusera uma boa parte da comunidade a falar sobre saúde mental; uma Youtuber que terminara uma relação prolongada e publicara um vídeo falando sobre isso. De uma maneira estranha, consolava-me saber que estávamos todos a tentar lidar com os nossos próprios problemas, a tentar cuidar de nós mesmos. Como reza a letra desta música, estávamos todos a tentar fugir da escuridão.
Estas foram as únicas duas músicas que ouvia com regularidade antes de o álbum ser editado.
Uma coisa que me confunde é o facto de a tracklist do álbum em CD ser diferente das versões digitais. Nunca tinha encontrado um caso destes. Não é grave: na minha opinião, My Indigo não é um álbum onde a ordem das faixas seja particularmente significativa – ao contrário de, por exemplo, Post Traumatic. Mas é estranho.
Crash and Burn, segundo Sharon, fala de uma pessoa próxima dela que vive uma vida instável, errática, de altos e sobretudo de baixos muito baixos (talvez seja toxicodependente). A pessoa em questão não aprende com os erros. Não que não tenha recebido ajuda, mas ele ou ela gosta de viver no limite. Até agora, tem conseguido sobreviver, reerguer-se depois de cair, mas Sharon receia perdê-lo ou perdê-la de vez, mais cedo ou mais tarde.
A sonoridade encaixa-se no estilo do álbum, com destaque para o saxofone melancólico, que faz lembrar a banda sonora de um filme western.
É uma faixa interessante, mas confesso que não está entre as minhas preferidas.
Uma música que acho muito gira neste álbum é Black Velvet Sun, mais pela sonoridade que pela letra. Mistura sintetizadores e uma percussão acelerada com o som de um violino, criando um efeito ao mesmo tempo dançante e atmosférico, de uma maneira muito única.
Indian Summer é outra canção interessante em termos musicais, ao combinar violinos e sintetizadores, lembrando um bocadinho de world music, um bocadinho de funk.
A expressão “indian summer” é usada pelos anglo-saxónicos para designar um Verão tardio: tempo solarengo e temperaturas altas algures entre Setembro e Novembro. Costuma também ser usada como metáfora para um período de alegria juvenil vivido numa fase tardia da vida. A expressão terá tido origem num romance de William Dean Howells, de 1886, com o mesmo nome. Nele, o protagonista vive um romance quando já está na meia idade.
Faz sentido, desse modo, que a narradora de Indian Summer deseje reacender uma paixão antiga.
Someone Like You acaba por funcionar um pouco como uma antítese a Indian Summer – usando também imagens outonais na letra. Esta é uma das minhas canções preferidas em My Indigo, apesar de ter algumas falhas a apontar-lhe. Adoro os vocais doces de Sharon, a sua simplicidade encantadora.
Someone Like You supostamente conta a história de um casal que se juntou na adolescência e que se vai separar ao fim de cinquenta e seis anos. Digo “supostamente” porque eu confesso que não chegaria lá sem a explicação de Sharon. A letra é um bocadinho vaga de mais. Tudo o que consigo deduzir dela é que a narradora continua tão investida na relação como no início desta e se pergunta para onde o amante deseja ir.
Não sei. Apesar de gostar imenso desta música, acho que funcionaria melhor se tivesse a letra de uma canção romântica, não de separação.
Star Crossed Lovers tem a letra mais interessante de todo o álbum, a meu ver. Esta é outra faixa com um carácter vagamente western, desta feita por causa dos violinos.
Star Crossed Lovers parece falar de um casal numa relação há já muitos anos, que talvez tenha começado como um amor proibido. Talvez tivessem havido fatores exteriores, terceiros, a conspirar contra a relação. Assim, o romance ter-se-á alimentado da excitação de quebrar as regras, os dois valorizavam os poucos momentos em que conseguiam estar juntos.
Eventualmente, a relação estabilizou. Com o tempo, a paixão poderá ter arrefecido, como acontece muitas vezes com relações prolongadas. Os dois ter-se-ão afastado um do outro sem darem por isso. A narradora deseja regressar ao modo “amantes proibidos”, recuperar esse espírito, essa adrenalina, para salvar a relação.
É um tema interessante. Só é pena a faixa ser um bocadinho curta demais.
As faixas que sobram possuem uma sonoridade grandiosa, podiam encaixar-se bem num álbum dos Within Temptation, com poucas alterações. O caso mais flagrante de todos é Lesson Learned, bastando acrescentar uns acordes de guitarra elétrica para passar despercebida na tracklist de Hydra.
Só me apercebi disso aquando da preparação desta análise, mas a letra de Lesson Learned descreve bem algo que tenho sentido várias vezes nos últimos anos, em que o mundo parece cada vez mais caótico. A narradora sente-se tentada a recorrer à apatia para se proteger das inperfeições do mundo, da aleatoriedade e falta de lógica da vida. No entanto, acaba por perceber que, ao bloquear a dor e a revolta, também bloqueia o amor e a alegria. Percebe que, por muito que diga o contrário, não quer viver uma vida sem emoção.
A lição que aprendemos, como reza o título, é que é assim que o mundo e o amor funcionam. Mesmo perante a dor e o caos, não deixam de florescer.
Where Is My Love também possui semelhanças com os Within Temptation em termos musicais, se bem que menos ostensivas – a repetição de “My mamma said” (um elemento de que não gosto muito, admito) dificilmente se encaixaria na música da banda, por muito épico que seja o acompanhamento.
Este é outro caso em que a mensagem da música nos foi informada por Sharon – neste caso, Where Is My Love fala de desigualdade de género – mas sem a adenda eu não chegava lá. Tirando a terceira estância, tomaria esta letra por mais uma história de amor não correspondido.
Não deixa de ser uma mensagem relevante, claro. Mas podia ter sido melhor explorada.
Por fim, Safe and Sound é uma carta de amor aos filhos de Sharon. Esta também possui um som grandioso, não muito diferente do típico dos Within Temptation. O exemplo mais flagrante é a pausa depois da terceira estância, onde facilmente se imaginam coros, parecidos àqueles presentes em quase todas as canções da banda.
Na letra, Sharon debate-se entre o desejo de proteger os filhos e a necessidade de prepará-los para as dificuldades do mundo – um equilíbrio que todos os bons pais procuram e que eu imagino que não seja fácil de atingir. A terceira estância é particularmente ternurenta – “love you to the moon and back again”. Sharon consegue soar doce e poderosa (sobretudo no refrão) no mesmo tema. É impressionante.
E é isto My Indigo. Diria que este é um álbum outonal: maduro, sério, introspetivo, algo melancólico e nostálgico. A própria estética do álbum, em tons terra e alaranjados, condiz com o outono.
Conforme fui referindo ao longo desta análise, algumas destas músicas refletem vários conflitos internos que tenho tido nos últimos anos, coisas que senti várias vezes. Apesar de, como referi nos meus textos de fim de ano, ainda apreciar boa música pop, apenas para cantar, dançar e entreter (tenho, aliás, vindo a apreciá-la cada vez mais ultimamente), também preciso de música assim na minha vida.
É outro dos motivos pelos quais Head Above Water, de Avril Lavigne, me desiludiu: porque não me deu música assim. Isto apesar de Avril ter estado em boa posição para criar música desse género, com a Doença de Lyme.
My Indigo não é um álbum perfeito, mas considero-o uma aposta ganha por parte de Sharon. Espero que ela não fique por aqui no que toca a este projeto. Quero outro álbum daqui a uns anos.
Eu tinha dito que não queria escrever sobre Resist, o novo álbum dos Within Temptation, sem antes escrever sobre My Indigo. Já escrevi, mas ainda não me sinto preparada para escrever sobre o álbum. Vou precisar de mais tempo. Hei de fazê-lo, eventualmente, nem que só consiga publicar no primeiro aniversário de Resist, como estou a fazer com My Indigo.
Até porque, nesta altura, a minha atenção está noutro lado – no grande projeto para este blogue de que já falei antes. Ainda estou numa fase muito inicial no planeamento, isto é capaz de demorar. Mas garanto-vos que vai valer a pena.
Segunda parte do meu balanço musical de 2018. Podem ler a primeira parte aqui. Até agora, a crónica tem sido um pouco mixórdia de temáticas, mas as secções seguintes falarão apenas de um artista ou banda (embora a segunda fale tanto de uma banda como do trabalho a solo de um dos membros). O primeiro item será uma estreia absoluta neste blogue. Deem, assim, as boas-vindas a...
Carly Rae Jepsen
Conheci Carly Rae Jepsen ao mesmo tempo que quase toda a gente: em 2012, quando o mundo inteiro andava obcecado com Call Me Maybe. Ainda hoje gosto da música. A letra é um bocadinho totó, mas isso faz parte do apelo. Além de que a melodia é irresistível. No que toca a músicas virais, esta é das melhores – até porque saiu num ano em que tivemos de levar com Gangham Style…
Quado Carly lançou o seu álbum, Emotion, três anos mais tarde, não teve o mesmo hype. Alguns dos singles geraram algum buzz, mas o seu impacto não se comparou ao de Call Me Maybe. As críticas, no entanto, foram positivas (houve quem chamasse a Emotion o “1989 de 2015”). Um YouTuber que sigo há uns anos, aliás, teceu rasgados elogios ao álbum Emotion, na altura.
Teimosa como sou, só há pouco mais de um ano é que resolvi espreitá-lo no Spotify. Já na altura gostei e acrescentei várias faixas às minhas playlists. Mesmo assim, foi só este ano, depois de comprar o álbum em CD é que me rendi a sério a Emotion. Não digo que goste de todas as músicas deste projeto, mas quando gosto, gosto mesmo muito.
O primeiro single, I Really Like You parece ter sido criado para recriar o fenómeno Call Me Maybe. A letra cai em territórios parecidos. Tom Hanks e Justin Bieber até foram recrutados para o videoclipe. A música não teve o mesmo impacto de Call Me Maybe, mas na minha opinião é melhor: um tudo nada mais cativante e com um melhor desempenho vocal.
A faixa-título Emotion é também irresistível – ainda que com uma letra inesperadamente mazinha (não no sentido de mal escrita, a narradora é que é mazinha). Por sua vez, All That é uma balada que parece saidinha dos anos 80.
Making the Most of the Night é uma música de que, de início, me esquecia um pouco, perdida entre tantas músicas giras. No entanto, quando a ouvia, censurava-me por não lhe dar mais atenção. Adoro a maneira como começa num tom mais grave, acelerando e abrandando, até finalmente entrar em crescendo até ao refrão.
Estas são apenas algumas de várias boas músicas da edição padrão do álbum. Foi esta que comprei em CD, para ouvir no carro, logo, conheço-a um pouco melhor que as faixas extra. Emotion tem uma data de b-sides, várias das quais foram lançadas num EP, chamado Emotion side B, no ano seguinte. Consta que foram compostas à volta de 250 canções nos trabalhos para Emotion (e que a editora fez uma confusão enorme no lançamento deste álbum). De qualquer forma, encontram-se várias pérolas entre estas faixas extra.
Uma delas é Love Again, que faz parte da edição japonesa. Confesso que só me apercebi desta há relativamente pouco tempo, mas tenho andado obcecada pelo seu refrão, cheio de luz.
Quem foi o idiota que deixou esta música de fora do Spotify? Não, não! Quem foi o idiota que deixou esta música de fora da edição padrão do álbum. O que a editora fez com Emotion devia dar direito a cadeia!
Dizia eu que há quem ache que o side B é ainda melhor que a edição padrão de Emotion. Eu não vou a esse ponto, mas está definitivamente ao mesmo nível – com músicas como Cry, Store e First Time. As minhas preferidas são Higher – com uma melodia que, de facto, nos leva aos céus – e Roses – uma balada lindíssima, romântica e um tudo nada sensual. Aquela terceira estância é uma obra de arte.
Deixei a minha preferida para o fim: Run Away With Me, a música que abre a edição padrão de Emotion. Eu nunca me apaixonei a sério, mas quer-me parecer que Run Away With Me é a tradução musical de cair de amores (se não for, ficarei desiludida). Desde as notas iniciais de saxofone, passando pela melodia irresistível, o refrão explosivo, terminando nos vocais em coro. Andei semanas viciada e dá para vê-lo – foi a segunda mais tocada no meu Spotify.
A letra não é nada do outro mundo, mas cumpre o seu papel. Fala de uma escapadela romântica, de fugir a tudo para estar com a pessoa amada. Está longe de ser um tema super original, eu sei, mas, mais do que na letra, a força da música está na emoção genuína com que Carly a interpreta.
Run Away With Me tem, assim, todos os elementos que atraem na música de Carly Rae Jepsen. Aliás, as músicas de Emotion – tanto a edição padrão como as múltiplas faixas extra – representam o meu ideal de música pop: bem interpretada, com melodias cativantes. As letras não precisam de ser muito muito boas ou profundas (aliás, se tenho alguma falha a apontar à música de Emotion é o facto de, em certos momentos, parecer algo impessoal), desde que não sejam completamente ocas. Desde que sejam minimamente sentidas.
Estes elementos, aliás, também estão presentes nas músicas de que falei na secção anterior, especialmente no synth pop dos anos 80 e nas músicas dos ABBA.
Por tudo isto, é um crime que Carly Rae Jepsen não receba mais atenção – quando a música mainstream de hoje em dia é tão medíocre que os Grammys tiveram de nomear músicas como The Middle e Girls Like You.
Consta que Carly se prepara para lançar o sucessor a Emotion em 2019. Não sei muito sobre este álbum, apenas que Carly terá composto à volta de oitenta músicas para este projeto (estou a ver que esta não sofre de bloqueio criativo), que terá influências disco e que o primeiro single é Party For One. É uma música gira e tem um toque pessoal que as músicas de Emotion não parecem ter – segundo Carly, a música foi inspirada numa noite que teve, pouco após uma separação. Se o resto do álbum for parecido, não me queixo.
Fico então a aguardar esse álbum. Ainda não sei se escreverei sobre ele aqui no blogue, mas, depois de Emotion, estou definitivamente curiosa.
Depois de, até agora, termos falado de músicas mais de fora do nicho habitual deste blogue, o resto da crónica será um pouco mais conservador. Começando por…
My Indigo & Within Temptation
Já tinha referido My Indigo, o side project de Sharon den Alden dos Within Temptation, de passagem, no balanço musical do ano passado. O álbum saiu em abril e não desiludiu. Foi mais um exemplo de música com influência dos anos 80 – desta feita, à mistura com folk e alguns elementos orquestrais, parecidos com os que encontramos na música dos Within Temptation. Mais do que isso, é um álbum emotivo, real, com um toque agradável de melancolia – para uma audiência mais velha que a da música mais mainstream.
Confesso que é o género de música de que tenho precisado nos últimos dois anos.
Não me vou alongar muito, pois quero escrever uma análise a este álbum a curto/médio prazo. De qualquer forma, My Indigo permitiu a Sharon curar o seu bloqueio criativo e ganhar inspiração para o novo álbum dos Within Temptation. Este chamar-se-á Resist e será lançado a 1 de fevereiro.
Duas semanas antes do álbum novo da Avril Lavigne, Head Above Water. É um aspeto curioso em que reparei há pouco tempo: desde 2004, tanto a Avril como os Within Temptation têm lançado os seus álbuns de estúdio quase ao mesmo tempo. Under My Skin e The Silent Force saíram em 2004. The Best Damn Thing e The Heart of Everything saíram em 2007 com pouco mais de um mês de intervalo (e, além disso, rimam!). Goodbye Lullaby e The Unforgiving saíram em 2011 com pouco mais de duas semanas de intervalo. O álbum homónimo de Avril e o Hydra saíram com pouco menos de três meses de intervalo em finais de 2013, início de 2014.
Isto deve ser apenas uma coincidência, creio eu (se alguém tiver provas em contrário, avise-me). É possível que existam outros artistas ou bandas que lancem música ao mesmo tempo. Em todo o caso, eu acho piada.
Os Within Temptation já partilharam umas quantas canções de Resist, mas a única que oiço com alguma regularidade é o primeiro avanço, The Reckoning. É uma boa música – gosto em particular na sequência que parece uma espécie de trompa de guerra eletrónica. Também gosto da participação de Jacoby Shaddix, dos Papa Roach.
Não quis ouvir as outras músicas, tirando uma vez ou duas. Tal como tenho referido nos últimos tempos, não gosto de ouvir um álbum às prestações, antes do lançamento oficial.
Uma palavra que tem sido usada para descrever o conceito de Resist é “futurista”. Segundo a banda, o álbum foi inspirado pela atualidade cada vez mais digital e as consequências para a humanidade. Aquilo que temos visto em termos de estética do álbum e dos videoclipes, aliás, dão a ideia de um futuro distópico, talvez mesmo cyber punk.
Faz sentido. Os álbuns até The Heart of Everything foram inspirados por fantasia épica/medieval. The Unforgiving inspirou-se em fantasia urbana (Hydra foi menos conceptual). O passo lógico seguinte, de facto, é o futuro, o distópico, a ficção científica.
Fico contente, pois sempre gostei desta faceta dos Within Temptation – embora tenha de admitir que, nos últimos tempos, prefiro música mais… “real”, menos fantasiosa.
Enfim. Pode ser que me ajude quando decidir voltar a escrever ficção.
São, assim, dois álbuns novos por que esperar em fevereiro. Não vou falar sobre Avril Lavigne e o álbum Head Above Water neste texto, pois já falei muito sobre ele há pouco tempo.
Na verdade, só vou falar sobre mais um artista nesta crónica. Nada mais nada menos que…
Mike Shinoda
A era do álbum Post Traumatic durou o ano todo (acho que ainda nem sequer acabou). Começou a 25 de janeiro, com o lançamento do EP com as três primeiras músicas. Foi continuando ao longo do primeiro semestre, com o lançamento de vários singles até à publicação do álbum completo. Mesmo depois, Mike continuou a lançar singles e videoclipes. A título pessoal, foi durante os últimos meses do ano, enquanto trabalhava na análise, que passei mais tempo com Post Traumatic.
E agora, em dezembro, Mike lançou o vinil de Post Traumatic, com duas canções inéditas, Prove You Wrong e What the Words Meant.
Em termos musicais, se Over Again e Ghosts se juntassem e tivessem um filho, esse seria Prove You Wrong. É conduzida pelo piano e algumas das melodias lembram Ghosts. Ao mesmo tempo, possuir várias semelhanças com Over Again: é cantada maioritariamente em rap, a segunda parte é cantada num tom mais agudo, denotando raiva e os últimos refrões surgem acompanhados de guitarras e vocais que, em certos momentos, parecem a voz de Chester.
Em termos de letra, Prove You Wrong está ali num intermédio entre Crossing a Line e Make It Up As I Go. É menos esperançoso e luminoso que o primeiro. É movido a determinação, como o segundo, mas o tom é menos sombrio.
Como já tínhamos visto com várias canções de Post Traumatic, Mike está à procura de um caminho para a sua vida, de um novo normal, depois de o antigo normal ter morrido, com o Chester. O rapper anda à procura de encorajamento, de votos de confiança, da parte dos demais, mas ninguém parece acreditar a sério nele. Assim, Mike decide cerrar os dentes e levar os seus planos a cabo, só mesmo para calar os céticos.
Eu perguntou-me quem eram essas pessoas que não acreditavam em Mike. Não estou a ver, por exemplo, a esposa dele, a família próxima, os colegas dos Linkin Park ou mesmo os fãs a duvidarem das capacidades de Mike – pelo contrário, Mike revelou que, ainda no rescaldo imediato da morte do Chester, pessoas na Internet suplicavam-lhe que não deixasse de fazer música.
Tudo isto leva-me a pensar que os destinatários de Prove You Wrong serão os seus próprios demónios, as suas inseguranças personificadas. As vozes que Mike diz que já não consegue ouvir em Can’t Hear You Now.
Acho que Prove You Wrong é a minha preferida das duas músicas novas, no entanto, What the Words Meant não fica muito atrás na minha consideração. É, aliás, uma música fascinante.
A sonoridade de What the Words Meant é grave e algo melancólica. De uma maneira estranha, a parte depois do segundo refrão lembra-me Midnight, dos Coldplay.
Segundo Mike, a letra de What the Words Meant foi inspirada por uma conversa que teve com uma artista musical (ele não revelou o nome dela). Mike gostara muito de um certo álbum dela e perguntou-lhe acerca dos assuntos das canções. Ela respondeu-lhe que eram sobre a morte da sua irmã. Ao saber disso, Mike nunca mais ouviu essas músicas da mesma maneira – até porque ele tivera uma perda semelhante.
Não estando, nem de longe nem de perto, a comparar a dor de Mike com a minha, esta é uma letra com que qualquer fã dos Linkin Park se pode identificar pós julho de 2017.
Conforme veremos quando voltar a escrever sobre a música da banda, depois do que aconteceu ao Chester, pelo menos metade da discografia dos Linkin Park (e também dos Dead by Sunrise) soa a pedidos de ajuda e/ou bilhetes de suicídio. Antes, se calhar, não levávamos muito a sério ou achávamos que, entretanto, ele tinha resolvido essas questões (sou culpada de ambos os casos, sobretudo do segundo). Agora sabemos que não era exagero, que não era uma personagem que Chester estava a representar. Era tudo real e, no fim, ele não conseguiu ultrapassar nada daquilo.
Como diz Mike nesta música, quem me dera não ter descoberto a verdade. Muito menos desta forma.
É uma pena que estas músicas não tenham sido incluídas na edição padrão do álbum. Mas compreendo porque não foram. Como vimos acima, Prove You Wrong é demasiada parecida com outras músicas do álbum e a letra é um pouco redundante. Por sua vez, What the Words Meant foge um bocadinho ao conceito principal de Post Traumatic. Além de que a edição padrão já conta com dezasseis faixas – e eu não excluiria nenhuma delas a favor de Prove You Wrong e What the Words Meant.
Enfim.
Nós – os fãs, Mike e os outros membros dos Linkin Park – temos passado o último ano e meio tentando habituar-nos a um mundo sem Chester. De maneiras diferentes, a ritmos diferentes, com graus de sucesso diferentes, é certo. Mas consola-me, de uma maneira estranha, saber que estamos todos no mesmo barco.
No que diz respeito a mim, não tenho estado mal. Não digo que não volte a ir-me abaixo, sobretudo quando os restantes membros dos Linkin Park tomarem uma decisão em relação ao futuro da banda. Mas acho que a pior parte já passou.
Quero acreditar que o mesmo se passa com Mike e os outros. Que eles encontraram alguma paz de espírito, um novo normal.
Tal como referi na análise ao álbum, a música que encerra Post Traumatic, Can’t Hear You Now, descreve bem o meu estado de espírito na maioria de 2018 e neste momento. Não apenas no que toca a Chester, mas no que toca à vida em geral. Sinto-me melhor que no fim de 2017, ainda que mantenha muitas das minhas inseguranças. Acho que estou no caminho certo – quero ver o que vem a seguir.
O futuro dos Linkin Park enquanto banda continua uma incógnita. Os membros que restam têm dado a entender que querem, um dia, voltar a fazer música juntos – apenas não sabem quanto.
Pessoalmente, não sei o que quero. Não sei se quero que voltem só os cinco, se quero que arranjem outro vocalista, se quero que continuem sob outro nome. Estou sempre a mudar de opinião. Nesta fase, prefiro deixar a bola do lado deles, não ter nenhuma opinião. O Mike, o Phoenix e os outros que decidam o que quiserem, quando quiserem. Quando derem esse passo, eu lidarei com isso.
E foi isto o meu ano musical. Em baixo está uma playlist com todas as músicas de que falámos aqui e mais algumas.
2018 foi um ano um bocadinho menos interessante que 2017, mas também 2017 não foi interessante pelos melhores motivos. Sinto, aliás, que 2018 foi o ano em que os músicos do meu “nicho” começaram a recuperar dos anos difíceis que tiveram – que tivemos todos. O Mike lançou música a solo. A Avril está de volta ao mundo da música, após a sua doença. Sharon e os Within Temptation também estão de volta após um período de bloqueio. Os Paramore encerraram a era After Laughter e parecem mais felizes que quando a começaram.
Talvez estejamos todos, finalmente, a dar a volta por cima.
Temos uns quantos álbuns por que esperar em 2019. Já falámos sobre os dos Within Temptation e da Avril.
Quem, pelos vistos, também se prepara para lançar um álbum novo é Bryan Adams. Não se sabe muito sobre ele, ainda – apenas que se chamará Shine A Light, que o primeiro avanço terá o mesmo nome, que Bryan filmou o videoclipe há cerca de duas semanas e que terá uma digressão no Reino Unido em 2019.
Confesso que não contava com esta. Depois de ter esperado sete anos e meio por um álbum novo após 11, em 2008, não estava habituada a esperar apenas três ou quatro anos pelo sucessor a Get Up.
Quando é que eu me tornei uma mulher tão paciente?
É possível que Shine a Light inclua uma digressão que passe por Portugal. Talvez já em 2019, talvez só em 2020. Mais uma vez, não passou assim tanto tempo depois da última vez. No entanto, se ele voltar, vou tentar ir. Depois do que aconteceu ao Chester, não quero desperdiçar nenhuma oportunidade. Já foi suficientemente mau não ter conseguido ir ao Porto ver a Lorde, em junho último.
Para além destes três, há outros álbuns que me interessam a caminho, ou que se especulam que possam estar a caminho em 2019. Já referi o de Carly Rae Jepsen, mas também poderemos ter álbuns dos Sum 41, dos Coldplay, de Mika. Na altura, decido se escrevo sobre eles ou não.
No que toca a este blogue, 2018 não foi um ano muito fácil. Por causa do meu emprego novo, tenho tido muito menos tempo para escrever. Houve alturas em que não foi fácil gerir. Infelizmente, isso não deverá mudar em 2019.
Ao mesmo tempo, apesar de ter tido menos tempo, apesar de, demasiadas vezes, ter estado semanas e semanas sem conseguir publicar, quando consegui, foram textos de que me orgulho. Os textos de Pokémon através das gerações, por exemplo, deram imenso trabalho, mas valeram a pena – oh, se valeram. Outros textos que destaco são a última análise a Tri, as análises a Head Above Water e a Post Traumatic.
Este foi também um ano em que recebi bastante feedback aqui no meu blogue. Falo dos comentários do Fernando e do Miguel, mas também aqueles que recebi no grupo Comunidade Portuguesa de Pokémon e Digimon PT. Vocês sabem que eu não dependo de validação externa no que toca à minha escrita. Mas há dias em que ajuda. Há dias em que ajuda mesmo muito. Estou muito grata.
Espero, então, conseguir manter este nível em 2019: produzir textos de que me orgulhe, mesmo que demorem.
Obrigada, então, por tudo o que fizeram por mim e pelo meu blogue em 2018. Que tenham um 2019 muito feliz, com saúde (mas não muita muita, porque senão fico sem emprego), dias bons, momentos bons, boa música, bons filmes, bons jogos, muitos Pokémon Shinies, enfim, tudo de bom. Continuem desse lado!