Segunda parte da análise a Hybrid Theory. Podem ler a primeira parte aqui.
Uma das minhas preferidas, não apenas neste álbum, mesmo de toda a discografia da banda, é With You. Descobriu-se há pouco tempo que é também a preferida de Bella Swan, do Twilight. Não sei o que fazer com essa informação.
With You tem uma letra algo vaga, não se percebendo ao certo qual é o assunto. Parece falar de uma pessoa querida que está separada do narrador. Morreu? Partes da letra parecem apontar nesse sentido – “Even though you’re close to me, you’re still so distant and I can’t bring you back”. “The sound of your voice painted on my memories/Even if you’re not with me, I’m with you.” – mas é possível que seja apenas sobre uma separação. A letra também dá a entender que o relacionamento não seria muito saudável – e que o narrador guarda arrependimentos em relação a isso.
Para mim, o melhor da música é o seu instrumental. Gosto muito da introdução – embora não consiga identificar todos os sons, tirando os discos giratórios de Mr. Hahn. Estes, aliás, estão presentes em toda a música, quase tão prevalentes como a guitarra, tendo até direito a um solo.
Já que falamos de guitarras, adoro a sequência dos acordes, imediatamente antes da primeira estância. Durante o rap de Mike, nas estâncias, a instrumentação torna-se mais leve, mais atmosférica (algo que torna a acontecer noutras faixas de Hybrid Theory, como veremos adiante). Ouvem-se apenas notas de teclado por cima da bateria – para depois se repetir a sequência inicial, durante o pré-refrão e o refrão.
Não resisto a contar-vos uma historieta pessoal engraçada. Alguns de vocês devem conhecer a música Get With You, so Ritchie Campbell. No refrão, ele canta "but I just can't get with you, with you". Eu ganhei o hábito de, quando apanhava a música na rádio, pôr-me a cantar "You, now I see, keeping everything inside" ou "You, now I see, even when I close my eyes" durante os "with you, with you". Por algum motivo, isto irrita a minha irmã – logo, comecei a fazê-lo de todas as vezes que ouvíamos Get With You.
Quem tiver irmãos compreende.
A partir de certa altura, bastavam soar os primeiros acordes para a minha irmã se virar para mim e dizer:
– Nem penses!
Eu não cantava, mas ficava a rir que nem uma perdida.
Tenho de confessar que, depois de Chester morrer, deixei de fazê-lo. Ainda assim, agora que já passaram uns anos, era capaz de voltar a irritar a minha irmãzinha com estes versos. Mas a verdade é que não a temos apanhado na rádio ultimamente.
Durante muito tempo quis fazer um AMV para esta música. Era a próxima na lista há meia dúzia de anos, quando andava a fazê-los com os filmes de Pokémon. Só que o Windows Movie Maker deixou de funcionar no meu computador. O desejo não desapareceu por completo, confesso, mas agora tenho menos tempo livre. Quando o tenho, prefiro escrever.
Outra que também esteve sempre entre as minhas preferidas (agora nem tanto, anda a ser destronada) é Points of Authority. Esta é uma das músicas com mais demos em todo o álbum – como dá para ver agora, na edição de aniversário. Numa dessas versões o rap de Mike – que, na versão final, serve de introdução e de terceira parte – toma o lugar do refrão. Outra versão usa o refrão do álbum, mas o rap é diferente – pior, na minha opinião, mais previsível.
Em suma, prefiro mesmo a versão final. Gosto imenso do rap na terceira parte, sobretudo quando Chester se junta a Mike (pelo menos nas versões ao vivo). Além disso, o refrão flui tão bem depois das estâncias que custa a acreditar que, a certa altura, a banda pôs a hipótese de não inclui-lo.
Uma confissão: espero não ter sido a única a ficar baralhada por um momento quando, no Rock in Rio de 2014, cortaram o rap introdutório. Demorei a perceber que música era.
Outra confissão: examinar a letra de Points of Authority para esta análise estragou-me um bocadinho a música para mim. Parva como sou, nunca me tinha apercebido de que o verso "while taking pleasure in the awful things you put me through" poderá ser uma referência aos abusos sexuais a que Chester foi sujeito em miúdo. Existem também referências a comportamentos auto-destrutivos, e dá-se a entender que o agressor também foi uma vítima, que está apenas a lidar com a vida da maneira que sabe.
O que é capaz de ser verídico.
O instrumental não é dos mais interessantes neste álbum, mas sempre tem uma espécie de beatbox ao longo de toda a faixa, dando-lhe carácter próprio. O que de resto alude ao rap, que fala em corridas demasiado rápidas, em alguém que não está à altura do desafio.
Neste momento e no que toca às últimas semanas, desde que comecei a examinar este álbum para escrever esta análise, as minhas músicas preferidas em Hybrid Theory são A Place For My Head e Forgotten. Já gostava delas individualmente antes disto – explicá-lo-ei porquê já a seguir – são ambas enérgicas, agressivas e soam muito bem em sequência, como surgem no alinhamento do álbum. A Place For My Head termina um pouco de repente – só temos um segundo para respirar, antes de Forgotten abrir logo a matar, com o potente refrão.
Além disso, nestas últimas semanas tenho passado mais tempo com estas duas canções do que com a maioria das outras. A Place For My Head e Forgotten são as faixas mais antigas de Hybrid Theory, compostas ainda no tempo dos Xero. A edição de vigésimo aniversário inclui demos das mesmas – intituladas Essaul e Rhinestone – ainda com a voz de Mark Wakefield. E, como vimos antes, estas demos faziam parte da cassete de audição de Chester.
A Place For My Head é uma das faixas mais pesadas em Hybrid Theory, com as guitarras e os gritos de Chester. Começa enganadoramente suave, com um riff de guitarra que faz uma boa ponte com o final de In the End. Seguem-se a bateria e os discos giratórios. É então que começa o rap de Mike, numa altura em que o riff passa a ser tocado por uma guitarra elétrica. As guitarras tornam-se mais pesadas por alturas do refrão.
Um dos melhores momentos da música é a terceira parte. Quem disser que nunca se assustou quando Chester passa dia sussurros aos gritos está a mentir. Outra das minhas partes preferidas é o encerramento: os acordes pesados de guitarra, a bateria, os gritos de Chester antes de Mike repetir o rap.
Quem disser que nunca se assustou quando Chester passa dos sussurros aos gritos, na terceira parte da música, está a mentir.
Outra das minhas partes preferidas é o encerramento:os acordes trovejantes de guitarra, a bateria, os gritos de Chester antes de Mike repetir o rap do pré-refrão. Quando abriram o concerto do Rock in Rio de 2012, eles recriaram esta parte na introdução e ficou espetacular, como poderão ouvir.
Muitos destes elementos da instrumentação de que gosto em A Place For My Head já vinham da demo Essaul – que recebeu o nome de um dos amigos de Mike e dos outros membros dos Xero. Já lá está a introdução, os sussurros que passam a gritos, a conclusão.
A diferença mais significativa é o rap de Mike: bem mais rápido, que tem sido comparado a Eminem. É de facto impressionante – gosto em particular do início da segunda estância, da pequena explosão musical quando Mike diz "stronger than a nuclear bomb". Ainda assim, prefiro o rap na versão final – só mesmo porque esse consigo acompanhar, consigo cantar. O outro não.
Por outro lado, o verso "Soon the Aztec Moon will heat my room, heal my wounds" é hilariante. Que raio significa?
Para ser justa, a letra da versão final também não é espetacular. Não é má, apenas simples e inespecífica. Fala de pessoas tóxicas, calculistas, que fazem favores só para poderem cobrar de volta. O narrador deseja fugir delas.
Quando tinha dezassete ou dezoito anos, esta era uma das músicas que me repelia, demasiado pesada para as minhas sensibilidades ainda muito pop. Hoje no entanto, como referi antes, é uma das minhas preferidas. Não sou a única – consta que é bastante popular entre os fãs.
A letra de Forgotten é um bocadinho pior que a de A Place For My Head – pinta cenários vagamente emo, vagamente sombrios, mais nada. Uma vez mais, vale pelo instrumental.
Nesse aspeto, Forgotten tem algumas semelhanças com With You no sentido em que alterna guitarras elétricas com momentos mais leves e atmosféricos, algo eletrónicos, nas estâncias. Gosto imenso do refrão, com Chester e Mike alternando na primeira metade e depois a parte melódica – quase de todas as vezes que oiço esta música, dou por mim a cantar esses versos, sobretudo no final: "In the memory, you will find me". E gosto da maneira como o último verso soa estranhamente esperançoso "until the sun rises up".
By Myself é uma faixa muito parecida com Forgotten, não apenas no instrumental como também pelo facto de o refrão ser meio rap meio melódico. A letra é melhor, a musicalidade não (não que seja pior, é apenas menos impressionante). É uma música algo deprimente, que fala sobre solidão, cansaço, desânimo, insegurança, derrotismo. Só coisas boas, como podem ver. Se uma pessoa não se distrai dando uns headbands, fica na fossa.
Consta que Chester não gostava muito de Runaway. Dizia que era uma das piores da banda, ao ponto de não querer mais tocá-la ao vivo. Eles mesmo assim mantiveram-na nas setlists até pelo menos 2012 – acho que só não a retiraram mais cedo porque sabiam que até era popular entre os fãs.
Na minha opinião, é exagero dizer que é das piores dos Linkin Park, mas de facto não é nada de especial. A letra deixa um pouco a desejar – à semelhança de Forgotten, temos imagens sombrias, de revolta adolescente. Musicalmente segue a fórmula de Hybrid Theory, mas não tem a acutilância, a ferocidade de temas como One Step Closer ou A Place For My Head.
Na verdade, agora que saiu a edição de vigésimo aniversário, gosto mais da versão demo desta faixa, Stick N Move – outra que vem dos tempos dos Xero. A versão mais antiga, com a voz de Mark Wakefield, não foi incluída na edição de aniversário, mas está disponível na Internet – em baixa qualidade.
O instrumental é parecido com o de Runaway, mas o vocal é outro: as estâncias são em rap, o refrão é diferente. A versão cantada por Chester tem uma terceira parte apenas instrumental, mas a versão dos Xero tinha um rap de Mike interessante.
Por mim, teria mantido a versão de Stick N Move cantada por Chester, juntamente com o rap da versão dos Xero. Sempre era um pouco mais interessante que Runaway. Mas consta que Don não gostava de Stick N Move. Mike e os outros também não morriam de amores pela canção, por isso, não se importaram que se transformasse em Runaway (mas no fim também não gostaram muito dessa…). Enfim.
Crawling é uma música que tem subido na minha consideração nos últimos anos, se bem que não pelos motivos mais felizes. Musicalmente é uma balada, uma das músicas mais lentas de Hybrid Theory, mas não é menos pesada que a maioria do álbum – com alguns elementos eletrónicos, nomeadamente na introdução. Em termos de vocais, é impossível não assinalar os agudos impossíveis de Chester no refrão – falaremos sobre isso já de seguida.
Todos concordam que esta será uma das músicas mais autobiográficas de Chester. O próprio explicou que a letra de Crawling é sobre admitir, por difícil que seja, que se tem um problema consigo mesmo, que não se tem controlo sobre si mesmo. No caso de Chester, isso diz respeito ao seu alcoolismo e toxicodependência, aos seus traumas, aos demónios que, no fim, lhe custaram a vida. Crawling é sobre ser-se o seu próprio pior inimigo.
Há pouco tempo, Mike contou uma história engraçada sobre a letra do refrão. Se ouvirem a versão demo, lançada agora na edição de aniversário, hão de reparar que, tirando uma secção de rap que foi cortada na versão final, existem algumas diferenças pontuais na letra. Por exemplo, o verso "Fear is powerful", no refrão. Consta que, quando Mike e Chester mostraram esta versão a Don e lhe perguntaram a opinião sobre a letra, ele respondeu:
– Está boa. Gosto muito do verso "Fear is how I fall".
Don ouvira mal a letra, mas Mike e Chester não disseram nada – concordaram tacitamente que a versão de Don era melhor.
Em todo o caso, esta história chamou-me a atenção para esse verso. "Fear is powerful/how I fall, confusing what is real". O medo deita abaixo, altera a nossa perceção da realidade. Os nossos traumas, as nossas inseguranças fazem-nos recear coisas a que, racionalmente, não daríamos importância.
Chester deu a entender que compôr e cantar Crawling, pôr a nu as suas partes mais negras, obrigou-o a tomar responsabilidade sobre si próprio, sobre a sua saúde mental. Chester não tinha problemas em admitir o seu passado difícil, os seus comportamentos aditivos e autodestrutivos. Tinha mesmo orgulho em ser um alcoólico em recuperação, em canalizar essas facetas para música que, como no caso de Crawling, depois se vendia aos milhões, ganhava Grammys e tocava ouvintes lidando com problemas semelhantes.
Pois…
Queria agora falar sobre um momento que contribuiu para a minha elevada consideração por Crawling. Foi, uma vez mais, no concerto de 2012 no Rock in Rio (que coincidiu com a altura em que estava a tomar o gosto à música mais pesada dos Linkin Park). Quando tocaram Crawling, Chester foi cantar para junto do público. Houve um engraçadinho que colocou um cachecol do FC Porto aos ombros do vocalista – um momento hilariante que, como o próprio Chester descreveu, deixou "muita gente feliz e muita gente fula".
Tenho apego a esse momento porque envolveu Chester provando um bocadinho de portugalidade, envolvendo-se por breves instantes nas nossas rivalidades clubísticas. Chester foi um bocadinho nosso.
Mas mesmo sem o cachecol, foi um momento bonito – sobretudo para os sortudos dos fãs, até tiveram o privilégio de contactar com só um dos melhores vocalistas de todos os tempos. Fiquei com inveja, claro, mas também fiquei contente por eles, por fãs portugueses terem tido essa sorte. Sobretudo o rapaz que cantou o refrão cara a cara com Chester.
Agora que ele já não está entre nós, recordações como esta – bem como quando lhe agarrei a mão por um momento no concerto do Rock in Rio de 2014 – ganharam um carácter agridoce. Pergunto-me como terão reagido aqueles fãs à notícia da morte de Chester. Terão dado graças por terem tido aquela oportunidade? Terão sentido pena por essa já não se poder repetir? Sentem mágoa, como eu, por as vozes deles cantando Crawling não terem falado mais alto que as vozes na cabeça dele?
Depois do que aconteceu há três anos, tenho pensado muito no verso "Against my will I stand beside my own reflection, it's haunting", em como ele escolheu cantar esta música específica para junto do público – não apenas no Rock in Rio 2012, também noutras ocasiões, como no vídeo da digressão One More Light. Penso no verso de No Friend, dos Paramore (já não é a primeira vez que escrevo sobre isso aqui no blogue, pois não?): "I see myself in the reflection of people's eyes/Realising that what they see may not even be close to the image I see in myself". Seria por isso que Chester vinha para junto dos fãs? Para se ver refletido nos nossos olhos, para tentar ver-se a si mesmo como nós o víamos? Não o seu pior inimigo mas sim alguém digno de admiração, de carinho?
Nunca saberemos.
Queria agora falar sobre a versão de Crawling editada no álbum da digressão One More Light. Em linha com o disco menos pesado e agressivo, esta é uma versão apenas com piano num tom um pouco mais grave que a versão do álbum, mais cantada que gritada – Chester bem se tinha queixado que a melodia original era difícil de cantar.
A música fica com um carácter completamente diferente assim. A versão de estúdio, com o refrão agudo, barulhento, soa raivosa, algo melodramática. Encaixa-se no estilo de Hybrid Theory, não me interpretem mal, e sei que é catártica para muitas pessoas, mas acho que distrai um pouco da mensagem trágica da letra.
O que não é necessariamente um ponto fraco, agora que penso nisso. Um dos feitos de Hybrid Theory, é dos Linkin Park em geral, diz respeito à maneira como deram voz às angústias e revoltas de adolescentes, sobretudo rapazes. Isto nunca altura em que sentimentos no masculino ainda eram menos tolerados que agora. Ainda assim, a emoção dominante em Hybrid Theory é a raiva, que, como já tínhamos visto antesé a única emoção que homens podem exprimir, segundo o patriarcado.
Nesse sentido, Crawling é um bom exemplo desta… ambiguidade, à falta de melhor palavra. À primeira vista (ou melhor, audição), esta é uma música dominada pela ira. No entanto, basta prestar um pouco de atenção para se perceber que essa ira esconde muita coisa.
A versão ao piano é mais transparente, nesse aspeto – o que faz sentido mais de quinze anos depois, num homem mais maduro. Esta é uma Crawling mais triste, mais resignada. Eu chorei da primeira vez que a ouvi, quando saiu o álbum ao vivo (tecnicamente já tinha ouvido esta versão antes, quando lançaram Heavy em fevereiro desse ano, mas muita coisa acontecera entretanto, tinha-me esquecido completamente). Ainda tinha passado pouco tempo, a dor era ainda recente. Esta versão soava – ainda soa – como uma versão memorial. Ainda agora, ao ver o vídeo da apresentação ao vivo, ao vê-lo cantando junto dos fãs, lacrimejei um pouco. Abracem-no. Abracem-no e não o larguem.
Eu diria, para resumir, que a versão de estúdio de Crawling é a versão adolescente. A versão ao piano é a versão adulta.
Existe outra versão adulta de Crawling, outra versão memorial. Eu já tinha falado dos Bad Wolves aqui no blogue, a propósito do cover de Zombie, que lançaram pouco depois da morte de Dolores O'Riordan. Este ano voltaram a homenagear outra lenda do rock que partiu demasiado cedo. Lançaram um cover de Crawling na semana do aniversário da morte de Chester.
Este cover acaba por ter um tom semelhante da versão de Crawling ao piano. É uma versão acústica no fundo: conduzida pelo piano, também, acompanhada por guitarra acústica, violinos, percussão. Incluíram também um solo de guitarra muito fixe. Gosto muito deste cover.
Quando publicaram esta versão de Crawling no Facebook, juntaram-lhe uma mensagem dolorosa sobre os efeitos a longo termo de abusos sexuais na infância (a parte de desvalorizar o racismo é que era desnecessária). Chester infelizmente foi um bom exemplo.
Por paradoxal que seja, gosto cada vez mais de Crawling, em parte por causa destas versões mais recentes. Mas também reconheço que, depois de 20 de julho de 2017, é uma das mais dolorosas. Antes da morte de Chester, havia muita gente que não levava a letra de Crawling a sério. Achavam que era exagerada, talvez para apelar aos dramas de adolescentes – sendo esses próprios dramas desvalorizados.
Mas não, não era exagero nenhum, era real – e quando muitos de nós o descobriram já era tarde. E foram precisamente as coisas sobre as quais cantou que o mataram.
Eu sei que tanto a vida como a morte de Chester terão ajudado muitas pessoas. Se hoje se fala mais sobre saúde mental, se as mentalidades estão a mudar, é pelo menos em parte por causa do que lhe aconteceu. Mas dói à mesma. Nos meus piores dias tenho vontade de mudar a letra para "these wounds will never heal".
*suspiro* Às vezes chateia-me que, desde julho de 2017, sempre que se fala dos Linkin Park, falamos inevitavelmente do que aconteceu a Chester. Já foi um alívio não ter tido de falar no assunto quando escrevi sobre She Couldn't, tirando uma referência muito breve. Imagino que seja mil vezes pior para Mike e os outros – talvez seja por isso que ainda não regressaram em força como banda.
Que se pode fazer? Chester era o coração dos Linkin Park. Sem ele é tudo diferente, sobretudo tendo partido da maneira como partiu. Talvez um dia seja possível recordar Chester sem dor, só com alegria. Quanto a mim e a este blogue, vou tentar não puxar o assunto sem necessidade, mas quando achar que se justifica não vou deixar de assinalá-lo.
Enfim, perdoem-me este desabafo, perdoem-me terminar esta parte da análise numa nota tão triste. A terceira e última parte será menos deprimente. Publico-a amanhã.
Hybrid Theory, o primeiro álbum de estúdio dos Linkin Park, completou na semana passada vinte anos bem contados desde a sua edição. Conforme o prometido, para assinalar o aniversário (ainda que com alguns dias de atraso), hoje vamos começar a examinar este álbum. Digo começar porque, como o costume, tinha muito a escrever e, assim, a análise terá três partes. Esta é a primeira.
Sendo Hybrid Theory um álbum de estreia, não podemos falar sobre ele sem falarmos sobre as origens da banda. Até porque, no passado dia 9 de outubro, saiu uma edição especial do álbum, comemorativa do vigésimo aniversário, com uma data de material adicional, parte dele completamente inédito, que vai até aos primórdios dos Linkin Park enquanto banda.
Já que falo nisso, quero desde já avisar que esta análise focar-se-á sobretudo no alinhamento padrão do álbum, como já tinha dito antes. Isto porque, em primeiro lugar, é aquele com o qual estou mais familiarizada. Tirando um caso ou outro, no que toca aos Linkin Park, oiço sobretudo os álbuns de estúdio. Antes desta edição de Hybrid Theory, nunca liguei muito a B-sides, a demos ou mesmo a álbuns de remixes, como o Reanimation, o Collision Course ou o Recharge (exceto singles como Numb/Encore e A Light that Never Comes). Sou uma fã pouco hardcore.
Em segundo lugar, esta nova edição de Hybrid Theory é constituída por nada menos que oitenta faixas, quatro horas e vinte e cinco minutos de música de acordo com o Spotify. É certo que uma parte parece ter sido para encher chouriços: algumas são versões ao vivo e, por exemplo, temos uma versão de One Step Closer literalmente igual à versão de estúdio, apenas sem os discos giratórios. Mas de qualquer forma, é demasiado material e esta análise já vai ser longa. Vou deixar algumas impressões sobre as B-sides mais perto do fim (tirando High Voltage e My December), e hei de referir algumas demos quando analisar as faixas principais do álbum. Mais nada.
Comecemos então pelo princípio. Mike Shinoda, hoje multi-instrumentista, vocalista/rapper e em geral cérebro dos Linkin Park, sempre mostrou aptidão para a música. Esta e o desenho são as suas grandes paixões. Aos seis anos já tocava piano. Em adolescente fazia misturas de música rock com hip-hop só pelo gozo, com equipamento de produção comprado por ele mesmo. Foi assim que aprendeu a produzir música.
Quando estava no equivalente americano ao Secundário, Mike formou uma banda chamada Xero, juntamente com os seus amigos Brad Delson (atual guitarrista dos Linkin Park), Rob Bourdon (atual baterista) e Mark Wakefield, amigo de infância de Mike, como vocalista. Mais tarde, o grupo conheceu Joe Hahn (DJ) e Dave “Phoenix” Farrell (baixista) na faculdade e acolheu-nos nos Xero. Mark, no entanto, acabou por desistir da banda e, segundo Mike, acabou por seguir uma carreira como agente de bandas.
Por esta altura, entretanto, Chester Bennington, cantor, tinha deixado a sua banda, Grey Daze. Esteve perto de desistir da música quando, no dia em que completava vinte e três anos, recebeu uma cassete com demos dos Xero. A edição de aniversário de Hybrid Theory inclui essas demos – segundo o que consegui averiguar com fãs mais bem informados do que eu, as faixas terão sido Pictureboard, Rhinestone (uma versão beta de Forgotten) e Essaul (uma versão beta de A Place For My Head). Chester terá faltado à sua própria festa de aniversário para gravar por cima das versões instrumentais destas faixas.
Quando ouviram as músicas com a voz de Chester, Mike e os outros ficaram rendidos. Brad inclusivamente, a propósito do lançamento da edição de aniversário de Hybrid Theory, falou há pouco tempo sobre o momento em que ouviu Pictureboard cantada por Chester – o guitarrista quase chorou.
Quem nunca?
Brad e os outros pediram a Chester para vir, mas por algum motivo não lhes ocorreu desmarcarem as audições com outros cantores. Já estavam a ensaiar com Chester, mesmo a gravar com ele, mas oficialmente ainda estavam à procura de vocalista. As audições decorreram ao longo de três dias, com a banda a interromper os ensaios com Chester para ouvir outros candidatos.
Ora, Chester não estava a achar piada nenhuma à brincadeira. Eu, para ser sincera, reagiria da mesma forma, se tivesse sido comigo. Qual é a lógica de fazer audições se o vocalista já estava praticamente escolhido? Era muito mais honesto desmarcar as audições – ao menos não davam falsas esperanças aos candidatos.
Consta que um desses recusou-se mesmo a fazer a audição depois de ouvir Chester a cantar, nos ensaios da banda.
– Vocês são uns idiotas se não aceitarem este gajo [Chester] – terá ele dito. Depois voltou-se para Chester e disse – Se eles não te aceitarem, liga-me e começamos nós uma banda.
Felizmente, Mike e os outros não foram idiotas.
Assim, Chester juntou-se ao grupo e assumiram como nome “Hybrid Theory” – precisamente pela sua filosofia de fundirem géneros musicais. Como vimos antes, She Couldn’t foi uma das primeiras músicas a compôrem – embora não a tenham incluído no EP que gravaram de forma independente e começaram a enviar às editoras discográficas. Esse EP, também intitulado Hybrid Theory, foi incluído na edição de aniversário. Ao mesmo tempo, recorriam à Internet para fazerem a sua música chegar diretamente a possíveis fãs.
A Internet do final dos anos 90, há que sublinhar. Muito antes de o YouTube, o Soundcloud e afins existirem. Não deve ter sido fácil.
De início tudo o que era editora os rejeitou, apesar de estarem a ter algum sucesso na Internet. Mesmo a Warner só aceitou assiná-los após os ter rejeitado três vezes – e a ideia com que fico é que o fez de má vontade, pois os primeiros tempos não foram fáceis para eles. Consta que o presidente da Warner não gostava deles, não queria lançar-lhes o álbum. Houve quem lhes dissesse para arranjarem algo que os distinguisse dos demais, tipo Joe Hahn usando bata de laboratório em palco (eu pessoalmente não me importava, mas pronto).
O pior de tudo foi terem tentado meter Chester como protagonista da banda e despromoverem os outros membros a banda de apoio. Queriam mesmo expulsar Mike, o que seria uma blasfémia. Felizmente, Chester não era uma besta e disse-lhes onde podiam enfiarem essa ideia.
Até o produtor que trabalhou com eles, Don Gilmore (que mais tarde produziria algumas faixas de Under My Skin) lhes fez a vida negra. No entanto, fê-lo porque acreditava neles, não o contrário. Consta que Don obrigou-os a comporem e gravarem uma grande parte do Hybrid Theory em dois meses – veja-se o facto de só A Place For My Head e Forgotten terem sobrevivido deste os tempos dos Xero até ao alinhamento final. Don obrigava-os a rescreverem letras umas trinta vezes, a regravarem instrumentais até ao infinito. A partir de certa altura, Mike e os outros já não podiam vê-lo à frente.
A meu ver, Don era como certos pais e professores muito exigentes com as crianças, não por maldade, antes por quererem extrair o melhor delas. Em pequenos não gostamos nada, mas mais tarde reconhecemos que a sua exigência nos tornou melhores. É claro que, com crianças, é preciso ter cuidado com tais pressões, podem ter o efeito oposto. Ao menos Mike e os outros já eram adultos – o que mesmo assim não os impediu de se irritarem com Don, ao ponto de escreverem uma letra sobre ele, como veremos adiante. E para sermos justos com Don, ele admitiu que sim, era exigente com Chester e os outros e estes irritavam-se, mas seguiam as suas instruções e os resultados estão à vista.
Chester contribuía para as letras baseando-se na sua vida difícil, com o divórcio dos pais, abuso sexual, toxicodependência, como todos sabemos – contrabalançando com a infância mais saudável de Mike e dos outros. Tentavam ser honestos, mas não demasiado específicos de modo a poder ressoar com a maioria da audiência. Consta que Don lhes ia dizendo:
– Não quero ouvir os vossos problemas, quero ser entretido!
Confesso que devo ser uma exceção à regra entre os fãs de Linkin Park porque, tirando alguns casos, no que toca a Hybrid Theory, ligo menos aos “problemas” e mais ao entretenimento: à sonoridade, à atitude, aos headbangs, ao mood. Como referi algumas vezes neste blogue, este género de música inspira-me quando escrevo cenas de ação, de luta, em ficção. Só há pouco tempo – e nalguns casos só agora, nas pesquisas para esta análise – é que comecei a prestar atenção à parte dos “problemas”.
Em todo o caso, os Linkin Park nunca tiveram problemas em combinar o seu lado autobiográfico com o lado do entretenimento.
Quando o álbum ficou pronto, toda a gente na editora se rendeu, esquecida de quaisquer problemas que pudessem ter com o grupo. O álbum passou a ser a prioridade número um. E, mais tarde, Don voltaria a colaborar com eles nos trabalhos de Meteora.
Não puderam, contudo, manter Hybrid Theory como nome da banda. A editora já tinha um grupo chamado Hybrid, ia criar muita confusão. E, aqui entre nós, Hybrid Theory não soa bem como nome de banda – é pouco fluido. Além de que, se quisessem algum dia criar música que não se encaixasse em teorias híbridas, estariam a contradizer o seu próprio nome.
Um dia Chester passou por um parque público chamado Lincoln Park. Consta que existe um em quase todas as cidades americanas. Tentaram adotá-lo como nome para a banda, mas quando tentaram criar um site o domínio “lincolnpark.com” já existia. Apropriarem-se dele sairia caro. Saiu mais barato mudarem para linkinpark.com – que, todos concordam, soa muito melhor.
Hybrid Theory ficou, deste modo, o nome do álbum. Eu, no entanto, não comecei por aí. Quando descobri os Linkin Park, estávamos em 2004/2005 – era de Meteora, quiçá de Collision Course. Mesmo assim, só fiquei a conhecê-los mais a fundo em 2007, na era Minutes to Midnight. No verão desse ano, o meu irmão foi passar férias com os meus padrinhos, que têm um filho pouco mais novo que ele. Regressou a casa com o MP3 cheio de música dos Linkin Park. Ele nunca me disse onde a obteve, mas estou certa de que foi legal.
Na altura tinha dezassete anos. Gostava de rock, desde que não se afastasse demasiado do pop – embora já começasse a ouvir Green Day, também por influência do meu irmão. Sou uma exceção à regra no sentido em que comecei a ouvir música mais pesada como adulta (bem, adulta legal) e não como adolescente. Os Linkin Park foram, a par dos Green Day (que hoje em dia já praticamente não oiço), a banda que me ajudou a fazer a transição.
Nesse primeiro ano, quando ouvia Linkin Park, ouvia as faixas todas em aleatório, sem querer saber a que álbum pertenciam. De início, as músicas que mais me atraíam eram as mais levezinhas – ou seja, Pushing Me Away e, mais tarde, In the End, no caso de Hybrid Theory.
Vou admiti-lo desde já: o motivo pelo qual Pushing Me Away me atraiu diz respeito às semelhanças com Numb. O riff na introdução, as guitarras que se juntam, a estância cantada por Chester, umas frases em rap de Mike no pré-refrão. Isso na altura não pesou, mas outra semelhança é o facto de, tal como Numb, surgir no fim do alinhamento, depois de uma faixa instrumental.
Mesmo a letra entra em territórios parecidos com Numb – no sentido em que o narrador se queixa de ter de suprimir emoções, uma parte de si, para agradar a outra pessoa.
Sei que não é justo estar a comparar uma canção com outra composta mais tarde. Mas como ouvi Numb primeiro não consigo evitar – e, em minha defesa, a própria banda admitiu há pouco tempoque, se não tivessem criado Pushing Me Away, provavelmente não teriam composto Numb, que Numb é uma versão melhorada de Pushing Me Away. Esta faixa pode ter sido a primeira a cativar-me neste álbum, mas hoje considero-a a menos interessante. Isto sem deixar de ser uma boa canção.
A segunda música de Hybrid Theory a cativar-me foi In the End – isto quando já ouvia a amálgama de músicas dos Linkin Park há uns meses. Tornou-se rapidamente uma das minhas favoritas.
Não é difícil compreender o motivo pelo qual esta canção se distinguiu das demais: é uma versão mais leve, mais pop, mais acessível, da fórmula rap sobre guitarra elétrica dos Linkin Park, sobretudo no início da carreira deles. In the End começa com uma sequência de piano, composta por Mike, que se repete várias vezes ao longo da música. As estâncias são acompanhadas por notas de guitarra e baixo e, de vez em quando, piano. Os acordes mais pesados – mesmo assim, não demasiado – só surgem no refrão e na terceira parte. In the End terá sido incluída em Hybrid Theory e lançada como single precisamente para servir de ponte entre o mainstream e o som mais pesado do resto do álbum.
E resultou. Pelo menos comigo resultou, mesmo tendo conhecido a música fora do contexto do álbum. E pela maneira como In the End é uma das canções mais populares da banda, acho que não fui caso único – se calhar, para muitos fãs, esta foi a primeira música dos Linkin Park que conheceram.
In the End caracteriza-se pelo tom leve, de apatia, de frustração. A letra é simples, fala sobre algo pelo qual se lutou, se sacrificou mas que… no fim… falha e/ou não vale o esforço. Pode referir-se a qualquer coisa: uma relação, um projeto, um emprego um objetivo qualquer. Consta que foi inspirada pelos conflitos entre a banda e a editora – aquelas pessoas que queriam promover Chester a protagonista à custa de Mike. Uma altura em que o grupo receava que o seu sonho de editar um disco fosse ao ar.
In the End foi sempre um ponto alto nos concertos dos Linkin Park – falo por experiência própria. Quando a tocaram no concerto do Rock in Rio de 2008, marcou-me particularmente – por ter decorrido poucos meses depois de me ter deixado cativar por In the End. Nunca irei esquecer a emoção de ouvir toda a gente à minha volta cantando (“rapando”?) em altos berros, de ver Mike junto do público. Ainda hoje partilho este vídeo nas redes sociais quando Mike faz anos.
In the End sempre foi a canção dos fãs nos concertos. Tecnicamente Chester cantava o refrão, um ou outro verso do rap, a terceira estância. Na prática, era frequente a voz dele afogar-se no coro da audiência. E na segunda parte da terceira estância, Chester pura e simplesmente voltava o microfone para o público. Como tal, não surpreendeu que, no concerto do Hollywood Bowl, o convidado especial de In the End tenha sido o preferido da banda: a audiência. Nem que, durante a digressão de Post Traumatic, Mike tenha escolhido esta música para deixar palavras sábias sobre Chester – antes de tocar a música ao piano, com a audiência cantando as partes melódicas.
Demorei alguns anos a ganhar apreciação pelo som mais pesado dos Linkin Park. Foi na altura em que saiu o Living Things. Passei uma boa parte desse ano e do seguinte a ouvir essas músicas, uma vez mais fora do contexto dos álbuns – à mistura com os excelentes temas do quinto disco. Só mais tarde – em 2017, poucas semanas antes do lançamento de One More Light, quando comprei o Hybrid Theory e Meteora em CD – é que me apercebi que a maior parte das músicas de que mais gostava vinham de Hybrid Theory.
Falemos então sobre elas. Começando pelo single de apresentação da banda, One Step Closer.
Este tema é um enorme clássico dos Linkin Park, um bom exemplo da sua sonoridade mais pesada – destaquem-se as guitarras na introdução, mas também Hahn com os discos giratórios, na terceira parte da música.
Consta que a letra de One Step Closer foi inspirada pela irritação que Mike e Chester sentiam com Don Gilmore – que, como referimos acima, era muito exigente com eles, raramente ficava satisfeito com o seu trabalho. O “Shut up!” da terceira parte era dirigido a Don. One Step Closer fala de frustração, de raiva, de se sentir puxado até ao limite. É uma letra simples, não demasiado específica, aplicável a milhentas situações. Talvez seja daí que venha o apelo para muitos fãs.
Eu pessoalmente acho a letra algo básica – sobretudo a terceira parte. Os gritos de Chester, entre Hahn arranhando discos, são impressionantes, não me interpretem mal. No entanto, o “Shut up when I’m talking to you” soa-me a um professor a gritar com alunos mal comportados.
Em suma, é uma boa canção, um clássico, presença obrigatória nos concertos – durante vários anos encerrou setlists. Eu em particular tenho uma boa recordação com ela: no início de 2017, no Coliseu dos Recreios, enquanto esperava pelo início do concerto dos Sum 41. Como o costume, estavam a dar-nos música, literalmente – vinda dos altifalantes, para nos entreter. Quando tocaram o One Step Closer, uma grande parte do público, eu incluída, cantou em coro.
Não surpreendeu. Os Sum 41 e os Linkin Park surgiram mais ou menos na mesma altura, têm algumas semelhanças no estilo, partilham muitos fãs. Foi um momento bonito, que serviu de aperitivo para o que viria mais tarde.
Ah, as saudades que tenho de concertos…
Ainda assim, One Step Closer não está entre as minhas preferidas dos Linkin Park. Nem mesmo de Hybrid Theory.
Quais é que são as minhas preferidas? A resposta fica para amanhã.
O primeiro álbum de estúdio dos Linkin Park, Hybrid Theory, vai completar vinte anos desde a sua edição a 24 de outubro. Para assinalar este marco, a banda vai lançar uma edição especial que inclui, mas não se limita a, um livro de fotografias inéditas, transmissões em vídeo de concertos, demos de canções conhecidas, faixas inéditas. Em jeito de aperitivo para o que aí vem, a banda lançou uma dessas faixas, She Couldn’t, na passada quinta-feira, dia 13 de agosto.
She Couldn’t foi uma das primeiras canções que os Linkin Park compuseram já com o falecido Chester Bennington na banda. O primeiro vocalista da versão beta da banda, chamada Xero, era Mark Wakefield, que chegou a colaborar na composição de canções como Runaway e A Place for My Head. Aparentemente, She Couldn't foi posta de parte relativamente cedo – nem sequer faz parte do EP Hybrid Theory.
No verão de 2009, alguém pôs à venda no eBay um CD com demos dos Linkin Park, incluindo esta canção. Consta que era uma versão de fraca qualidade, cheia de estática.
Confesso que, até agora, nunca me tinha interessado muito muito por material suplementar dos Linkin Park. Nem mesmo por álbuns de remixes, como Reanimation e Collision Course, tirando um caso ou outro, como New Divide e A Light that Never Comes. Os álbuns de estúdio sempre foram o meu maior ponto de interesse. Só há relativamente pouco tempo é que conheci My December e há ainda menos High Voltage. Ainda assim, já tinha dado com o título She Couldn’t algumas vezes no Twitter.
Imagino a alegria para esses fãs poderem ouvir a música com boa qualidade ao fim de onze anos.
Boa qualidade é como quem diz… continua a ser uma demo, a qualidade não é espetacular. A voz de Chester soa um pouco baixa no início das estâncias. Para este lançamento, eles pegaram naquilo que tinham e melhoraram o mais que puderam. No entanto, como referido acima, She Couldn’t deve ter sido descartada numa fase precoce do processo, a banda nunca se deu ao trabalho de gravar uma versão melhor. Não podiam regravar os vocais agora por… motivos óbvios.
She Couldn’t é uma música muito suave. Não tem guitarras pesadas, ao contrário de todo o Hybrid Theory. A instrumentação consiste essencialmente em sintetizadores, baixo, notas discretas de guitarra, Joe Hahn arranhando discos. É uma faixa longa, com cinco minutos de duração, foca-se no instrumental. Soa a música de fundo no bom sentido: ajuda a criar uma atmosfera particular, um “mood”, com o seu tom melancólico, muito Linkin Park.
A voz de Chester nem sempre se ouve bem, como comentei acima, mas mesmo assim ele teve oportunidade de exibir os seus dotes vocálicos nalguns momentos, sobretudo durante a segunda estância. A música repete várias vezes um excerto da música de The High & Mighty, B-Boy Document 99 – é uma das imagens de marca de She Couldn’t (ao ponto de se tornar um bocadinho repetitiva). Temos alguns versos de rap de Mike Shinoda no mesmo tom do sample – de tal forma que, no início, não percebi que era um sample, pensava que era a voz do Mike, talvez com alguns efeitos.
O narrador de She Couldn’t está a consolar uma pessoa, um amigo, que perdeu alguém, uma “ela”. Não se percebe ao certo como ou porque se deu a perda. Partes da letra dão a entender que ela morreu – "The sunlight's shinning on her now", "The sunlight's crying for her now". Outras partes não encaixam bem na teoria, nomeadamente os sentimentos de culpa do amigo do narrador. A menos que tenha sido suicídio…
O mais certo é eles terem sabido desde o início que a relação não podia durar muito. Numa determinada data, ela teria de ir para outro lugar, por compromissos profissionais ou assim. Talvez isto tenha sido um romance de verão que se tornou mais intenso do que o esperado.
Em todo o caso, o narrador de She Couldn't estende uma mão ao seu amigo, ao ouvinte. A propósito do lançamento desta música, Mike referiu que She Couldn't funcionou como um indício de direções futuras da banda, do seu lado mais gentil. "O verso 'You're not alone' cantado suavemente lembra-me que, apesar de nos termos estreado com uma canção que grita 'Shut up!' (cala-te), aquilo que a maior parte dos fãs acabaram por descobrir foi que empatia e comunidade eram também uma parte integral do ADN dos Linkin Park."
Essa empatia e comunidade são aquilo que nos tem sustentado nestes últimos três anos.
Em suma, não estando entre as melhores dos Linkin Park, She Couldn't é uma música gira, uma pérola escondida que nos permite imaginar um álbum de estreia diferente.
Se foi bem excluída de Hybrid Theory? Sim e não. Por um lado, o álbum padrão é intenso, é rápido, mesmo os momentos mais pausados, como Crawling e Pushing Me Away têm guitarras pesadas. Nesse sentido, She Couldn't seria um grande outlier.
Por outro lado, tal como referi acima, a música tem aquele tom melancólico que caracteriza o estilo dos Linkin Park, sobretudo em início de carreira. Se o Hybrid Theory fosse diferente, um pouco mais variado, incluísse músicas mais calmas como My December (uma faixa com algumas parecenças com esta), She Couldn't teria de ser uma delas.
Hei de voltar a esta questão em breve. Tenho estado a trabalhar numa análise a Hybrid Theory, para ser publicada no dia 24 de outubro – o dia do vigésimo aniversário. Sim, ainda faltam dois meses, mas vocês sabem que eu trabalho devagar. Ainda por cima, em setembro e outubro vamos ter um total de cinco jogos da Seleção. Haverão alturas em que estarei ocupada com o meu outro blogue. Por um lado vai ser bom, estou cheia de saudades da Turma das Quinas. Por outro, este blogue será um bocadinho prejudicado. É melhor adiantar trabalho.
De qualquer forma, fico contente por já termos She Couldn't. Deu-me uma desculpa para não deixar o estaminé ao abandono durante demasiado tempo, para deixar um cheirinho da análise maior, ao álbum inteiro.
A minha ideia será focar-me mais no alinhamento padrão de Hybrid Theory, visto serem essas as músicas que conheço melhor. No entanto, como a edição especial será editada a 9 de outubro, devo incluir algumas impressões sobre as inéditas que lançarem. Nada de muito detalhado, em princípio.
Em relação aqui ao blogue, para que este não fique parado durante muito tempo, estou a pensar fazer algo que não faço há muito tempo: responder a uma tag. A última que fiz foi esta.Só para variar um bocadinho.
Segunda parte da minha análise a One More Light. Podem ler a primeira parte aqui.
ALERTA: Este texto irá abordar temas pesados como depressão, suicídio e causas de suicídio. Se estes temas forem um gatilho mental ou, como dizem os anglo-saxónicos, triggers– no sentido de evocarem recordações traumáticas ou outras formas de sofrimento psicológico – aconselho-vos a não o lerem.
Se vocês se debatem com pensamentos suicidas ou desejos se fazerem mal a vocês mesmos, por favor, não o façam, peçam ajuda. Deixo aqui linhas de apoio tanto em Portugal como no Brasil. Quem conhecer mais linhas, por favor, deixe nos comentários. O mundo precisa de vocês, peçam ajuda!
Falemos, agora, sobre os temas cantados por Chester (isto é, tirando aqueles que analisámos na primeira parte). Começando por Nobody Can Save Me, que abre o álbum. Este é outro caso em que não gosto muito do acompanhamento musical mas gosto da melodia e interpretação. A letra fala de sintomas depressivos, de “soluções falsas” – podem ser toxicodependência ou pura e simplesmente isolamento, solidão – mas de uma forma algo vaga. Um pouco como Battle Symphony.
Uma coisa devo dizer, no entanto: numa das vezes que ouvi esta música nas primeiras semanas, ou meses, após a morte de Chester, senti um nó na garganta ao ouvir o refrão. “Tell me it’s alright. Tell me I’m forgiven tonight”. Como se fosse o próprio Chester a pedir perdão por ter partido.
Vou mesmo dizê-lo: o desempenho vocal de Chester é a melhor parte deste álbum. Chester era conhecido sobretudo pelos seus gritos inigualáveis, mas One More Light deixou provado que ele também sabia cantar.
Halfway Right é, para além de Heavy, a única música em One More Light em que Chester é creditado como compositor. Dá para notar um pouco na letra que, ao contrário de outras neste álbum, pinta cenários mais ou menos específicos em vez de metáforas vagas. Chester fala de se drogar em adolescente com outros miúdos, de certa noite ter ido tão longe que, quando deu por si, estava ao volante de um carro.
Medo…
Na segunda parte, a letra fala sobre ignorar os conselhos dos mais velhos – de se rir na altura e, agora, reconhecer que tinham razão. Havemos de regressar a esse tema.
Em suma, gosto da letra, mas a instrumentação diz-me pouco. Não gosto muito da melodia, apesar de Chester a interpretar bem. Por fim, acho o final demasiado repetitivo.
Agora vamos falar sobre aquelas que, na minha opinião, são as melhores músicas do álbum, tanto pela letra como por, ao contrário das restantes, terem uma instrumentação decente, mesmo boa.
Talking to Myself é a música mais pesada em todo o One More Light – apesar de poder ser descrita como “apenas” pop rock. Gosto imenso da introdução com as notas de órgão e, depois, a guitarra elétrica e a bateria.
A letra de Talking to Myself tem um conceito interessante. Como vimos antes, foi escrita da perspectiva de Talinda, a esposa de Chester, enquanto o marido passava pelas suas piores fases. Fala da solidão que ela terá sentido, do comportamento alterado dele (consta que é um dos sintomas de toxicodependência), a tendência dele para se isolar das pessoas de quem gosta (um sintoma de depressão), a incapacidade de comunicar.
É daí que vem o título da canção. Talking to Myself, falando conosco mesmos, falando para uma parede.
Como vimos antes, não terá sido Chester a escrever esta letra. No entanto, pergunto-me quanto disto terá vindo da própria experiência de Mike, Brad e os outros, que acompanharam os altos e baixos do amigo durante duas décadas.
Depois de Chester morrer, a canção ganhou um significado adicional, pelo menos para mim. Nós, os fãs, que temos falado e falado sobre Chester desde aquela quinta-feira três vezes maldita. Chorado por ele, gritado por ele, dizendo o quanto o adoramos, as saudades que temos dele…
...e não sabemos se ele nos consegue ouvir. Não sabemos se não estamos, lá está, a falar connosco mesmos, para uma parede, para o vazio.
A música de que vamos falar a seguir é a melhor e a mais dolorosa de todo o álbum. One More Light, que também dá o nome ao disco.
Musicalmente é perfeita. Minimalista, apenas com órgão, piano, guitarra e pouco mais – contribuindo para o tom intimista, casando bem com a melodia e letra tristes. A interpretação de Chester é igualmente irrepreensível – eu destacaria os vocais agudos de “I do” no fundo, durante o solo.
Agora a letra. One More Light foi inspirada pela morte de Amy Zaret, uma amiga da banda, que morreu em outubro de 2015 após uma curta batalha com um cancro. O co-compositor, Eg White, também tinha perdido um amigo. Suponho que os outros membros dos Linkin Park se terão inspirado em perdas suas – Chester, por exemplo, tinha perdido o padrasto. Poucas coisas são mais universais, infelizmente.
A letra descreve bem as diferentes manifestações do luto, sobretudo na segunda parte: a raiva, a sensação de injustiça, o lugar vazio à mesa, os momentos em que a dor vem do nada e tira-nos o tapete debaixo dos pés. O refrão e o título reforçam a ideia de que é apenas uma pessoa entre mil milhões, uma insignificância se olharmos para o planeta como um todo, mas que afeta profundamente as pessoas mais próximas.
Faz pensar duas vezes sobre coisas como as estatísticas do Coronavírus, por exemplo. “Só” morreram trinta pessoas hoje? Bem, são só trinta famílias, trinta grupos de amigos e conhecidos cujas vidas nunca mais serão as mesmas depois disto. Morrem pessoas todos os dias, sim. Mas é sempre uma grande perda para alguém.
Por outro lado, o verso “who cares if one more light goes out? Well I do” foi usado para evitar uma morte por suicídio no ano passado. É apenas um exemplo das vidas que a morte de Chester pode ter salvo, ao inspirar uma mudança de mentalidades sobre a saúde mental.
O que me leva à primeira estância da canção. Acreditem ou não, dois ou três dias antes da morte de Chester, estive a ver a apresentação de One More Light no Jimmy Kimmel (abaixo). Se não me engano, foi no dia em que o álbum saiu. A ideia era tocarem Heavy, o primeiro single. No entanto, a banda decidiu tocar One More Light em homenagem a Chris Cornell, um grande amigo de Chester, morrera por suicídio na véspera – fez ontem três anos. Ontem, aliás, saiu uma entrevista inédita de Chester falando sobre Chris.
Consta que, nos ensaios, Chester mal conseguia cantar. Mesmo na apresentação ao vivo, em direto, dá para ver que ele (à semelhança dos outros, na verdade) estava à beira das lágrimas. E aquela falha a meio do verso, no último refrão.
Dizia eu que, para aí na segunda-feira da semana fatídica, estava eu a ver esta apresentação. A pensar e a anotar no meu caderno que os primeiros versos de One More Light falam de sofrimento invisível aos demais – podia ser sofrimento físico, associado a uma doença como o cancro, podia ser sofrimento psicológico, por depressão, como aquilo que matara Chris Cornell.
Ah, se eu soubesse…
Na quinta-feira seguinte, quando ainda estava a tentar processar a notícia, pus-me a ouvir a música, esta mesma apresentação. Quando chegou à parte do “Can I help you not to hurt anymore?” chorei pela primeira vez. Eu teria tentado ajudar se pudesse, teria feito o possível para evitar aquele desfecho, mas não pude fazer nada. Ninguém pôde.
Os Linkin Park referiram antes que tinham escolhido esta música para dar o título ao álbum – quando nenhum dos álbuns anteriores partilhara o nome com uma das suas faixas – precisamente por a considerarem o centro de gravidade emocional do álbum. E foi isso que aconteceu… mas não da maneira que previram. One More Light foi a canção em volta da qual fãs enlutados se uniram depois da perda de Chester – meros dois meses após a música ser lançada. Chester cantou o seu próprio requiem.
Eu adoro a música mas não a oiço muitas vezes. Lembra-me as primeiras semanas após a tragédia. É demasiado dolorosa, sobretudo se não estiver à espera.
Talvez devesse ter deixado One More Light para o fim, mas não queria terminar esta análise numa nota tão triste. Assim, vamos encerrar com Sharp Edges, que também encerra o álbum.
Esta tem uma sonoridade que no início, confesso, estranhei: mais folk do que estava à espera. E também nunca tinha imaginado Chester cantando algo como “Momma always told me…”. Mas não demorei a entranhar e, hoje, gosto bastante desta música.
A letra de Sharp Edges lembra-me um pouco Into You, do projeto lateral de Chester, Dead By Sunrise. À semelhança de Into You, Sharp Edges explora o paradoxo da vida de Chester. E, na verdade, na vida de toda a gente, em diferentes graus. Na maneira como educamos crianças.
Eu não tenho filhos, mas sei que existe uma linha ténue que separa proteger as nossas crias e deixá-las ganhar independência. Todos preferíamos que jogassem pelo seguro, que não saíssem dos limites, que optassem pelos livros em vez das drogas. Mas também já está mais que provado que proteger as crianças em demasia acaba, mais cedo ou mais tarde, por ter o efeito oposto.
Além de que, da experiência que tenho, há coisas que os mais velhos não nos conseguem ensinar, por muito que tentem. Há coisas que temos de aprender por nós mesmos. Conheço gente que, por exemplo, se arrepende de não ter estudado mais quando era jovem – e que agora tem filhos que estão a cometer os mesmos erros.
Mesmo eu, que sempre fui uma menina certinha, me arrependo de muitas coisas que fiz (ou não fiz) no início da minha vida adulta. Se tiver filhos, vou tentar evitar que cometam os mesmos erros – mas será que eles ouvirão? Eu não ouvi os meus pais.
Falando especificamente de Chester, toda a gente sabe que ele teve uma infância e adolescência horríveis que o marcaram para a vida toda. Devia ter sido mais protegido pelos adultos da sua vida. Ao mesmo tempo, tal como admitiu em Halfway Right, o próprio Chester terá tomado uma série de más decisões e sofreu as consequências.
E no entanto… seria ele o Chester que conhecíamos e adorávamos sem esse passado? Seria ele capaz de criar a música que criou e tocou tanta gente – salvando vidas, tanto em vida como em morte, sentando-se no escuro ao lado dos seus ouvintes, como escrevem aqui– teria ele tido os seus seis filhos, conhecido Talinda? Talvez fosse uma pessoa mais saudável, mais feliz, talvez ainda estivesse entre nós – mas seria o mesmo?
Os próprios Linkin Park escreveram na sua mensagem de despedida que sempre souberam que os demónios que levaram Chester faziam parte do pacote. Eu demorei um bocadinho mais a chegar aí.
Isso significa que a morte de Chester era inevitável? É uma das perguntas por responder que se têm mantido nestes últimos três anos: se haveria maneira de evitar isto, o que se podia ter feito.
Eu recuso-me a acreditar que era inevitável. Pura e simplesmente recuso-me – tal como não acredito que a morte por suicídio alguma vez seja solução. Vale sempre a pena pedir ajuda e/ou ajudar uma pessoa em dificuldades. Mesmo que só sirva para adiar o desfecho.
Consta que Chester podia ter morrido por suicídio mais cedo, algures em 2005 ou 2006. Eu só me tornei fã em 2007. Se ele tivesse morrido nessa altura não estaria aqui a escrever este texto. Estou grata por aqueles dez anos extra.
Torno a repetir a mensagem do início do texto: peçam ajuda. Vocês são importantes, vocês fazem falta, o mundo não é o mesmo sem vocês. Cada dia que passam com aqueles que gostam e que gostam de vocês é um dia ganho. Não deixem de pedir ajuda.
Por outro lado, só o facto de a perda de Chester ter motivado Talinda, Mike e os outros membros da banda a fazerem campanha pela saúde mental, contribuindo para a mudança na linguagem em torno do tema, só o facto de, como vimos acima, um verso de One More Light ter salvo uma vida, torna tudo isto menos insuportável. Chester continua a salvar vidas.
E é isto One More Light. Como veem, deixa muito a desejar mas não é tão mau como muitos o pintam. Quando estava a planear esta análise antes de Chester morrer, uma das minhas notas para as conclusões era, parafraseando, “A coisa boa no meio disto tudo é que os Linkin Park estão sempre a mudar de estilo. Mesmo que não gostemos deste trabalho, o próximo será diferente”.
Pois…
Tecnicamente, Mike lançou um álbum a solono ano seguinte e esse foi, de facto, diferente. Mas não sei se conta
De qualquer forma, no fim disto tudo, eu aceitaria vinte ou trinta anos de álbuns piores que One More Light se isso significasse que Chester ainda estaria vivo. Quanto mais não fosse porque os Linkin Park tocariam sempre os velhos êxitos em concerto. Mais: eu aceitaria que os Linkin Park se dissolvessem como banda, que Chester nunca mais criasse música. Ao menos eu saberia que ele estava por aí, com a esposa, com os filhos, com os amigos.
No cômputo geral das coisas, um álbum menos conseguido está longe de ser o fim do mundo. Perder pessoas, perder heróis, é que é horrível. Bolas, uma pandemia como a que estamos a viver, que condiciona as nossas vidas de uma maneira inédita, é que é horrível. Se todos os nossos problemas fossem álbuns maus dos nossos artistas ou bandas…
Ao menos já escrevi sobre One More Light. Agora já posso escrever sobre Hybrid Theory e Meteora, como desejo há imenso tempo. Não assim tão cedo, quero aproveitar o vigésimo aniversário do primeiro álbum dos Linkin Park. E um dia destes dou uma nova oportunidade a A Thousand Suns.
Foi doloroso escrever partes deste texto mas, no geral, a perda de Chester já não dói tanto. Parecendo que não, já passaram quase três anos, já aconteceu tanta coisa desde então. E, como já referi em textos anteriores, de uma maneira estranha, escrever sobre isso faz com que, mais tarde, doa menos. Só com este texto, passá-lo a computador custou bem menos do que escrever o primeiro rascunho.
Não sei se conhecem a teoria da bola numa caixa com o botão da dor. No início do luto, a bola ocupa a caixa quase toda, não é preciso muito para que esta pressione o botão. Com o tempo a bola tende a diminuir – a um ritmo diferente para cada pessoa e podem existir alturas em que cresce de novo. Uma bola mais pequena prime o botão menos vezes. A bola nunca chega a desaparecer mas, regra geral, o tempo torna a situação mais fácil.
No meu caso, acho que tenho algum controlo sobre a bola. Sei antecipar as situações em que a bola carrega no botão: quando oiço One More Light, a música, quando penso muito no assunto (como tive de pensar para escrever este texto), quando me ponho a ver vídeos dos Linkin Park no YouTube – sobretudo deles, Chester, Mike, fazendo palhaçadas. Assim, procuro evitar estas situações.
O futuro dos Linkin Park continua incerto. No entanto, ficou mais definido nas últimas semanas. Phoenix revelou que, antes de a pandemia ter tomado esta dimensão, a banda andava a criar música. Quando entraram em quarentena suspenderam os trabalhos, naturalmente, mas ainda hoje, de vez em quando, falam sobre o assunto, discutem ideias, no Zoom.
Aqui entre nós, eu estava com medo deste momento. A revelação de que os Linkin Park estão a criar música outra vez, o eventual anúncio de um álbum novo, o primeiro sem Chester.
Não me interpretem mal, eu sempre disse deste o início que apoiaria a banda no que quisessem fazer a seguir. Não significa que seja fácil para mim – pelo contrário, agora é que vai doer como o catano.
Quando se fala nisso, repito para mim mesma “Ainda não estou pronta, ainda não estou pronta, ainda não estou pronta… Lido com isso na altura, lido com isso na altura, lido com issso na altura…”. É o que tenciono fazer. Ainda vai demorar até chegar esse momento, com o Coronavírus e tudo mais. Porém quando for mesmo oficial, tirarei um momento para processar, para lidar com as minhas neuroses, talvez desabafe aqui no blogue, mas, no fim, ficarei contente.
A curto prazo, aqui no blogue o próximo texto será a análise a Petals For Armor, o álbum a solo de Hayley Williams, que saiu há coisa de dez dias. Já estou a escrevê-lo – andava a antecipar este texto há meses, quase desde que publiquei a análise às primeiras músicas, Simmer e Leave it Alone. Neste momento vou em cerca de trinta páginas A5 de notas (OK, com letra grande), ou seja, tenho muito a dizer sobre este álbum. Devo demorar um bocadinho... mas vou divertir-me imenso!
Isto vai doer, mas se não arrancar este penso rápido agora, nunca mais o arranco.
ALERTA: Este texto irá abordar temas pesados como depressão, suicídio e causas de suicídio. Se estes temas forem um gatilho mental ou, como dizem os anglo-saxónicos, triggers– no sentido de evocarem recordações traumáticas ou outras formas de sofrimento psicológico – aconselho-vos a não o lerem.
Se vocês se debatem com pensamentos suicidas ou desejos se fazerem mal a vocês mesmos, por favor, não o façam, peçam ajuda. Deixo aqui linhas de apoio tanto em Portugal como no Brasil. Quem conhecer mais linhas, por favor, deixe nos comentários. O mundo precisa de vocês, peçam ajuda!
Os Linkin Park lançaram One More Light, o seu sexto (e até agora último) álbum de estúdio, há precisamente três anos. Ando a adiar a análise a esse álbum quase desde essa altura. O meu plano inicial era publicar esse texto durante o verão de 2017. Comecei a planeá-lo logo depois de publicar a minha análise a After Laughter. Já tinha inclusivamente escrito a introdução…
… mas depois Chester Bennington, um dos vocalistas, morreu.
A análise ficou, assim, em águas de bacalhau. De início era por motivos de luto, conforme expliquei na altura. Mesmo passados um ano ou dois, já com a fase pior do processo para trás, fui continuando a adiar o texto sobre One More Light. Em parte porque tinha outros textos que queria escrever… mas também porque escrever esta análise não foi fácil e, vejo agora, o meu subconsciente sabia que ia ser assim.
Um dos principais motivos para ter custado tanto foi porque teria de dizer mal sobre o último álbum de Chester em vida. Sobretudo quando ele, na altura, estava tão entusiasmado com ele. Ao ponto de ter deixado críticas duras aos fãs que reclamaram do novo som – ele mais tarde retiraria estas palavras, mas agora, em retrospetiva, estas parecem um indício claro de que ele não estava bem.
Sei perfeitamente que não é racional. Lá por ser fã, não tenho a obrigação de venerar automaticamente todo e qualquer material produzido pelos meus artistas ou bandas preferidos. Regra geral, costumo ter boa vontade para com os músicos do “meu nicho”, mas quem der uma vista de olhos pelos textos deste blogue dedicados a música, saberá que tenho sentido crítico. Não sou menos fã por isso.
Da mesma forma, nenhum artista ou banda tem a obrigação de criar música perfeitamente talhada para os meus gostos.
Dito isto tudo, por muito irracional e hipócrita que seja… quando há uma perda como esta é diferente. As pessoas não gostam de dizer mal dos mortos. Por um lado, não estão cá para se defenderem. Por outro, porque, depois de os perdermos, consolamo-nos recordando os seus melhores feitos. Não as coisas que ficaram abaixo das nossas expetativas.
Em todo o caso, já prolonguei isto durante demasiado tempo. Até porque quero escrever sobre outros álbuns dos Linkin Park – nomeadamente Hybrid Theory e Meteora. Fazê-lo antes de escrever sobre One More Light ia parecer mal.
Muito bem, chega das minhas tretas, vamos a isto. Como tenho muito a dizer sobre este álbum, esta análise será dividida por duas publicações. A segunda parte virá ainda hoje, mais tarde.
Os meus problemas com este álbum resumem-se a dois pontos. O primeiro diz respeito à instrumentação e produção da maioria das faixas. Conforme já tinha reclamado referido quando escrevi sobre Heavy(meu Deus, parece ter sido há séculos!), até aos trabalhos de One More Light, a banda compusera sozinha. Para este álbum, no entanto, os Linkin Park convidaram pessoas de fora para ajudarem na composição.
Não tenho nada contra esse desejo por princípio. Há muito que me arrependi de ter falado em comercialismo na minha análise a Heavy. Também não tenho problemas com os Linkin Park fazendo música pop, menos agressiva – sobretudo depois de o álbum anteriorter sido o completo oposto.
O meu problema não é a ideia, a intenção. O meu problema é a execução – pelo menos no que toca à produção e instrumentação da maior parte das músicas.
Os Linkin Park sempre incorporaram elementos eletrónicos no seu som, bons elementos. As introduções de Crawling e Numb, Breaking the Habit, a sequência depois do segundo refrão em New Divide, álbuns como A Thousand Suns (destacando-se temas como Robot Boy e The Catalyst) e Living Things (destacando-se temas como Lost in the Echo e Burn it Down). Mesmo Post Traumatic é quase todo eletrónico – a instrumentação nem sempre é destaque, mas não prejudica.
Na maior parte de One More Light, no entanto, o instrumental é uma mixórdia eletrónica, descaracterizada. Não percebo o que aconteceu.
Segundo o que Mike explicou em entrevistas, eles mudaram o processo de composição para este álbum. Antes começavam com um instrumental, depois uma melodia compatível, depois a letra. Para One More Light, começavam com um conceito e/ou uma história pessoal que inspirasse a letra, compunham a melodia e, por último, o acompanhamento musical.
Uma vez mais, nada contra, mas não percebo várias das decisões neste último passo.
Havemos de dar exemplos mais específicos mais adiante, quando falarmos sobre as faixas individualmente. Para já, o segundo problema que tenho com este álbum não é bem uma falha do mesmo, antes uma frustração minha. O facto de Chester só ter composto duas canções neste álbum, Heavy e Halfway Right (segundo o Genius, ele também terá composto One More Light, a música, mas o Wikipédia contradiz essa informação).
Uma boa parte de One More Light, o álbum, foca-se em temas de depressão, toxicodependência, erros seus, má fortuna, amor ardente (OK, amor ardente nem por isso, pelo menos não neste álbum). Chester era aquele que, dentro da banda, sempre assumiu esse histórico. Qualquer pessoa assumirá que músicas como Nobody Can Save Me ou Sharp Edges serão sobre a vida dele. Corrijam-me se estiver enganada, já lá vão três anos, mas tanto quanto me lembro os próprios Linkin Park promoveram o álbum um pouco nessa direção.
Mas se Chester não é creditado como compositor nestas músicas, como podemos ter a certeza? Com sabemos se é mesmo Chester cantando sobre a sua perspetiva, os seus sentimentos, ou se foi Mike ou Brad colocando-se no lugar dele?
Dando um exemplo específico: o próprio Chester afirmou em entrevista que a letra de Talking to Myself coloca-se no ponto de vista da sua esposa, Talinda, enquanto observava o marido em modo autodestrutivo. Mas, lá está, o nome de Chester não consta da lista de compositores. Chester disse a Mike e aos outros o que escrever? Eles mesmos imaginaram-se no lugar de Talinda? Qual foi o nível de envolvimento de Chester?
Se as circunstâncias fossem outras, talvez não me preocupasse tanto com isto. No entanto, este foi o último álbum de Chester em vida, antes de morrer por suicídio, vítima de depressão – um dos temas abordados em One More Light. Não faria sentido ter uma maior participação de Chester, sabermos diretamente da boca dele, da caneta dele, o que se passava no seu coração?
Enquanto escrevo isto percebo que estou a ser injusta, a obcecar com algo que não se relaciona diretamente com One More Light. Nem sequer sei a quem dirijo estas críticas que não chegam a sê-lo. É a parte de mim que ainda se interroga porque é que Chester teve de partir tão cedo e daquela maneira, quando supostamente estava melhor, o que é que correu mal. E ressinto-me de One More Light por não dar essas respostas.
Não é justo, sei que não é. Quando os Linkin Park estavam a trabalhar neste álbum, não podiam adivinhar o que aconteceria dois meses após o lançamento. Não podiam adivinhar que teríamos todas estas perguntas para as quais ninguém tem resposta.
E no entanto… será que quero essa resposta? Será que quero saber exatamente o que falhou? Que ganharia com isso?
Estão a ver porque é que eu não queria escrever sobre este álbum?
Vou deixar as minhas tretas de lado (agora sim, deixo mesmo!) e começar a falar das músicas em si. Heavy foi o primeiro single de trabalho. Conforme referi antes, escrevi sobre ele na altura em que saiu.
Apesar de ainda não gostar muito da canção, hoje compreendo-a melhor – depois de ter lido e ouvido declarações de Chester sobre a mesma. Este explicou em várias entrevistas – ao longo de toda a sua carreira, aliás, muito antes de Heavy – que a sua mente é… ou melhor, era um território hostil, que ele era o seu próprio pior inimigo. Chester possuía uma compulsão para ansiedade, pensamentos sombrios, autodestrutivos, em focar-se no negativo.
Ele argumentava que toda a gente tinha essa tendência, em diferentes graus. Eu concordo e sei que tenho. Por exemplo, tenho um dia menos conseguido no trabalho e não consigo pensar noutra coisa durante o resto do dia – para no dia seguinte nem perceber ao certo o que me incomodava tanto. Ou então, sinto-me mais ou menos satisfeita e em paz e, de repente, começo a pensar “Ah, mas não te esqueças que tens de te preocupar com isto e isto e isto.”
Consta que é um mecanismo evolutivo. Os cientistas chamam-lhe “viés negativo”. Impede-nos de nos tornarmos complacentes, força-nos a estar atentos ao perigo, a anteciparmos ameaças, a evitarmos situações desagradáveis.
Tem as suas vantagens em doses terapêuticas mas, como tudo na vida, o problema é quando se exagera. Pessoas com doenças mentais e/ou um passado traumático (vide Chester para ambos os casos) terão mais tendência para exagerar. A partir de certo ponto uma pessoa não consegue desligar esse modo negativo, não se consegue focar no presente, aproveitar o momento. Segundo Chester é uma luta constante.
Se formos a ver, este não é um tema inédito na discografia dos Linkin Park. músicas como Given Up e sobretudo Papercut. Durante umas semanas tive vontade de ir ao vídeo de Papercut – um clássico dos Linkin Park, misturando rap e rock, bastante agressivo – no YouTube e deixar como comentário algo do género “So you’re saying you don’t like your mind right now?”. Uma provocaçãozinha para os fãs mais puristas.
Mas depois Chester morreu e perdi a vontade de ser engraçadinha.
Continuo a não gostar muito da música. Sobretudo por causa da instrumentação. Mas reconheço que fui dura demais na minha primeira análise.
Battle Symphony foi o segundo single de One More Light e também o analisei na altura.As minhas opiniões sobre esta música não mudaram muito desde que escrevi esse texto. Dizer apenas que gosto bastante desta versão ao piano.
O mesmo acontece com Heavy, na verdade. É a questão da produção/instrumentação de novo. Deem instrumentais decentes a estas músicas e a qualidade aumenta logo. Mas não entremos por aí de novo.
Um aspeto curioso em relação a Battle Symphony, por outro lado, é que ainda hoje gosto de ouvi-la emparelhada com Liability, de Lorde. Foram lançadas com cerca de uma semana de intervalo, ouvi-as várias vezes na mesma altura para as analisar, acabaram por se associar na minha cabeça. Tem piada porque, de resto, as duas não têm muito em comum.
O single seguinte foi Good Goodbye, a faixa outlier de One More Light, com a participação de Pusha T e Stormzy.. Esta no fundo é uma versão mais soft, mais pop, dos clássicos rap/rock dos Linkin Park. Mesmo a letra parece ter sido escrita de modo a poder ser ouvida por menores de doze anos: o pico da agressividade é chamarem “idiota” ao interlocutor e mandarem-no para casa.
Compreende-se. Enfiarem um tema mais pesado e agressivo naquilo que é essencialmente um álbum pop faria com que a música se destacasse mais pela negativa.
Gostava de chamar a atenção para dois pormenores da letra – versos que realçam a veterania dos Linkin Park enquanto banda. Mike dizendo “I’ve been here killing it longer than you’ve been alive, you idiot” e Stormzy referindo nas suas estâncias que agora tem uma música com os Linkin Park.
Eu na verdade até gosto desta música, mais do que esta merece. Ouvia-a bastante em 2017. Antes de começar a escrever esta análise, não a tinha ouvido em algum tempo. Pensava que, quando voltasse a ouvi-la, não lhe acharia tanta piada, mas ainda gosto. Lá está, não tanto como clássicos como Faint ou Papercut ou Bleed it Out, nem sequer está entre as minhas preferidas neste álbum, mas não deixa de ser uma música gira.
Invisible foi a última canção a ser publicada antes do resto do álbum. Este é uma das relativamente raras canções na discografia dos Linkin Park em que é apenas Mike a cantar (Chester apenas contribui para os backvocals). Tendo em conta o tema da canção, faz sentido. Segundo Mike, Invisible é uma carta aos seus filhos, para eles ouvirem quando forem adolescentes e se sentirem incompreendidos pelos pais.
A letra tenta antecipar eventuais discussões, tentativas da parte de Mike ou da esposa, Anna, de fazer o que acha ser o mais adequado para os filhos, mesmo que eles não gostem na altura. Segundo o próprio Mie, os filhos ainda são pequenos, mas já têm personalidades vincadas e “quando tiverem dezasseis anos vão dar-nos o ‘Pai, odeio-te, não me compreendes, blá blá blá’”, vão bater com a porta, meter headphones e ignorar os pais.”
Estou a rir-me porque a minha geração punha Linkin Park a tocar nos headphones que usávamos para ignorar os nossos pais. Numb, então, parece ter sido criada para esse uso. No entanto, agora Mike e os outros estão do lado dos pais, não dos filhos.
Pergunto-me se os filhos de Mike algum dia usarão as músicas dos Linkin Park contra ele. Se a meio de uma discussão os miúdos acusarão Mike de achar que cada passo que os filhos dão é outro erro que eles cometem. Fico curiosa.
A letra é interessante, sim, a musicalidade nem por isso. Este é outro caso de instrumentação que não impressiona. Mike não canta nada mal, mas a música é demasiado monocórdica, está sempre no mesmo tom, não entusiasma.
Nesse aspeto, Sorry for Now está melhor conseguida. Esta também é uma carta de Mike para os seus filhos – desta feita dizendo respeito às suas longas ausências em digressão. Em suma, uma sequela a Where’d You Go, do seu projeto lateral Fort Minor.
É sempre complicado explicar a miúdos pequenos porque é que a mãe e/ou o pai não podem estar sempre com eles – seja por umas horas, para ir trabalhar, seja durante semanas ou meses, como acontece com músicos como Mike. Ainda me lembro de ver a minha irmã com um ano de idade, chorando todas as manhãs quando os meus pais saíam para o trabalho. E lembro-me de ser difícil, tanto para mim como para os meus irmãos, quando os nossos pais tinham de fazer noites.
Nem quero imaginar o quão difícil será para os miúdos terem de passar semanas ou meses sem ver os pais.
Não admira que, nas primeiras semanas após a morte de Chester, uma das filhas dele, Lily, tenha perguntado se o pai estava “em digressão nos nossos corações”. Na altura associava as ausências de Chester a digressões.
E com isto vou mudar de assunto antes que comece a chorar.
Musicalmente, Sorry for Now é mais interessante que Invisible por vários motivos. Há maior variação ao longo da faixa, tanto no instrumental como na interpretação de Mike – ele até canta bem, notas mais agudas do que o costume!
Eu, no entanto, dispensava os vocais artificiais. Já me queixei deles em Dedicated, de Carly Rae Jepsen, também estragaram várias músicas de One More Light, como esta.
A minha parte preferida de Sorry For Now é a terceira parte, quando Chester aparece do nada. É uma variação à fórmula de algumas músicas dos Linkin Park, como Burn it Down, em que Chester canta as duas primeiras partes e Mike vem na terceira com um rap. Embora, em Sorry For Now, o rap seja mais melódico que o habitual.
E com isto vamos fazer uma pausa na análise. Não percam a segunda parte, que vem ainda hoje.