Segunda parte da minha retrospetiva musical de 2019. Hoje começamos com...
Roxette e companhia ilimitada
Já estava nos meus planos falar sobre os Roxette neste texto antes de recebermos a notícia da morte de Marie Fredriksson, a vocalista feminina. A sua partida foi uma infeliz coincidência. Assim sendo, estes parágrafos não são exatamente iguais ao que seriam não fosse esta perda.
Já se sabe como é: depois de alguém morrer, temos a tendência de homenagear o defunto de uma forma que nem sempre fazemos quando a pessoa está viva. Um dos motivos pelos quais tenho este blogue é para contrariar essa mania, mostrar a minha apreciação por trabalhos mediáticos enquanto os seus criadores estão vivos – mesmo que seja altamente improvável eles lerem o meu blogue. Mas neste caso não fui a tempo.
A verdade é que, embora esteja um bocadinho triste com a morte da senhora, não sabia muito sobre ela. Marie foi diagnosticada com um tumor cerebral em 2002. Apesar de ter sido operada com sucesso, a sua saúde nunca recuperou por completo. Nas últimas digressões ela passava os concertos quase todos sentada, num estado visivelmente fragilizado. Em 2016 finalmente deu-se por vencida e reformou-se as digressões.
É possível que Marie estivesse em sofrimento nesta reta final, que o seu estado de saúde se degradasse cada vez mais a partir de agora. Talvez tenha sido melhor assim.
É também triste porque Bryan é apenas um ano mais novo. Nunca teve problemas graves de saúde e, mesmo que a idade se vá notando aqui e ali, ainda não dá sinais de abrandar. Ele diz que é a dieta vegan, mas acho que será sobretudo sorte: conta mais do que se pensa.
Já tinha referido num texto anterior que a música Listen to Your Heart me ajudou a definir o meu gosto musical em miúda. Durante algum tempo foi a única música dos Roxette que ouvia com alguma regularidade. Mais tarde (para aí há dez anos) houve uma altura em que andei obcecada com Sleeping in My Car. Com o passar dos anos, aliás, sobretudo desde que comecei a usar o Spotify, fui continuando a acrescentar canções deles às minhas playlists. Ainda hoje o faço.
Muitas dessas músicas estão dentro do estilo de Listen to Your Heart: baladas rock no feminino, emotivas mas confiantes, com personalidade. Fading Like a Flower e Spending My Time são provavelmente as minhas preferidas. Almost Unreal é uma descoberta mais recente e tenho andado um bocadinho viciada.
It Must Have Been Love, o maior êxito dos Roxette, também se encaixa nesse estilo. Está entre as minhas preferidas mas, como tenho andado a explorar outras músicas, tenho-lhe dado menos atenção ultimamente – porque já a conheço bem. Continua a ser uma excelente canção, como escrevem neste artigo. Eu destacaria o piano nesta canção, sobretudo o solo antes dos últimos refrões, em tom mais agudo.
Por outro lado, este ano tenho encontrado músicas dos Roxette que fogem um pouco ao rock mas que não são em nada inferiores às demais. Já conhecia Wish I Could Fly, embora não soubesse que era deles – havia uma altura há muitos anos (quando eu tinha treze ou catorze? Mais tarde?) em que a apanhava várias vezes na rádio. Breathe e Queen of Rain são agradavelmente atmosféricas, com letras a condizer.
Depois, temos músicas sem ser baladas, mais alegres e divertidas. Como referi acima, conheço Sleeping in My Car há muito tempo, embora me tenha cansado um bocadinho dela. Também gosto de Joyride (uma das mágoas da minha vida é não conseguir replicar os assobios) e sobretudo de The Look, ambas com vocais de Per Gessle. Confesso que a maior parte das canções de que gosto dos Roxette são cantadas a solo por Marie, mas os dois fazem uma dupla fixe.
Bem… faziam.
Ainda estou em modo de exploração, na verdade. E vou continuar. Vou continuar a adicionar músicas dos Roxette à fila, se gostar adiciono-as às minhas playlists. Talvez um dia compre um dos CDs: Look Sharp! ou Crash! Boom! Bang! Mesmo que Marie já não esteja entre nós, a musica dela está. E pelo menos da minha parte o legado dela não sofrerá de falta de apreciação.
Existem outros exemplos de pop rock/soft rock no feminino que tenho ouvido nos últimos anos, em particular no passado, se bem que menos que os Roxette. Pat Benatar é um desses casos, bem como Blondie – dá para ver que estes últimos são uma influência importante dos Paramore.
Por outro lado, os Cranberries também perderam a sua vocalista, Dolores O'Riordan, vai fazer dois anos daqui a dois dias. Tenho ouvido alguns singles deles, mas gosto muito de um cover de Zombie, dos Bad Wolves. Consta que o plano era Dolores contribuir com vocais para o cover. Infelizmente ela morreu antes de poder gravar. Os Bad Wolves acabaram por gravar o cover à mesma e lançá-lo como homenagem à cantora – os lucros reverteram para os seus filhos.
A meu ver, a versão dos Bad Wolves ganhou personalidade própria. Não apenas pela instrumentação mais pesada e atualizações da letra (como por exemplo “It’s the same old theme in 2018”), mas também porque a dor pela perda de Dolores acabou por se entretecer na música, dando-lhe um carácter ainda mais melancólico. O videoclipe contribui ainda mais para esse efeito, como poderão ver abaixo.
Outra música marcante este ano e que podia também ser incluída nesta secção foi Holding Out For a Hero, de Bonnie Tyler… mas antes tenho de falar sobre outra.
Carry On & Holding Out for a Hero
Vou ser sincera, se as circunstâncias fossem outras, se por exemplo tivesse ouvido esta canção na rádio, esta teria entrado por um ouvido e saído por outro. Não sendo má, tem pouco que a distinga do resto da música mainstream dos últimos anos. Instrumentalmente, é uma espécie de pop tropical, disco tropical, com piano e sintetizadores, com um interregno musical mais ou menos dançante a seguir ao refrão – no caso desta música, uma sequência vagamente dançante com sintetizadores.
Existem canções neste estilo que exploram bem essa fórmula: Stay the Night, This One’s For You, Outside de Calvin Harris (gosto muito desta). Não acho que Carry On seja uma delas. Enquanto as melhores músicas neste estilo conseguem construir um crescendo, aumentando a excitação, culminando com o tal interregno musical, Carry On mantém-se sempre no mesmo nível, não atinge nenhum clímax.
Mesmo a letra em si não é nada de especial. Fala sobre amor e saudade, com algumas referências a praia e ao mar que lhe conferem características de música de verão. Pode referir-se a uma relação romântica, pode referir-se a uma relação platónica. Dá a ideia que a letra foi mantida vaga de propósito para que o ouvinte pudesse projetar os seus próprios significados nela. Sou a primeira a admitir que isso tem vantagens – passo a vida a fazê-lo, incluindo com esta canção – mas para um compositor e/ou letrista é o caminho mais fácil.
Como referi antes, se as circunstâncias fossem outras, Carry On ter-me-ia passado ao lado. No entanto, foi a música escolhida para os créditos do filme Pokémon: Detetive Pikachu. Agora, mesmo não tendo sido composta de propósito para este filme (consta que a primeira demo datava de setembro de 2016), faz parte do cânone da franquia – pelo menos na minha mente.
Um dia destes hei de escrever sobre este filme aqui no blogue. Posso adiantar desde já que gostei muito, mesmo não tendo sido perfeito.
A letra de Carry On podia ser aplicada à relação entre Tim e o Detetive Pikachu. Ainda assim, se me permitem, acho que se aplica ainda melhor a Digimon Tamers. Como disse antes, a letra fala em amor e saudade. As estâncias focam-se na saudade. No refrão, no entanto, o sujeito narrativo reconhece que o ser amado mudou a sua vida, ajudou-o a crescer, e promete seguir em frente por ele.
No fundo, Carry On é um resumo geral, ultra-simplificado, dos voicemails dos Treinadores para os seus Digimon, no CD DramaMessage in a Packet.
Tendo eu dedicado uma grande parte do meu ano a Tamers e tendo Detetive Pikachu sendo um filme tão marcante, não posso deixar de referir Carry On como uma das músicas de 2019. Mesmo que a canção em si não seja nada por aí além. Às vezes basta um pouco de sentimentalismo – e eu sou extremamente sentimental e lamechas – para elevar uma canção mediana a algo extraordinário.
Falemos agora de Holding Out for a Hero. Esta foi usada no segundo trailer de Detetive Pikachu – depois de Happy Together ter sido usada no primeiro. De início não compreendi a escolha das músicas – e não apreciei muito. Iam lançar um filme de Pokémon, uma franquia com uma forte componente musical, e em vez que usarem essas músicas, iam usar canções pop?
No entanto, depois de pesquisar, fiquei a compreender a lógica. Se formos a ver (ou melhor, a ouvir), as duas canções – Happy Together, dos Turtles, e Holding Out for a Hero, de Bonnie Tyler – partilham características com os dois principais temas da franquia. No início dos respetivos trailers, ouvem-se notas discretas desses temas.
Happy Together (uma música de que não gosto muito, confesso), usada no primeiro trailer, é muito parecida com o tema principal de Pokémon nos jogos – o tema que ouvimos em quase todos os ecrãs iniciais de quase todas as versões, com variantes, claro. No site TV Tropes alegam que o tema dos The Turtles terá influenciado a música de Pokémon. É possível, mas não encontrei nenhuma fonte que o confirmasse.
Por sua vez, Holding Out for a Hero terá sido escolhida pelas suas semelhanças com Gotta Catch'em All, o primeiro tema de abertura do anime. Ambos se caracterizam pelo piano (ou teclado?) em ritmo acelerado, que entusiasma, que funciona bem como banda sonora de cenas de ação.
Entre Happy Together e Holding Out for a Hero prefiro a segunda. Não apenas pelos méritos da canção, também porque… eu adoro Gotta Catch'em All. Gosto do tema dos jogos tanto quanto qualquer fã da franquia mas para mim, por muitos defeitos que o anime tenha, o primeiro tema de abertura será sempre a música de Pokémon. Se a oiço quando não estou à espera, derreto como manteiga. Aconteceu neste filme – ouvir o Ryan Reynolds cantando-o a chorar é uma das várias cenas do filme que, por si só, valem o preço do bilhete. Aconteceu com dois dos trailers para Let’s Go – num usaram a versão inglesa, noutro usaram a versão portuguesa. Uma jogada suja porque… resulta.
Holding Out For a Hero fica, agora, associada a dois filmes de que gosto. Detetive Pikachu e Shrek 2: pela célebre cena a que serve de banda sonora.
Por muito que goste da versão original, tenho de admitir que a versão de Shrek 2, interpretada de forma soberba por Jennifer Saunders, é melhor. A instrumentação é mais moderna, com variações para acompanhar os eventos no ecrã. Além de ser uma combinação única de dancemusic com elementos orquestrais.
Suponho que tenha de falar do elefante na sala: a mensagem obsoleta e pouco feminista da canção. Não me incomoda muito. Quando a oiço, gosto de imaginar um videoclipe irónico, mostrando mulheres tomando conta de si mesmas, em diametral oposição à letra. Ou entanto, pura e simplesmente, pessoas salvando-se umas às outras.
Voltaremos a falar sobre Detetive Pikachu em breve, como referi acima. Prossigamos.
Carly Rae Jepsen
Como poderão ler no texto correspondente do ano passado, Carly Rae Jepsen, cantautora canadiana, foi uma artista marcante para mim em 2018. Sobretudo por causa do álbum Emotion, a edição padrão, faixas extra e o EP Side B, lançado um ano mais tarde. Como tal, estava interessada no seu álbum novo Dedicated, lançado em maio de 2019.
Antes de mais nada, devo confessar que demorei alguns meses a dar a atenção devida a Dedicated. Como já referi aqui no blogue, muitas vezes só consigo ouvir um álbum como deve ser sob a forma de CD, no meu carro. Só comprei Dedicated perto do fim do ano.
Uma das coisas que me chateou foi o facto de Party for One não fazer parte da edição padrão do álbum – a que comprei em CD. Já com Emotion deixaram várias músicas excelentes de fora… mas este foi o primeiro single. Qual é a lógica? Obrigar toda a gente a compar a versão Deluxe?
Ainda preciso de passar mais algum tempo com Dedicated, mas, nesta altura, posso desde já adiantar que gosto da maior parte das músicas. Now That I Found You, Happy Not Knowing, The Sound (gosto muito do pré-refrão), I Want You In My Room (ameninada, engraçada, com um saxofone que me recorda Let’s Get Lost).
Too Much tem uma letra interessante – acho que todos conhecemos alguém assim, incapaz de meio termo, de moderação, que leva tudo ao extremo. A própria Carly, então, já admitiu ser uma romântica incurável. É possível que seja daquelas pessoas que, quando se apaixona, deixa-se levar pelas suas emoções – o que pode levar a que se magoe a si mesma ou a que assuste os demais.
A minha preferida até agora, no entanto, é Real Love. A sonoridade é semelhante à dance pop dos dias de hoje. Ao contrário de Carry On, no entanto, Real Love executa a fórmula com mestria. Um crescendo constante desde as estâncias, passando pelo pré-refrão, culminando com o último verso do refrão e o interregno dançante.
Mas aquilo que destaca Real Love das demais é a sua letra. Real Love exprime o desejo de encontrar amor num mundo cada vez mais degradado, numa altura em que parece que estamos todos em guerra constante uns com os outros (sobretudo na Internet), em que a apatia e a indiferença são uma tentação cada vez mais forte. Deseja-se amor verdadeiro, mesmo que não se saiba ao certo o que isso é.
No fundo, é Lesson Learned por outras palavras e noutro estilo musical. Com a diferenca de que na música de My Indigo já se tem amor. Em Real Love ainda se está à procura.
Falemos agora dos aspetos de que menos gosto em Dedicated. Os vocais artificiais em várias canções irritam-me – bem como os apitos e algumas escolhas de instrumentos. A sonoridade em geral é um bocadinho homogénea demais para o meu gosto.
Além de que todas as canções são sobre relações amorosas. Mesmo Party For One, que procura celebrar a solidão, começa como uma “break up song”. É certo que a larga maioria de Emotion também é assim, mas sempre tinha algumas exceções, como Boy Problems, L.A. Hallucinations e, até certo ponto, Making the Most of the Night (que também podia ser aplicada a uma amizade).
Aliás, tenho de dizer que numa ocasião, ao fim de algum tempo com Dedicated, fiquei com vontade de ouvir Emotion. Como disse antes, é possível que Dedicated suba na minha consideração no futuro, mas duvido que ultrapasse o seu antecessor. Dedicated pura e simplesmente fica atrás de Emotion.
Para sermos justos, era muito difícil ser melhor.
Pergunto-me se Dedicated terá um side B este ano, como Emotion teve. Aparentemente está nos planos de Carly, se bem que não necessariamente nos mesmos moldes do de Emotion. Afinal, Carly terá composto umas duzentas músicas durante os trabalhos para este álbum. Só estas quinze é que merecem ser ouvidas? Duvido.
Esperemos para ver.
E pronto, foi assim 2019 em música para mim. Existem outras canções e/ou artistas que ouvia com regularidade. Não acho que justifiquem uma secção, mas não queria deixar de mencioná-los.
Billie Eilish foi um dos fenómenos deste ano. Há uns meses pus-me a ouvir o álbum dela no Spotify. À primeira não gostei assim muito – só agora é que me estou a habituar ao estilo musical – mas Bury a Friend ficou-me logo na cabeça. Sobretudo a frase que dá título ao álbum “When we all fall asleep, where do we go?”. Também gosto de Bad Guy. Hei de ouvir mais músicas dela.
Por outro lado, nos últimos anos tenho andado interessada na música de António Variações. O filme inspirado na vida dele, que saiu no verão passado, reforçou esse interesse. A Canção do Engate é para mim uma das melhores da música portuguesa. Por outro lado, tive uns dias em que andei absolutamente viciada em Anjinho da Guarda. “Ele não, não usa aaaarmaaa… Ele não, não usa a foooorçaaa…”
Tenho também andado a explorar um bocadinho mais a discografia de Mika, sobretudo os seus dois últimos álbuns – o mais recente lançado este ano. Por fim, os Coldplay lançaram Everyday Life em novembro, mas preciso ainda de passar algum tempo com o álbum. Talvez escreva sobre ele – num texto independente ou no da música de 2020.
Como mudámos não apenas de ano como de ano como de década, muita gente tem aproveitado para fazer retrospetivas dos anos 10. Para mim não faz muito sentido. Uma década é demasiado tempo, muitas coisas acontecem, de bom e de mau. Gostos e opiniões mudam, alguns deles de forma radical. Tirando coisas muito gerais, é muito difícil encontrar aspetos que se tenham mantido consistentes ao longo de dez anos.
Suponho que possa referir os álbuns que mais me marcaram esta década (ainda que, lá está, estas opiniões não estejam gravadas em pedra): os dois que os Paramore lançaram, em 2013 e 2017, os dois álbuns de Lorde (sobretudo o segundo), Living Things dos Linkin Park, Post Traumatic de Mike Shinoda. Menções honrosas seria Goodbye Lullaby de Avril Lavigne, The Unforgiving e Hydra, dos Within Temptation, Bare Bones de Bryan Adams, My Indigo, Emotion, de Carly Rae Jepsen.
Em relação a 2020, teremos o projeto a solo de Hayley Williams, Petals For Armor. A primeira música (ou músicas? Ou o álbum ou EP inteiros?) sairá já este mês, no dia 22 – falaremos sobre isso na altura.
Tirando isso, e possivelmente o side B de Dedicated, não há nada de concreto planeado para sair este ano. Lorde tinha um álbum quase pronto no ano passado, mas entretanto morreu-lhe o cão que adotara no ano anterior. Pearl, que é como se chamava o bichinho, mudara a vida de Ella para melhor, como ela descreve na mensagem que escreveu: “Pearl trouxe uma quantidade imensurável de alegria e propósito para o meu mundo. Amor vibrava à nossa volta. Sentia a minha vida a crescer, inchando de saúde, esta esfera de satisfação brilhando à minha volta, de Pearl, da nossa família”. Supostamente, o seu terceiro álbum refletiria esse estado de espírito.
No entanto, com a perda de Pearl, isso mudou. Não sou capaz de censurá-la por precisar de tempo para, como ela diz, recalibrar antes de trabalhar no seu álbum novo – quando eu mesma tenho a minha Jane. Eu, aliás, andava contente por Lorde ter "seguido" o meu conselho e arranjado um cão e um gato, como revelara uns meses antes. Ninguém merece…
*breve pausa para festinhas à Jane*
Assim sendo, a haver álbum este ano, deverá ser mais para o fim. Não me importo de esperar. Se estiver ao nível dos anteriores, até se espera uma década, como a própria Lorde referiu uma vez.
Muito obrigada por terem acompanhado este blogue durante mais um ano. Vou agora tentar despachar os vários textos que tenho atraso, tanto aqui como no meu outro estaminé. Deixo-vos uma playlistcom as músicas que se comentaram aqui, bem como as músicas que mais toquei no Spotify este ano (não são um espelho muito muito rigoroso, aviso desde já). A próxima publicação será, provavelmente, a análise a Petals For Armor, o que quer que isso seja – se forem mais do que três ou quatro músicas, devo demorar um bocadinho ainda. Continuem por aí!
Primeira publicação de 2020! Bom ano, pessoal! Com algum atraso, eis o meu habitual apanhado da música que mais me marcou no ano.
Isto no fundo é uma espécie de Spotify Wrapped por escrito. Como muito se comentou, na altura em que estes começaram a sair e toda a gente os partilhava nas redes sociais… ninguém quer saber dos Spotify Wrapped dos outros (só dos seus próprios). Suponho que ainda menos gente quererá saber deste meu, que ainda por cima se estende por oito mil palavras (esta é a primeira parte). No entanto, se eu me ralasse com isso, não tinha blogues.
Recordo que, à semelhança dos textos equivalentes anteriores, não falarei apenas de música lançada em 2019. Dito isto, pela primeira vez em algum tempo, música lançada neste ano está em maioria. Sobretudo porque tive vários artistas do meu “nicho” lançando música em 2019. Três deles, aliás, lançaram logo no início do ano, com duas semanas de intervalo entre cada lançamento de álbum.
Na altura andava entusiasmada com isso. No entanto, todos esses três álbuns deixaram a desejar, em graus diferentes. O que faltou? Veremos já de seguida, começando com…
Within Temptation
O primeiro dos tais três álbuns lançados no início do ano foi Resist, dos Within Temptation. Conforme escrevi antes, depois de encerrado o ciclo de Hydra, os Within Temptation precisaram de fazer uma pausa. A vocalista Sharon den Adel aproveitou para lançar um projeto a solo, My Indigo – um álbum de que gostei muito. Esse trabalho ajudou Sharon a desbloquear a sua criatividade. Assim, a banda regressou ao estúdio e nasceu Resist.
Eu, naturalmente, estava interessada. Quando o álbum saiu, fiz questão de ouvi-lo com frequência no Spotify e, mais tarde, comprei o CD. Por outras palavras, não se pode dizer que não tenha dado uma oportunidade a Resist.
Este, no entanto, revelou ser um álbum que, pelo menos pela parte que me toca, entra por um ouvido e sai por outro. Não é mau, é apenas… aborrecido, desenxabido. Cansei-me depressa dele.
Pode haver quem argumente que um álbum aborrecido é pior que um álbum pura e simplesmente mau. Eu acho que depende dos casos. De qualquer forma, não me lembro da última vez que ouvi Resist do princípio ao fim e não tenho grande vontade de voltar a ouvi-lo tão cedo. Mesmo as músicas de que gosto mais neste álbum – The Reckoning, In Vain, Supernova, Mercy Mirror – considero apenas vagamente interessantes, boazitas.
Talvez o problema seja eu. Talvez os meus gostos estejam a mudar. Talvez esteja a entrar naquela fase em que praticamente todos os artistas de rock entram mais cedo ou mais tarde, em que começam a preferir o pop.
Ou talvez não. As críticas a Resist que li têm sido mistas: há quem goste, há quem não goste, as piores faixas para uns são as preferidas de outros. Naturalmente não é possível agradar a todos. E, como já referi antes aqui no blogue, neste género musical os fãs são complicados.
Ainda assim, uma crítica que li e com a qual concordo refere que os instrumentais não fazem quase nada senão acompanhar os vocais. Se formos a ver (ou melhor, a ouvir), é verdade. Os únicos momentos em que o instrumental faz alguma coisa de interessante neste álbum são a trompa eletrónica de The Reckoning, o coro masculino de Supernova, os elementos vagamente eletrónicos nesta última música e em Endless War.
Comparemos com Hydra. Este não é dos álbuns mais populares entre os fãs, pode ser demasiado pop/mainstream, mas, com uma ou outra exceção, ninguém pode acusar os seus instrumentais de falta de carácter. Silver Moonlight será o melhor exemplo, mas Paradise (What About Us) também tem um instrumental giro. Whole World is Watching parece ser um percussor de várias músicas de My Indigo e músicas como Dangerous e Tell Me Why têm uns padrões de bateria alucinantes.
E claro, nem falo dos álbuns anteriores a Hydra, menos controversos, as influências célticas em The Silent Force. Mesmo My Indigo tem uns belos instrumentais. Por comparação, Resist é demasiado monótono.
Não deve admirar que, depois disto tudo, prefira um segundo álbum de My Indigo em vez de outro álbum dos Within Temptation. No entanto, mesmo que a banda não demore a regressar ao estúdio, uma pessoa tem sempre a esperança de que o próximo trabalho seja melhor.
Avril Lavigne
Nesta fase já não é necessário fazer grandes introduções quando escrevo sobre Avril Lavigne neste blogue. Esta lançou o seu sexto álbum de estúdio, Head Above Water, este ano – que ficou aquém das expectativas, como poderão ler aqui.
Quando um álbum é lançado relativamente cedo no ano, às vezes, por alturas do fim do ano, as minhas opiniões mudaram um pouco. Neste caso, no entanto, não existem grandes diferenças em relação ao que escrevi anteriormente.
A primeira metade do álbum é melhor que a segunda, na minha opinião. Birdie e I Fell In Love With the Devil são claros destaques, bem como It Was in Me. Souvenir continua a ser a minha preferida, mas depois dela a qualidade do álbum decai.
Falando em I Fell In Love With the Devil, referir que a canção teve alguma cobertura mediática durante o verão, aquando do lançamento do videoclipe. Queria, aliás, dedicar-lhe alguns parágrafos.
Se eu tivesse de descrever o vídeo com o menor número de palavras possível, diria que é previsível no bom sentido. Reflete a música de forma quase perfeita e está muito dentro do estilo de Avril. Parece uma versão (ainda) mais gótica do vídeo de Alice.
E “gótico” nem sequer é a melhor palavra para descrever este vídeo. Nem mesmo “sombrio”. Este é um vídeo tétrico, sobretudo a parte de Avril conduzir o seu próprio carro funerário, cantar no seu próprio caixão. Isto pode parecer estranho, mas fiquei aliviada quando Avril referiu, numa entrevista, que ia tendo um mini ataque de pânico quando estava deitada no caixão. É bom saber que não sou a única a quem a ideia provoca um medo primário (provavelmente um reflexo do medo da morte).
Tudo isto fez com que I Fell in Love with the Devil subisse um bocadinho mais na minha consideração. Mas também sempre gostei dela, mesmo que nem sempre a tenha considerado uma favorita.
Avril, na verdade, parece bastante orgulhosa desta letra, bem como de outras este álbum. Chegou a falar em lançar um livro de poesia… o que, aqui entre nós, me parece um salto maior do que a perna. Sou a primeira a reconhecer que as letras dela em geral melhoraram significativamente nos últimos dois álbuns mas, na minha opinião, Avril está longe de ser das melhores nesse capítulo.
Por outro lado, se ela quiser mesmo escrever um livro de poesia, se for algo de que ela goste… porque não? Mesmo que não seja material digno do Prémio Nobel, mesmo que fique uns furos abaixo das letras de outros artistas, eu compraria. Se isso a ajudar a melhorar a sua escrita…
O problema com Avril é que, por muito que as letras tenham melhorado, por muito poderosa que a sua voz se tenha tornado, por muitas experiências que ela faça com o seu som (e algumas até são bem sucedidas)... no fim do dia, vira o disco e toca o mesmo, quase literalmente. Se rasgarmos as embalagens, os produtos são os mesmos de sempre: as mesmas canções de amor e desgosto desde o início da sua carreira.
Mesmo quando tenta variar um pouco, na maior parte das vezes perde-se em clichés, acrescenta muito pouco ao cânone geral da música. As letras são demasiado vagas, demasiado superficiais para causarem algum impacto.
Por estes dias, Avril goza o estatuto de uma artista veterana, recebe louros por ter inspirado toda uma geração de cantoras femininas a cantarem e comporem sobre os seus próprios sentimentos e experiências. Já tinha falado um pouco sobre isso aqui. Este ano em particular tem sido Billie Eilish quem não poupa elogios a Avril, uma das suas maiores inspirações.
O pior é que muitas dessas cantoras inspiradas por Avril, para quem a canadiana abriu caminho de uma forma ou de outra, tornaram-se melhores Avrils que a própria Avril.
Vou dar exemplos. Hayley Williams dos Paramore há muito que usurpou o lugar de Avril no meu nicho musical: alguém que cresce comigo, cuja música reflete a fase da vida em que estou. Taylor Swift é uma das maiores estrelas pop do momento e também admitiu ter sido inspirada por Avril. Nunca o referi cá no blogue, mas nos últimos anos tornei-me numa fã muito casual dela. A sua música e imagem pública em geral podem ter algumas falhas, mas diria que, neste momento, as suas letras estão entre as melhores do mundo da música.
Por sua vez, Lorde, como já referi antes, é uma espécie de Cristiano Ronaldo da música pop: joga num campeonato diferente, acima dos simples mortais. A jovem nunca terá sido diretamente inspirada pela canadiana, mas pode-se argumentar que, se não tivéssemos tido Avril, talvez não tivéssemos tido Lorde. Ou Adele. Ou Billie Eilish.
Ao longo dos últimos dez, quinze anos, estas mulheres surgiram e floresceram no mundo da música apontando os microfones para os seus cérebros e corações. Avril, infelizmente, não foi capaz de acompanhar. Pelo contrário, foi perdendo a originalidade que a caracterizava no início da sua carreira. Não quero insinuar que ela se tenha vendido (se era essa a sua intenção, está visto que não resultou). Apenas que, por algum motivo, foi deixando de ter coisas para dizer. E, como já referi antes, se nem depois dos piores anos da sua vida tem algo a dizer para além de frases-feitas e terrenos batidos… quando terá?
Dito isto tudo, não quero deixar de assinalar o trabalho que Avril tem feito como, digamos, ativista anti-Doença de Lyme. Veja-se esta semana, depois de Justin Bieber ter anunciado que também sofreu da doença. Pelos vistos é mais prevalente do que se pensa, o que significa que o trabalho de Avril e da sua Fundação será cada vez mais relevante.
Avril referiu em entrevistas que o sucessor a Head Above Water será diferente, será um álbum mais pop rock, com mais guitarra e bateria. Vai manter o padrão, portanto, alternando entre música mais séria e intimista e música mais leve e divertida. The Best Damn Thing após Under My Skin, o homónimo após Goodbye Lullaby.
Eu não me imaginava escrevendo isto há meia dúzia de anos, ou mesmo há um ano, mas nesta fase prefiro isso, prefiro que ela regresse ao pop rock, a música semelhante ao quinto álbum. Como já referi antes, Avril Lavigne o álbum tem os seus defeitos, mas faz exatamente aquilo a que se propõe: ser um disco variado mas leve, feel-good, com músicas boas de cantar, sem se levar demasiado a sério. Quando saiu não me satisfez por completo, mas hoje acho-o preferível a um álbum que tenta ser “poderoso”, “cru” e tal e não consegue.
E daí não sei. Às tantas o sétimo álbum inclui uma espécie de Hello Kitty parte 2 e eu, na altura vou escrever aqui que quero que Avril regresse às baladas. Não sei mesmo o que pensar. Só sei que quero mais daquela que ainda é a minha cantora preferida.
Isto agora vai parecer uma transição estranha, mas há uns meses Avril anunciou uma digressão europeia para a primavera de 2020. Os bilhetes têm-se vendido surpreendentemente bem: alguns concertos foram mudados para salas maiores, algumas cidades receberam uma segunda data (Londres tem três no total).
Aqui entre nós, depois dos desempenhos modestos dos álbuns que Avril lançou esta década, não estava à espera deste fenómeno. Talvez seja por ela não vir à Europa desde 2011, talvez seja o fator nostalgia, talvez Head Above Water não se esteja a sair tão mal quanto isso.
Ora, a digressão não passará por Portugal. Fiquei desapontada, claro, mas de início resignei-me a continuar a esperar. Há muitos anos que alimento a esperança de ir a um concerto dela no meu país. Ouvindo-a usando “Lisboa/Lisbon” e “Portugal” para se dirigir ao público, acompanhada por outros fãs portugueses, alguns dos quais conheço há uma década ou mais.
Só que esses fãs portugueses não partilham do meu sentimentalismo. Começou toda a gente de imediato a fazer planos para ir aos concertos nas várias cidades europeias. Eu mesmo assim continuei na minha… até me aperceber que estava a ser parva.
Conforme referi acima, Avril não vem à Europa desde 2011. Esteve de baixa durante quatro anos por causa do Lyme. Sabe-se lá quando poderá voltar depois disto. Eu ainda por cima tenho já um artista amado que não poderei voltar a ver. Olhando para esta digressão... O meu irmão está a viver em Zurique, a primeira data da digressão europeia – ou seja dormida grátis. Tenho também um voucher da TAP por causa de um voo que me cancelaram há uns meses – ou seja viagem grátis.
Quando terei eu melhor oportunidade que esta?
Por isso, lá engoli o meu orgulho e arranjei bilhetes para o concerto. Ou melhor, acabou por ser o meu irmão a comprar-mos, para mim, para ele e para a namorada, como prenda de Natal. Zurique, a 13 de março, no Samsung Hall – foi um dos que foi mudado para uma arena maior.
Tenho de confessar que estou um bocadinho menos entusiasmada do que imaginaria. Talvez por não se em Portugal, talvez porque, lá está, fiquei desiludida com o álbum Head Above Water, talvez porque, em termos de desempenho em palco, Avril é muito inconsistente – pelo menos em comparação com outros dos meus artistas preferidos. Em todo o caso, não acho que seja má ideia manter as minhas expectativas baixas.
Dito isto, mesmo que a maior parte do concerto não seja nada de especial, tenho a certeza que músicas como Complicated, Sk8er Boi ou I’m With You serão pontos altos. Momentos como os que sempre sonhei, que valerão o preço do bilhete. E quando ela cantar Girlfriend, mesmo não sendo das minhas preferidas, não vou querer saber, vou dançá-la como se não houvesse amanhã – o meu querido maninho vai desejar ter-me oferecido um livro ou algo do género este Natal em vez disto.
Pois é, a minha “relação” com Avril já viu melhores dias. Há alturas em que penso se ainda devo considerá-la a minha cantora preferida. No entanto, uma das coisas que a perda de Chester me ensinou foi que, no fim do dia, álbuns que desiludem são problemas menores, interessam pouco. Há que estar grato por os nossos artistas continuarem a fazer música, a dar concertos. É praticamente certo que todos os discos terão pelo menos um ou dois temas de que gosto. E mesmo que não tragam, teremos sempre os velhos favoritos, que nunca faltarão nas setlists.
Avril então já teve uma baixa prolongada (pensando agora que muitos portugas dariam tudo para ter uma baixa assim…). Esperemos que não tenha de voltar a parar durante tanto tempo. E mesmo que eu já não seja tão devota como há meia dúzia de anos, enquanto ela estiver por cá, eu também estarei.
Bryan Adams
O álbum Shine a Light, o décimo-terceiro de inéditos de Bryan Adams, foi o último dos três a ser lançado no início do ano – no dia 1 de março. Não diria que este álbum tenha sido uma desilusão tão grande como foram os outros dois álbuns de que falei acima, mas ficou um pouco aquém das minhas expectativas.
Não que seja um mau álbum. Apenas o acho um pouco… descaracterizado. As músicas são boazitas, regra geral, mas não são particularmente marcantes, não arrebatam. Quando oiço o CD no meu carro até o aprecio mas quando começo a ouvir outra coisa, mal me lembro que as músicas existem, não sinto vontade de ouvi-las de novo. Quase todas as faixas podiam ter sido incluídas em qualquer álbum de Bryan Adams desde o início dos anos 90 para a frente e ninguém daria por ela.
Uma das poucas exceções é That’s How Strong Our Love Is, o dueto com Jennifer Lopez, mas não pelos melhores motivos. Não que tenha problemas com a participação da cantora, nada disso – só com a percussão eletrónica irritante, que não tem nada a ver com o estilo de Bryan.
Para ser justa, muitos álbuns de Bryan são assim. Lembro-me de ler algures na Internet entrevistas antigas onde ele referia que, regra geral, vai compondo música até ter faixas suficientes para um disco. Nesses casos, escolhe um dos singles para dar nome ao álbum. No caso de Shine A Light, esse conjunto de faixas foi composto nos intervalos da preparação do musical de Pretty Woman.
(Se me permitem o grande desvio ao assunto… terá Bryan sido a primeira escolha para compôr as canções deste musical? Ninguém pôs a hipótese de pedir aos Roxette, compositores e intérpretes do êxito It Must Have Been Love, da banda sonora do filme? Talvez até tenha estado em cima da mesa e os Roxette recusaram devido ao estado de saúde de Marie Fredriksson…
Enfim. Isto sou só eu a divagar. Mais sobre os Roxette adiante.)
Admito que devia ter baixado um bocadinho as expectativas, mas a verdade é que os dois álbuns anteriores de Bryan foram mais conceptuais do que o habitual. 11 esteve perto de ser um álbum maioritariamente acústico. Bryan acabaria por mudar de ideias, mas o resultado final continua a ter uma forte base acústica. Além de que, em termos de letras, 11 acaba por ser relativamente consistente, com temas recorrentes de esperança e otimismo.
Por sua vez, Get Up, como vimos quando saiu, caracterizou-se muito pela sonoridade vagamente retro e pela produção de Jeff Lynne, que incutiu o seu próprio carácter nas canções.
Estes dois álbuns baralharam-me as expectativas, portanto. E apesar de continuar a achar que Shine A Light não tem nenhuma música absolutamente extraordinária, a verdade é que o álbum subiu um bocadinho – não muito – na minha consideração ao longo do ano.
Para começar, afeiçoei-me a Last Night on Earth depois de esta ter aberto o concerto de 6 de dezembro. Uma das que me cativou desde as primeiras audições, por outro lado, foi Part Friday Night Part Sunday Morning. Tem uma letra engraçada, sobre uma personagem feminina que tem tanto de “good girl” como de “bad girl” (em suma, é uma mulher de carne e osso. Compreendo o choque.)
Por outro lado, gosto mais de Whiskey in the Jar do que de metade do resto do álbum – o que tem piada tendo em conta que é a única que não é inédita. Whiskey in the Jar é uma canção tradicional irlandesa que, na verdade, conta versões de vários cantores contemporâneos (gosto bastante da versão dos Metallica). Consta que Bryan foi desafiado a cantá-la num concerto em Dublin e acabou por decidir incluí-la em Shine a Light.
A canção em si é encantadora. Bryan canta-a acompanhado apenas de uma guitarra acústica e uma harmónica – e isso, na minha opinião, é o ponto forte da música. É uma pena Bryan não ter muitas músicas em nome próprio neste estilo.
Em todo o caso, não tenhamos ilusões. Um dos motivos principais, se não for o principal, para Bryan lançar este álbum nesta altura do campeonato será para servir de pretexto para (mais) uma digressão. O que nos leva ao concerto que ele deu no Pavilhão Atlântico a 6 de dezembro.
Foi a minha quarta vez num concerto de Bryan Adams. Já escrevi sobre a terceira vez, em janeiro de 2016. Isto já se tornou num encontro habitual tetranual – a minha segunda vez foi em dezembro de 2011.
Houveram muitos aspetos semelhantes entre este concerto e o de 2016. Para começar, mais uma vez, fui eu e a minha irmã. Chegámos cedo, ficámos na plateia quase no mesmo local exato: segunda ou terceira fila, à direita, junto a um dos microfones. Uma vez mais, nos últimos vinte, trinta minutos antes do início do concerto, mostraram a capa do álbum mais recente nos ecrãs gigantes (neste caso Shine A Light), a cara de Bryan mexendo-se de vez em quando. A grande diferença foi que, no fim, do nada, a cabeça vermelha virou-se para a câmara e rugiu, pregando um valente susto à audiência. A minha irmã até se agarrou a mim.
Isto faz-se, senhor Bryan?
Um aspeto que diferiu em relação ao outro concerto foi o facto de nos terem pedido explicitamente para não filmarmos com os telemóveis. Podíamos usá-los para tirar uma ou outra fotografia (e, tacitamente, para acendermos as luzes durante as baladas), mas se estivéssemos a filmar os seguranças iriam intervir.
Não me importei muito e até aplaudi o pedido. Também não estava a planear passar muito tempo de telemóvel no ar – só para filmar uma canção ou outra.
Eu, aliás, sou um bocadinho paradoxal. Eu gosto de ver vídeos depois do concerto, para ajudar a recordar, mas… não quero ser eu a filmá-los. Quero passar os concertos aos pulos, a cantar, a dançar, não a filmar. Traduzindo uma expressão anglo-saxónica, quero comer o bolo sem deixar de tê-lo. Com o outro concerto até foi possível pois foi a minha irmã a filmar a maior parte dos vídeos – que mesmo assim não foram muitos.
Felizmente no grupo de fãs de Bryan Adams no Facebook, de que faço parte, partilharam vários vídeos. E descobri este canal no YouTube, que filmou algumas das canções. A maior parte filmados nas bancadas, logo as imagens deixam a desejar, mas valem pelo áudio.
Bryan abriu, assim, com Last Night on Earth. É uma decisão que não compreendo muito bem, confesso. Porquê abrir com uma música do álbum que em sequer é single, que se calhar metade da audiência não conhece? Já em 2011 e 2016 tinha feito o mesmo, abrindo com House Arrest e Do What You Gotta Do respetivamente.
Não faria sentido abrir com um êxito, para entusiasmar logo o público? Não precisava de ser um dos Summer of 69 desta vida, mas, sei lá, um Somebody. Ou então Shine a Light, o primeiro single do álbum novo, que partilha o nome com o álbum e com a digressão, que até toca nas rádios.
Enfim.
Para ser justa, mesmo não sendo single, mesmo não sendo um êxito, The Last Night On Earth até é uma boa música para abrir um concerto: alegre, excitante, com uma mensagem recorrente na música de Bryan de viver o momento, de fugir a tudo e divertir-se.
Mas continuo a achar que Shine a Light teria sido melhor.
Na verdade, foi a segunda canção da noite que causou maior impacto em mim. Uns dias antes tinha deixado um comentário numa publicação de Bryan no seu Instagram, pedindo duas músicas para o concerto. Depois de, em 2016, outras pessoas terem feito pedidos de músicas nas redes sociais, queria tentar a minha sorte.
Como poderão ver acima, as músicas que pedi foram Tonight e The Best Of Me. Hei de explicar a primeira um dia destes, noutro texto. Por sua vez, a segunda é a preferida da minha irmã – ou andará lá perto.
Suspeito que a culpa seja minha – um dos primeiros CDs de Bryan Adams que comprei foi a compilação com o mesmo nome, de 1999. Eu tinha treze anos e a minha irmã cinco e dormíamos no mesmo quarto. Na altura, tinha um rádio-despertador com leitor de CDs. Com o alarme, o CD inserido começava a tocar – assim, tanto eu e a minha irmã acordámos muitas vezes com Bryan exclamando “You got it!” antes do início do instrumental.
Em retrospetiva, era uma maneira algo abrupta de acordar – taquicárdia logo de manhãzinha. Hoje escolho músicas mais suaves para despertar (acho que as minhas atuais são 3 Primary Colors e Hard Feelings/L.O.V.E.L.E.S.S.). Em todo o caso, fez com que a minha irmã ficasse a gostar de The Best Of Me
Também pode ter sido porque, na mesma altura, de noite, quando ela já estava a dormir, eu punha-me a ouvir o CD muito baixinho. Estou convencida que foi assim que ela se tornou fã de Bryan Adams.
Mas falava eu do comentário no Instagram. Tanto quanto vi na altura, não estava mais ninguém a pedir canções nos comentários – pelo menos não naquela publicação. Ainda assim, não me atrevia a acreditar que Bryan ou alguém da sua equipa veriam o meu comentário, no meio de dezenas de outros.
Se calhar viram. Mesmo antes do concerto, enquanto esperávamos que nos deixassem entrar no Pavilhão, ouvimos Bryan e o resto da banda ensaiando Tonight (à semelhança do que já tinha acontecido no concerto de 2016). Eu ainda não conseguia acreditar que o meu desejo tinha sido concedido.
Mas Tonight foi mesmo incluída na setlist, foi logo a segunda canção. The Best Of Me também seria tocada mais tarde (já lá vamos). A minha irmã reconheceu Tonight antes de mim e agarrou-me logo o braço. Mais tarde, depois do concerto, fui à net consultar as setlists dos concertos e ele, de facto, não tinha tocado Tonight nas noites anteriores. Tocou-a no dia seguinte, no concerto de Braga, mas depois dessa, tirando no concerto de Barcelona, em resposta a um pedido do público, não voltou a tocá-la.
Foi porque eu pedi? Foi porque, mesmo quase quarenta anos depois, Tonight continua a ter bastante rotação nas rádios portuguesas? Não sei. Em todo o caso, fiquei contente. Aqui entre nós, a remota possibilidade de eu ter introduzido duas músicas na setlist de um concerto de Bryan Adams deixa-me um bocadinho embriagada de poder, ah ah. Já começo a pensar nas músicas que vou pedir para o próximo concerto.
Depois desta, a primeira metade, primeiros dois terços, da setlist foi a típica de qualquer outro concerto de Bryan. Can’t Stop This Thing We Started, Run to You, It’s Only Love, (Everything I Do) I Do It For You… Em retrospetiva, a apresentação de Heaven foi muito semelhante à do concerto de 2016, com o público cantando a primeira estância espontaneamente. Mas na altura não me apercebi. Foi um ponto alto, que me tocou no coração.
Também não faltou Here I Am, a minha preferida, ainda que numa apresentação acústica, estilo Bare Bones. O impacto foi o mesmo de sempre – como escrevi antes, Here I Am soa-me perfeita, toca-me no coração, sob qualquer arranjo – e adorei a iluminação do palco durante a música. Vejam por vocês no vídeo abaixo.
Como o costume, procurei aproveitar ao máximo. Cantei, dancei, saltei… No fim do concerto o meu telemóvel marcava mais uns quatro mil passos em relação ao início – apesar de não ter saído do mesmo lugar. Ao mesmo tempo, houveram momentos – não muitos – em que pura e simplesmente me calei e fiquei a ouvir a audiência a cantar. Não me canso de sons como esse.
Por outro lado, como estava perto do palco, sempre que Bryan ou Keith Scott, o guitarrista, vinham para perto de nós, eu tentava interagir. O melhor que consegui foi Keith retribuindo um beijo que lhe soprei durante Cuts Like A Knife. Foi fofo.
Uma coisa em que reparei durante este concerto, com grande pena minha, foi que a idade de Bryan e de muitos membros da banda dele. Keith, que já vai nos 65 anos, parecia ter menos cabelo Houve um momento, se não estou em erro durante Can’t Stop This Thing We Started, em que o baixista Solomon Walker (para aí uns vinte anos mais novo que os colegas de banda) deu um salto em palco que nem Bryan nem Keith conseguiram acompanhar.
Pode não significar nada – agora que penso nisso, eles podiam pura e simplesmente não estar a prestar atenção e perderam o momento. E mais tarde os dois saltariam, ao mesmo tempo. No entanto, na altura senti-o com um lembrete de que, parecendo que não, o tempo passa.
Já aí voltamos.
Bryan não se esqueceu de homenagear a sua costela portuguesa, antes da versão acústica de Straight From the Heart, como já é habitual. Desta feita, como poderão ver no vídeo, mostrou fotografias dos seus anos em Birre, Cascais, em miúdo. Terminando com uma foto, tirada no próprio dia, das suas filhas brincando na praia do Guincho.
Houveram alturas do concerto em que Bryan aceitou pedidos da audiência – alguns antes do encore, alguns durante. Foi nessa altura que tocou The Best Of Me, ainda que incompleta. Não sei se foi por causa do meu comentário no Instagram ou se alguém no público pediu – fiquei com a ideia que o pedido veio de uma tal Carla, que segundo Bryan tem vindo a todos os concertos dele em Lisboa. De qualquer forma, a minha irmã ficou contente.
Bryan ia perguntando os nomes às pessoas que pediam as canções: Marta, Raquel… Às vezes não percebia logo, ou fingia não perceber. Chegou mesmo a incluir “Anabela”, autora de um dos pedidos, na letra quando cantou Please Forgive Me.
Houveram músicas requisitadas pela audiência que Bryan tocou com a banda toda – Do I Have to Say the Word teve mesmo direito a imagens do videoclipe gigante (das duas uma: ou a canção é um pedido comum, ou os vídeos estão sempre a jeito). Para a maior parte dos pedidos, no entanto, Bryan tocou sozinho, com a guitarra acústica, muitas vezes só a primeira estância e um refrão. Como já referi aqui, não gosto muito quando fazem isso, mas, pelo menos neste concerto, sempre foi melhor que não tocar as músicas de todo.
E a verdade é que, apesar de ter recusado alguns pedidos, como Rebel, Bryan fez por agradar o mais possível. Fiquei com a impressão de que as últimas duas canções não estavam no plano. Eu por minha vontade ficava lá a noite toda, claro, mas pronto, o homem tinha de dormir – o concerto de Braga era no dia seguinte e eles também mereciam um Bryan no seu melhor.
E pronto, foi uma das noites mais felizes de 2019 para mim – mesmo que o concerto não tenha sido muito diferente dos anteriores que vi. De ver em quando preciso de noites como esta: o mundo fica lá fora, celebrando música leve, simples, sobre amor, nostalgia, sexo, ser-se jovem, livre e feliz.
Mesmo passados estes anos todos, ainda não me fartei de Bryan Adams. Por um lado quero acreditar que ele estará de volta daqui a quatro anos, para mais uma noite como esta. Por outro… como disse antes, o tempo passa. Quem sabe se ele consiguirá voltar? Quem sabe se eu conseguirei voltar?
O tempo dirá. De qualquer forma, enquanto todos tivermos possibilidades para isso, enquanto Bryan continuar a lançar álbuns, a arranjar desculpas, eu estarei lá.
E por hoje já chega. A segunda parte do texto será publicada amanhã ou depois.