Chegámos ao último texto desta série. Hoje falamos de outra artista que vem em seguimento do ano passado – e também do ano anterior, na verdade. É a primeira vez que dedico um texto inteiro a Billie Eilish. O próximo passo será analisar uma música a fundo ou mesmo um álbum. Mas acho que ainda não estou nessa fase.
Muitos consideram Happier than Ever um dos melhores álbuns de 2021. Eu concordo. Aliás, este é um daqueles casos em que outros já fizeram todos os elogios que Billie merece. Vou apenas deixar algumas impressões pessoais e falar sobre as minhas músicas preferidas.
Já o tinha referido de passagem na minha análise a Solar Power de Lorde, mas ela e Billie entram em territórios semelhantes nos álbuns que lançaram este verão. Envelhecimento e mortalidade e, sobretudo, o peso da fama em geral. Ao contrário de Lorde, Billie consegue abordar este tema com mais tacto, mais noção que a cantora neozelandesa. Mesmo quando se queixa de stalkers, não perde de vista temas mais universais como juízos de valor sobre aparência, romance, desejo e relações falhadas.
Uma das minhas preferidas é Billie Bossa Nova. Como diz o título, é uma homenagem ao género musical natural do Brasil. É muito gira. A instrumentação e o estilo vocal de Billie combinam bem com a letra sexy.
Halley’s Comet foi das primeiras a cativar-me. É habitual comigo, vou sempre para a canção de amor. É uma música lenta, guiada pelo órgão, acompanhada por notas de guitarra e percussão leve. intimista, com um carácter vagamente jazz.
Aquilo que The Man with the Axe de Lorde devia ter sido.
NDA é fixe, com aquela batida, as notas de teclado, os vocais distorcidos no refrão, a maneira como transita para Therefore I Am. Outra das minhas preferidas é OverHeated. Adoro a instrumentação – uma expansão de Not My Responsability, tanto em termos de som como de letra. Estas duas músicas mostram o lado mais “badass” de Billie.
Se querem conhecer o lado mais vulnerável, oiçam Male Fantasy. Esta foi outra das primeiras a cativar-me, quase sem eu ter dado por isso. É a mais triste do álbum, quase só guitarra e voz.
A letra é algo confusa. Cheguei a pensar que tinha sido escrita da perspectiva de um homem. Oficialmente não é, mas funcionaria bem se o fosse. O facto de ser a última do álbum é um bocadinho triste – depois de várias músicas lançando veneno ao antigo namorado, Happier than Ever encerra com Billie admitindo que não consegue odiá-lo, nem seguir em frente.
Falta só falar sobre a favorita de toda a gente: o tema-título. Happier than Ever começa simples, acústica, não muito diferente de Male Fantasy ou Your Power. Mas não se mantém assim.
Não sei se fui a única a passar por isso, mas eu precisei de tempo para me habituar ao estilo vocal de Billie. Queixava a quem me quisesse ouvir (ou seja, à minha irmã) que ela canta demasiado baixinho, que eu tinha de aumentar o volume para entendê-la.
Mas acabei por me habituar e hoje até gosto. Em todo o caso, nos primeiros dias após a edição deste álbum, a minha irmã disse-me para ouvir esta música, pois Billie “não cantava baixinho”. E de facto não canta, tirando na primeira parte. Billie eleva a voz pela primeira vez e quando o faz… parte a louça toda, como disseram na Blitz.
É de facto uma gloriosa explosão de guitarras, bateria e gritos. A própria Billie confessou que foi catártico poder deitar tudo aquilo cá para fora. Calculo. E finalmente vemos as influências de Avril Lavigne na música de Billie – isto é uma energia muito à Losing Grip, muito à Under My Skin. Billie tem de fazer um álbum inteiro de rock!
E chegámos ao fim da minha retrospetiva musical. Só fica a faltar escrever sobre Avril Lavigne e Bryan Adams, mas escrevi sobre ambos há pouco tempo, serve como retrospetiva – e como especulação para 2022.
Demorou um bocadinho, mas acabei por gostar deste modelo de uma publicação por artista. Deixo aqui o meu Spotify Wrapped, a mini-análise que lhe fiz e a habitual playlist com as músicas abordadas nesta retrospetiva.
Houveram períodos este ano em que deixei este blogue um pouco ao abandono. Nalguns casos foi por estar ocupada com o meu outro blogue, mas noutros foi por estar a trabalhar… noutro projeto. Não vou dizer o que é – ainda estou muito no início, ainda devo demorar. Mas é possível que torne a fazer pequenas pausas aqui no blogue para escrever para esse projeto.
E por falar em projetos… ainda não concluí a minha segunda maratona de Digimon Frontier. Ando a arrastá-la desde o verão. Será em parte por culpa minha. Por outro lado… quando foi com Tamers, a minha segunda maratona durou apenas um mês, se tanto. Tirem as vossas próprias conclusões.
Ainda assim, talvez isto seja Deus escrevendo direito por linhas tortas. Em abril deste ano teremos o vigésimo aniversário da estreia de Fronteira. O melhor que tenho a fazer, se calhar, é publicar a análise na mesma altura e aproveitar o interesse aumentado.
Em todo o caso, vou tentar não adiar muito mais. Até porque terei de gerir com três álbuns dos meus artistas preferidos prestes a sair do forno.
2021 não foi um ano fácil para mim. Nalguns aspetos foi pior que 2020. 2020 foi pior a nível coletivo, 2021 foi pior a nível pessoal. Não vou partilhar todos os motivos, apenas alguns. Só consegui tirar férias em outubro. A Seleção, um grande fator para a minha felicidade, teve um ano péssimo, como expliquei aqui.
Além disso, descobri numas análises da medicina do trabalho que tenho colesterol elevado. Não muito, apenas 200, está ali mesmo no limite. Mas também tenho alterações nas enzimas hepáticas, o que poderá significar fígado gordo.
E eu que achava que não comia muito mal! Não sou muito de comer fast-food e até gosto de fruta e vegetais – sopa, salada, etc. Talvez haja uma componente genética. Dito isto, a minha fraqueza são os hidratos de carbono: pão, massas, arroz, bolachas. E o chocolate ocasional.
Como não quero começar a tomar estatinas aos quase trinta e dois anos, tive de fazer mudanças na minha dieta e estilo de vida. Passei a ir mais vezes à natação – pelo menos duas vezes por semana – e comecei a cortar nos hidratos. Trocando os pães com manteiga e bolachas por fruta, comendo mais devagar para ficar saciada mais depressa, sobretudo ao jantar.
Não que consiga ser muito rigorosa. Dezembro, então, com as festas, foi uma desgraça. Mas continua a ser melhor que antes.
Talvez isto seja uma coisa boa a longo prazo, mas para já conto como uma coisa má. É stressante estar sempre atenta ao que posso ou não posso comer. Em restaurantes, então, é raro existirem pratos saudáveis – de que eu goste, pelo menos.
Entretanto, descobri gente com a minha idade, e até mais nova, também com colesterol. Alguns com níveis mais altos do que eu até! Como o Doctor Mike, do vídeo acima – nunca pensei.
Fica aqui o conselho: vigiem o vosso colesterol, mesmo que se achem demasiado novos para isso. É mais fácil lidar com isso aos vinte, trinta anos do que mais tarde.
Espero, então, que 2022 seja melhor. Que seja o ano em que o Covid se transforme numa mera gripezinha e que possamos voltar à normalidade. Obrigada por terem estado comigo mais um ano. Até à próxima!
No início de 2021, o terceiro álbum de Lorde era uma das minhas maiores expectativas para esse ano. Agora que estamos em inícios de 2022, Solar Power é uma das minhas desilusões. Não que estivesse à espera de um álbum da mesma qualidade estratosférica de Pure Heroine e Melodrama, mas estava à espera de algo um pouco melhor.
Não tenho muito a acrescentar à minha análise a Solar Power. No entanto, desde que publiquei esse texto, Lorde lançou dois videoclipes para músicas deste álbum: Fallen Fruit e Leader of a New Regime.
O vídeo de Fallen Fruit está muito bem feito em termos de cinematografia. A maneira perfeita como alterna entre o “antes” e o “depois”, o paraíso e o inferno. E a mensagem não podia ser mais clara.
Isto é, tirando o momento final em que Lorde decide deixar aquilo tudo para trás. No entanto, no vídeo seguinte, para Leader Of A New Regime, Lorde aparece de novo num lugar paradisíaco. Em termos de meta, sabemos que é a mesma praia em que os vídeos de Solar Power e Fallen Fruit foram filmados (isto é, acho eu).
Dentro do universo, não sei se é suposto assumirmos que é um lugar diferente – a tal ilha para onde a narradora de Leader of a New Regime fugiu aquando da queda da civilização. E o que é que impede de acontecer o mesmo que aconteceu em Solar Power?
No seu último e-mail, Lorde referiu que este vídeo representa o meio da história. Talvez a coisa fique mais clara nos vídeos seguintes.
Não se sabe ainda quais serão, no entanto. The Path parece ser a candidata mais óbvia. Depois Dominoes? Oceanic Feeling? Quem sabe…
Pelo meio, Lorde partirá em digressão este ano. Ela tem dado a entender que não irá demorar tanto tempo com o próximo álbum. Talvez comece a trabalhar nele pouco depois do fim da digressão.
Por um lado aplaudo. Por outro, só cria mais buracos na história do “ai e tal, estou farta de ser famosa”. Um dos vários problemas que tenho com Solar Power.
Não fui a única pessoa a não ficar satisfeita com este álbum, mas existem muitas pessoas que gostaram. Chegou a ocorrer um caso caricato: um site em que Solar Power surgiu tanto numa lista de “melhor do ano” como numa lista de “pior do ano” – escolhas de pessoas diferentes, claro.
A definição de um álbum divisivo.
Alguns membros da equipa “Solar Power Yay” acusam os membros da equipa “Solar Power Nay” de sermos puristas, de querermos um segundo Melodrama. É possível que hajam casos desses, mas não é o meu.
Vocês sabem que, por norma, não critico mudanças só por serem mudanças. Eu até gosto de pelo menos algumas das ideias de Solar Power. O meu problema é a execução, conforme expliquei na análise. Esperávamos um álbum leve, solarengo, mas Solar Power em demasiados momentos soa demasiado aborrecido e incompleto. Além de que se foca demasiado em problemas de primeiro mundo.
No entanto, no fim do dia, são apenas opiniões. Não me choca que haja quem goste. Melhor para eles.
E a verdade é que tenho de destacar uma música: o tema-título, lançado no início do verão, mesmo não sendo a melhor do álbum ou mesmo a minha preferida. Estávamos todos à espera de um primeiro single com mais substância, não apenas de uma mera música de verão. Porém, era aquilo de que precisava na altura, depois de meses de confinamento, stress e música triste. “Forget all of the tears that you’ve cried, it’s over”.
O meu verão mais tarde não seria grande coisa, mas Solar Power foi um bom consolo, ajudou-me a aproveitar aquilo que pude do estio.
Isso compensa tudo o resto.
Muito bem, ficamos por aqui. Só fica a faltar um texto. A ver se o publico até ao fim da semana.
Primeira entrada de 2022! Bom Ano, pessoal! A retrospetiva musical de 2021 ainda vai a meio, agradeço a vossa paciência.
Nunca liguei muito ao Festival da Canção da Eurovisão. Liguei quando foi do Salvador, claro. Depois disso, assisti ao Festival de 2018, organizado por nós, mas fiquei desapontada com o nosso fraco desempenho. O do ano seguinte foi aquele com a música do telemóvel, não foi? Não, não vou ver ao Google, não lhes vou dar essa satisfação. Em todo o caso, fez com que me desligasse de novo do Festival.
Até este ano. A minha irmã convenceu-me a ver a final com ela. Até foi divertido. Gostei da nossa música: Love is On My Side, dos Black Mamba. Na minha opinião, em termos de música para Festivais, é a nossa melhor desde Amar Pelos Dois.
Compreendo que alguns de nós tenham ficado desapontados por concorrermos com uma música em inglês. Se houve algo que aprendemos com Amar Pelos Dois é que a língua não impede a música de tocar as pessoas. Não faz sentido cantar em inglês só mesmo para ter projeção internacional.
Dito isto, não digo que esse tenha sido o único motivo para os Black Mamba cantarem em inglês. Apesar de tudo, a maior parte da música que ouvimos é cantada nesta língua. Não me choca que, para alguns de nós, na hora de compôr, saia inglês em vez de português.
Em todo o caso, como dizia eu, Love Is On My Side é uma boa música. Talvez pouco original, sem se afastar muito do típico jazz e blues, mas não deixa de ser linda. Conseguiu um respeitável décimo-segundo lugar na classificação final – na minha opinião, merecia mais.
Mas, não querendo desvalorizá-la, o assunto principal deste texto é outro. Estou aqui sobretudo para falar dos vencedores da edição deste ano: os italianos Måneskin, com a música Zitti e Buoni.
Foi a primeira vez desde 2006 que uma música rock ganha o Festival da Canção. Por sinal, também gosto muito de Hard Rock Hallelujah. Durante muito tempo foi a única música da Eurovisão que ouvia com regularidade. E têm outra coisa em comum com os Måneskin: uma mulher na banda. Não é muito comum no mundo do rock, tirando na posição de vocalista (e mesmo assim).
Mas voltando aos italianos. Os Måneskin formaram-se em 2015, qando os membros eram adolescentes. Eles continuam a ser muito novinhos. O vocalista, Damiano David, é o mais velho, faz vinte e três anos agora em janeiro. O mais novo, o guitarrista Thomas Raggi, vai fazer vinte e um, também daqui a pouco tempo.
Tecnicamente já são adultos, mas para mim gente mais nova que a minha irmã (que tem vinte e cinco) é criança. Acontece o mesmo com a Billie Eilish, aliás. Eu podia ter andado com eles ao colo ou às cavalitas! E, habituada como estou a ter gente mais velha ou, vá lá, da minha idade entre os meus artistas preferidos, admirar miúdos mais novos é… esquisito.
Por outro lado, isto até será um raciocínio falacioso. Com o estilo de vida de estrelas de rock – as viagens, o assédio dos fãs e da comunicação social, entre outros aspetos – eles deverão ter experiência de vida equivalente à minha.
Os Måneskin lançaram-se no mainstream em 2017, quando participaram no X Factor italiano. Ficaram em segundo lugar. Na verdade, a versão de Beggin’, que teve grande rotação agora em 2021, é desses tempos – mais sobre ela já a seguir. Na mesma altura lançaram o single Chosen, que teve sucesso um pouco por toda a Europa – permitindo-lhes fazer uma digressão pelo continente em 2019.
Não se pode dizer, assim, que o mundo os descobriu no Festival da Canção. Mas foi assim que eu os descobri e os adotei. Em parte por influência da minha irmã, que tem estado a estudar italiano. É uma língua lindíssima, todos concordam, sobretudo em música – mas eu estava mais habituada a Eros Ramazzotti. Ouvir rock em italiano é diferente… e eu gosto! É uma língua com raízes latinas, tal como o português, mesmo sem aprender dá para perceber algumas coisas.
Também gosto da estética deles. Estrelas de rock andróginas estão longe de ser uma novidade: veja-se Elvis Presley, Mick Jagger, David Bowie, Prince, Freddy Mercury. No entanto, o estilo voltou a estar na moda nos últimos anos. Por estes dias, aceitamos, celebramos mesmo expressões de género e sexualidade fora do estreitamente cis e hetero. Olhemos para Timothée Chalamet e Harry Styles, por exemplo.
No fundo, os Måneskin adotaram uma versão mais hardcore, mais rock ‘n’ roll, desse estilo.
À primeira vista, o género musical dos italianos é glam rock, à anos 70 e 80. No entanto, algumas das suas influências são mais fora da caixa em termos de rock. Um pouco de hard rock, um pouco de funk – há momentos em que eles me recordam os Red Hot Chili Peppers. A própria voz de Damiano David tem sido descrita como típica de reggae – e, tal como a língua italiana, funciona surpreendentemente bem com rock.
Aliás, uma das músicas mais populares deles é uma versão rock ‘n’ roll de uma música soul dos anos 60. Eu pensava que a Beggin’ original era a dos Madcon. Fico feliz por não ser pois não gosto da versão deles – a interpretação do vocalista é irritante. O original dos The Four Seasons é muito melhor – e a versão dos Måneskin está ao mesmo nível.
Curiosamente, Zitti e Buoni é das mais pesadas que ouvi deles. Dou-lhes crédito por terem resistido à tentação de levar uma música mais leve, cantada em inglês, ao Festival da Canção. É um grito de rebeldia e uma das minhas preferidas deles.
Incluo aqui a atuação no final do Festival, na condição de vencedores. Gosto demasiado de vê-los felizes, de lágrimas nos olhos, beijando-se e abraçando-se uns aos outros durante a atuação, Damiano agradecendo a vitória pelo meio.
Nas semanas que se seguiram ao Festival, já se falava de I Wanna Be Your Slave nas redes sociais. Gosto tanto como toda a gente, ainda que ache o instrumental um pouco básico demais – a melodia cantada é a mesma do baixo e da guitarra. O mesmo acontece em certos momentos do single mais recente deles, Mamma Mia – uma música de que não gosto tanto.
Gosto de Vengo dalla Luna, no entanto – ainda que se pareça um pouco demais com a versão deles de Let’s Get It Started. Por outro lado, estou surpreendida por pouca gente falar de Torna a Casa, uma das minhas preferidas. Uma power ballad também habitual no rock dos anos 70 e 80, talvez demasiado clássica, pouco original, mas eu sempre gostei deste tipo de música.
Ainda estou em exploração, na verdade. Na preparação deste texto, descobri mais umas músicas de que gosto deles: a já referida Chosen, Morirò da Re e Niente da dire. Esta última é algo diferente para eles, com percussão eletrónica e guitarra acústica. Hei de continuar a explorar a música deles, a acompanhá-los. Espero que venham a Portugal em breve.
Em suma, estes miúdos ainda têm algumas arestas por limar. Um dos problemas, na minha opinião, são os instrumentos a menos – apenas guitarra, baixo, bateria e voz – e algumas músicas sofrem por isso. Por outro lado… são miúdos, são amigos de adolescência, se não forem de infância. Será que quero que tragam gente de fora, que possa vir a estragar-lhes as dinâmicas?
Em todo o caso, os Måneskin têm imenso potencial e parecem genuínos. Confio muito mais neles para “salvarem o rock” do que a trupe do Travis Barker (mesmo Avril; por muito que a adore, duvido que recupere a relevância de outros tempos). Já estão a fazê-lo. Chegaram a falar de miúdos de dez anos que dizem que querem aprender a tocar bateria por causa deles.
Realmente, o rock ‘n’ roll nunca morre.
E por hoje é tudo. Já só faltam mais dois textos para esta série – sobre duas meninas. Fiquem por aí.
O texto de hoje será mais curtinho que os anteriores – e os próximos, provavelmente. Quase todas as minhas retrospectivas anuais têm incluído uma música isolada, que entra na minha lista por um motivo muito específico.
Este ano, essa música é a versão de Post Malone de Only Wanna Be With You, dos Hootie and the Blowfish. E o motivo não será difícil de adivinhar para quem der uma rápida vista de olhos a este blogue.
Em fevereiro comemorámos o vigésimo-quinto aniversário de Pokémon enquanto franquia. Escrevi sobre isso aqui. A propósito dessas comemorações, The Pokémon Company lançou uma compilação com temas de vários músicos.
Acho que ninguém percebeu muito bem a lógica da decisão – e não aderiram muito. Mesmo eu só me dei ao trabalho de ouvir esta e Electric, de Katy Perry (que não sendo má, não é nada por aí além).
Only Wanna Be With You foi a primeira do projeto a ser lançada. Ainda assim, não me afeiçoei logo à música – demorou um bocadinho. A versão de Post Malone é relativamente fiel ao original, mas inclui um excerto do tema de Ecruteak, dos jogos da segunda geração de Pokémon. Ecruteak é uma das minhas cidades preferidas e um dos meus temas preferidos de toda a banda sonora dos jogos.
Agora, imaginem estarem a trabalhar, com o rádio ligado, e de repente ouvirem estas notas em 8bit. Notas que estão habituados a ouvir em circunstâncias muito diferentes. No meu caso, era sobretudo quando andava à caça do trio de Johto – sempre que precisava que estes mudassem de localização, voava sempre para Ecruteak. Era estranho, mas sabia-me bem.
E isto é o suficiente para me afeiçoar à canção. Aquelas notinhas em 8bit. É o que eu digo, esta franquia consegue pôr-me a comer da mão deles com coisas tão simples como esta.
Não que esse seja o único ponto forte de Only Wanna Be With You, pelo contrário. É uma música gira, tanto o original (o vocalista Darius Rucker tem uma voz bonita) como esta versão. Noutras circunstâncias, se a ouvisse na rádio, não mudaria de estação. Talvez até usasse o Shazam, para mais tarde adicioná-la ao meu Spotify.
Por outro lado, por muito gira que seja a música… esta não tem muito a ver com Pokémon. Only Wanna Be With You é uma canção de amor, sobre um romance que não parece ser muito harmonioso. Lá está, noutras circunstâncias não faria mal, mas para uma música associada a Pokémon não faz muito sentido.
Na minha opinião, a menos que quisessem criar música que servisse como temas de abertura ou encerramento do anime, se quisessem que as canções funcionassem fora do contexto de Pokémon, as letras teriam de ser mais vagas. Canções de amor suficientemente genéricas para se poderem aplicar a relações platónicas – como Carry On, do filme Detetive Pikachu – ou músicas com típicas mensagens inspiradoras, sobre tornar sonhos realidade ou assim – como Electric, de Katy Perry.
Mas pronto. Gosto de Only Wanna Be With You à mesma. Foi uma das músicas que mais toquei este ano à mesma.
Para já é tudo. No próximo episódio, vou escrever sobre uma banda que nunca referi aqui no blogue – ou na páginasequer. Uma pista: eles cantam em mais do que uma língua.
Caso não volte a publicar antes do Ano Novo, boas entradas em 2022!
Esta é outra que vem na sequência do ano passado – e que eu sabia que podia voltar a aparecer na lista de fim de ano. Taylor Swift continua a subir nas minhas preferências e acredito que, não sendo propriamente a melhor cantora, é certamente a melhor compositora da nossa geração.
No final do ano passado, eu estava ainda a começar a explorar folklore e evermore. Agora que já passei bastante tempo com esses álbuns, posso alongar-me um pouco mais sobre eles.
Não que tenha muito a dizer que outros não tenham dito já. Apenas que ambos são álbuns poderosíssimos, que mexem com as emoções – um pouco demais para o meu conforto, até. As músicas de separação (pelas quais Taylor é infame) nem sequer são as piores, pelo menos não no meu caso.
Devo dizer que gosto mais de folklore do que de evermore – ambos são excelentes, mas, no geral, gosto mais das músicas do primeiro. De todas as faixas de folklore – incluindo a faixa extra, the lakes – apenas peace e hoax não me cativam muito.
Cardigan não é das minhas favoritas, mas existe um par de versos que batem forte – sobretudo no final do ano passado, início deste. “Tried to change the ending, Peter losing Wendy” lembra-me Kizuna. Embora talvez a primeira versão da letra fosse mais adequada “Peter leaving Wendy”. Ou mesmo ao contrário “Wendy losing Peter”.
Exile, my tears ricochet e illicit affairs são todas tristes, cada uma à sua maneira. Identifico-me um pouco com this is me trying. Seven, então, é terrível, traz-me lágrimas aos olhos de todas as vezes. August é a melhor do triângulo amoroso musical e mesmo de todo o álbum.
Por fim, tomei o gosto a mirrorball. Traduz de maneira interessante aquilo que Taylor estaria a sentir no início da pandemia: o mundo do espetáculo fechando portas, mas o desejo dela de entreter não fora a lado nenhum. “When they called off the circus, burned the disco down, when they sent home the horses and the rodeo clowns, I’m still on that tightrope, I’m still trying everything to get you laughing at me”.
Evermore tem menos músicas causando o mesmo impacto, mas elas estão lá. Como primeiro single, gosto mais de willow do que de cardigan. Gold rush é muito gira: um cruzamento entre o synth pop de 1989 e música dos anos 50. No body no crime é deliciosamente sombria. Cowboy like me merecia mais apreciação. Marjorie foi inspirada pela falecida avó de Taylor, mas também me recorda a minha – é outra que me faz chorar.
São bons álbuns mas, como referi várias vezes ao longo do ano, a partir de certa altura tornaram-se demasiado pesados emocionalmente para mim. Comecei a sentir falta de música mais alegre.
Entretanto, Taylor começou a lançar as regravações dos seus álbuns antigos. Fearless na primavera, Red agora no outono. Na altura em que se começou a falar disso, não achei que fosse resultar. Se Avril decidisse regravar os seus primeiros álbuns, não resultaria de todo, na minha opinião. A sua voz muda muito de álbum para álbum, sobretudo na primeira metade da sua carreira – a sua voz hoje em dia é muito mais firme, ela nunca conseguiria replicar a fragilidade dos seus vocais em Let Go ou o timbre mais grave, à maria-rapaz, de Under My Skin.
Além disso, qual era a piada de voltar a lançar música que os fãs já conhecem de trás para a frente e de frente para trás?
No entanto, tive de engolir as minhas dúvidas depois do que ela fez com Fearless (Taylor’s Version) e sobretudo Red (Taylor’s Version). Como a própria Taylor explicou, acaba por ser uma nova forma de explorar nostalgia e fan service. Taylor pega no feedback que recebeu ao longo dos anos dos fãs em relação às músicas mais populares, àquelas que deviam ter sido singles/recebido videoclipes (o caso mais óbvio é All Too Well, como veremos já de seguida). Por sua vez, os fãs recordam um álbum e uma era que os marcou e ainda recebem conteúdo extra.
Taylor tem regravado as faixas-padrão de modo a soarem idênticas às originais, por motivos óbvios. Mas com as b-sides – ela chama-lhes From the Vault, do cofre – é diferente. Tecnicamente estas nunca foram lançadas por meios oficiais, nunca renderam dinheiro (mesmo que os fãs mais hardcore já as conheçam há muitos anos), ela agora pode fazer o que quiser com elas: rearranjá-las, mudar partes da letra, trazer convidados.
É diferente, é interessante. Com isto em conta, decidi aproveitar estas regravações para ficar a conhecer melhor a discografia de Taylor, um álbum de cada vez.
Fearless não me impressionou por aí além, no entanto. Tirando aquelas de que já gostava antes – Love Story, White Horse, Fifteen – acrescentei poucas às minhas playlists: a faixa-título, Superstar, The Other Side of the Door, Mr. Perfectly Fine e Don’t You. E mesmo assim não adoro nenhuma delas.
Com Red foi diferente. Gosto mais de Red do que de Fearless. Não sei se esta é uma opinião popular na comunidade de fãs. Será o equivalente a dizer que gosto mais de The Best Damn Thing do que de Under My Skin?
De resto, acho que o lançamento de Red TV teve mais impacto. Talvez por causa do lançamento da versão de dez minutos de All too Well, com direito a curta-metragem e tudo.
À semelhança de toda a gente, All too Well é uma das minhas preferidas de Taylor. Até escrevi sobre ela no ano passado e tudo. A minha declaração de que não precisávamos da versão de dez minutos envelheceu como um iogurte. Apesar do que escrevi, quando ficou confirmado que teríamos dez minutos de All too Well, fiquei tão entusiasmada como toda a gente. Na noite anterior ao lançamento de Red TV, mal consegui dormir pensando na música, sonhando constantemente que esta já tinha saído e que a ouvia pela primeira vez.
Isto já me dá direito ao cartão de Swiftie?
Em relação à música em si, começo por dizer que as minhas previsões não estavam erradas. A versão longa de All too Well não tem os mesmos clímaxes em termos de instrumental que a versão curta tem. A letra é menos linear em termos de progressão, chegando a contradizer-se a si mesma. Perto do fim da música, a narradora diz que o ex se lembra tão bem como ela – a parte de ele não ter devolvido o cachecol e tal. Mas na estância final, ela pergunta-lhe se ele também sofreu com a separação, se ele também se lembra.
É possível que seja intencional, no entanto.
Em todo o caso, estes são problemas menores. Os pontos fortes da versão longa compensam sobejamente. Os cinco minutos extra oferecem novas perspectivas sobre o romance falhado, novas camadas de emoção, talvez demasiado melodramática nalguns momentos, mas sem deixar ninguém indiferente.
Taylor diz que esta versão é o primeiro rascunho da música, tal como a compôs em 2011 ou 2012… mas será verdade? Estou disposta a admiti-lo para noventa por cento da letra, mas existem partes que são demasiado 2021, nomeadamente o foco na diferença de idades. Duvido que Taylor aos vinte e um, vinte e dois, estivesse afastada o suficiente da situação para se aperceber desse aspeto.
Enfim, é apenas um pormenor. Concordo com Taylor quando diz que esta é a versão definitiva de All too Well.
Mas esta não é a única música de destaque em Red TV. Eu já adorava o tema-título mesmo antes disto, por exemplo, bem como Treacherous (ainda que há menos tempo). Quando saiu a regravação, no entanto, tomei o gosto a Begin Again.
Por acaso, várias das que gosto vêm do “cofre”. Por exemplo, gosto imenso de Girl At Home. A versão original tinha um arranjo mais country que não era mau. Mas esta versão, mais ao estilo de 1989, é muito mais gira. E a letra envelheceu surpreendentemente bem.
Também gosto de Come Back… Be Here. O início recorda-me Wish You Were Here, de Avril Lavigne. É possível que tenham inspirações comuns, típicas do início dos anos 2010.
Finalmente, temos I Bet You Think About Me. Adoro o tom trocista da letra (que será sobre o mesmo interesse romântico de All too Well), muito bem explorado pelo videoclipe, lançado poucos dias depois de Red TV. Pontos para o que fizeram com o branco e o vermelho – e o bolo parece delicioso. Se algum dia me casar e for um casamento dos grandes, também quero um bolo de noiva red velvet.
Dizem que a próxima regravação será de 1989. Sendo este um dos álbuns que melhor conheço de Taylor, isto contraria um pouco o meu plano. Mas não me queixo: continuo a querer conhecer mais músicas do cofre, quiçá com novos videoclipes.
Não se admirem, assim, se voltar a escrever sobre Taylor daqui a um ano.
E chegámos ao fim da segunda parte desta retrospetiva. Se não voltar a publicar antes, boas entradas em 2022!