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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Hoje celebramos 20 anos de Pokémon...

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Há exatamente vinte anos, eram lançados no Japão os jogos para Game Boy Pokémon Red and Green, inaugurando assim a franquia Pokémon, que hoje se exprime, não apenas numa série de videojogos, mas também em jogos spin-off, uma série de anime, um jogo de cartas, entre outras coisas. A propósito deste aniversário, hoje celebramos o Pokémon Day. Já falei aqui no blogue, por diversas vezes até, da importância que esta franquia tem para mim, não podia deixar esta data passar em branco. Resolvi fazê-lo partilhando um texto que escrevi para um projeto do blogue Nerdy Girl Notes

 

O projeto consiste num livro sobre cultura pop e comunidades de fãs, celebrando a capacidade que personagens femininas fortes possuem de tocar pessoas, inspirá-las, mesmo não sendo de carne e osso. A autora do blogue desafiou-nos a participar enviando-lhe cartas nossas, homenageando mulheres ficcionais que nos tivessem marcado. 

 

Ora, eu tive vontade de participar desde início, mas não sabia a quem escrever a carta. Ao longo da minha vida, praticamente todas as pessoas que idolatrei - homens e mulheres - eram de carne e osso. Sim, tenho tido uma personagem feminina ficcional acompanhando-me durante muitos anos, mas fui eu mesma quem a criou e nem sequer foi diretamente baseada em personagens já existentes. Cheguei a pensar escrever à Sora de Digimon, mas o seu fraco desenvolvimento e o seu inexplicado destino, revelado no epílogo de 02, tiraram-me a vontade. Por fim, acabei por me lembrar de Misty.

 

Como poderão ler, a minha ligação a Misty acaba por ser um reflexo da minha ligação a toda a franquia. Daí que tenha querido partilhá-la convosco hoje, em dia de 20 anos de Pokémon. Escrevi originalmente em inglês, mas obviamente traduzi-a aqui para o blogue. Abaixo, segue a versão em português. Tenham em conta que esta é uma carta para uma heroína de infância, preparem-se para uma dose saudável de lamechice.

 

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Querida Misty,

 

Olá. Chamo-me Sofia, sou de Lisbon City, na região de Portugal. Cresci jogando Pokémon e vendo-te, ladeada pelo Ash e pelo Brock. Pokémon sempre significou muito para mim, ainda significa e terá sempre um lugar especial no meu coração. Isto acontece em parte graças a ti, daí esta carta.

 

Conheci-te quando tinha dez anos. Pelo menos para mim, foste a primeira rapariga no mundo dos Pokémon. Foste tu a dizer, a mim e ao resto do mundo, que os Pokémon não eram apenas para rapazes, que as raparigas podiam também ser treinadoras de Pokémon. Não fosses tu, teria sido mais difícil para mim entrar neste mundo. Por esse motivo, estarei-te sempre agradecida 

 

Durante algum tempo, logo depois de te conhecer, idolatrei-te. Tentava imitar o teu rabo-de-cavalo - sem sucesso, porque o meu cabelo era demasiado curto. Lembro-me em particular de pedir à minha mãe que me comprasse um par de calções de ganga, parecidos com aqueles que usavas. Na altura, não ligava muito a roupa, mas sentia-me feliz usando esses calções com um top amarelo. #MistySwag! Por tua causa (entre outras coisas), água foi o meu tipo de Pokémon favorito durante muito tempo. Hoje em dia não ligo assim tanto aos tipos, mas vários dos meus Pokémon preferidos são aquáticos. 

 

Não eras muito fácil de simpatizar no início, contudo. Devo dizer, tu eras um bocadinho dura demais para o Ash quando o conheceste. Eu sei que ele não é lá muito esperto, é casmurro e costumava passar de super arrogante a zero em auto-confiança numa questão de minutos. Ele precisava de amor duro. No entanto, às vezes parecia que te esquecias que ele era apenas um miúdo, um novato, a aprender tudo do zero.

 

Dito isto, Ash aprendeu imenso contigo, mas tu também aprendeste com ele: com a sua gentileza, a sua sabedoria inocente, com o seu amor genuíno pelos Pokémon. Desde, bem, não exatamente o primeiro dia, desde o segundo (ou terceiro? Não me lembro ao certo...). Um dos meus momentos preferidos em Pokémon foi quando tu estavas a ver o Ash com o seu Metapod recém-evoluído e disseste: "Nunca conheci ninguém como ele. Gosta mesmo de Pokémon." Aposto que também não conheceste ninguém como ele depois. Eu não, pelo menos.

 

Ao contrário da maior parte das pessoas, nunca vos imaginei como parceiros românticos. Sempre vos vi mais como irmão e irmã. Do mesmo modo, houve alturas em que te via a ti e ao Brock como os pais adotivos do Ash.

 

Também gostava da tua relação com o Togepi. Cheguei a invejá-la um boocadinho. Sejamos honestos, todos nós gostaríamos de ter sempre uma coisinha tão adorável como aquela nos nossos braços. Mais à frente, gostei de te ver ligando-te com a Sakura e o Max, que também são irmãos mais novos.

 

Apesar de ter ficado triste quando tiveste de te separar do Ash e do Brock, depois de Johto, hoje compreendo que, a partir de certa altura, não seria suficiente para ti andares sempre atrás do Ash. Eventualmente terias de seguir o teu próprio caminho, cumprir o teu próprio destino. A história de como te tornaste Líder de Ginásio de Cerulean é linda. Tal como muitos de nós no início de um capítulo novo nas nossas vidas, andaste um bocadinho perdida. Estavas habituada a ter sempre o Brock e o Ash contigo. Para piorar, assim que chegaste ao ginásio, tiveste de lidar com um Gyarados descontrolado, de todas as coisas - sobretudo porque tinhas medo deles. Não foi fácil, mas acabaste por conseguir.

 

Gostei em particular do facto de aquilo que te fez ganhar a confiança do Gyarados foi tê-lo protegido contra os Tentacruel, quase morrendo no processo. Recordou-me todas as vezes que o Ash fez o mesmo: enfrentando um bando de Spearow para proteger o Pikachu, escudando o Squirtle no meio de um bombardeamento, atravessando um nevão para salvar a vida ao Pikachu, atirando-se para o meio do combate entre o Mewtwo e o Mew (espera, tu lembras-te disto, certo? O Mewtwo devolveu-vos as memórias que vos retirou, não devolveu?), tratando do Charizard pela noite adentro, fazendo questão de nunca deixar a cabeceira dos seus Pokémon quando estes estão feridos - e estes são os únicos exemplos de que me recordo neste momento. É isto que o Ash faz, ele coloca a segurança dos seus Pokémon acima da sua - ao mesmo tempo, este é o que o Ash tem de mais admirável e de mais frustrante, porque é só por sorte que isso não deu para o torto, até agora.

 

O Ash costuma dizer que os nossos entes queridos nunca nos deixam verdadeiramente. Isso aplica-se a vocês os dois. A maior homenagem que poderias prestar à tua amizade com o Ash foi teres-te provado merecedora do título de Líder de Ginásio fazendo o que ele faria, o que ele te ensinou. Mesmo que não tornes a vê-lo, sabes que és uma treinadora melhor, uma pessoa melhor, só por teres passado tanto tempo com ele. Essa é a beleza de Pokémon: o facto de sempre se ter baseado em amizade, lealdade, amor, tolerância e coragem. Tal como alguém escreveu, "O coração da história de Pokémon não é combater e competir - é o espírito de crescer, explorar a natureza e ver o mundo de modo a tornarmo-nos pessoas melhores". A tua história é um ótimo exemplo disso.

 

Orgulho-me por ter testemunhado a tua caminhada desde menina, que podia ser um bocadinho mazinha quando queria, desesperada por sair da sombra das irmãs, até te tornares uma jovem amável, Líder de Ginásio. Obrigada por me abrires a porta para o mundo dos Pokémon e por tudo o que esse mundo me tem dado ao longo dos anos.

 

Com muito amor,

Sofia

 

Como já afirmei aqui, deixei de acompanhar o anime de Pokémon há muito tempo, mas gosto de ver os filmes à medida que vão saindo - tinha grandes expectativas para o mais recente, protagonizado pelo lendário Hoopa, mas este ficou aquém das mesmas. Ainda jogo Pokémon, se bem que não de forma tão consistente como quando era miúda (por norma, dou prioridade à escrita) e sempre de forma casual. Na verdade, depois de ter estado uns meses sem jogar, há algumas semanas bateu-me a saudade e comecei a versão White 2 (nunca a tinha jogado eu mesma, apenas tinha visto a minha irmã a jogar). Para além disso, no outro dia fui à Fnac do Colombo buscar um Mew, que andaram a distribuir a propósito deste aniversário. Fez-me recordar o meu primeiro Mew, que também trouxe do Colombo há cerca de quinze anos.

 

E agora acabou de ser anunciado um novo par de jogos para juntar à família: Pokémon Sun e Pokémon Moon.

 

 

Não se sabe quase nada ainda sobre esta nova adição à série de jogos (adoro o vídeo que usaram para apresentá-los, mesmo a puxar à nostalgia). Tudo indica que estes serão os primeiros jogos da sétima geração, com novos Pokémon e uma nova região, mas ninguém tem certezas absolutas ainda. Os conceitos de sol e lua, apesar de não propriamente originais (e, de qualquer forma, não são tão óbvios como Preto e Branco ou como X&Y), têm uma infinidade de mitologia associada (a dualidade dia/noite; em algumas culturas, o Sol simboliza fogo, virilidade, poder, coragem, e a Lua simboliza água, feminilidade, fertilidade, duplicidade, entre outros conceitos). Quero ver de que maneira os jogos explorarão essa mitologia. De resto, a dualidade sol/lua já serviu de fonte de inspiração na franquia - Solrock e Lunatone são o exemplo óbvio, mas Espeon e Umbreon interpretam essa dualidade de maneira mais interessante. Para além desses, temos todos os Pokémon que evoluem por Moon Stone/Pedra da Lua (em especial, a família das Clefairy) ou Sun Stone/Pedra do Sol. Por fim, temos Cresselia, que simboliza a lua cheia, Darkrai, que simboliza a lua nova, e Volcarona, que, segundo a Pokédex, chegou a servir de substituto para o sol, depois de uma erupção vulcânica ter coberto a atmosfera de cinza, bloqueando a luz solar.

 

Em todo o caso, novos jogos, novas gerações de Pokémon são sempre uma notícia excitante. Os jogos só deverão sair por altura do Natal, mas até lá vamo-nos entretendo especulando sobre qualquer informação que vá saindo.

 

 

Outra coisa relacionada com Pokémon por que anseio este ano é pela app Pokémon GO, anunciada em setembro último. Pokémon GO será um jogo de realidade aumentada, baseando em localização, estilo Ingress, em que os jogadores poderão usar os seus telemóveis para encontrar Pokémon no mundo real. Segundo informações que vêm saindo, as espécies de Pokémon que poderemos encontrar variarão com as características do terreno - por exemplo, perto de rios ou do mar encontraremos Pokémon aquáticos - certos Pokémon estarão localizados em sítios icónicos, como momumentos; será possível trocar Pokémon e combater com outros utilizadores do jogo; certos lendários poderão ser capturados em eventos próprios; existirão também ginásios e equipas formadas por vários jogadores (esta parte eles ainda não explicaram muito bem...).

 

Este jogo é uma daquelas coisas que eu não sabia que desejava até descobrir acerca dela. É uma das minhas fantasias de infância tornada realidade (houve uma altura quando tinha dez ou onze anos em que eu me imaginava encontrando Pokémon ao pé da minha casa ou nos sítios que visitava). Por norma, quando posso e o tempo está bom, gosto de passear ao ar livre, de andar de bicicleta, De vez em quando, o meu pai gosta de levar-nos a fazer caminhadas. Com Pokémon GO, tenho um incentivo extra. Eu e a minha irmã, que por norma não gosta assim tanto de caminhadas. Pergunto-me, no entanto, o que pensarão pessoas "normais" quando nos virem às voltas num jardim público, de telemóvel na mão, como se procurasse um tesouro escondido. Da mesma maneira, já estou a imaginar o meu pai quando, numa caminhada, eu e a minha irmã ficarmos para trás ou seguirmos por um caminho diferente:

 

- Meninas, onde é que vocês vão?

 

- Só um bocadinho, pai, vamos só ali apanhar aquele Eevee, já voltamos!

 

Contudo, à semelhança do que acontece com muitos outros, tudo isto me parece demasiado bom para ser verdade, receio apanhar uma desilusão. Suspeito que a tecnologia de realidade aumentada será muito básica, pelo menos no início, que tenhamos de pagar por Pokébolas, itens ou atualizações que incluam Pokémon além dos 151 originais. É praticamente certo que a app não funcionará offline, pelo que terei de gerir muito bem os dados móveis do meu smartphone. No entanto, se bem feito, Pokémon GO tem o potencial para ser algo espetacular. Estou a tentar manter as minhas expectativas baixas, mas dou-lhe o benefício da dúvida.

 

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Já vamos em vinte anos, mas a franquia Pokémon ainda não perdeu a força, ao que parece. Longe de estar perto de me fartar da franquia, como cheguei a pensar há uns tempos, há anos que não me sentia tão entusiasmada com Pokémon - e não há dúvida, de resto, que esta é uma excelente altura para se ser fã da franquia, com a reedição hoje dos jogos originais - Red, Blue e Yellow - para o sistema 3DS (comprámos a Yellow, que nunca jogámos antes), Pokémon Sun&Moon, Pokémon GO, distribuições mensais de lendários, entre outras coisas. Estou cada vez mais convencida de que este casamento tão cedo não acaba.

 

A mais vinte anos de Pokémon!

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