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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

A história turbulenta da banda que vai abrir a Eras Tour em Portugal #2

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Retomamos a nossa história em 2007, 2008 (podem ler o início aqui). Riot! foi, então, o álbum que colocou os Paramore na ribalta. Infelizmente, a banda não lidou muito bem com isso. Uma das piores fases foi no início de 2008. Os Paramore chegaram a cancelar concertos na Europa. Diz que a banda esteve à beira de colapsar nessa altura. 

 

Para começar, Hayley e Josh terminaram a relação algures em finais de 2007. Há quem diga que Hayley o traiu com o futuro marido, Chad Gilbert, guitarrista dos New Found Glory (mais sobre ele já a seguir… infelizmente), mas não encontrei nenhuma confirmação oficial, preto no branco. Algures nesta altura Hayley compôs e gravou uma música a solo – a sua primeira oficial – chamada Teenagers, que acabou por ir parar à banda sonora do filme O Corpo de Jennifer, de 2009. Parece ter sido inspirada por esta separação. Eu mesma só a conheci há relativamente pouco tempo mas acho-a fascinante.

 

Calculo que tenha sido difícil para ambos serem obrigados a trabalhar juntos na banda depois de se separarem, a partilhar um autocarro de digressão. Até porque Hayley estava a apaixonar-se por outra pessoa. Ao mesmo tempo, Josh ressentia-se amargamente de toda a atenção dada a Hayley, muitas vezes em detrimento do resto da banda. 

 

Não vou dizer que não compreenda a posição de Josh – sobretudo tendo em conta a questão do contrato. Talvez ele nunca se tenha sentido seguro dentro da banda. Por outro lado… ele não sabia como o mundo da música funciona? Não acontece o mesmo com inúmeras bandas, os holofotes virarem-se mais para os vocalistas? Freddie Mercury com os Queen, Bono com os U2, Chris Martin com os Coldplay, Thom Yorke com os Radiohead… Bolas, os Panic! At the Disco foram basicamente um projeto a solo de Brendon Urie nos últimos anos de vida da banda. Hayley ao menos sempre fez questão de dizer que os Paramore eram uma banda, não apenas um projeto a solo.

 

Dito isto – e isto são apenas especulações minhas – acredito que, a certa altura, durante estes conflitos todos, Hayley poderá ter-se agarrado demasiado à banda, à sua família, o que terá feito mais mal do que bem. 

 

Falando com mais de uma década de distância, Hayley disse – provavelmente com razão – que eles eram miúdos. Estavam a entrar na idade adulta, estavam a crescer em direções diferentes, a lidar com questões com que músicos bem mais velhos têm tido dificuldades em lidar desde que existem bandas musicais. Hayley também disse que, apesar de muita gente destacar a juventude dos Paramore, muitos adultos à volta deles esqueceram-se convenientemente desse facto quando a banda estava em crise e ninguém os ajudou. 

 

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Por outro lado, foi nesta altura que Taylor York se juntou à banda – ainda que só tenha sido anunciado como um membro oficial em 2009. Taylor esteve sempre lá desde o início, como referido antes. Compôs algumas canções em All We Know Is Falling e Riot!. No entanto, os pais quiseram que ele concluísse o equivalente ao nosso décimo-segundo ano antes de se juntar aos Paramore.

 

Foi então nesta altura, um período particularmente vulnerável para Hayley, que esta começou a namorar Chad… um homem de vinte e seis anos. Tal como Taylor Swift, provavelmente na mesma altura até, envolveu-se com um homem mais velho quando ainda mal tinha chegado à idade adulta. O caso de Hayley foi pior: as relações de Taylor com John Mayer e Jake Gyllenhaal foram relativamente curtas. Hayley esteve uma década com aquele gajo, chegou a casar com ele.

 

E já referi que Chad era um homem casado quando se envolveu com Hayley?

 

Falo com mais pormenores sobre esta relação retorcida no meu texto sobre Petals For Armor, o primeiro álbum a solo de Hayley (mais sobre isso adiante). Para já, dizer apenas que Hayley sentiu imensa vergonha durante anos por ter “roubado” o marido a outra mulher.

 

Como se isso não bastasse, Chad era a personificação da frase “se ele traiu para estar contigo, há de te trair também. Ainda agora, em pesquisas para este texto, dei com esta publicação que, entre outras coisas, detalha várias ocasiões em que Chad traiu Hayley. Não sei se é tudo verdade. Espero que não porque, meu Deus! Como é que Hayley aturou isto tudo?!

 

Caso ainda não tenha ficado claro, nós odiamos Chad.

 

Havemos de voltar a ele, infelizmente. Como dissemos antes, 2008 foi um ano particularmente tumultuoso para os Paramore, mas também ficou marcado pelo lançamento de um dos meus maiores êxitos: Decode, para a banda sonora do primeiro filme de Twilight. Ainda no fim do ano passado, num concerto na Austrália, houve alguém que levou uma figura do Edward Cullen. 

 

 

Como a própria Hayley disse, icónico.

 

Não sendo das minhas preferidas, Decode é uma bela música, com vocais espetaculares de Hayley e um instrumental que captura perfeitamente o espírito dos filmes da franquia, sobretudo o primeiro: muito emo, quase gótico. Irá de certeza ser tocada durante a Eras Tour.

 

Por outro lado, Decode tem uma irmã menos conhecida mas igualmente boa, talvez ainda melhor: I Caught Myself. Uma autêntica pérola escondida que, infelizmente, só os fãs mais hardcore devem conhecer.  Não foi composta de propósito para Twilight, mas também se encaixa no espírito, logo, também foi para a banda sonora. A letra fala de resistir à tentação de um interesse romântico que, na verdade, não queremos na nossa vida.

 

Nunca foi confirmado preto no branco, mas é altamente provável que I Caught Myself tenha sido inspirada pela separação de Hayley e Josh. Com o tempo, no entanto, terá ganho nossos significados. Terá passado a ser sobre a relação entre Hayley e Chad. Saltando alguns anos na nossa história, os dois anunciaram o divórcio em julho de 2017. No concerto seguinte, em Hamburgo, na Alemanha, Hayley parece à beira das lágrimas enquanto canta I Caught Myself – quando chega à parte do “don’t know what I want, but I know it’s not you”.

 

Não admira que esta seja uma das favoritas de Hayley. É especial. É excelente.

 

Rebobinando quase uma década de novo, Hayley terá conhecido Taylor Swift algures em 2008, 2009. Acho que está mais ou menos confirmado que Hayley foi a amiga que inspirou a letra da canção Speak Now, conforme se suspeita há anos: a tal que viu a sua paixão de infância casando-se com outra. Neste caso Josh, que se casou com Jenna Rice em Abril de 2010. 

 

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Ainda há relativamente pouco tempo, a propósito dos anos de Taylor, Hayley falou de ir a esse casamento (ela não referiu Josh pelo nome) na companhia dela. Hayley já estava com Chad, mas continuava a sentir-se pouco à vontade – era o seu ex a casar-se! Taylor, no entanto, terá tornado a experiência divertida e, depois, citando Hayley “baldaram-se ao copo-de-água para irem ao Cheesecake Factory”.

 

Na letra de Speak Now, a narradora deseja sabotar o casamento, pedir ao noivo para fugir com ela. Pessoalmente, duvido que Hayley alguma vez tenha desejado tal coisa – pelo menos não nesta fase. Mas é possível que Taylor tenha falado com Hayley na brincadeira sobre esse cenário – e que, mais tarde, se tenha inspirado nele para a história de Speak Now.

 

Vamos, agora, falar de Brand New Eyes, o terceiro álbum da banda, editado em setembro de 2009. É o favorito de muitos fãs, o equivalente dos Paramore ao Rumours dos Fleetwood Mac – com muito menos drogas, tanto quanto sei. 

 

Os conflitos de 2008 nunca chegaram a ser resolvidos e acabaram por verter para as músicas deste álbum. Hayley escreveu algumas das letras inspiradas pelos problemas que tinha com os outros membros da banda, sobretudo Josh. Chegou a contar ao The Guardian sobre as gravações da primeira versão de Ignorance: do quão nervosa estava em relação ao que escrevera, de cantar muito baixinho na cabine de gravação. Calhou Taylor estar junto à coluna de som: ouviu tudo e terá ficado furioso com ela.

 

Aqui entre nós, custa-me imaginar Taylor zangado seja com quem for. Ainda menos com Hayley.

 

De qualquer forma, este episódio terá obrigado a banda a conversar e, supostamente, a resolver os problemas que tinham uns com os outros. Exemplos como este estão por detrás da ideia que Hayley pregava na altura de que este álbum salvara a banda. O nome “Brand New Eyes” terá vindo da ideia de que os membros dos Paramore foram obrigados a colocar-se na posição uns dos outros, a verem as coisas sobre novos prismas, com “novos olhos” para conseguirem fazer as pazes.

 

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Pelo menos era o que a banda dizia. A realidade não era bem assim. Já aí vamos. 

 

Queria referir algumas músicas importantes em termos da mitologia da banda em Brand New Eyes. Turn it Off é uma favorita entre muitos fãs (não no meu caso). Misguided Ghosts (que chegou a ser considerada como título para o álbum) mostra uma perspetiva mais suave, mais terna, sobre os conflitos no seio da banda – refletindo a ideia de que, lá está, estavam todos a mudar, a crescer em direções diferentes. Ainda há relativamente pouco tempo, mais de uma década depois, Hayley admitiu que, na altura, os membros da banda lidaram muito mal com as mudanças uns dos outros.

 

Uma música com quem Hayley e pelo menos uma boa parte dos fãs, eu incluída, tem tido uma relação complicada ao longo dos anos é The Only Exception. Esta foi a primeira canção de amor com todas as letras que Hayley compôs. É um dos maiores sucessos da banda, uma das minhas preferidas deles – foi uma das músicas que, a par de crushcrushcrush, me cativou para os Paramore – e é uma das minhas canções de amor preferidas de todos os tempos. 

 

Na letra, Hayley admite que não acredita no amor, depois de tudo por que passou com os divórcios dos pais. No entanto, o seu interesse romântico – Chad – era a única exceção, o único capaz de fazê-la mudar de ideias.

 

É uma mensagem bonita que ressoa com muitas pessoas, incluindo comigo mesma. O reverso da medalha é que, segundo o que se deduz de entrevistas posteriores, essa mentalidade foi uma das coisas que fez com que Hayley se mantivesse numa relação tóxica com aquele homem durante tanto tempo. Porque achava que só ele é que poderia amá-la.

 

Tendo isso em conta, sem surpresas, depois do divórcio, em 2017, Hayley não quis cantar The Only Exception – foi uma situação mais complexa do que, pura e simplesmente, não querer cantar uma canção inspirada por um romance falhado. Mesmo eu “cancelei” a música em 2020, quando descobri mais acerca da relação dela com Chad. 

 

Mas mantive sempre uma esperança secreta de que Hayley mudasse de ideias. Afinal de contas, ela passaria por uma jornada semelhante à descrita em The Only Exception quando encontrou o verdadeiro amor.

 

 

E de facto a música foi oficialmente “descancelada” no início de 2023, após um breve discurso de Hayley. Fiquei contente por ter The Only Exception de volta. Podem crer que, quando os Paramore a tocarem no Estádio da Luz, hei de cantá-la a plenos pulmões, tal como já tinha feito em 2011, no Optimus Alive

 

E não se admirem se, no fim, estiver de lágrimas nos olhos. Porque não resisto àquele final e porque, depois de tudo por que ela passou, estarei a ver Hayley lado a lado com o amor da vida dela. 

 

Uma música de Brand New Eyes bem menos controversa – longe disso – é All I Wanted. Diria que All I Wanted é mais ou menos equivalente à All Too Well de Taylor Swift – no sentido em que, durante muitos anos, foi uma pérola escondida que só os fãs conheciam, mas cuja popularidade acabou por alastrar para fora da comunidade. 

 

No caso de All I Wanted, a culpa foi do Tik Tok, durante o ressurgimento do emo. Tivemos este bacano e o desafio de cantar o refrão – de tentar atingir os agudos impossíveis de Hayley.

 

O problema é que, durante muitos anos, Hayley recusou-se a cantá-la ao vivo. Lá está, é um refrão difícil, ela tinha medo de não conseguir fazer-lhe justiça. Os Paramore tocaram todas as outras músicas de todos os outros álbuns, incluindo algumas B-sides, menos esta. A partir de certa altura tornou-se quase um meme entre Hayley e os fãs, sobretudo depois de All I Wanted ter crescido em popularidade nos últimos anos. Vejam, por exemplo, este tweet de 2021.

 

Ora bem, em Outubro de 2022 começa a era This Is Why, a banda volta a dar concertos pela primeira vez após a pandemia e o ressurgimento da música emo. Participam no festival When We Were Young. No primeiro concerto abrem-me assim:

 

 
 
 
 
 
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O pessoal, naturalmente, passou-se. Vivo pelo bacano no vídeo repetindo “No fucking way… No fucking way…”

 

Depois desta, All I Wanted tornou-se uma faixa mais ou menos regular em concertos dos Paramore. Compreensivelmente não a tocam em todos os concertos – mesmo depois de When We Were Young, passaram-se uns quantos meses até a tocarem de novo. 

 

Mas já é tão bom. Destaque para a noite em que Billie Eilish subiu ao palco para cantar All I Wanted (a favorita dela) com eles. Billie sendo todos nós quando, antes do refrão à capela, gritou: “Hayley… C’mon!”

 

Demorou, mas All I Wanted está a finalmente a receber o amor que merece.

 

Voltemos de novo para a era de Brand New Eyes, mais especificamente para 2010. Foi o ano em que Hayley fez um dueto com B.o.B em Airplanes, um dos maiores êxitos de 2010. Mas a maior bomba rebentou no final desse ano, quando Josh e Zac anunciaram a sua saída dos Paramore. Josh então escreveu uma bonita carta de despedida, lavando roupa suja – as réplicas continuam a ser sentidas hoje, quase década e meia depois. 

 

O texto na íntegra pode ser lido aqui (foi difícil de desenterrar). Basicamente, Josh revelou ao público que Hayley era a única com contrato assinado com a Atlantic Records. Acusou os Paramore de serem uma fraude, uma fachada, acusou Hayley de ser uma artista a solo disfarçada de banda. Confirmou que os conflitos dos últimos anos nunca tinham ficado resolvidos e estavam por detrás da decisão de partirem – bem como o facto de sentirem que a vida em digressão lhes roubara a juventude.

 

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Eu compreendo esta última parte. Sempre compreendi, desde o dia em que Josh publicou a carta (isto passou-se pouco depois de me ter tornado fã da banda). Ele fala de ter de se despedir de pais chorosos, de não ver os irmãos a crescer – e descobri mais tarde que os pais se separaram quando Josh e Zac estavam em digressão.

 

Acredito mesmo que foi esse o principal motivo pelo qual Zac quis sair – ele mesmo confirmaria anos mais tarde que não se arrepende de ter deixado os Paramore quando deixou.

 

Tudo o resto, no entanto, foi desnecessário. Se quiser ser caridosa, ao ler a carta de Josh, posso argumentar que este não visa Hayley diretamente (tirando a questão da letra de Careful). As suas críticas parecem dirigir-se mais aos pais e ao agente de Hayley e à gravadora. Posso admitir que tenha havido muita imaturidade na maneira como ele lidou com a questão. Josh mais tarde mostrar-se-ia arrependido e Zac demarcar-se-ia das palavras do irmão.

 

Ainda assim, não sei se alguma vez perdoarei Josh. Com ou sem más intenções, as suas palavras estiveram muito perto de destruir os Paramore, provocaram muito sofrimento aos restantes membros e aos seus fãs, Hayley em particular. Não quero dar a entender que ela nunca cometeu erros nas relações com os colegas de banda. Por exemplo, envolver-se com Josh foi um grande erro. 

 

Mas também, ela tinha o quê? Quinze anos? Dezasseis? Dezassete?

 

De qualquer forma, vimos antes que Hayley tinha problemas de abandono, só queria uma família, mesmo que subconscientemente. E agora, por causa de Josh, não só perdia dois amigos de infância como tinha uma grande parte do público vendo-a como uma vilã.

 

Josh e os antigos colegas eventualmente fizeram as pazes alguns anos mais tarde. Por outro lado, volvidos mais alguns anos, vieram à tona uns comentários homofóbicos dele numa publicação qualquer no Facebook. O que só diminuiu ainda mais a popularidade de Josh – até porque os Paramore têm muitos fãs na comunidade LGBT+. 

 

Que vá com Deus e que Deus regresse sozinho.

 

E é com este desejo que nos despedimos por hoje. Se gostaram de ler sobre estes dramas até agora, vão ficar contentes: a próxima parte, amanhã, vai trazer ainda mais. Como o costume, obrigada pela vossa visita.

A história turbulenta da banda que vai abrir a Eras Tour em Portugal #1

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Como é do conhecimento geral, Taylor Swift, a D.D.T. do mundo da música, vai trazer a Eras Tour para Lisboa. Mais especificamente para o Estádio da Luz, nos próximos dias 24 e 25 de maio. 

 

Mas Taylor não vem sozinha. A abertura dos concertos da digressão europeia tem estado a cargo da banda de Nashville, Paramore. Que por acaso são a minha banda preferida, mais ou menos empatados com os Linkin Park (e respetivo excelente tributo português). Assim, quando foi anunciado que eles viriam com Taylor a Lisboa – e eu depois consegui bilhetes para o dia 25 (dos mais baratos) – não podia ter ficado mais feliz. 

 

Não será a primeira vez que vejo os Paramore ao vivo. Também estive lá quando eles vieram ao Optimus Alive em 2011 (o antigo NOS Alive). Infelizmente foram precisos quase treze anos de espera e um convite de Taylor Swift para eles regressarem a terras lusas. 

 

Não sei quantas das milhares de pessoas que encherão a Luz duas vezes serão fãs dos Paramore. Quero acreditar que não serão assim tão poucas. Eles têm a mesma idade que Taylor, apareceram no mundo da música mais ou menos na mesma altura e têm-se mantido relativamente populares, sobretudo nos últimos anos. Mas mesmo esses eventuais fãs poderão não conhecer assim tão bem a sumarenta história dos Paramore.

 

É aqui que entro eu. Sei de experiência que o típico fã de Taylor Swift está habituado a conhecer as histórias por detrás das músicas, a mitologia, os “Easter eggs”, como dizem os anglosaxónicos. Quem acompanhe este blogue saberá que sou uma fã recente de Taylor. Acompanho-a mais ou menos de perto desde 1989 (o álbum, não o ano), mas só me passei a considerar fã algures entre folklore e Red (Taylor's Version). Tenho aprendido muito sobre Taylor através de fãs de boa vontade, sobretudo no YouTube, dispostos a explicar a mitologia a fãs mais casuais, como eu. 

 

Como forma de retribuir, eis-me aqui fazendo o mesmo mas para os Paramore. Explicando todo o “lore” a eventuais fãs de Taylor que tenham curiosidade em relação à banda de abertura da Eras Tour. 

 

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Até porque a história dos Paramore tem sido tão dramática e atribulada como a de Taylor. Para além de ser amiga dela há já alguns anos, a história de vida da vocalista Hayley Williams em particular tem tido pontos em comum com a vida de Taylor. Ambas se mudaram para Nashville  no início da adolescência, ainda que por motivos diferentes. Ambas foram descobertas e assinaram contratos com editoras quando eram ainda muito jovens e esses contratos acabaram por se voltar contra elas. Ambas foram subestimadas, tiveram a sua autenticidade questionada, porque misoginia. Ambas tiveram de lidar com distúrbios alimentares, ainda que ligeiramente diferentes. Ambas, a certa altura, envolveram-se com homens mais velhos e tais relações deixaram-lhes marcas profundas. A história dos Paramore mete romances atribulados, amizades atribuladas, conflitos religiosos, traições, questões legais, abandonos, regressos, resiliência, redenção. 

 

Uma festa, como poderão ver já de seguida.

 

Se derem uma vista de olhos muito rápida a este blogue, no entanto, notarão que os Paramore são personagens recorrentes aqui no blogue. Já contei partes da história dele noutras ocasiões. Vou fazer um esforço para não me repetir. Assim, resumirei essas partes da narrativa – e deixarei os links para os respectivos textos, caso queiram saber mais pormenores. Ainda assim, há muito sobre que falar. Este texto virá em quatro partes, vou tentar publicar uma por dia. Esta é a primeira.

 

Vou começar a história, então, com Hayley. Para o melhor e para o pior, este texto vai focar-se muito na vocalista. É ela quem dá a cara, é ela quem escreve as letras e, para o público em geral, é a pessoa que mais importa – o que, como veremos, foi fonte de imenso drama. 

 

Hayley nasceu a 27 de dezembro de 1988 em Meridian, no Mississipi. Infelizmente, não teve uma infância fácil. Os pais eram muito novos quando ela nasceu e o casamento deles não durou. Hayley referiu várias vezes em entrevistas que uma das suas primeiras recordações é de quando, aos quatro anos, se meteu entre os pais enquanto eles discutiam, gritando que se calassem. Depois, uma porta bateu e um dos progenitores já não estava na vida dela. 

 

Se a memória não me falha, Hayley começou a falar desse momento relativamente cedo na sua carreira. No entanto, só há poucos anos, depois de acompanhamento psicológico intenso, é que percebeu que o episódio a marcou profundamente. Deixou-a cética em relação ao amor romântico. Ao mesmo tempo, fê-la sentir-se órfã, deixou-a com problemas de abandono e ansiosa por uma família.

 

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Isso será importante mais tarde.

 

A mãe de Hayley mais tarde juntou-se a um homem abusivo. Infelizmente as mulheres desse lado da família têm um histórico de relações tóxicas, algumas mesmo com violência doméstica. Como referido acima, não terá sido uma infância fácil. Hayley costumava ver videoclipes de Missy Elliot na MTV, filmes como Spice World, sonhando escapar para esse mundo. 

 

Finalmente, quando Hayley tinha doze anos, regressou a casa vinda da escola e encontrou a mãe de malas feitas. Ambas fugiram do padrasto abusivo de Hayley para Franklin, no Tennessee, onde viviam amigos da mãe. Foi lá que Hayley conheceu os futuros companheiros de banda – mais tarde diria que a sua vida começou nessa altura. 

 

Josh e Zac Farro, dois de cinco irmãos, são de ascendência italiana. Nasceram em New Jersey mas, a certa altura, a família veio também viver para Franklin. Josh, o mais velho dos dois, era um dos guitarristas e, tal como Hayley, um dos compositores. Zac era – ainda é – o baterista e o mais novo do grupo. Foi ele quem conheceu Hayley, durante um jogo de futebol americano da escola, e a apresentou ao irmão e ao amigo Taylor York, com quem já tinha formado uma banda. Taylor (Paramore's Version), como Hayley o apresentou agora em Paris (adoro esta mulher), é também guitarrista e também compôs com Hayley, mas só se juntou oficialmente aos Paramore vários anos mais tarde. 

 

Por sua vez, Jeremy Davis, baixista, chegou a participar com Hayley com uma banda de versões funk. Hayley trouxe-o para os Paramore.

 

Houveram dois guitarristas que passaram pela banda nos primeiros álbuns – Jason Bynum e Hunter Lamb – mas estes deixaram os Paramore relativamente cedo.

 

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Ainda agora há pouco tempo, os Paramore divulgaram uma foto de um vídeo caseiro da banda nos seus primórdios. Não consigo ultrapassar o facto de Hayley se parecer imenso com Avril Lavigne nestas imagens.

 

Eu explico-o com mais pormenores no meu texto sobre All We Know is Falling, o primeiro álbum da banda, mas a procura de uma editora foi turbulenta. Tal como terá acontecido com Taylor Swift, mais ou menos na mesma altura, eram miúdos e tiveram de lidar com as manipulações da indústria musical. As editoras só estavam interessadas em Hayley como artista a solo, mas a jovem queria desesperadamente uma banda. Queria a família que não tivera em criança – ainda que, na altura, não tivesse noção disso. 

 

Finalmente, a Atlantic Records acedeu aos pedidos de Hayley, lançando a banda através de uma da Fueled By Ramen, uma das suas subsidiárias. E mesmo assim só Hayley é que assinou com a Atlantic, um contrato de oito álbuns.

 

Tal contrato assombrou toda a vida da banda. Só agora no início do ano, cerca de vinte anos depois, é que se libertaram finalmente dele.

 

Como se este não fosse já um começo suficientemente atribulado, quando a banda estava para começar os trabalhos do seu primeiro álbum, Jeremy decidiu desistir da banda, voltar para casa. A sua partida acabou por inspirar uma grande parte do álbum. Várias das músicas, o nome, a sua capa: um sofá vermelho com a sombra de alguém afastando-se.

 

Sim, o primeiro álbum dos Paramore define-se pela perda de um membro. A ironia não passa despercebida.

 

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Alguns temas que destacaria em All We Know is Falling são os singles Pressure e Emergency, para começar. Esta última é a minha preferida neste álbum e acaba por servir de prequela a umas quantas músicas posteriores – detalhando o ceticismo de Hayley em relação ao amor. Por sua vez, Conspiracy foi a primeira música que os Paramore compuseram, em que a narradora se sente imponente, que está toda a gente contra ela. 

 

Uma vez mais, a ironia não passa despercebida. 

 

Uma música bastante popular neste álbum é My Heart, uma canção de amor para Deus. Eis um aspeto a ter em conta sobre a banda: eles cresceram num meio bastante religioso e, sobretudo nos primeiros anos da sua carreira, não escondiam as suas convicções cristãs – embora não andassem propriamente a pregar. andassem por aí a pregar. Várias músicas deles fazem referências ao cristianismo, My Heart é apenas uma delas. Há fãs que dizem que Josh era o maior impulsionador desta faceta. E, anos mais tarde, a religião foi fator de discórdia dentro da banda – por exemplo, quando Hayley insistiu em incluir o verso “The truth never set me free” numa música, apesar de isso contrariar a Bíblia. 

 

Enfim. Não sou a melhor pessoa para comentar esta faceta da banda, mas não podia deixar de referi-lo numa biografia dos Paramore. Mesmo numa informal como esta. 

 

Jeremy acabaria por regressar à banda mais ou menos na altura em que All We Know is Falling foi editado. Não sei ao certo qual foi o timing, só sei que ele aparece no primeiro videoclipe da banda, para Pressure. E no entanto, não muito depois, durante os trabalhos de Riot!, o segundo álbum da banda, chegou a ser despedido temporariamente por causa da sua “ética de trabalho” – ou falta dela. Aqui entre nós, a ideia que passa é que Jeremy era como aqueles colegas de trabalhos de grupo que não faz quase nada, que se encosta ao trabalho dos outros e no fim quer assinar. 

 

Havemos de regressar a isso mais adiante. 

 

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Um aspeto importante sobre Hayley, talvez uma das primeiras coisas em que as pessoas reparam nela, diz respeito às cores do seu cabelo. Quase toda a gente a conhece pelo seu cabelo cor de chama, que abana com o seu capacete. Hayley pinta-o desde os treze anos. De início usava tintas baratas de farmácia. Mas para o videoclipe de Emergency decidiu que precisava da mão de um profissional. 

 

Assim, foi a um cabeleireiro em Nashville onde conheceu Brian O’Connor – na altura apenas um aprendiz. Foi ele quem cortou o cabelo a Hayley e o pintou de ruivo escuro com as pontas amarelas, como um fósforo, tal como ela pediu. Um visual muito giro.

 

Algum tempo depois, quando Riot! estava para sair, Hayley foi de novo ter com Brian. Desta feita vinha inspirada pelo tempo que passara no Japão, em digressão, e queria parecer uma personagem de anime. E assim nasceu o icónico cabelo cor de laranja, que se tornou a sua imagem de marca.

 

Depois desse, Hayley experimentou várias cores no cabelo, mas acaba sempre por voltar ao laranja. Pessoalmente, é a cor que mais gosto de ver nela.

 

Hayley neste momento está loira – e com o cabelo bastante curto. Parece-se com a Princesa Diana. Eu gosto. 

 

A partir da era de Riot!, Brian passou a ser o cabeleireiro e maquilhador pessoal de Hayley – e os dois rapidamente se tornaram amigos. Dez anos depois de se terem conhecido, mais coisa menos coisa, lançaram a Good Dye Young, uma linha de tintas e outros produtos para o cabelo. Chegaram mesmo a abrir um cabeleireiro em Nashville nos últimos anos.

 

 

Regressando à era de All We Know is Falling, durante as digressões desse álbum, a banda passou um mau bocado. Muitos desprezaram-nos por ainda serem jovens, por não se encaixarem perfeitamente na comunidade emo (os anglosaxónicos chamam-lhe “the scene”), terem características pop, por terem uma rapariga como vocalista. Hayley em particular passou muito tempo rodeada de homens, vários deles com o dobro da idade dela, teve de levar com bocas machistas e inclusivamente atiraram-lhe preservativos durante concertos.

 

De início, Hayley tentou fazer de tudo para que não a tratassem de maneira diferente dos rapazes da banda. Por exemplo, recusando-se a usar gloss durante sessões fotográficas. Aliás, havia também muita misoginia internalizada nesse tempo. Quem foi adolescente durante os anos 2000 há de se recordar: a tentação de dizermos que “não éramos como as outras raparigas”, de nos acharmos melhores que as demais só por termos interesses que muitos classificam como masculinos. 

 

Eu também era assim – e só há relativamente pouco tempo é que me libertei dessa mentalidade.

 

O que nos leva a Misery Business.

 

Esta música foi o primeiro single de Riot! e foi o primeiro grande sucesso deles, que os atirou para o estrelato. É um dos temas-símbolo do emo/pop-punk dos anos 2000, ao lado de canções como Sk8er Boi, de Avril Lavigne, Fat Lip, dos Sum 41, All the Small Things, dos Blink 182. Ainda hoje é a primeira música em que muitos pensam quando ouvem falar dos Paramore… 

 

… e, quase desde o momento em que a compuseram, a banda tem tido uma relação complicada com a música. 

 

 

Misery Business (MizBiz para os amigos) é, no fundo, a Better than Revenge dos Paramore. Hayley tinha um fraquinho pelo seu colega de banda, Josh. Este, no entanto, tinha namorada. Alegadamente, essa rapariga não seria flor que se cheire, terá tratado mal Josh. 

 

Pelo menos foi o que ele disse na altura. Sabendo o que eu sei hoje, daria um desconto à palavra dele: Josh parece ser o tipo de pessoa que divide mulheres em santas e em prostitutas. 

 

Hayley terá assumido que a rival conquistara Josh por ser mais ativa sexualmente do que ela. Por outras palavras, como diria Taylor Swift, “she’s better known for the things that she does on the mattress”. 

 

Eventualmente, Josh terminou o namoro com a outra rapariga e juntou-se a Hayley. Esta compôs Misery Business como forma de festejar a sua vitória neste triângulo amoroso, esfregando-a no nariz da rapariga que Josh rejeitou. 

 

Como se Josh tivesse sido uma vítima inocente da outra, como se ele não tivesse querido envolver-se com ela. Referindo de novo Taylor Swift, tal como esta aprendeu depois de Better than Revenge, nenhum terceiro pode conquistar ninguém, “roubar” ninguém, se não for essa a vontade da pessoa. E como se Josh tivesse sido um prémio assim tão grande – a própria Hayley terá chegado a essa mesma conclusão pouco após o lançamento de MizBiz.

 

Mas não nos adiantemos. 

 

 

O verso de Misery Business que mais controvérsia tem gerado é o que reza “Once a whore you’re nothing more”. Temos de admiti-lo: é violento. Hayley chamando p*ta a alguém que era uma adolescente durante os eventos descritos na canção.

 

Em defesa dela, Hayley não queria incluir este verso em Misery Business – precisamente porque o achava cruel. O produtor da música, David Bendeth, admitiu há uns anos que teve de persuadir a jovem a manter o verso.

 

– Hayley, foste tu a escrevê-lo, é quem tu és, tens de cantá-la.

 

Hayley acabou por ceder, mas deixou claro que o fazia sob protesto.

 

Sinceramente? Acho nojento. Um homem adulto alimentando a misoginia internalizada de uma rapariga adolescente. E foi essa mesma adolescente, não o homem adulto, a levar com ataques.

 

Dito isto, este verso tem as costas largas. Partes da letra que vêm a seguir são igualmente misóginas. “There’s a million other girls who do it just like you”. Pode-se argumentar que estes versos são ainda piores – a narradora chamado “p*tas” a milhões de raparigas. Aqui ninguém terá obrigado Hayley a incluí-los em Misery Business – e ela nunca deixou de cantá-los, ao contrário do que fez com a frase do “whore”

 

No lugar deles, quando tocasse Misery Business ao vivo, cortava toda a segunda estância.

 

 

Dito isto, há que assinalar que existem por aí músicas bem piores em termos de misoginia – na esfera do emo/pop punk e não só – cujos autores, homens, não têm levado com metade do bullying que Hayley e os Paramore levaram. 

 

A minha opinião em relação a MizBiz? Não é das minhas preferidas, mas é uma canção excelente, sobretudo pelo instrumental e pela interpretação de Hayley. Não adoro a mensagem, mas aceito-a por aquilo que é: uma página do diário de uma miúda de dezassete ou dezoito anos. Como disse Ricardo Araújo Pereira, aos dezoito anos é-se uma besta – mas nem todos temos as nossas versões mais imaturas imortalizadas sob a forma de uma canção com a popularidade de Misery Business. 

 

Por outro lado, compreendo que a questão seja (ainda mais) pessoal para Hayley. Conforme veremos já a seguir, a sua relação mais longa envolveu muito adultério, muita competição com outras mulheres pelo mesmo homem – e muita vergonha por isso. 

 

Assim, em retrospetiva, compreendo que eles tenham querido deixar de tocar a música a certa altura. Eles anunciaram a decisão em 2018, no fim da era do quinto álbum deles – antes de uma pausa de quatro anos. 

 

O povo, no entanto, não deixou a música morrer. Quando se deu o renascimento do emo/pop punk um par de anos mais tarde, MizBiz ganhou imensa popularidade nos Tik Toks desta vida. Daquilo que vi, quase ninguém concordou com o cancelamento da música.

 

Em 2022, Billie Eilish convidou Hayley para cantar Misery Business durante a sua participação no Coachella. Na altura fiquei chocada – e consta que a própria Hayley tentou dissuadir Billie de tocá-la. 

 

 

No entanto, Hayley terá percebido que já não era a mesma pessoa que era aos dezassete anos. Tinha percorrido um longo caminho para se libertar da misoginia por detrás de MizBiz. Há muito que deixara de acreditar naquela mensagem, já tinha pedido desculpas vezes suficientes pela letra. E de resto Misery Business já deixara de ser apenas deles há muito tempo. Pertencia também aos fãs – mais a eles do que à própria banda, se calhar.

 

Assim, quando voltaram ao ativo, durante o outono de 2022, os Paramore voltaram a incluir Misery Business no alinhamento. O cancelamento de MizBiz acabou por não ter efeitos práticos. Hayley não canta o infame verso e até faz caretas de indignação fingida para os fãs que o cantam. 

 

A era do álbum This Is Why, que começou nessa altura, caracteriza-se muito por isso. A banda já não quer saber o que os outros pensam, não têm de provar nada a ninguém. Mas não nos adiantemos. 

 

E de qualquer forma, no cânone dos Paramore, Misery Business já não é apenas uma letra que envelheceu mal. É também a música em que a banca convida uma pessoa (ou mais) da audiência para subir ao palco e cantar. Naturalmente, é uma das partes preferidas deles em todos os concertos. 

 

Queria destacar aqueles que considero os meus momentos preferidos. Um deles foi, naturalmente, o nosso, durante o Optimus Alive – claro que sou suspeita. Outro, que julgo já se ter tornado icónico na comunidade de fãs, ocorreu no Brasil, durante a era do quarto álbum deles. A rapariga caiu para trás enquanto cantava e os três membros da banda na altura – Hayley, Taylor e Jeremy – juntaram-se a ela no chão. 

 

Esta é só mesmo por causa dos cabelos em sincronia – o sonho de qualquer fã com cabelos compridos. Finalmente, a do vídeo abaixo, com uma menina de nove anos, traz-me lágrimas aos olhos. 

 

 

Claro que os Paramore podiam escolher outra música para chamar pessoas ao palco. No entanto, MizBiz já está tão entrelaçada com momentos como este que não sei se seria a mesma coisa. Para mim, estes momentos já pesam mais do que a letra infeliz. Apesar de tudo, apesar de continuar a não ser uma das minhas preferidas, estou feliz por termos Misery Business de volta.

 

E estou um bocadinho triste porque, estando os Paramore “apenas” a abrir a Eras Tour, para um público que não é o deles, não estão a chamar pessoas ao palco para Misery Business.

 

Ficamos aqui por hoje. Preparem-se, porque o verdadeiro drama ainda está para começar. A segunda parte vem amanhã. Obrigada pela vossa visita.

Músicas Não Tão Ao Calhas – Bite Me

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Aqui no estaminé, Avril Lavigne dispensa apresentações. É uma personagem recorrente desde os primeiros tempos deste blogue – gosto de chamar-lhe a minha mãe musical – tendo inspirado múltiplos textos. Este é mais um deles, a propósito de Bite Me, o primeiro single do seu sétimo álbum. 

 

Avril já anda a lançar pistas sobre este álbum há um ano, na verdade – embora, segundo entrevistas mais recentes, nessa altura ainda estava a começar. Típico dela, fazendo anúncios e promessas antes de tempo, deixando os fãs baralhados. Mas ao menos já temos o primeiro single.

 

Este álbum, ainda sem nome, representa o regresso de Avril ao pop punk. A cantora sempre esteve associada a este género musical. Se perguntarem por aí, dir-vos-ão que Let Go foi a sua era mais pop punk, mas o álbum que mais explora este estilo é na verdade o The Best Damn Thing. Antes do seu terceiro álbum, Avril só contava duas músicas lançadas oficialmente influenciadas por este estilo: Sk8er Boi, em Let Go, e He Wasn’t, em Under My Skin

 

Temos ainda I Always Get What I Want, dos trabalhos do segundo álbum, que faz parte da banda sonora do segundo filme d’O Diário da Princesa. Este é um tema que tem tido muita rotação nos concertos de Avril: está no top 10 das músicas mais tocadas segundo o Setlist.fm, mais do que alguns singles. Tenho quase a certeza que Avril se arrepende de não ter incluído a música na edição-padrão de um álbum. 

 

Na minha opinião, devia ter sido guardada para o The Best Damn Thing. Encaixa-se que nem uma luva ao lado de I Can Do Better e a faixa-título.

 

Penso que a b-side Take It, também the Under My Skin, poderá ser igualmente considerada pop punk. Por outro lado, temos um caso estranho com I Don’t Give, dos trabalhos de Let Go. A música foi lançada como b-side do single Complicated e soa semelhante à larga maioria de Let Go. No entanto, durante a digressão Try to Shut Me Up (ela antigamente era mais imaginativa com os nomes das digressões), Avril tocava uma versão diferente de I Don’t Give: mais pesada, mais rápida, pode-se dizer mesmo mais pop punk. 

 

 

Eu adoro esta versão. Há mais de metade da minha vida que lamento que não haja uma versão pop punk de I Don’t Give gravada em estúdio. Seria uma surpresa agradável se isso acontecesse com uma potencial edição comemorativa dos vinte anos de Let Go. Pouco provável, mas uma pessoa pode sonhar…

 

Por outro lado, faz-me pensar em quantas músicas no primeiro álbum teriam um arranjo parecido com este, se Avril tivesse tido mais controlo sobre o processo. 

 

Isto tudo para dizer que, nos primeiros dois álbuns de Avril, apenas cinco músicas, no máximo, podem ser consideradas pop punk. E destas, só duas fazem parte das edições-padrão. Foi precisamente para colmatar esta falha que Avril criou o The Best Damn Thing – em que pelo menos metade das músicas, mais uma b-side, têm influências pop punk. Por isso, quando a comunicação social diz que Avril está a recuperar o estilo de Let Go com Bite Me, não fizeram o trabalho de casa. 

 

O regresso de Avril a este estilo acontece na mesma altura que o pop punk tem estado de novo na moda. Não é uma coincidência: ela é um dos muitos artistas apadrinhados por Travis Barker, o baterista dos Blink 182, o grande catalisador deste movimento. Outros artistas com quem Travis tem colaborado são Mod Sun, Machine Gun Kelly, Willow Smith, Yungblood. 

 

Não surpreende. Há quem diga que a nostalgia cumpre ciclos de vinte anos. Nos anos 2000 tínhamos saudades dos anos 80, na década de 2010 tínhamos saudades dos anos 90, agora temos saudades dos anos 2000. Suponho que tenha a ver com a geração que está na casa dos vinte e/ou dos trinta durante determinado período, que recorda a sua infância e/ou adolescência. 

 

Um aspeto engraçado em que tenho vindo a reparar é que, na altura, os críticos desprezavam muita da cultura que nós, da minha geração, consumimos. Sobretudo nós, meninas adolescentes. Mas agora que somos adultos, temos a palavra e podemos fazer justiça àquilo que nos definiu. 

 

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Travis Barker está, no fundo, a capitalizar esse ciclo de nostalgia. Pode-se debater que percentagem disso é oportunismo e que percentagem é genuína paixão por este estilo musical. Eu pelo menos acho que não havia necessidade de o homem se colar a todos estes artistas, como o “feat Travis Barker” no título de cada música. 

 

Há quem acuse este movimento de alguma falta de carácter, alguma falta de originalidade. Mesmo sem acompanhar essa onda de muito perto, tenho um par de exemplos desse problema. Olivia Rodrigo, para começar, não é uma das artistas patrocinadas por Travis Barker, mas também ela trouxe o pop punk de volta ao mainstream com a música good 4 u. Desde o início, as pessoas assinalaram as semelhanças com Misery Business, o êxito dos Paramore. Até que, há poucos meses, Olivia acabou por incluir Hayley Williams e Josh Farro nos créditos da música, o que deu polémica.

 

Pessoalmente, não acho good 4 you assim tão parecida com Misery Business. Um bocadinho no refrão, talvez, mas combina com elementos mais modernos, parecidos à música contemporânea. Para acusações de plágio já vi exemplos piores. 

 

Depois, temos grow de Willow – esta sim, um dos artistas apadrinhados por Travis Barker. Avril canta uma parte da música. O tema até é agradável ao ouvido, mas é uma mistura estranha de All the Small Things com música das estrelinhas do Disney Channel, nos anos 2000.

 

Não se pode ser demasiado duro com Olivia e Willow pela falta de originalidade. São miúdas novinhas, que ainda estarão a desenvolver o seu estilo pessoal, a descobrir a sua identidade. 

 

 

Depois, temos Machine Gun Kelly. Já falámos dele antes, de passagem – quando participou no concerto de homenagem a Chester Bennington e quando colaborou com Mike Shinoda em Lift Off. Nessa altura, ele era rapper, mas há um par de anos desistiu do rap/hip-hop e decidiu aventurar-se no pop punk, com o álbum Tickets to my Downfall. Ora, eu não teria problemas com isso… só que o tipo parece ser um estafermo. 

 

Segundo consta, o motivo pelo qual MGK trocou de géneros musicais foi por ter entrado em rota de colisão com Eminem. Mas aparentemente não aprendeu nada, pois quando veio para o pop punk arranjou logo picardias. A mais recente foi com Corey Taylor, dos Slipknot. As pessoas já começaram a virar-se contra ele – há um par de meses, MGK foi assobiado durante um festival qualquer. Não contente com isso, o tipo chegou a vias de facto com pessoas da audiência. 

 

Avril referiu MGK como uma das pessoas com quem ela colaborou no seu sétimo álbum, o que não me agrada. Não pelas suas qualidades musicais, mas pela personalidade dele. Preferia que Avril não se associasse a um tipo como este. O que vale é que ela tem juízo suficiente para não se envolver nas encrencas de MGK. 

 

Por outro lado, Avril está a namorar com Mod Sun, com quem colaborou no seu álbum – e no álbum dele, Internet killed the rockstar. Este também tem um passado como rapper, mas parece-me ser um tipo decente, mais decente que MGK. Parece gostar genuinamente de Avril – e tem um Husky muito giro. 

 

No início do ano lançaram um dueto, Flames – que tem vindo a subir na minha consideração, ligeiramente. O instrumental é diferente, é giro – alternando momentos mais calmos, ao piano, com momentos mais intensos e pesados. Só acho o refrão algo repetitivo. 

 

Além disso, eles perderam uma oportunidade ao não terem tentado fazer uma ligação com Bridgerton na promoção da música.

 

 

A minha opinião sobre a participação de Avril neste movimento tem oscilado entre contra e a favor. Existe uma parte que parece um bocadinho forçada: a transição da era Head Above Water para esta nova foi muito repentina. Mesmo aspetos como aquele Tik Tok com Sk8er Boi me parecem exploração descarada da nostalgia – algo que ela já tinha feito com Here’s to Never Growing Up (como assim já lá vão mais de oito anos?!). E pergunto-me se a sua associação com Travis Barker e companhia não será uma extensão disso. 

 

Talvez seja um bocadinho. Por outro lado, Avril está longe de ser a única artista musical, sobretudo feminina, em constante reinvenção. Taylor Swift comentou há uns tempos que ela e as suas contemporâneas são obrigadas a fazê-lo, mais do que os seus homólogos masculinos. Para manterem o público interessado nelas. 

 

Não que seja uma coisa má, na minha opinião. Aposto que muitos artistas, de qualquer género, não gostam de estar sempre a fazer o mesmo, gostam de mostrar diferentes facetas. Como Fernando Pessoa e os seus heterónimos. Avril por exemplo é conhecida mais pelo pop rock, mas já brincou com vários estilos musicais.

 

Ela ia regressar a este estilo, mais cedo ou mais tarde. O seu modus operandi tem sido sempre alternar álbuns mais leves e alegres com álbuns mais sérios e pausados. Já em 2019, em plena era Head Above Water, Avril dizia que o sucessor teria mais guitarra e bateria. E assim o fez, oportunismo ou não. Penso que não corremos o risco de o material novo dela ser demasiado derivativo – ela está há mais de vinte anos nisto, não terá dificuldades em dar carácter próprio à música.

 

O que nos leva a Bite Me. É mais ou menos o que se esperava – penso que todos concordamos com isto. Um tema pop punk que, não sendo particularmente original, não é nada que esteja demasiado batido. Mesmo dentro do microcosmos da discografia de Avil, é suficientemente distinto do que ela fez antes. 

 

 

Gosto imenso do instrumental nas estâncias e no pré-refrão. Também gosto da mudança da velocidade a meio do refrão. E a voz de Avril soa impecável, como sempre. 

 

A letra é Avril sendo Avril, os tropos do costume: um ex-namorado que se arrepende de a ter deixado, mas ela agora manda-o passear. Uma vez mais, não é nada por aí além, mas ela tem letras piores.

 

Em suma, gosto de Bite Me. Talvez estivesse com a fasquia demasiado baixa, depois das desilusões que apanhei com os trabalhos mais recentes da Avril. Mas, ao contrário da maioria de Head Above Water, Bite Me sabe exatamente quem é, o que vem fazer e fá-lo com eficácia. 

 

Ao que parece, o resto do álbum deverá ser neste estilo. Avril chegou a dizer que não haveria uma única balada no disco – o que seria inédito na discografia dela. Mas entretanto mudou de ideias e incluiu uma. 

 

Eu fico contente. 

 

Em termos de temáticas, Avril disse que, no início dos trabalhos, estava numa fase de desgaste em relação ao amor. Não surpreende: mesmo sem estar a par dos mexericos dos últimos anos, estamos a falar de uma mulher com dois divórcios. Ninguém poderá censurá-la pelo cinismo. Uma das primeiras músicas compostas para este álbum chama-se mesmo Love Sux. 

 

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No entanto, quando Mod Sun colaborou com ela, Avril apaixonou-se e começou uma relação com ele. Ou seja, a sua atitude em relação ao amor mudou – o que se deverá refletir no álbum. Outro título avançado por Avril é Kiss Me Like the World is Ending (o que faz sentido em tempos de pandemia). A balada do álbum – aposto que será a faixa de encerramento – chama-se Dare to Love Me, precisamente sobre abrir-se de novo ao amor. 

 

Tudo isto me parece bem. Está longe de ser um tema inédito – veja-se Petals For Armor, de Hayley Williams. Duvido que Avril faça melhor. Mas ao menos sempre dará alguma profundidade a um álbum que, Avril já o confirmou, será bastante descontraído – com The Best Damn Thing nem se preocupou com isso, tirando as baladas e pouco mais. 

 

Nesta fase, não estou à espera que Avril se ponha a re-inventar a roda ou a ser particularmente introspetiva. Nem sequer quero – quando tentou fazê-lo com Head Above Water não resultou, perdeu-se em clichés. Nestas circunstâncias, mais vale manter-se na sua zona de conforto. Além disso, como tenho vindo a referir, nesta altura não quero música demasiado triste.

 

Estou assim cuidadosamente otimista em relação a este novo álbum. Não deverá ser nada que mude as nossas vidas, mas sei que vou gostar de pelo menos uma mão-cheia de canções. E aposto que haverá pelo menos uma que me tocará de maneira especial. 

 

Ainda não sabemos o nome do álbum, nem a tracklist, nem a data de lançamento. Há poucos dias ela anunciou datas no Canadá sob o nome “Bite Me Tour”. Será esse o nome do trabalho? Espero que não, é pouco imaginativo. Avril disse que lançará um segundo single em janeiro. Talvez divulgue o resto dos pormenores nessa altura. O álbum em si deverá sair “no início do ano”, o que quer que isso signifique (com o histórico dela, lá para abril ou maio, isto se tivermos sorte!). 

 

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Entretanto, a digressão europeia foi remarcada, pela segunda vez, para a primavera do próximo ano. A tal que devia ter decorrido em 2020. Como já escrevi antes, tenho bilhetes para o concerto de Zurique. 

 

A ver se é desta. É mais de metade da minha vida à espera. 

 

E pronto, para já é tudo. Acabei por falar muito pouco de Bite Me em si, mas não faz mal. Estes textos de Músicas Não Tão Ao Calhas sobre primeiros singles têm funcionado mais como prequelas às análises dos respectivos álbuns. E pareceu-me importante refletir sobre o histórico de Avril com este género musical antes de me debruçar sobre a música em si. 

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Continuem desse lado que o próximo texto não deverá demorar muito.

Músicas Não Tão Ao Calhas - Hard Times

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Em janeiro de 2013, estreava aqui no blogue a rubrica Músicas Não Tão Ao Calhas. Nela, escrevo sobre músicas inéditas que os meus artistas preferidos vão lançando – na maior parte das vezes singles antes de álbuns, mas não só. A minha primeira entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas foi sobre Now, o primeiro single do quarto álbum dos Paramore – aquele que ficou conhecido por The Self-Titled. Hoje, mais de quatro anos depois, volto a escrever sobre o primeiro single de um álbum dos Paramore – é um ciclo que se fecha.

 

Infelizmente, este ciclo nem sempre foi fácil para a banda. O início até nem foi mau. O Self-Titled é um álbum excelente, mudou por completo a maneira como encaro a vida. Graças a Deus, teve o devido reconhecimento em termos comerciais: foi platina e teve dois singles de sucesso: Still into You e Ain’t it Fun. A segunda ganhou um merecidíssimo Grammy. O ciclo desse álbum durou até meados de 2015, terminando com a digressão Writing the Future.

 

No entanto, em finais de 2015, a banda anunciou a partida do baixista Jeremy Davis. Desde essa altura, os Paramore têm passado por… bem, tempos difíceis.

 

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Ainda não tive oportunidade para escrever sobre a desistência de Jeremy. Custou-me, para ser sincera, ainda me custa. Nos primeiros tempos, ainda pensei/esperei que tivesse sido uma “rescisão” amigável, que ele tivesse partido porque tem uma filha e não pode andar em digressão.

 

Essa ilusão não durou muito. Meses depois surgiram notícias de que Jeremy e a banda estavam envolvidos numa disputa judicial, alegadamente devido a honorários da música e dos concertos. Como o processo ainda está em decurso, ainda não foi divulgada oficialmente a razão da partida de Jeremy. A ideia com que fico – e posso estar errada – é que, no centro disto tudo, está aquele três vezes maldito contrato celebrado, algures em 2005, entre a Atlantic Records e Hayley Williams, excluindo os restantes membros da banda. O mesmo contrato que já tinha sido um dos motivos para a partida dos irmãos Farro, em finais de 2010.

 

Toda esta história dá-me vontade de bater com a cabeça numa parede. Aquando do Self-Titled, a ideia que os Paramore davam era de que a banda tinha resolvido os seus problemas, aprendido com os erros cometidos. O trio estava mais forte, mais unido do que nunca, capaz de sobreviver a tudo. Eu acreditei nisso. Talvez os próprios membros da banda acreditassem nisso.

 

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Mas a verdade é que não devia ter ficado surpreendida. A banda nunca teve estabilidade – desde a ausência de Jeremy das gravações de All We Know Is Falling, passando pela saída dos irmãos Farro, e agora isto. A verdade é que Hayley tem sido a única constante em Paramore (ainda que Taylor só não se tenha juntado oficialmente à banda até depois do lançamento de Riot! porque os seus pais não deixaram). Por um lado, toda a gente sabe que Hayley podia, desde o início, optado por uma carreira a solo. Se não o fez até agora é porque, obviamente, não o quer. Por outro lado, para os membros estarem sempre a entrar e a sair, alguma coisa não está bem.

 

Não quero pensar que Hayley seja o problema. Ela parece ser uma miúda simpática, com valores parecidos com os meus – aliás, é atualmente uma das minhas pessoas preferidas no mundo da música. Mas como não a conheço pessoalmente, não dá para ter a certeza.

 

Nestas alturas, a música Pressure, do primeiro álbum, faz mais sentido do que nunca.

 

 

Em defesa deles, os membros da banda parecem tão frustrados com esta história toda como eu. Ainda mais, já que esta é a vida deles. Hayley tem referido várias vezes que pensou em desistir. Disse que os Paramore parecem mais uma novela do que uma banda, que estava farta de perder amigos e de se questionar sobre o que estava a fazer de errado. Considerou várias alternativas: dedicar-se à sua linha de tintas para o cabelo, ter uma família (ela casou-se no ano passado), compôr para outras pessoas, começar um projeto diferente com Taylor.

 

Terá sido este último a salvar os Paramore, segundo Hayley. Taylor disse-lhe que a apoiaria independentemente da decisão que ela tomasse relativamente à banda. Isso aliviou a pressão sobre Hayley – que, no meio desta história toda, chegou a debater-se com depressão e ansiedade. Assim, os dois foram compondo música a pouco e pouco.

 

Entretanto, Taylor chamou Zac, o mais novo dos irmãos Farro, para tocar bateria no álbum novo. Inicialmente, veio apenas como músico contratado. Ao fim de algum tempo, Taylor convidou Zac para regressar oficialmente à banda. Ele disse que sim.

 

Toda a gente ficou feliz, como seria de esperar. Em primeiro lugar, Zac é um ótimo baterista e sentiu-se a falta dele em certos momentos do Self-Titled. A música dos Paramore fica a ganhar. Além disso, eu mesma referi, há pouco mais de dois anos, que tinha esperanças de que, um dia, os irmãos Farro regressassem. Cinquenta por cento desse desejo já se realizou.

 

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Mas fica um amargo de boca por Jeremy já lá não estar.

 

Os membros da banda chegaram mesmo a dizer que já não sabem muito bem por que os Paramore continuam a ser uma banda. Nesta altura, deve ser só por nós, os fãs – porque eles sabem que a música deles é uma das coisas que nos ajuda a sobreviver. Eu, apesar de tudo, fico grata por isso. E, agora, teremos um álbum novinho em folha daqui a menos de duas semanas.

 

Suponho que haja uma qualquer metáfora para a vida no meio desta história toda. Talvez seja assim que as coisas funcionem: uma batalha sem fim, com perdas e ganhos, cometendo os mesmos erros, sempre a desfazermo-nos e a reconstruirmo-nos outra vez, sempre a aprendermos. Uma pessoa vai continuando, às vezes só por causa daqueles que ama, às vezes só porque… qual é a alternativa?

 

 

Gonna make you wonder why you even try

 

Com isto tudo, vamos quase em mil palavras e ainda nem sequer falámos de Hard Times. Mas eu tinha de escrever sobre as aventuras e desventuras dos Paramore nestes últimos anos porque, na minha opinião, a letra da música fala sobre elas. As estâncias falam claramente sobre depressão, com referências a um buraco onde nos enfiar até os nossos problemas terem desaparecido e a uma nuvem negra que nos segue para todo o lado. No refrão, questiona-se mesmo como é que se consegue aguentar tudo isto e continuar.

 

Na verdade, a letra de Hard Times não me impressiona por aí além. Não me interpretem mal, não a acho má. É, aliás, melhor que muito do que se ouve por aí. No entanto, cai muito nos clichés habituais de Paramore. Por exemplo, o primeiro verso (“All that I want is to wake up fine”) remete para Last Hope – “Every night I try my best to dream tomorrow makes it better”. “Tell me that I’m alright” recorda-me Tell Me It’s Okay. Os versos “And I’m gonna get to rock bottom!” e “We’ll kick it when I hit the ground” fazem lembrar Turn It Off: “I’m better off when I hit the bottom”. Eu podia continuar. Não há nada na letra de Hard Times que não tenhamos ouvido antes, o que é uma pena.

 

Isso, de resto, é a única falha que tenho a apontar a Hard Times – e nem sequer a acho grave no primeiro single de um álbum novo. A letra pode não trazer nada de novo, mas o mesmo não se passa com o acompanhamento musical. Depois de músicas como Grow Up, Still into You e Ain’t it Fun, Hard Times parece lógica como o passo seguinte. À semelhança de Ain’t it Fun, Hard Times começa com notas de xilofone, que são rapidamente substituídas por notas de guitarra – são estas as responsáveis pelo ritmo dançante da música. Ouvem-se também algo que se assemelha a tambores africanos, algo que se mantém durante toda a faixa. A bateria de Zac dá personalidade à música (sobretudo numa altura em que este instrumento está em vias de extinção). No refrão, noto elementos de Daft Punk - sensação que se reforça no fim da música, com os vocais distorcidos.

 

Não sei se o mesmo aconteceu com vocês, mas eu demorei algum tempo a decifrar esses vocais. Se não estou em erro, dizem “Makes you wonder why you even try” e “Still don’t know how I even survive”. Em suma, em termos musicais, à semelhança das melhores músicas do Self-Titled, Hard Times conjuga vários elementos de forma primorosa, podendo-se ouvir a contribuição de cada membro da banda. Eu gosto. Não estou propriamente caída de quatro, mas também não estava por Now quando esta foi lançada e, com o tempo, a música foi ganhando novos significados. Estou certa de que o mesmo acontecerá com Hard Times. Sobretudo quando puder ouvi-la no contexto do álbum. Para já, espero que não demore muito a chegar às rádios portuguesas.

 

 

O quinto álbum dos Paramore chama-se, então, After Laughter, e sai dia 12 de maio. Sim, daqui a menos de duas semanas. Confesso que fiquei estonteada com esse anúncio, ainda estou. Um dia, tínhamos a vaga ideia de que os Paramore estariam a trabalhar num álbum, algumas pistas como músicas registadas no site da ASCAP. No dia seguinte, temos nome, capa, tracklist, data de lançamento, primeiro single com videoclipe e pessoas que já ouviram o álbum (inveja!). Tendo em conta que os álbuns da Avril Lavigne têm sempre um parto longo e complicado (e o sexto álbum não está a ser exceção), esta é uma alternativa atordoante, mas muito mais agradável.

 

Segundo Hayley, o título After Laughter (a melhor tradução que me ocorre é “Pós-riso”) refere-se àquele momento após uma gargalhada em que regressamos à realidade. Dá para ver, assim, que este álbum vai ser animado… só que não. Quem já ouviu o álbum dá a entender que o resto será semelhante a Hard Times. Ou seja, os Paramore vão fazer o que fazem desde o início da sua carreira: queixar-se da vida. A diferença é que, enquanto antes, Paramore depressivo equivalia a guitarras pesadas e estética emo, agora equivale a música rítmica, falsamente alegre (o nome de uma das faixas novas é Fake Happy, por sinal), e tons pastel.

 

Gostava de chamar a atenção para o símbolo no centro da capa: as barras de néon que criam uma ilusão de ótica, de modo que não sabemos se são duas ou três. É obviamente uma variante do símbolo que a banda adotou em 2011, uma provável alusão à recente troca de membros. Eu, de qualquer forma, gosto imenso deste símbolo. Já encomendei, até, um dos conjuntos de merchandising da banda que inclui uma t-shirt preta com este símbolo, para além do álbum em CD (uma encomenda que, admito, foi para aí quarenta por cento impulso).

 

Havemos de falar mais sobre os Paramore quando analisar o resto de After Laughter. Ainda não decidi se analiso faixa por faixa, por ordem crescente de preferência, ou se analiso em texto corrido. Mas vou tentar publicá-la não muito depois do lançamento do álbum. Entretanto, vou ganhar vergonha na cara e ver se acabo e publico de vez a análise ao quarto filme de Digimon Adventure Tri.

Músicas Não Tão Ao Calhas - Brand New Day e I Don't Wanna Be Sad

Hoje venho falar de dois singles lançados nas últimas semanas por músicos - todos canadianos, por sinal - que se preparam para lançar álbuns em breve. O segundo single de Get Up - o álbum que Bryan Adams vai lançar no próximo mês - Brand New Day saiu numa altura chata para mim: era dia de jogo da Seleção (ou seja, estava ocupada com o meu outro blogue) e andava a arrastar a análise a Once Upon a Time há já algum tempo. Em suma, não me dava jeito escrever uma entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas. Entretanto, os Simple Plan lançaram também um single. Vou, portanto, aproveitar a oportunidade para falar das duas músicas no mesmo texto. 

 

  

"Johnny had a plan, gonna see the world, knew he had to go..."

 

Depois de You Belong to Me se ter caracterizado por uma sonoridade fora do habitual para Bryan, Brand New Day traz uma nota de familiaridade. Encaixaria sem grande dificuldade no álbum de estúdio anterior, 11. Sou capaz de apostar que os acordes de abertura, que acabam por servir de imagem de marca à canção, são os mesmos que os de Summer of '69, ainda que tocados de maneira diferente. Continua a faltar um solo de Keith Scott embora, para ser justa, essa falta não seja muito gritante em Brand New Day.

 

Suspeito, até, que Keith Scott não participou neste álbum, o que me deixa um bocadinho triste. Tal como disse antes, será a primeira vez que isto acontece desde os primórdios da carreira de Bryan.

 

A letra foge ao registo habitual de Bryan, mas não muito. Faz-me lembrar um bocadinho a música Getaway, do álbum On A Day Like Today. Conta-se a história de um casal que resolve partir à aventura. É dado a entender que a primeira tentativa acaba por dar em nada, o casal separa-se, mas, ao fim de algum tempo, o homem desafia a antiga companheira a tentar outra vez. 

 

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Temos também uma forte referência ao título do álbum no refrão. Mas continuo a achar que "Get Up" como nome de álbum é fraquinho.

 

No videoclipe participam a atriz Helena Bonham Carter e Theo Hutchcraft, da banda Hurts, que dão vida de forma primorosa ao casal de que a canção fala. Tal como calculei antes, Bryan investiu mais neste videoclipe do que tinha investido nos últimos anos - para não dizer na última década. Além do mais, há que dizê-lo, é refrescante ver uma mulher emparelhada com um homem mais novo - o contrário é muito mais frequente.

 

De uma maneira geral, Brand New Day tem um espírito muito alegre, esperançoso, encorajador. Gosto muito mais de Brand New Day que de You Belong to Me - que, aliás, não tinha voltado a ouvir desde a respetiva entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas. Consta que Don't Even Try também será lançada como single, mas será mais ou menos na altura em que sairá o álbum - pelo que, naturalmente, não se justificará escrever uma entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas para essa música. 

 

Por outro lado, eu tinha prometido uma análise ao álbum Into the Fire mas vou ter de adiá-la. Isto porque o site pessoal de Jim Vallance (o co-compositor) está em baixa. Tal como já referi antes, o site de Vallance contém sempre várias curiosidades sobre a composição e gravação dos temas que cria com Bryan e eu queria usá-lo como fonte - até porque este é o álbum de que ele menos gosta. Vou esperar algum tempo, a ver se o site volta a funcionar, mas se vir que continua em baixa, escrevo a análise à mesma.

 

02.jpeg

 

Os Simple Plan continuam sem título ou data de lançamento do novo álbum, mas já vão em três músicas lançadas: não lhes chamo "singles" porque, entretanto, foi revelado que Saturday não fará parte do álbum novo. Por um lado, fico satisfeita com essa decisão - como se pode ler na minha análise, eu não gostei da música - por outro lado, fico confusa. Não percebo esta lógica de marketing: lançar dois singles (três, se contarmos com Saturday) com menos de um mês de intervalo, quando tudo indica que o álbum só será lançado algures no fim do ano, princípios do próximo - e, pela experiência que tenho, não me admirava se só saísse em março ou abril de 2016. 

 

Compreendo a ideia de lançar vários singles antes da edição de um álbum, numa altura em que as pessoas já não compram CDs e muito menos compram um álbum inteiro por causa de um único single. Não sei se a ideia deles, contudo, é ir disponibilizando o álbum às prestações ao longo dos próximos meses, até ao lançamento oficial. Pela parte que me toca, isso diluiria o impacto do álbum. Eu continuo a dar importância à ordem da tracklist, à faixa de abertura e de encerramento, ao título do álbum e à maneira como cada faixa se relaciona com esse título. Um dos motivos pelos quais não fui capaz de apreciar devidamente o álbum Reckless (não falo da edição especial) foi por já conhecer - e conhecer muito bem - mais de metade das faixas. 

 

É esperar para ver a jogada seguinte da banda. Para já, analisemos está faixa em específico.

 

 

"I've got a badass personality

So I just need to set it free

And it starts today"

 

A sonoridade de I Don't Wanna Be Sad é um híbrido perfeito entre o som clássico dos Simple Plan e um estilo mais retro, tipo jazz dos anos 50 ou 60, incluindo saxofones e uns coros mais interessantes que os de Saturday. Um som fora do vulgar. 

 

A letra tem um tema muito Simple Plan, sobretudo em início de carreira - desânimo, alguma autocomiseração - com uma ligeira subversão. Fala-se de um período de depressão em que o afetado já está farto de se sentir assim. Suponho que seja uma fase importante para a recuperação nestas situações: admitir que se tem um problema e querer resolvê-lo pode demorar o seu tempo. De certa forma, I Don't Wanna Be Sad podia servir de prequela a Tell Me It's Okay, dos Paramore - esta última fala do momento em que a depressão já faz parte do passado, em que o afetado (ou, neste caso, afetada) está ainda a habituar-se a não estar triste.

 

Em suma, apesar de gostar mais de Boom, I Don't Wanna Be Sad é uma boa música. Inova sem perder de vista as raízes da banda. Possui ainda uma das coisas que mais valorizo nos Simple Plan: uma letra com que muita gente se pode identificar. Deixa boas indicações para o álbum novo - quando quer que este saia. 

 

Quanto a nós, visto que por enquanto esgotei as minhas ideias para o blogue e que os últimos dois meses têm sido bastante ativos, vou fazer uma pausa e tentar trabalhar na minha escrita de ficção. Mas não se preocupem - podem contar com uma crítica a Get Up quando este sair, a meio de outubro.

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