E um bom 2015 para os meus seguidores! Este ano atrasei-me com as minhas tradicionais entradas sobre os artistas musicais que mais me marcaram durante o ano que finda, mas aqui está a primeira.
Este ano foi diferente do costume. Os meus hábitos musicais mudaram, por vários motivos. Já falei aqui nos meus problemas de audição. Ando a tentar ouvir menos música via headphones, por isso. Por outro lado, nos estágios que fiz este ano, a rádio estava sempre ligada, o que era deveras irritante (e o mais irritante é que, naquelas horas seguidas todas ouvindo a RFM ou a Comercial, nem uma vez ouvi uma música da Avril Lavigne). Acabava por ouvir mais música de que, na sua maioria, não gostava e menos da "minha" música. Isso poderá explicar o facto de este ano nenhum trabalho me ter marcado fortemente o ano da maneira que Goodbye Lullaby marcou em 2011, Living Things em 2012 e Paramore em 2013.
Em todo o caso, houve muita música nova (da que gosto) em 2014. Este ano vou fazer isto de maneira diferente. Assim, nesta entrada, falarei, por ordem cronológica, dos artistas que editaram que me marcaram nesse ano e sobre os quais falei (ou falarei) aqui no Álbum. Começo assim por...
Within Tempation - Hydra
A banda holandesa lançou o seu álbum Hydra no início deste ano (crítica aqui). É o álbum mais consistente deste ano e talvez mesmo aquele de que gostei mais. Pelo menos é o único em que consigo ouvi-lo do princípio ao fim e apreciar cada música sem sentir a tentação de saltar nenhuma faixa. É, na minha opinião, o equivalente a Living Things no sentido em que a banda mistura sonoridades mais clássicas deles com inovações. Por outras palavras, assenta-se no passado mas projeta-se para o futuro.
Os singles já tinham quase todos sido lançados aquando da minha crítica, tirando And We Run, que teve direito a videoclipe. Achei o vídeo interessante. Joga bem com aquilo que li numa crítica à faixa - a interpretação de Sharon den Adel representa a luz e o rap de Xzibit representa a escuridão - embora se torne demasiado literal.
Tanto quanto sei, a banda esteve em digressão durante praticamente todo o ano (embora não tenham passado por Portugal) e lançou recentemente um DVD: Let Us Burn. Não o comprei nem faço tenções de fazê-lo tão cedo. Ainda tenho esperança de vê-los ao vivo e, quando isso acontecer, não quero ter spoilers. Em todo o caso, Hydra é um disco muito bem conseguido, talvez o melhor da carreira deles, e estou ansiosa por ouvir o que fizerem a seguir. Espero que não se demorem muito!
Coldplay - Ghost Stories
Os Coldplay foram uma banda que comecei a ouvir com regularidade este ano. São a banda preferida da minha irmã. Depois de, por minha influência, ela ter começado a ouvir Bryan Adams, Avril Lavigne, Linkin Park, Paramore, entre outros. Era justo deixar-me converter por ela a uma banda de que gostasse. Não que isso tenha sido particularmente difícil, pois já estava habituada a ouvir os singles deles na rádio há mais de dez anos e gostava de vários.
Tenho estado para escrever sobre Ghost Stories praticamente desde que foi editado. Tenciono publicá-lo algures nas próximas semanas - é uma das várias entradas que tenho em planeamento. Entretanto, a minha irma já me disse que eles deverão editar um álbu novo algures no próximo ano. Eles andam a dizer que será o último álbum da banda - mas eu oiço esses rumores desde, pelo menos, o X&Y.
Linkin Park - The Hunting Party
Os Linkin Park tambem foram relevantes este ano, com o concerto no Rock in Rio a que assisti - a minha melhor noite deste ano - e a edição do álbum The Hunting Party (crítica aqui).
Paa ser sincera, o ciclo deste álbum pareceu-me terminar algo abruptamente. Lançaram os singles Final Masquerade, Wastelands e Rebellion quase de seguida e ficaram-se por aí. Parece que agora é assim, os ciclos de álbum terminam quase todos num abrir e fechar de olhos. Já com Living Things aconteceu o mesmo. Eu fico, sobretudo, com pena de não ter ouvido nenhum dos singles na rádio, nem mesmo Until It's Gone ou Final Masquerade. Eles ainda lançaram White Noise, do primeiro filme realizado por Joe Hann, Mall. Não gostei música, nem me dei ao traballho de ouvir segunda vez.
Os Linkin Park queriam salvar o rock, mas não sei se o conseguiram. De qualquer forma, fizeram um bom álbum no processo. Venha o próximo - se o padrão se mantiver, em 2016.
Bryan Adams - Tracks Of My Years & Reckless Deluxe
Já falei sobre sobre os álbuns que Bryan Adams editou este ano aqui e aqui. Conforme já expliquei nessas entradas este albuns serviram, sobretudo, para provar que, trinta anos após os seus primeiros sucessos e, numa altura em que o êxito dos artistas musicais parece tão efémero, Bryan continua a ser relevante, continua a ser apreciado, não apenas pelas gerações mais velhas mas também por pessoas da minha idade e mesmo mais novas. Tracks Of My Years fez-nos recordar os grandes clássicos da música pop. A edição Deluxe de Reckless com as músicas extra, fez-nos recordar algumas das nossas músicas preferidas de Bryan, bem como o rock dos anos 80 em geral. Também servirão para avrir caminho para a edição do primeiro álbum de inéditos em quase sete anos (ainda não há previsão para o seu lançamento). Esse é um dos lançamentos por que anseio em 2015.
Estes foram para mim os álbuns mais importantes de 2014. Na próxima entrada, tenciono falar de outros artistas de que gosto, como correu o ano passado para eles e se, eventualmente, editarão alguma coisa no próximo ano.
Quinta e última parte da análise a Reckless (partes anteriores aqui, aqui, aqui e aqui). Eis as conclusões.
Apesar de, como demonstrei aqui, este álbum trazer consigo alguns dos meus temas preferidos de Bryan Adams, Reckless não se encontra entre os meus álbuns preferidos dele. A verdade, contudo, é que sempre vi este disco de forma enviesada: só o ouvi pela primeira vez em 2010 (ano em que a discografia de Bryan foi publicada em fascículos, a dez euros cada CD). Nesta altura, eu já conhecia todos os singles de Reckless (neles incluo Kids Wanna Rock). Se forem a ler de novo a minha análise, verão que, tirando os singles, só considero relevante She's Only Happy When She's Dancin'. Daí que considere que para pessoas que, como eu, já conhecessem os singles ou dos CD's de Greatest Hits, ou dos concertos de Bryan (quase todos têm lugar cativo na setlist) e quisessem adquirir os álbuns originais, não haveria grande vantagem em comprar Reckless.
É óbvio que, tendo em conta a altura em que foi editado pela primeira vez - quando a rádo ainda era a principal fonte de música e o público ainda não sabia quais faixas seriam lançadas como singles - não é de surpreender que seja considerado um dos melhores álbuns de rock clássico de todos os tempos. De qualquer forma, a adição de faixas não editadas veio resolver o problema de que falei.
Uma das coisas que caracteriza este álbum - tanto as músicas originais como as extra da edição Deluxe - é a já referida fórmula na sonoridade. Esta fórmula não é propriamente um defeito pois, quando bem executada, os acordes e solos de guitarra são os pontos fortes das músicas (exemplos: Somebody, It's Only Love, Run to You...). De resto, ao analisar as músicas deste álbum, sobretudo as faixas extra, apercebi-me de que esta é a típica sonoridade de muitos clássicos do rock 'n roll dos anos oitenta, não apenas de Bryan. Realmente, não percebo de que se queixava ele em Kids Wanna Rock...
Corre-se sempre um risco ao publicar faixas excluídas, como nesta edição espcial de trigésimo aniversário. Tirando casos de músicas que não se encaixam no conceito de um álbum, geralmente as músicas são deixadas de fora por algum motivo. É claro que o julgamento dos produtores dos discos pode nem sempre ser o melhor - recordemos que Run to You, Heaven e Summer of '69 estiveram perto de ser excluídas da tracklist.
Neste caso, considero que estas faixas extra são mais um presente para os fãs mais hardcore do que outra coisa qualquer, até porque a maior parte destas faixas não são propriamente inéditas. Fãs que, se calhar, foram ouvindo as regravações ao longo destes anos, desejando ouvir as versões na voz de Bryan - da mesma maneira como eu e outros desejámos ouvir Breakaway na voz de Avril Lavigne, felizmente durante menos tempo. Algumas delas mereciam fazer parte da tracklist original - sobretudo Teacher Teacher, Let Me Down Easy e Reckless - mais do que Ain't Gonna Cry. Também mereciam ter sido gravadas com mais qualidade. De qualquer forma, foi melhor saírem agora do que ficarem para sempre esquecidas em cassetes velhas numa gaveta qualquer.
Enfim, o álbum de covers já está, a reedição de Reckless também. Fica a faltar o álbum de originais. Nada tem sido dito em relação a esse álbum, o que me leva a suspeitar que ainda deverá levar algum tempo a ser editado. Espero que não demore demasiado tempo.
Quanto a nós, aqui no blogue, tenho uma série de entradas em fase de planeamento - uma já rascunhada - que tenciono escrever e publicar ao longo das próximas semanas. Continuem desse lado.
Quarta parte da análise da Reckless. Partes anteriores aqui, aqui e aqui. Nesta, acabamos a análise às músicas.
14) Draw the Line
"If trouble's what you're looking for, well it's what you've found"
Esta é outra das break-upsongs típicas entre as faixas extra, conforme já expliquei anteriormente. Tal como muita das faixas extra de Reckless, esta foi regravada por outros artistas. Neste caso, Ted Nugent gravou-a em 1984 para o seu álbum Penetrator (a sua versão difere da de Bryan e gosto das alterações). Alguns anos mais tarde, Paul Dean gravou-a para o seu álbum Hard Core, de 1989 - esta não difere tanto da versão original.
Para mim, Draw the Line é uma música mediana, que não desperta muito interessante. Daí que não discorde da decisão de excluí-la da edição original. Passemos à frente.
15) Play to Win
"Well now here's a twist, you better hit it babe"
Play to Win era uma faixa que, no início, não me dizia muito mas de que fui aprendendo a gostar. Tem um início interessante e também gosto da guitarra nesta música. Só não gosto mais de Play to Win porque se nota muito que é uma demo - os vocais de Bryan soam demasiado ásperos. Uma gravação com maior qualidade beneficiaria imenso a música. No entanto, visto que Bryan e Vallance não gostaram da música, é natural que não quisessem perder tempo gravando-a como deve ser.
Play to Win também foi regravada por outras pessoas. Deta feita, a banda Niles Dresden and the Pieces interpretou-a no filme Scenes from the Goldmine, de 1987. Segundo as (escassas) informações que encontrei na Internet sobre o filme, este centra-se numa jovem tecladista que se junta a uma banda de rock e se envolve com o vocalista até descobrir que este lhe rouba músicas. A letra de Play to Win parece condizer com o enredo. E eu até não desgosto da versão de Niles Dresden. É algo de que não nos podemos queixar: de uma maneira geral as re-interpretações destas músicas têm-lhes feito justiça.
16) Too Hot to Handle
"What she wants your money can't buy
She's just wants to be satisfied"
Justamente com Let Me Down Easy, esta é a única das faixas extra de Reckless que não foi regravada por nenhum outro artista. Vallance julga que ela foi composta para Tina Turner. O que faz sentido, tendo em conta a letra. Esta fala de uma mulher fora do vulgar, que não é materialista, não tem os sonhos frívolos de muitas mulheres. Uma mulher que está num nível diferente. Não vou dizer que a Tina Turner seja um exemplo, mas não me choca se a letra foi escrita a pensar nela. Tirando esse aspeto, Too Hot to Handle não se destaca grandemente.
17) Reckless
"There's three sides to every story
Ya, there's your side, there's my side and then there's the truth"
A música que tem o mesmo nome que este álbum é a minha preferida das faixas extra. Não tanto pela letra - temos, mais uma vez, uma break up song em que a má da fita é a mulher - mais pela sonoridade. Esta não é particularmente única - fez-me lembrar um pouco o clássico dos Bon Jovi, U Give Love a Bad Name - mas parece-me melhor conseguida que a maior parte das faixas extra de Reckless. Pelo menos, é aquela de que mais gosto, com destaque para a guitarra rítmica.
Gosto particularmente do refrão: os três acordes por detrás da palavra "Reckless", seguidos do silenciamento das guitarras, só se ouvindo a bateria. Também gosto do crescendo em "Guess I'm a lot like you". Há que dizer, igualmente, que o pré-refrão ajuda, preparando o terreno.
Reckless também teve direito a uma regravação por artistas alheios. Desta feita, a honra coube à banda Loverboy que, no entanto, substituiu a palavra "Reckless" por "Dangerous". Disso não gostei muito pois, para além de Reckless ser o nome do álbum, tendo por isso um significado diferente, acho que "dangerous" não se encaixa da mesma forma na melodia, "reckless" sai mais espontâneamente. Tirando isso, nada tenho a apontar à versão dos Loverboy.
Reparo agora que esta é a minha centésima publicação neste blogue. Não dá muito jeito ser uma entrada de um conjunto de cinco dedicadas a um álbum. Se ao menos fosse a primeira ou a última da série... Em todo o caso, um agradecimento rápido a todos os que têm visitado o meu blogue. A mais cem entradas!
A próxima virá em breve, com as alegações finais sobre este álbum. Continuem por aí.
Terceira parte da análise à reedição de Reckless. Aqui, já entramos nas músicas extra.
9) Long Gone
"He says you get the house and the car
And I get the clothes I got on"
Esta faixa obedece àquela que acaba por ser a fórmula de Reckless em termos de sonoridade, já explicada anteriormente. Ao contrário de músicas como Somebody e It's Only Love, nem a sequência de acordes nem o solo de guitarra são particularmente memoráveis. A letra até tem a sua graça - fala de um divórcio em que a esposa ficou com tudo e o marido, o narrador, ficou "com as roupas que traz vestidas" - mas, tirando isso, a música não é nada de especial, sobretudo em comparação com os singles.
10) Ain't Gonna Cry
"I got reckless baby
Put you in your place
Next time maybe re-arrange your face"
Ain't Gonna Cry é provavelmente a faixa mais rápida, pesada e barulhenta de Reckless. Segundo Vallance, foi conmposta exclusivamente com esse intuito e realmente, com a sua letra superficial, a faixa não tenta ser mais do que isso. Tendo em conta essas declarações e as várias boas faixas que ficaram de fora, só agora publicadas, eu interrogo-me porque desperdiçaram um lugar na tracklist com uma música assim.
Com isto terminamos as músicas da edição original de Reckless. Passemos às músicas extra da edição Deluxe, que eu desconhecia antes.
11) Let Me Down Easy
"All those years and you've got nothing to say
You turn around and walk away"
Segundo do booklet desta reedição de Reckless, esta música foi composta com a cantora Stevie Nicks em mente. Jim Vallance, contudo, alega que Let Me Down Easy esteve na fila para a tracklist final de Reckless. Se olharmos para os créditos, isso nota-se pois, ao contrário das outras faixas extra, que são apenas demos, os instrumentistas foram escolhidos com vista à edição desta música, não se limitaram a ser Bryan, Vallance e Keith. E eu tenho pena de que Let Me Down Easy não tenha conseguido lugar na edição original, pois gosto bastante dela. Julgo notar alguns ecos de músicas como Cuts Like a Knife e This Time. Suponho que esta seja a sonoridade típica do rock da altura.
Se olharmos para a letra destas músicas extra, repararemos que muitas são das chamadas break up songs. O que é curioso é que em todas essas, a mulher é a culpada. Porque o trai, porque é egoísta, porque é manipuladora, porque não liga ao pobre narrador. Para ser sincera, parece-me uma visão algo enviesada, devíamos ouvir o ponto de vista da mulher. Em todo o caso, Let Me Down Easy podia perfeitamente ter ocupado o lugar de Ain't Gonna Cry... mas já se fala melhor sobre isso.
12) Teacher Teacher
"The joke's on those who believe the system's fair"
Segundo o site de Jim Vallance, Teacher Teacher foi composta para a comédia Teachers. Consta que o produtor gostou da demo que Vallance e Bryan gravaram - e que foi editada da versão Deluxe de Reckless - mas quis que fossem outras pessoas a interpretar a versão final. Acabou por ser a banda 38 Special.
A música terá sido inspirada em Bad Case of Lovin' you, sobretudo pelos Doctor Doctor (bem me parecia que havia algo de familiar em Teacher Teacher). Tem também alguns ecos de Tonight e This Time, na minha opinião. A letra é inspirada, obviamente, em professores e no ensino, mas fico com a ideia de que tem mais significado do que parece. Pelo menos, deixou-me algo intrigada.
A versão dos 38 Special até é boa, mas esta é outra das músicas que podia perfeitamente ter sido lançada na edição original de Reckless. Também lamento não termos uma versão com mais qualidade na voz de Bryan. É certo que não foi culpa dele que o produtor de Teachers tenha querido outra banda para interpretar a canção, mas a versão dos 38 Special, devidamente gravada, tem algo que falta à demo. O que é uma pena.
13) The Boys Night Out
"Well, i looked at Keith and Keith looked at me
And we stole that machine"
Esta é capaz de ser a música extra de que menos gosto. The Boys Night Out até tem um começo interessante, com o riff de abertura e os acordes nas estâncias. O meu problema é o refrão: demasiado gritado para o meu gosto, na minha opinião não se encaixa na música. Tal como se pode deduzir a partir do título, fala de uma noite de rambóia entre homens.
Bryan acabou por dar esta música à banda suíça Krokus, que a remodelou completamente, só ficando o refrão inalterado. Esta decisão na altura terá provocado polémica entre os colaboradores de Bryan. Vallance e o agente de Bryan, Bruce Allen, queriam que o cantautor canadiano ficasse com a música para si. Vallance chega mesmo a referir uma gritaria via telefone entre Bryan, Allen e o produtor dos Krokus, enquanto tentavam decidir quem ficaria com The Boys Night Out. Vallance continua a achar que Bryan devia ter ficado com a música mas eu discordo, pelos motivos que referi acima. O refrão soa muito melhor na versão da banda suíça. Não se perdeu muito.
Mantenham-se ligados, faltam apenas quatro canções. Próxima parte em breve...
Em menos de um ano após o lançamento [de Reckless], o álbum que Adams fizera esperando que fosse tão bem sucedido como o seu anterior, dera seis singles de sucesso, vendera-se em quantidades que faziam o êxito de Cuts Like a Knife parecer bastante insignificante (...) e transformou Bryan Adams numa das maiores estrelas de rock do mundo. Adams diz que é capaz de indicar o momento exato em que ele se apercebeu do que acontecera (...) "Estávamos a fazer o mesmo que andávamos a fazer desde o início, o concerto era o concerto que dávamos há três ou quatro anos. E de repente tínhamos público. Uma arena cheia de gente que tinha vindo ver-nos. Tínhamos conseguido. Lembro-me de ir ter com o Keith, o meu guitarrista, e dizer 'Que fizemos de diferente? O que aconteceu?'. Ele encolheu os ombros.
Booklet da Edição Deluxe de Reckless
Como poderão deduzir a partir do excerto acima, Reckless, o quarto álbum de estúdio de Bryan Adams, foi o álbum que colocou o cantautor canadiano no estrelato. É este o álbum que inclui muitas das músicas que definem a carreira de Bryan e se tornaram autênticos clássicos do rock: Run to You, Summer of '69, Heaven...
Visto que este ano, no dia 5 de novembro (no 55º aniversário de Bryan), se completaram trinta anos desde o lançamento de Reckless, Bryan decidiu lançar uma edição especial deste álbum com sete faixas inéditas. Eu vou aproveitar a ocasião para, não apenas analisar as músicas "novas, mas também falar das canções da edição original.
Quero esclarecer desde já que esta não será propriamente uma crítica. Eu já não costumo ser imparcial nas minhas análises, tenho pesos e medidas diferentes para cada artista ou banda; nesta sê-lo-ei ainda menos pois os singles deste álbum são autênticos clássicos para mim, são intocáveis, estão acima de toda a crítica. No fundo, centrar-me-ei nos motivos pelos quais gosto destas músicas, bem como em algumas curiosidades, a maior parte delas retiradas do site pessoal de Jim Vallance, co-autor destas músicas, que teve a bondade de partilhar segredos por detrás da composição destas faixas. Contudo, para as músicas "novas" farei uma análise costumeira. Ao contrário do que pensava, estas músicas não são propriamente inéditas - depois de serem excluídas da tracklist de Reckless, com duas exceções, foram regravadas por outros artistas.
Tal como já vai sendo hábito, esta crítica virá às prestações. Ainda não sei quantas mas, visto que são dezassete canções, serão mais do que as costumeiras quatro. Respeitarei a ordem da tracklist pois, com a mistura de velhos clássicos e músicas desconhecidas (pelo menos para mim), não faz sentido estar a ordená-las por preferência. Assim, começamos por...
1) One Night Love Affair
"All my senses say I'm in this much too deep
Now you're out of reach"
Reckless abre com uma faixa que foi single, embora não tenha tido o mesmo impacto que outros singles deste álbum. One Night Love Affair, tal como a larga maioria das faixas de Reckless, é conduzida por acordes de guitarra elétrica com um padrão característico, acompanhada por solos que fazem de segunda voz e bateria. Queira, aliás, chamar a atenção para este último instrumento, para o seu ritmo... eu chamar-lhe-ia "binário", mas não sei se é essa a designação correta. É um padrão de bateria simples, presente em muitas das músicas mais antigas de Bryan, mas que, por algum motivo, já não se ouve da música dos últimos dez, quinze anos.
Para dizer a verdade, atualmente ouve-se cada vez menos bateria na música, ponto.
Tal como diz o título, a letra de One Night Love Affair fala de um caso de uma noite que deixa sequelas inesperadas, numa altura em que o narrador já perdeu o rasto da mulher com quem se envolveu. Tal como acontece em várias músicas de Reckless, a letra é simples mas suficiente para contar a história de maneira eficaz.
Existe uma história engraçada por detrás desta música, revelada no site de Jim Vallance. Quando ele e Bryan estavam a trabalhar em One Night Love Affair, quiseram que, como habitual, o guitarrista Keith Scott fizesse o solo de guitarra. Em jeito de brincadeira, Bryan regravou o verso "If the night was made for love it ain't for keeps" (se a noite foi feita para o amor, não é para manter), alterando para "if the night was made for love it ain't for Keith" (se a noite foi feita para o amor, não é para o Keith), o que fez o guitarrista quase cair da cadeira com as gargalhadas. Consta que por vezes, em concertos, Bryan canta o verso alterado fazendo um gesto para Keith. Estou a contar que faça o mesmo num eventual concerto em Portugal da digressão dos trinta anos de Reckless.
2) She's Only Happy When She's Dancin'
"Nothin' matters until Monday so she goes insane"
Na entrada sobre Tracks Of My Years, falei sobre a voz de Bryan, caracteristicamente rouca. Esta voz não se fez de um dia para o outro, demorou uma mão-cheia de anos. Se compararem os primeiros álbuns de Bryan com TOMY, hão de reparar na diferença. Reckless foi apenas o quarto álbum de Bryan, a sua voz ainda não estava no ponto certo (na minha opinião, só chega a esse ponto com Waking Up the Neighbours). Isto nota-se particularmente em She's Only Happy When She's Dancin', os vocais ainda algo imaturos, demasiado gritados.
Esse é, praticamente, o único defeito desta faixa. De resto, sem ser nada de extraordinário, é uma música interessante, a única música não single (tirando as "novas") que fica na memória. A sonoridade obedece à fórmula do álbum, sem nenhum aspeto que se destaque. A letra, por outro lado, conta uma história diferente do habitual - a história de uma mulher que leva uma vida monótona e cinzenta, presa à rotina, que só ganha cor quando o fim-de-semana chega e ela vai dançar.
3) Run to You
"I know her love is true
But it's so damn easy making love to you"
Run to You foi o single de apresentação de Reckless (embora Heaven andasse a ser tocada nas rádios havia algum tempo) mas que, na verdade, esteve muito perto de não ser editada. Segundo Vallance, a música inicialmente fora encomendada por um produtor mas este, no fim, não gostou dela. Bryan e Vallance ainda tentaram enviá-la a outros artistas mas todos a rejeitaram. Bryan esteve perto de rejeitá-la ele mesmo. Foi o produtor Bob Clearmoutain quem o convenceu a incluir a música em Reckless. E ainda bem que o fez, pois Run to You tornou-se um dos grandes clássicos da carreira de Bryan.
A letra é curta, direta, mas suficiente para contar a história de um triângulo amoroso, mas o ponto forte de Run to you é outro. Durante alguns anos, a música nunca me atraiu por aí além. Foi só quando, nas aulas de guitarra, o meu professor disse que tinha as pautas da música e eu pedi-lhe que me ensinasse, que passei verdadeiramente a gostar da canção. Chegámos a gravar a nossa versão de Run to You, que apresento em baixo. Eu toco a melodia, um colega meu (já não me lembro do nome dele...) toca a guitarra rítmica e o meu professor toca o baixo. Os pontos fortes da música residem, precisamente, nos instrumentos, no riff característico, no solo de guitarra, nas linhas de baixo - é divertida de tocar.
4) Heaven
"Now our dreams are coming true
And through the good times and the bad
Yeah, I'll be standing there by you"
Heaven é a única balada em Reckless e, tal como já expliquei antes, a minha canção de amor preferida. Como já falei sobre esta música antes, não tenho muito mais a acrescentar. Destaco apenas que Heaven tem uma sonoridade muito diferente do resto do álbum (faixas extra incluídas), parecendo um outlier, sendo esse um dos motivos pelos quais esteve quase a ser deixada de fora. Ainda bem que tal não chegou a acontecer, pois Heaven teve um sucesso monstruoso, à semelhança dos outros singles de Reckless.
Se formos a ver, três das músicas que definiram a carreira de Bryan - Run to You, Heaven, Summer of '69 - estiveram perto de nunca serem editadas. É a prova de como o sucesso de uma música ou de qualquer trabalho artístico pode ser completamente imprevisível e, algumas vezes, os próprios criadores não são as pessoas com melhor discernimento para determinar o potencial da música.
Mantenham-se ligados, vou tentar publicar a segunda parte da análise em breve.