Sobrenatural
Esta série centra-se em Dean e Sam Wincheste, dois irmãos que se dedicam à caça de criaturas sobrenaturais como forma de esclarecerem e vingarem o assassinato da mãe quando ambos eram crianças pequenas. Como podem calcular, é sobretudo uma série de ação e terror, embora às vezes apareçam alguns elementos de comédia negra e outros momentos mais dramáticos.
Esta é uma daquelas séries que já sigo há alguns anos. Ou melhor, segui-a mais ou menos fielmente enquanto passava na televisão. As cinco primeiras temporadas foram exibidas até 2010; tanto quanto sei, a sexta temporada só começou a passar na AXN Black recentemente. Por isso, estive uns bons dois anos sem ver Sobrenatural. Só agora me encontro a ver a sexta temporada.
As duas primeiras épocas assentam essencialmente no modelo da criatura da semana, tornando os episódios relativamente isoláveis. O que não surpreende se tivermos em conta que o conceito inicial da série consistia em reportagens sobre fenómenos sobrenaturais.
A partir da terceira e, sobretudo, da quarta temporada, a série começa a focar-se mais no enredo. É aqui que começam a prevalecer elementos da mitologia cristã: anjos, demónios, Céu, Inferno, Apocalipse, entre outros.
Sim, eu usei a expressão "mitologia cristã". Sejamos racionais, a única diferença entre a mitologia egípcia, a mitologia greco-romana é que estas últimas foram extintas, enquanto que o Cristianismo conseguiu disseminar-se.
Eu digo isto mas, por outro lado, inicialmente, a maneira como usaram estes elementos cristãos incomodou-me, apesar de não ser religiosa. Como o facto de terem retratado os anjos de uma forma bem diferente das criaturas bondosas e inocentes que eu tinha na ideia antes disso. Imagino o que não terão pensado eventuais católicos praticantes...
A propósito, uma coisa que me tem surpreendido é o facto de, tanto quanto sei, a Igreja Católica não se ter pronunciado sobre tudo isto. Quer dizer, criticam o Pokémon, um desenho animado infantil, mas não dizem nada sobre uma série que retrata alguns dos anjos como seres tão cruéis como demónios...
Encerremos este aparte e regressemos a Sobrenatural em si. À semelhança, um pouco, do que aconteceu com Tru Calling, também Sobrenatural me ajudou na minha escrita ao abordar, várias vezes, o preço a pagar pelo heroísmo, as vantagens e as desvantagens de tal estilo de vida, a felicidade pessoal versus os benifícios para o coletivo, uma vida perigosa mas interessante versus uma vida segura mas aborrecida. Além disso, tenho uma afinidade especial para com Chuck, o profeta - se estiverem familiarizados com o papel dele no meio de tudo aquilo, saberão porquê.
Até ao momento, a quinta temporada é a minha preferida, pela maneira como praticamente todos os arcos narrativos desaguam naturalmente no confronto Miguel versus Lúcifer, usando os irmãos como recetáculos, respondendo a perguntas antigas. Finalmente, conhecemos o objetivo do demónio de olhos amarelos (eu sei que ele tem um nome mas, de momento, não me recordo) com aquelas crianças que escolheu: desencadear o Apocalipse e encontrar o recetáculo perfeito para Lúcifer. E já antes de notava a afinidade Dean para com os anjos e a afinidade de Sam para com os demónios. Era para aquilo que a série caminhava. Cheguei a achar que aquela seria a última temporada, pela maneira como quase todas as pontas ficam atadas no último episódio.
Devia ter sido assim. Ainda não acabei de ver a sexta temporada mas estou quase e, até agora, não estou a gostar muito. Os episódios em si continuam interessantes, no entanto, o enredo está demasiado rebuscado. Não é de admirar, tendo em conta o que mencionei acima sobre todos os arcos narrativos ficarem encerrados no final da quinta temporada. Atiraram demasiadas linhas narrativas: a guerra civil dos anjos, a tentativa de conquista do Purgatório pelos demónios, a mãe de todas as criaturas... Começam a chegar à altura em que já não sabem o que inventar mais.
Um exemplo é a "ressurreição" de Sam, deixando a alma pelo caminho. É já um grande cliché da série, como podem ver acima, a forma como os irmãos arranjam sempre maneira de regressar dos mortos, criando mais problemas do que aqueles que resolvem no processo. E, como todos os clichés, a partir de uma certa altura, uma pessoa deixa de ter pachorra, sobretudo quando se tornam tão fracos como este Sam Sem Alma...
Faz-me imensa confusão pensar que, na exibição americana, já houve sétima temporada e já se preparam para uma oitava. Se já se começam a notar alguns sinais de desgaste nesta sétima temporada - embora apenas no enredo, no restante Sobrenatural ainda conserva os seus pontos fortes - estou a tentar imaginar o estado da coisa nas próximas... Só espero que não cometam o erro que outros cometeram, que outros estão a cometer, que não deixem a série degradar-se muito mais, que saibam quando terminar. Porque Sobrenatural têm se conseguido manter no restrito lote das boas séries, na minha opinião, e quero que continue assim durante mais algum tempo.