No passado dia 6 de outubro, Mike Shinoda – fundador dos Linkin Park, homem de múltiplos ofícios artísticos e musicais e uma das minhas pessoas favoritas do mundo da música – lançou o single Already Over, uma canção a solo.
Eu chamo-lhe single, mas Mike tem preferido falar de um “capítulo”. Um meio termo entre single e álbum. Algo lançado com tanta pompa e circunstância como um álbum, ou quase, mas sem correr o risco, que às vezes se corre com os álbuns, de que algumas músicas não-singles não recebam a atenção que merecem.
Consigo entender a lógica. No que toca ao seu trabalho a solo, Mike sempre fez esforços nesse sentido. Veja-se Post Traumatic, em que todas as músicas (da edição-padrão) tiveram direito a videoclipe – ainda que Hold it Together só tenha chegado este ano. Julgo que Mike queira que Already Over, e quaisquer outras músicas que lançar depois, tenham cada uma uma mini-era, com uma estética própria, videoclipe (apesar de ainda não ter saído o de Already Over, à hora desta publicação) e sessões como a que fez com músicos australianos – mais sobre isso já a seguir. No fundo, dando-lhes oportunidade para causarem impacto.
Já se sabia há algum tempo (eu referi-o no meu texto sobre Meteora20) que Mike andava a criar música para si mesmo, depois de ter passado um par de anos, mais coisa menos coisa, compondo e produzindo para outros músicos. A certa altura, Mike terá sentido de novo o bichinho e quis criar música para si mesmo.
Tecnicamente, In My Head, que saiu há uns meses, é um exemplo disso, mas é um dueto com Kailee Morgue. Por sua vez, com Already Over, houve quem colocasse a hipótese de convidar alguém, mas Mike rejeitou-a e fez tudo sozinho. Compôs, produziu, tocou todos os instrumentos… e cantou.
Esta será a parte mais importante de tudo: Mike cantando, cantando a sério, sem abusar do auto-tune ou de outros efeitos semelhantes, como em demasiadas músicas a solo dele. Durante muito tempo, demasiado, Mike não pareceu ter grande confiança na sua voz. Compreende-se, pelo menos em parte: qualquer um trabalhando durante tantos anos com Chester Bennington teria complexos de inferioridade.
No entanto, Mike sempre se subvalorizou. Um dos meus aspectos preferidos dos álbuns mais recentes dos Linkin Park são as partes em que Mike e Chester harmonizam nos vocais – saudades. Mas também tivemos Sorry for Now no One More Light e Massive no Meteora20. Entretanto, descobri há pouco tempo No Roads Left, uma B-side de Minutes to Midnight que devia ter sido incluída no alinhamento principal – provavelmente o melhor desempenho vocal de Mike até ao momento.
Em todo o caso, no ano passado, Mike ter-se-á apercebido de que poderia aprender a cantar, desenvolver os seus dotes vocálicos e compôr música adequada à sua própria voz – tal como compõe música para as vozes de outros cantores (Chester, John Legend, Demi Lovato, etc). As expressões dele no vídeo acima enquanto explica isto dão-me vontade de rir – este totó levou décadas a descobrir que sabe cantar.
Dito isto, se Mike tivesse acreditado em si mesmo como cantor há coisa de vinte e cinco anos, depois de Mark Wakefield ter deixado os Xero, ele, Brad e os outros não teriam sentido a necessidade de procurarem um vocalista. Ou seja, não teriam conhecido Chester (mais sobre a génese dos Linkin Park aqui).
Olhemos, então, para Already Over. Confirma-se o que Mike dissera antes sobre regressar às raízes, sobre os fãs dos Linkin Park ficarem contentes. Esta é uma música rock (rock alternativo, segundo dizem), guiada pela guitarra elétrica – aparentemente a mesma de What I’ve Done. Gosto muito da bateria – Mike terá aprendido a tocá-la há pouco tempo. Diz que a editou em estúdio para soa bem… mas pergunto-me se será cem por cento verdade ou se está a ser modesto.
A letra não é nada de extraordinário. Não é má, é apenas algo vaga e superficial. Basicamente sobre alguém que não tem noção do mal que faz. O narrador não sabe se é arrogância, ignorância, ilusão, uma mistura de todas. Mike deu a entender em entrevista que, na hora de escrever letras, por defeito, assume temas semi-sombrios como estes. Sempre foi assim – basta olhar na diagonal para a discografia dos Linkin Park.
Não é grave, mas nesse sentido perde em relação a In My Head, Happy Endings ou mesmo fine. Estas têm letras mais interessantes, mais autênticas. Pelo menos no que diz respeito a mim.
Infelizmente, temos aqui outro exemplo de um refrão circular (que começa e acaba com o mesmo verso). Como poderão ler em textos recentes, é algo a que ganhei alergia nos últimos anos. Não chega a estragar a música, atenção, mas é a parte de que menos gosto.
O melhor de Already Over é mesmo o desempenho vocal de Mike. A versão de estúdio está menos produzida que outros temas (demasiados) a solo dele, mas os efeitos adicionados até são interessantes: um eco fantasmagórico no início da segunda parte, o coro no início do último refrão.
Ainda assim, a voz de Mike ficou ainda mais evidente nas sessões de Sydney, com músicos australianos. O vídeo foi publicado no dia 18. Aqui, a voz de Mike não teve produção nenhuma (isto é… penso eu), podemos ouvi-la em estado puro e… ficou fantástica.
Fico feliz por Mike ter lançado oficialmente o áudio dessas sessões. Para mim, esta é a versão definitiva de Already Over. Até porque, para além de Mike, os outros músicos fizeram um ótimo trabalho com instrumentos.
Uma palavra, já agora, para a apresentação de Bleed it Out que eles fizeram. Adorei. Não estava à espera de gostar tanto de ouvir uma mulher cantando as partes melódicas desta música. Bonnie Fraser, vocalista dos Stand Atlantic (já conhecia a música deles, Lavender Bones. É gira.), fez um ótimo trabalho.
Foi uma noite feliz, quando publicaram este vídeo.
Mike diz que virão mais sessões deste género no futuro, com músicos de diferentes partes do mundo. Se ele quiser fazer uma com músicos portugueses, eu tenho algumas sugestões… Mais sobre isso já a seguir.
Em suma, não sendo uma música do outro mundo, gostei de Already Over, sobretudo por causa da interpretação de Mike. Quero mais. Ele diz que virão mais músicas depois desta, mais “capítulos”. Chegou a comentar que Already Over pertence ao mesmo universo de In My Head e, curiosamente, de fine.
Não referiu Happy Endings, o que faz sentido, suponho eu. Tem um tom diferente, mais leve – apesar de falar de coisas relativamente sérias, como a pandemia e a maneira como esta nos tornou menos tolerantes e pacientes (agora que penso nisso, lembra This is Why). Além disso, é uma colaboração a três.
Mike irá, então, continuar em estúdio, gravando música a solo. Ou seja, para já não irá em digressão, o que dá um bocadinho de pena. Queria voltar a vê-lo ao vivo, quase uma década depois da última vez. A digressão de Post Traumatic não passou em Portugal, infelizmente. Se a próxima não passar, talvez vá vê-lo ao estrangeiro, mas obviamente preferia vê-lo por cá. Não só pela parte prática da coisa, mas também porque… quero que ele conheça os Hybrid Theory. Que faça qualquer coisa com eles (uma sessão, como a de Already Over em Sydney!) ou que, no mínimo, lhes dê a sua benção.
Aqui entre nós, acho que Mike tem saudades dos palcos. Ele fez um par de aparições em concertos nos últimos meses (um com o grandson, outro com a G Flip, na Austrália) e, de ambas as vezes, pareceu estar a divertir-se à grande. Ao mesmo tempo, não me surpreende que não queria ir numa longa digressão. Post Traumatic foi difícil, como comentámos antes. Com a pandemia e tudo o resto, tem passado os últimos anos em casa e talvez lhe saiba bem. Talvez não lhe apeteça passar meses longe da mulher, Anna, e dos filhos. Não o censuro.
Enfim, talvez vá daqui a um ano ou dois. Isso significa, também, que um eventual regresso dos Linkin Park, a acontecer, fica adiado durante mais uns anos. Uma pessoa vê Mike aprendendo a cantar, começa a pensar coisas… mas ainda não estou preparada para essa conversa. Neste momento estou muito feliz com os Hybrid Theory e os seus fãs. Ando a contar os dias até ir a Gondomar vê-los (à hora desta publicação, cinco semanas!).
Para já chega. Não quero que os Linkin Park fiquem parados para sempre, lançando apenas reedições de álbuns anteriores, mas demos-lhe (mais) uns anos.
Não sei se cada um dos próximos capítulos da música a solo de Mike terá direito a um texto como este. Talvez escreva um texto para cada um, talvez escreva sobre dois ou três num só, quando a oportunidade surgir. Nem que seja só nos textos de fim de ano.
Quanto a nós, o próximo texto aqui do blogue será sobre Re: This is Why em geral e sobre a inédita Sanity em particular. Isto apesar de o texto anterior já ter sido sobre a This is Why original. Aparentemente, este ano aqui no blogue só dá Linkin Park (OK, não a banda propriamente dita mas parte do seu extenso universo) e Paramore.
Olhem… c’est comme ça.
E em minha defesa, já Lost tinha saído no mesmo dia que This is Why e agora os Paramore lançaram um álbum de remixes no mesmo dia que Already Over. A culpa não é minha.
Voltamos, assim, a falar em breve. Continuem por aí. Obrigada pela vossa visita.
Hoje completa-se mais um ciclo aqui no blogue. Inaugurei a rubrica Música Não Tão Ao Calhas – onde analiso singles (ou leaks) recentes dos meus músicos preferidos – há quase dez anos com Now, o primeiro avanço do quarto álbum dos Paramore, homónimo. Agora, analiso o primeiro avanço de This is Why, o sexto álbum deles. Isto depois de já ter feito o mesmo com Hard Times, o primeiro avanço de After Laughtere com Simmer, o primeiro avanço de Petals For Armor, o primeiro álbum a solo da vocalista Hayley Williams (se vocês acharem que conta).
Hei de brindar a isso com a minha próxima chávena de café.
This Is Why, primeiro single do álbum com o mesmo nome, é a primeira música dos Paramore em quase cinco anos e meio – precisamente desde a edição de After Laughter. Foi muito tempo mas, pela parte que me toca, não me custou muito, tirando estes últimos meses. Sobretudo porque os álbuns a solo de Hayley, Petals For Armor e Flowers For Vases, serviram de metadona. Mesmo este ano, quando já estava ansiosa por algo mais, Hayley foi-nos entretendo com o programa de rádio Everything is Emo – que me fez adicionar imensa música às minhas playlists.
Hei de escrever sobre isso nos meus textos de fim de ano.
Os Paramore estavam a precisar de uma pausa. Hayley já tinha referido, a propósito de Petals For Armor, que o ciclo de After Laughter não tinha sido fácil. Taylor abriu-se um pouco mais do que o costume para o The Guardian: falando sobre a perda de um amigo de família durante as filmagens do vídeo de Rose Colored Boy, revelando que deixou de beber, que, a certa altura, sofreu com ansiedade e agorafobia. Zac não se arrepende de ter deixado os Paramore – sente que os anos afastado da banda o rejuvenesceram. Suponho que estes últimos quatro anos tenham tido um efeito semelhante.
Nada disto surpreende. Lorde falava mais ou menos do mesmo no ano passado, quando regressou com Solar Power também após uns anos de pausa. Se há coisa que aprendemos com a pandemia é que há coisas que não valem a pena. Saúde física e mental vêm antes do trabalho.
Esses anos de pausa e a oportunidade de trabalharem em projetos laterais podem ter ajudado os três a desenvolverem uma relação mais saudável com a banda. Talvez seja por isso que This Is Why é o primeiro álbum dos Paramore em que o alinhamento da banda é o mesmo que o do álbum anterior.
Há uns anos atrás, diria que tinha esperanças num regresso de Josh e Jeremy a médio/longo prazo. Hoje já não faço questão. Só faz falta quem lá está. E como consta que Josh é homofóbico e, no geral, não grande coisa como pessoa…
After Laughter e os próprios Paramore enquanto banda ganharam um culto de seguidores fiéis nos últimos anos. Em parte porque os três – Hayley em particular, a mais mediática – são figuras simpáticas, terra-a-terra, "não problemáticas" (embora já tenham cometido os seus deslizes). Têm fãs de várias idades, raças e expressões de sexualidade e género e uma boa relação com eles.
Por outro lado, After Laughter – um álbum que explora "tempos difíceis" e questões de saúde mental – envelheceu muito bem, num mundo que se tem degradado cada vez mais desde 2017 (que já foi suficientemente mau).
Já calculava há algum tempo que os Paramore iriam entrar em territórios políticos/sociais no seu sexto álbum, por vários motivos. Em primeiro lugar, não faria sentido focarem-se em questões pessoais. Como referido acima, a banda está finalmente estável. Hayley, ainda por cima, teve dois álbuns a solo para exorcizar os demónios pessoais que já tinham dado sinais de vida em After Laughter.
E agora Hayley está numa relação feliz com… o Taylor! Sim, aquilo que se suspeitava desde Petals For Armor – e houve quem suspeitasse há mais tempo ainda – foi confirmado no artigo do The Guardian. Apenas uma frase entre parêntesis no texto, consta que nem Hayley nem Taylor quiseram dizer mais nada.
Durante muito tempo tive medo da reação dos fãs, depois do que aconteceu entre Hayley e Josh. Mesmo a minha primeira reação aos rumores, há mais de dois anos, não foi muito favorável. Mas, tanto quanto tenho visto, está toda a gente contente – eu incluída, que já tive tempo para me habituar à ideia (sobretudo depois de Flowers For Vases).
Agora espero que as pessoas não os destabilizem, que lhes dêem privacidade. O facto de, aparentemente, já terem namorado em segredo durante pelo menos três anos deve ajudar. E, claro, espero que sejam muito felizes.
Mas fechando este parêntesis, duvido que Hayley tenha algo a acrescentar a Petals For Armor e Flowers For Vases, no que toca à sua vida amorosa. Talvez This is Why tenha uma canção de amor só pela graça, mas não mais do que isso.
Por outro lado, falando por mim, os Paramore sempre foram muito bons a captar e/ou prever o estado de espírito de pessoas da minha geração. O que não surpreende, os três têm a minha idade, mais ano menos ano. Isso às vezes implica entrarem em territórios políticos/sociais. Hello Cold World é um bom exemplo, mas também há quem detecte mensagens políticas em After Laughter, como explicado neste artigo. Pelo menos nesse álbum, Hayley disse que não era essa a intenção, mas o próprio artigo refere que, nestes últimos tempos, é difícil saber onde acaba o pessoal e começa o político/social.
E se já era assim em 2017, em 2022 ainda mais o é, entre pandemia, tensões raciais, guerras culturais, guerra propriamente dita, inflação, alterações climáticas.
A juntar a isso, os Paramore têm estado muito interventivos nos últimos anos. Em parte porque, por estes dias, não dá para nos mantermos neutros – direitos humanos não são para debate. Mas também porque, como referido acima, a banda tem fãs muito diversos e eles procuram usar a sua posição privilegiada para retribuir. Entre outras coisas, apoiaram o Black Lives Matter e, mais recentemente, agora que o Roe vs. Wade foi revogado nos Estados Unidos, vão doar parte dos lucros dos concertos a organizações que dão acesso a interrupções voluntárias da gravidez a pessoas que não têm possibilidades.
Eu adoro-os por isso.
Consta, aliás, que uma grande parte do álbum This is Why terá sido inspirada por conversas que os membros dos Paramore foram tendo nos últimos anos acerca destas questões. Afinal de contas, os três foram nados e criados no sul dos Estados Unidos, que se caracteriza pelo extremismo cristão, pelo ultraconservadorismo, que faz as nossas avós beatas parecerem progressivas e modernas. A gente que elegeu Donald Trump, essencialmente.
Aliás, apesar de os Paramore sempre terem recusado o rótulo de "Christian Rock", a música deles, sobretudo nos primeiros álbuns, está cheia de referências religiosas. Hoje em dia, os fãs culpam o antigo guitarrista e co-compositor Josh Farro por isso. São capazes de ter razão mas, para sermos justos, eles compuseram Part II após a saída dele.
A relação dos três com o cristianismo será um dos aspetos que eles reavaliaram – já o sabíamos desde o ano passado. Pergunto-me se alguma das músicas novas abordará esse tema – seria interessante.
Teremos de esperar para ver – ou melhor, para ouvir. Aliás, ainda temos de esperar quatro meses para ouvir o álbum todo – este só será editado a 10 de fevereiro. Sim, é um bocadinho chato – já lá vão cinco anos e meio, que diabo! No entanto, aqui entre nós, até me dá jeito em termos de gestão dos meus blogues. Ia ser complicado se saísse durante o Mundial.
A data tardia do lançamento é o menos, para ser sincera, porque não gostei muito deste início de ciclo (e acho que não fui a única). O festival When We Were Young foi anunciado para agora, dia 22, 23 e 29 de outubro, no início deste ano. Mais tarde foram saindo outras datas para este outono, sendo que a maioria foi anunciada em julho. Todos sabíamos que era pouco provável os Paramore irem em digressão sem lançarem pelo menos um single.
Pois bem, eles lançaram-me This is Why a 28 de setembro, nas vésperas do primeiro concerto. Pareciam portugueses, deixando tudo para a última hora.
Ainda assim, não me importaria com isso se eles não tivessem começado tão cedo com os indícios. – Quase três semanas antes, na altura em que a Rainha morreu, enchendo-nos de falsas esperanças de um lançamento daí a poucos dias. Quando foi propriamente anunciado, uma semana mais tarde, ainda faltavam quase duas semanas para o dia 28.
Mais incompreensível, para além da partidinha que nos pregaram com o "wr0ng" (ah ah, ainda não era desta que os Paramore recebiam o dinheiro das reproduções e do iTunes, hilariante), foi terem partilhado excertos de uma música que, conforme se veio a descobrir, não era This is Why. Com alguma pena minha pois gosto muito do que ouço nesses vídeos. E, sinceramente, não percebo a lógica – terá sido engano?
Provavelmente será o segundo single – aposto que será The News. E talvez saia no dia 3 de novembro, como aparece no site oficial neste momento. Se sair, ou se sair mais algum single antes de sair o álbum (pelo menos mais um, quase de certeza), só devo escrever sobre isso num dos textos de fim de ano.
E depois do já expectável milhar e meio de palavras de introdução, falemos sobre This is Why.
Nem Now nem Hard Times me deixaram de joelhos quando saíram. Foram-se entranhando com o tempo, sim, mas ainda hoje não se encontram entre as minhas preferidas. Com This is Why está a acontecer mais ou menos o mesmo: precisei de ouvir algumas vezes para lhe tomar o gosto e mesmo agora não está entre as minhas preferidas dos Paramore ou mesmo deste ano.
Ainda assim, acho que gosto mais de This is Why do que gostei de Now e Hard Times. Não tenho a certeza – já lá vão uns aninhos.
Musicalmente, This is Why tem sido descrita como uma combinação do estilo de After Laughter e, um pouco, de Petals For Armor, com as sonoridades mais antigas dos Paramore. Não é uma música pesada – é dançante, rítmica, baseada mais em riffs e menos em acordes – mas é mais áspera, menos pop, que After Laughter. Nesse sentido, foi bem escolhida como primeiro avanço.
Aliás, ouço imensas semelhanças com Hard Times: o ritmo, o tom falsamente animado, a letra curta, as metáforas com quedas na terceira parte, os acordes que pontuam os versos do refrão (fazem-me lembrar os que soam no final de Hard Times, entre "Makes you wonder why you even try" e "Still don't know how I even survive").
O refrão é mesmo a minha parte preferida de This is Why. Adoro as múltiplas vozes.
Outro aspecto de que gosto é a longa introdução instrumental – dando tempo a Zac e a Taylor para fazerem a cena deles antes de Hayley entrar. Gosto dos padrões da bateria e das notas de baixo e guitarra. Em suma, um instrumental irrepreensível.
Agora falemos sobre a letra. De uma maneira geral, This is Why fala sobre instintos misantrópicos, isolacionistas. Sobre estar-se farto de pessoas. O ponto de vista de Hayley é semelhante ao meu: no início da pandemia tinha algumas esperanças de que as dificuldades trouxessem ao de cima o melhor da Humanidade.
Nalguns casos terá trazido… mas na maior parte das vezes foi o contrário.
Nem é preciso olharmos para o Mundo em geral. Olhemos só para o microcosmos do futebol, por exemplo, para o último mês, mês e meio. Tivemos crianças apanhadas no fogo cruzado das rivalidades clubísticas cá em Portugal. Em Java, na Indonésia, morreram cento e setenta e quatro pessoas e outras tantas ficaram feridas durante uma invasão de campo. Na Argentina morreu uma pessoa num incidente parecido, que envolveu confrontos entre polícia e adeptos.
Pegando no argumento acima, seria de esperar que, após meses de futebol em estádios vazios ou de lotação limitada, quando os adeptos voltassem à bola fariam por serem civilizados.
Ainda há pouco tempo saiu um estudo demonstrando que a maior parte das pessoas, sobretudo jovens adultos, sofreu desenvolvimento carácter negativo com os eventos dos últimos anos. Este artigo fala em "declínios na extroversão, abertura, amabilidade e consciência". No que toca a este género de ciência pop, é sempre necessário dar um desconto, claro. Mas a verdade é que o estudo condiz com a nossa percepção: estamos todos piores e tornamo-nos uns aos outros piores.
A letra de This is Why reflete essa diminuição da extroversão: "This is why I don't leave the house". Hayley faz logo uma entrada a pés juntos: "If you have an opinion, maybe you should shove it".
Temos aqui um problema semelhante a Hard Times: a letra é um pouco curta demais e, fora do contexto, pode ser mal interpretada. Pode parecer intolerância, recusa em aceitar opiniões diferentes das suas – precisamente um dos comportamentos que a banda diz criticar. É interessante compararmos This is Why com Ain't it Fun: "It's easy to ignore trouble when you're living in a bubble". Uma das mensagens de Ain't it Fun e do Self-titled em geral diz respeito à necessidade de sairmos das nossas zonas de conforto, das nossas casas, de modo a podermos crescer, expandir o nosso mundo.
Dito isto… eu percebo. Em teoria sim, temos de ter mentes abertas, conversar com o outro lado, ouvir o que eles nos têm para dizer. Na prática, é difícil. É preciso que o outro lado esteja disposto a fazer o mesmo e isso nem sempre acontece. Além de que este tipo de conversas exige tempo e energia que nem todas as pessoas têm.
E sobretudo, pelo menos no que toca às redes sociais, o jogo está viciado. Conforme explicado aqui na vizinhança, os algoritmos tendem a favorecer polarização, opiniões instantâneas e inflamadas, "da boca para fora", que suscitem likes, partilhas, guerras nas caixas de comentários ("Dare to have conviction 'cause we want crimes of passion"). João Ferreira Diassó refere o Facebook mas o mais certo é o mesmo passar-se com o Twitter, o Tik Tok, o YouTube e companhia. Em resposta – e eu mesma sou culpada disso – agarramo-nos aos nossos pontos de vista. Caímos nas chamadas "câmaras de eco", em que só recebemos notícias que confirmem as nossas convicções. Encaramos opiniões contrárias como ameaças, como ataques pessoais ("You're either with us or you can keep it to yourself").
Quando é assim, o melhor é não jogarmos ou arriscam-nos a fazer parte do problema. Os membros dos Paramore abandonaram o jogo há algum tempo – é raro eles mesmos usarem as redes sociais.
Quanto a mim, faço por jogar segundo as minhas próprias regras. No meu "feed" do Twitter, os tweets aparecem por ordem cronológica e não por destaques – nem imaginam a diferença que faz, recomendo fortemente. Procuro evitar dar "opiniões instantâneas" – não é raro sair uma notícia qualquer que nos suscita uma reação, apenas para serem divulgados pormenores horas mais tarde, que mudam o contexto do caso. Tento usar as redes sociais quase só a propósito dos meus interesses e para contactar com família e amigos.
Não tenho tido sempre um comportamento exemplar nas internetes, admito. Mas, por estes dias, tento ter. Ajuda muito não ser uma figura pública, não ter uma data de pessoas à espera que eu cometa um deslize para me cancelarem, e nunca ter sido alvo de cyber bullying até agora.
Em todo o caso, agora quero ouvir o resto do álbum, para ver como é que este primeiro avanço se encaixa. Sobretudo tendo em conta que foi a última a ser composta e, segundo Hayley, traduzir a mensagem essencial de This is Why enquanto álbum.
Aliás, adoro a maneira como a tracklist foi divulgada: escondida nas t-shirts que vendem nos concertos, estilo caça ao tesouro. Nem a Taylor Swift alguma vez se lembrou desta!
E é tudo o que tenho a dizer sobre This is Why, pelo menos para já. Agora, nos próximos parágrafos, vou virar os holofotes para mim mesma, isto vai assemelhar-se a uma página do meu diário. Se não estiverem interessados, podem clicar noutro sítio, não levo a mal.
O lançamento deste single marcou o fim de um setembro muito intenso para mim, sobretudo nos dias imediatamente antes. Aconteceu muita coisa na minha vida: estive uma semana de férias no Algarve, publiquei um texto novo aqui no blogue, tivemos dois jogos da Seleção, tive um "sunset", um concerto dos Simple Plan e dos Sum 41 (com Cassyette a abrir), vi Digimon Adventure Last Evolution Kizuna dobrado em português… duas vezes.
Já que falo nisso, rever Kizuna um ano e meio depois não doeu, pelo menos não tanto como as primeiras vezes, mas foi outra vez uma catrefada de emoções, tive de passar de novo pelo processo de digestão e ainda não terminei.
Acho que este filme irá sempre mexer comigo, mesmo depois de sair The Beginning.
Quanto à dobragem em si? Adorei. O elenco português fez um excelente trabalho. A minha voz preferida é a da Menoa, por Vera Lima. Deixo uma amostra acima (sem Menoa, infelizmente).
Muitas das coisas que listei acima ocorreram em menos de uma semana. Atrasei-me com o meu texto sobre música portuguesa e passei um par de dias em stress para publicarno meu outro blogueantes dos jogos da Seleção. No sábado dia 24 de manhã, publiquei a crónica pré-jogos. À noite tive o tal sunset enquanto decorria a vitória de Portugal sobre a Chéquia. No domingo de manhã vi Kizuna nos cinemas pela segunda vez. Na segunda-feira tive o concerto. Na terça-feira Portugal perdeu com a Espanha e falhou a final four da Liga das Nações. Finalmente, na quarta-feira saiu This is Why.
Foram muitas emoções diferentes em poucos dias: alegria, tristeza, stress, frustração, comunhão, desilusão, Kizuna. Houveram dias em que bebi café a mais, tive insónias a meio da noite e escrevi em modelos desatualizados de receitas manuais. Ainda não sei se irei partilhar o que escrevi – a minha versão de Midnights?
Já não estava habituada a isto – sobretudo depois de dois anos e meio de pandemia. Terá acontecido mais naquela meia semana do que num ano ou dois. Coisas que não puderam acontecer durante muito tempo porque Covid. Foi bom.
E não acabou aqui, na verdade. Este texto foi quase todo escrito durante uma viagem a Paris e a Zurique. Foi a primeira vez que vim ao estrangeiro desde antes da pandemia, tirando uma visita rápida a Salamanca há um ano. Não foi tão intenso como aqueles dias no final de setembro, mas foi ótimo.
This is Why veio, assim, num momento feliz da minha vida. Aliás, Setembro foi um mês em que me fartei de descobrir ou redescobrir música, de diferentes formas e por diferentes motivos. Assim, compilei a playlist abaixo para captar, pelo menos em parte, a montanha-russa de emoções que foram aqueles dias. Deem uma espreitadela.
Entretanto vou ganhar vergonha na cara e tentar publicar pelo menos um dos textos que tenho em atraso antes do Mundial.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Continuem desse lado.
No passado dia 11 de outubro, Bryan Adams lançou So Happy It Hurts, o primeiro single do álbum com o mesmo nome, que sairá no próximo dia 11 de março. Não estava nos meus planos dedicar-lhe um texto – apenas alguns parágrafos no fim do texto anterior. No entanto, quando estava quase a terminar essa publicação, Bryan lançou uma segunda música, On the Road. Assim, decidi escrever sobre as duas canções no mesmo texto. Quando estava quase a terminar essa publicação, o homem lança-me uma terceira música, Kick Ass.
Não há respeito neste mundo por blogueiras em part-time que gostam de escrever sobre músicas novas dos seus artistas preferidos!
Sigamos a ordem dos lançamentos. Mais do que Avril Lavigne com Bite Me, So Happy it Hurts é Bryan sendo Bryan, sobretudo o dos últimos anos. Um som rock clássico, vagamente retro, um tom alegre. Imagino-o tocando isto em palco e era capaz de apostar que os gestos e movimentos dele na minha mente – as suas expressões, a maneira como ele toca a guitarra, a cabeça dele abanando ao ritmo da música – não serão muito diferentes da realidade.
Em termos de letra, So Happy it Hurts também está longe de ser um tema super raro na discografia de Bryan. Basicamente, fala sobre saltar para dentro de um carro, arrancar pela noite dentro, deixando todas as preocupações para trás. Mais ou menos o mesmo tema de The Last Night on Earth, do álbum anterior – e este é apenas o exemplo mais recente.
Por outro lado, gostava de saber onde é que o homem andou nestes últimos dois anos para vir, agora, dizer que está “tão feliz que dói”.
Não é má canção. E o videoclipe é fofinho, sobretudo as partes em que aparece a mãe dele, bem como a mulher grávida e o jogador de futebol americano. É a música ideal para abrir um concerto, sobretudo no pós-confinamento… mas estou a adiantar-me.
Ao contrário de So Happy it Hurts, On the Road é um pouco diferente do costume para Bryan. Esta foi lançada aquando da divulgação do calendário Pirelli de 2022.
Lançada é como quem diz… durante mais de uma semana a música só estava disponível no YouTube. Nem sequer havia letra em lado nenhum. Lá está, como blogueira em part-time que gosta de escrever sobre música nova dos seus artistas preferidos, foi um bocadinho chato. Felizmente, quando saiu Kick Ass, On the Road foi também lançada como deve ser.
O instrumental de On the Road é algo mais pesado que o costume para Bryan. Não sei como descrevê-lo senão como música de motoqueiros. Talvez seja influência da letra ou mesmo do videoclipe, onde Bryan surge de casaco de cabedal preto.
A letra de On the Road entra em territórios parecidos aos de So Happy it Hurts, se bem que com um tom menos delirantemente feliz. Uma vez mais, nada de muito original, a comparação com Open Road chega a ser óbvia. Segundo declarações de Bryan, a letra serve para celebrar o regresso à normalidade (normalidade com vários asteriscos, claro), bem como o estilo de vida de muitos artistas e bandas: sempre na estrada, sempre em digressão.
E de facto aquilo que me é mais óbvio destas duas músicas é que Bryan estava farto de estar confinado. Não era o único, claro. Mas imagino que para ele – ele que, de acordo com a sua música, passou quase toda a sua vida na estrada, já deu a volta ao mundo cerca de mil vezes – tenha sido particularmente doloroso. E que doa ainda mais agora, que contraiu Covid, precisamente no seu regresso aos palcos.
Pergunto-me se esse será um tema recorrente em So Happy it Hurts.
Falta falar sobre Kick Ass – a mais engraçada das três. Começa com uma narração melodramática do lendário John Cleese, sobre um anjo enviado por Deus, vestido com calças de ganga, botas e boné – podia ser eu – para salvar a Humanidade do inferno da música má e trazer o rock aos mortais.
No fundo é a mesma filosofia de Kids Wanna Rock e Go Down Rockin’, apresentada de forma hilariante. Pergunto-me o que Travis Barker e respetiva turma pensariam desta música.
À parte isso, é certo que esta música não é para ser levada cem por cento a sério, mas podemos parar de fingir que o rock é o único género musical que é bom? Rock é o meu género musical preferido, rock e todas as suas variantes, mas se uma pessoa só se limita a isso arrisca-se a perder muita música boa.
Mas pronto.
Mesmo sem a introdução de Cleese – e existe uma versão da música sem essa parte – Kick Ass é uma boa música. Gosto da parte em que Bryan – falando pelo tal anjo – nomeia cada instrumento e este se junta à música. Faz-me lembrar o filme Escola de Rock, a parte em que Dewey atribui um instrumento a cada miúdo.
Por outro lado, acho um bocadinho estranho Bryan falar na primeira pessoa do plural, apresentando-se como uma “kickass rocking band”, quando tecnicamente ele é um artista a solo. Se bem que nós, fãs um pouco mais hardcore, já vamos conhecendo os membros da banda dele. Em particular, o lendário Keith Scott.
Em suma, estas são três boas músicas de Bryan, mesmo não sendo nada por aí além. So Happy it Hurts é a mais fraquinha das três, mas não por muito, apenas por causa da previsibilidade. On the Road e Kick Ass sempre têm qualquer coisa de diferente para se distinguirem.
O que nos leva a So Happy it Hurts, o álbum. Não estou assim tão ansiosa por ele. Estou à espera que seja semelhante ao seu antecessor, Shine a Light: um conjunto de músicas agradáveis ao ouvido, mas pouco memoráveis.
Mas posso estar enganada, claro. Estas três músicas até são boas, como vimos. Se o resto do álbum for de qualidade semelhante, ficarei satisfeita.
Ainda assim, em princípio não deverei escrever sobre So Happy it Hurts. A menos que o álbum seja deveras interessante, o que duvido.
Antes de lançar So Happy it Hurts, no entanto, Bryan irá voltar a Portugal! Dia 29 de janeiro em Gondomar e dia 30 em Lisboa – tenho bilhetes para esse último. Não contente com isso, Bryan ainda virá ao Festival Marés Vivas, em julho.
Algo me diz que ele tem saudades nossas.
É um bocadinho estranho, pois só se passaram dois anos desde a última vez que ele este cá. Estava habituada a encontros tetra-anuais. Mas não me queixo! Noutras circunstâncias talvez pusesse a hipótese de não ir, mas depois da pandemia, enquanto estiver dentro das minhas possibilidades, não quero desperdiçar oportunidades.
Além disso, como o último concerto foi em finais de 2019, poucos meses antes de isto tudo se ter virado do avesso, as recordações dessa noite foram um dos meus consolos durante a pandemia. Vai ser especial regressar aos concertos precisamente com Bryan – e criar novas recordações.
Também será especial pois, se tudo correr bem, vou ver os meus dois pais musicais com cerca de um mês e meio de diferença – o concerto de Avril Lavigne em Zurique é a 7 de março. Isso já devia ter acontecido há dois anos (com um intervalo maior entre concertos). A ver se desta não falha. Os álbuns também deverão sair mais ou menos na mesma altura, à semelhança do que aconteceu em 2019 – o de Avril, no entanto, ainda não tem data oficial; não me admirava se se atrasasse um bocadinho.
Estou é com medo que o concerto seja cancelado, com a evolução da pandemia nas últimas semanas. As festas de fim de ano já foram canceladas – mas suponho que tenha sido por ser difícil verificar testes e certificados de vacinação. Não me importo se tiver de mostrar certificado e fazer teste antes do concerto de Bryan.
A parte da máscara é que será mais difícil. Uma pessoa vai para lá dançar, saltar, cantar em altos berros e, pelo menos no meu caso, soprar beijinhos para o palco. Não dá jeito fazê-lo com máscara. Mas se tiver de ser…
Só não cancelem, por favor. Quero mesmo ir a estes concertos!!
Entretanto, conforme prometido, hei de escrever uma sequela a este texto. Desta vez, vou fazer por publicar a tempo – nas vésperas dos concertos de Bryan cá. Também já estou a preparar a minha retrospetiva musical de 2021. Ainda estou a tentar decidir os moldes, mas à partida vou voltar ao modelo dos primeiros anos deste blogue: uma publicação por artista ou banda, sensivelmente.
E é tudo por agora. Obrigada pela vossa visita, como sempre. Até à próxima!
Aqui no estaminé, Avril Lavigne dispensa apresentações. É uma personagem recorrente desde os primeiros tempos deste blogue – gosto de chamar-lhe a minha mãe musical – tendo inspirado múltiplos textos. Este é mais um deles, a propósito de Bite Me, o primeiro single do seu sétimo álbum.
Avril já anda a lançar pistas sobre este álbum há um ano, na verdade – embora, segundo entrevistas mais recentes, nessa altura ainda estava a começar. Típico dela, fazendo anúncios e promessas antes de tempo, deixando os fãs baralhados. Mas ao menos já temos o primeiro single.
Este álbum, ainda sem nome, representa o regresso de Avril ao pop punk. A cantora sempre esteve associada a este género musical. Se perguntarem por aí, dir-vos-ão que Let Gofoi a sua era mais pop punk, mas o álbum que mais explora este estilo é na verdade o The Best Damn Thing. Antes do seu terceiro álbum, Avril só contava duas músicas lançadas oficialmente influenciadas por este estilo: Sk8er Boi, em Let Go, e He Wasn’t, em Under My Skin.
Temos ainda I Always Get What I Want, dos trabalhos do segundo álbum, que faz parte da banda sonora do segundo filme d’O Diário da Princesa. Este é um tema que tem tido muita rotação nos concertos de Avril: está no top 10 das músicas mais tocadas segundo o Setlist.fm, mais do que alguns singles. Tenho quase a certeza que Avril se arrepende de não ter incluído a música na edição-padrão de um álbum.
Na minha opinião, devia ter sido guardada para o The Best Damn Thing. Encaixa-se que nem uma luva ao lado de I Can Do Better e a faixa-título.
Penso que a b-side Take It, também the Under My Skin, poderá ser igualmente considerada pop punk. Por outro lado, temos um caso estranho com I Don’t Give, dos trabalhos de Let Go. A música foi lançada como b-side do single Complicated e soa semelhante à larga maioria de Let Go. No entanto, durante a digressão Try to Shut Me Up (ela antigamente era mais imaginativa com os nomes das digressões), Avril tocava uma versão diferente de I Don’t Give: mais pesada, mais rápida, pode-se dizer mesmo mais pop punk.
Eu adoro esta versão. Há mais de metade da minha vida que lamento que não haja uma versão pop punk de I Don’t Give gravada em estúdio. Seria uma surpresa agradável se isso acontecesse com uma potencial edição comemorativa dos vinte anos de Let Go. Pouco provável, mas uma pessoa pode sonhar…
Por outro lado, faz-me pensar em quantas músicas no primeiro álbum teriam um arranjo parecido com este, se Avril tivesse tido mais controlo sobre o processo.
Isto tudo para dizer que, nos primeiros dois álbuns de Avril, apenas cinco músicas, no máximo, podem ser consideradas pop punk. E destas, só duas fazem parte das edições-padrão. Foi precisamente para colmatar esta falha que Avril criou o The Best Damn Thing – em que pelo menos metade das músicas, mais uma b-side, têm influências pop punk. Por isso, quando a comunicação social diz que Avril está a recuperar o estilo de Let Go com Bite Me, não fizeram o trabalho de casa.
O regresso de Avril a este estilo acontece na mesma altura que o pop punk tem estado de novo na moda. Não é uma coincidência: ela é um dos muitos artistas apadrinhados por Travis Barker, o baterista dos Blink 182, o grande catalisador deste movimento. Outros artistas com quem Travis tem colaborado são Mod Sun, Machine Gun Kelly, Willow Smith, Yungblood.
Não surpreende. Há quem diga que a nostalgia cumpre ciclos de vinte anos. Nos anos 2000 tínhamos saudades dos anos 80, na década de 2010 tínhamos saudades dos anos 90, agora temos saudades dos anos 2000. Suponho que tenha a ver com a geração que está na casa dos vinte e/ou dos trinta durante determinado período, que recorda a sua infância e/ou adolescência.
Um aspeto engraçado em que tenho vindo a reparar é que, na altura, os críticos desprezavam muita da cultura que nós, da minha geração, consumimos. Sobretudo nós, meninas adolescentes. Mas agora que somos adultos, temos a palavra e podemos fazer justiça àquilo que nos definiu.
Travis Barker está, no fundo, a capitalizar esse ciclo de nostalgia. Pode-se debater que percentagem disso é oportunismo e que percentagem é genuína paixão por este estilo musical. Eu pelo menos acho que não havia necessidade de o homem se colar a todos estes artistas, como o “feat Travis Barker” no título de cada música.
Há quem acuse este movimento de alguma falta de carácter, alguma falta de originalidade. Mesmo sem acompanhar essa onda de muito perto, tenho um par de exemplos desse problema. Olivia Rodrigo, para começar, não é uma das artistas patrocinadas por Travis Barker, mas também ela trouxe o pop punk de volta ao mainstream com a música good 4 u. Desde o início, as pessoas assinalaram as semelhanças com Misery Business, o êxito dos Paramore. Até que, há poucos meses, Olivia acabou por incluir Hayley Williams e Josh Farro nos créditos da música, o que deu polémica.
Pessoalmente, não acho good 4 you assim tão parecida com Misery Business. Um bocadinho no refrão, talvez, mas combina com elementos mais modernos, parecidos à música contemporânea. Para acusações de plágio já vi exemplos piores.
Depois, temos grow de Willow – esta sim, um dos artistas apadrinhados por Travis Barker. Avril canta uma parte da música. O tema até é agradável ao ouvido, mas é uma mistura estranha de All the Small Things com música das estrelinhas do Disney Channel, nos anos 2000.
Não se pode ser demasiado duro com Olivia e Willow pela falta de originalidade. São miúdas novinhas, que ainda estarão a desenvolver o seu estilo pessoal, a descobrir a sua identidade.
Depois, temos Machine Gun Kelly. Já falámos dele antes, de passagem – quando participou no concerto de homenagem a Chester Bennington e quando colaborou com Mike Shinoda em Lift Off. Nessa altura, ele era rapper, mas há um par de anos desistiu do rap/hip-hop e decidiu aventurar-se no pop punk, com o álbum Tickets to my Downfall. Ora, eu não teria problemas com isso… só que o tipo parece ser um estafermo.
Segundo consta, o motivo pelo qual MGK trocou de géneros musicais foi por ter entrado em rota de colisão com Eminem. Mas aparentemente não aprendeu nada, pois quando veio para o pop punk arranjou logo picardias. A mais recente foi com Corey Taylor, dos Slipknot. As pessoas já começaram a virar-se contra ele – há um par de meses, MGK foi assobiado durante um festival qualquer. Não contente com isso, o tipo chegou a vias de facto com pessoas da audiência.
Avril referiu MGK como uma das pessoas com quem ela colaborou no seu sétimo álbum, o que não me agrada. Não pelas suas qualidades musicais, mas pela personalidade dele. Preferia que Avril não se associasse a um tipo como este. O que vale é que ela tem juízo suficiente para não se envolver nas encrencas de MGK.
Por outro lado, Avril está a namorar com Mod Sun, com quem colaborou no seu álbum – e no álbum dele, Internet killed the rockstar. Este também tem um passado como rapper, mas parece-me ser um tipo decente, mais decente que MGK. Parece gostar genuinamente de Avril – e tem um Husky muito giro.
No início do ano lançaram um dueto, Flames – que tem vindo a subir na minha consideração, ligeiramente. O instrumental é diferente, é giro – alternando momentos mais calmos, ao piano, com momentos mais intensos e pesados. Só acho o refrão algo repetitivo.
Além disso, eles perderam uma oportunidade ao não terem tentado fazer uma ligação com Bridgerton na promoção da música.
A minha opinião sobre a participação de Avril neste movimento tem oscilado entre contra e a favor. Existe uma parte que parece um bocadinho forçada: a transição da era Head Above Water para esta nova foi muito repentina. Mesmo aspetos como aquele Tik Tok com Sk8er Boi me parecem exploração descarada da nostalgia – algo que ela já tinha feito com Here’s to Never Growing Up (como assim já lá vão mais de oito anos?!). E pergunto-me se a sua associação com Travis Barker e companhia não será uma extensão disso.
Talvez seja um bocadinho. Por outro lado, Avril está longe de ser a única artista musical, sobretudo feminina, em constante reinvenção. Taylor Swift comentou há uns tempos que ela e as suas contemporâneas são obrigadas a fazê-lo, mais do que os seus homólogos masculinos. Para manterem o público interessado nelas.
Não que seja uma coisa má, na minha opinião. Aposto que muitos artistas, de qualquer género, não gostam de estar sempre a fazer o mesmo, gostam de mostrar diferentes facetas. Como Fernando Pessoa e os seus heterónimos. Avril por exemplo é conhecida mais pelo pop rock, mas já brincou com vários estilos musicais.
Ela ia regressar a este estilo, mais cedo ou mais tarde. O seu modus operandi tem sido sempre alternar álbuns mais leves e alegres com álbuns mais sérios e pausados. Já em 2019, em plena era Head Above Water, Avril dizia que o sucessor teria mais guitarra e bateria. E assim o fez, oportunismo ou não. Penso que não corremos o risco de o material novo dela ser demasiado derivativo – ela está há mais de vinte anos nisto, não terá dificuldades em dar carácter próprio à música.
O que nos leva a Bite Me. É mais ou menos o que se esperava – penso que todos concordamos com isto. Um tema pop punk que, não sendo particularmente original, não é nada que esteja demasiado batido. Mesmo dentro do microcosmos da discografia de Avil, é suficientemente distinto do que ela fez antes.
Gosto imenso do instrumental nas estâncias e no pré-refrão. Também gosto da mudança da velocidade a meio do refrão. E a voz de Avril soa impecável, como sempre.
A letra é Avril sendo Avril, os tropos do costume: um ex-namorado que se arrepende de a ter deixado, mas ela agora manda-o passear. Uma vez mais, não é nada por aí além, mas ela tem letras piores.
Em suma, gosto de Bite Me. Talvez estivesse com a fasquia demasiado baixa, depois das desilusões que apanhei com os trabalhos mais recentes da Avril. Mas, ao contrário da maioria de Head Above Water, Bite Me sabe exatamente quem é, o que vem fazer e fá-lo com eficácia.
Ao que parece, o resto do álbum deverá ser neste estilo. Avril chegou a dizer que não haveria uma única balada no disco – o que seria inédito na discografia dela. Mas entretanto mudou de ideias e incluiu uma.
Eu fico contente.
Em termos de temáticas, Avril disse que, no início dos trabalhos, estava numa fase de desgaste em relação ao amor. Não surpreende: mesmo sem estar a par dos mexericos dos últimos anos, estamos a falar de uma mulher com dois divórcios. Ninguém poderá censurá-la pelo cinismo. Uma das primeiras músicas compostas para este álbum chama-se mesmo Love Sux.
No entanto, quando Mod Sun colaborou com ela, Avril apaixonou-se e começou uma relação com ele. Ou seja, a sua atitude em relação ao amor mudou – o que se deverá refletir no álbum. Outro título avançado por Avril é Kiss Me Like the World is Ending (o que faz sentido em tempos de pandemia). A balada do álbum – aposto que será a faixa de encerramento – chama-se Dare to Love Me, precisamente sobre abrir-se de novo ao amor.
Tudo isto me parece bem. Está longe de ser um tema inédito – veja-se Petals For Armor, de Hayley Williams. Duvido que Avril faça melhor. Mas ao menos sempre dará alguma profundidade a um álbum que, Avril já o confirmou, será bastante descontraído – com The Best Damn Thing nem se preocupou com isso, tirando as baladas e pouco mais.
Nesta fase, não estou à espera que Avril se ponha a re-inventar a roda ou a ser particularmente introspetiva. Nem sequer quero – quando tentou fazê-lo com Head Above Water não resultou, perdeu-se em clichés. Nestas circunstâncias, mais vale manter-se na sua zona de conforto. Além disso, como tenho vindo a referir, nesta altura não quero música demasiado triste.
Estou assim cuidadosamente otimista em relação a este novo álbum. Não deverá ser nada que mude as nossas vidas, mas sei que vou gostar de pelo menos uma mão-cheia de canções. E aposto que haverá pelo menos uma que me tocará de maneira especial.
Ainda não sabemos o nome do álbum, nem a tracklist, nem a data de lançamento. Há poucos dias ela anunciou datas no Canadá sob o nome “Bite Me Tour”. Será esse o nome do trabalho? Espero que não, é pouco imaginativo. Avril disse que lançará um segundo single em janeiro. Talvez divulgue o resto dos pormenores nessa altura. O álbum em si deverá sair “no início do ano”, o que quer que isso signifique (com o histórico dela, lá para abril ou maio, isto se tivermos sorte!).
Entretanto, a digressão europeia foi remarcada, pela segunda vez, para a primavera do próximo ano. A tal que devia ter decorrido em 2020. Como já escrevi antes, tenho bilhetes para o concerto de Zurique.
A ver se é desta. É mais de metade da minha vida à espera.
E pronto, para já é tudo. Acabei por falar muito pouco de Bite Me em si, mas não faz mal. Estes textos de Músicas Não Tão Ao Calhas sobre primeiros singles têm funcionado mais como prequelas às análises dos respectivos álbuns. E pareceu-me importante refletir sobre o histórico de Avril com este género musical antes de me debruçar sobre a música em si.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Continuem desse lado que o próximo texto não deverá demorar muito.
No passado dia 10 de junho houve um eclipse solar – que infelizmente mal se viu em território português. A cantora neozelandesa Ella Yelich-O'Connor, mais conhecida pelo seu nome artístico Lorde, aproveitou a ocasião para lançar Solar Power, o primeiro single do seu terceiro álbum de estúdio com o mesmo nome, que sairá a 20 de agosto.
Solar Power sucede a Melodrama, que saiu em 2017. Este é um álbum que, já na altura em que escrevi sobre ele, reconheci ser espetacular e o tempo só o melhorou. Dois, três, quatro anos após o seu lançamento e continuo a descobrir significados novos – mas não tantos como a autora desde excelente vídeo. Melodrama não se saiu grande coisa em termos comerciais, mas ganhou um culto de seguidores devotos, nos quais me incluo.
Por sua vez, Melodrama sucedia a Pure Heroine. Pessoalmente, gosto menos e compreendo menos este álbum, mas todos concordam que é também excelente e francamente revolucionário.
Ou seja, a fasquia está altíssima para Solar Power. Mais sobre isso adiante.
O primeiro single do álbum com o mesmo nome não se encaixaria nem em Pure Heroine e Melodrama. Dá para notar, no entanto, as impressões digitais de Lorde.
Uma das novidades é o facto de ser conduzida pela guitarra acústica. É apenas a segunda canção de Lorde conduzida por esse instrumento – a primeira foi The Louvre. Em entrevista ao The Guardian, Ella confessou que, durante os trabalhos de Pure Heroine, não achava as guitarras fixes. Eram demasiado “meio dos anos 2000” para o seu gosto, mais adequadas a serem cantadas à volta de uma fogueira, num acampamento.
Nisso não éramos parecidas.
Os acordes que guiam Solar Power nas estâncias têm um tom grave e contido – que se obtém quando se prende ligeiramente as cordas no braço na guitarra e só se toca as de alumínio. No refrão, as cordas de nylon soltam-se, emitindo um som mais luminoso.
Eu falo em refrão mas, para ser rigorosa, Solar Power não tem um refrão convencional. A melodia é semelhante, mas a letra é diferente. Depois do segundo refrão, a música explode para um som ainda mais luminoso, mesmo tropical, que se adequa à letra.
Muitos têm-na comparado a Freedom, de George Michael. Eu concordo que é parecida, mas não tanto como algumas pessoas parecem achar. Pelo menos não ao ponto de ter pensado que era um “sample”. De qualquer forma, os herdeiros do falecido cantor já deram a benção a Lorde e a Solar Power.
Em termos de vocais, Lorde não faz nada de extraordinário, mas canta com a sua típica cadência, com o seu típico tom grave. Por outro lado, temos Clairo e Phoebe Bridgers nos backvocals – faz-me lembrar Roses/Violet/Lotus/Iris, nesse aspeto.
Tirando algumas particularidades de que vamos falar de seguida, Solar Power é uma música de verão pura e dura – o que pode ser interpretado como um passo atrás, depois da maneira como Lorde explorou a dicotomia verão/inverno, calor/frio em Melodrama. Segundo Ella, Solar Power é sobre a “energia namoradeira” que surge quando o tempo aquece e as roupas se reduzem.
Nada de muito original aqui. É basicamente o conceito das temporadas de verão dos Morangos com Açúcar.
E na verdade, este é um dos casos em que aquilo que o artista diz sobre a música não bate muito certo com o que a música parece dizer. Existem poucas referências a romance ou sexualidade em Solar Power: só mesmo em “my boy behind me, he’s taking pictures” e “are you coming, my baby?” e mesmo assim.
A letra é menos Morangos com Açúcar e mais Eu Gosto é do Verão (se bem que menos tola, no bom sentido). Está cheia de frases pedindo para serem transformadas em legendas do Instagram ou do Tik Tok (algo que tenciono fazer com fotos da minha cadela na praia). Solar Power fala sobre encontrar… bem, os seus sítios perfeitos na praia e sentir as mágoas e as preocupações derretendo com a luz do sol.
A narradora, aliás, assume-se um pouco como uma profeta, uma deusa solar ensinando ao povo as maravilhas do verão – “Lead the boys and girls onto the beaches. Come one, come all, I’ll tell you my secrets, I’m kinda like a prettier Jesus”. Suponho que a narradora seja a mesma personagem que Ella descreveu na carta de apresentação do álbum – mais sobre isso já a seguir.
O videoclipe explora bem essa ideia, mostrando Lorde na praia, líder de uma espécie de tribo ou seita, vestida de amarelo vivo – em contraste com os tons mais terra, mais discretos dos demais (tendo em conta que Ella sofre de sinestesia, esse pormenor foi cem por cento intencional, não duvidem). Lorde sempre representou esse papel de certa forma na sua música – mais a porta-voz da sua geração do que propriamente um guia, é certo.
Já que falamos do videoclipe, consta que este foi a introdução ao universo cinemático deste álbum. Se Melodrama decorria todo numa única noite, durante uma festa, Solar Power decorre numa praia – ou pelo menos os videoclipes. Lorde não revelou a praia exata onde decorreram as filmagens por motivos óbvios (e mesmo assim, acho que no Reddit já descobriram). Ella disse para imaginarmos que decorre na nossa praia preferida.
Na Meia-Praia de Lagos, portanto. Naquela zona não concessionada, mais perto do pontão, com menos pessoas, onde a Jane pode correr à vontade.
Têm circulado piadas na Internet sobre o facto de Solar Power ter começado com Lorde admitindo que “odeia o frio”, quando uma das poucas coisas que soubemos dela, nos últimos anos, foi a sua viagem à Antártida. Eu acho que faz sentido – depois de tanto tempo num dos lugares mais frios do planeta, qualquer um sairia de lá sedento de calor e de verão.
Em suma, Solar Power está longe de ser a melhor música de Lorde. Não sendo propriamente fútil, não tem grande profundidade e a mensagem não é muito original. Sobretudo se compararmos com Pure Heroine e Melodrama. Quem estava à espera de algo mais intenso e revolucionário, apanhou um balde de água fria.
No entanto, mesmo no seu… não vou dizer “pior”, porque Solar Power não é uma música má, mas pronto, menos bom, Lorde continua acima da média. O tom descontraído sabe bem, sobretudo depois do último ano e meio – a própria Ella revelou que essa foi uma das razões pelas quais lançou a música nesta altura.
Como vi na Internet, aliás, a única música alegre deste ano só podia vir da Nova Zelândia.
Consta que, de resto, apesar de não deixar de incluir algumas faixas mais sérias e introspectivas, Solar Power deverá ser um álbum no geral alegre e despreocupado. Pelo menos é essa a ideia com que fico. Isso agrada-me. Em parte por aquilo que referi sobre o último ano e meio, mas também porque dois dos álbuns que mais tenho ouvido nos últimos meses são o folklore e o evermore de Taylor Swift. Não me interpretem mal, são excelentes álbuns mas são emocionalmente desgastantes (ele é my tears ricochet, ele é seven, ele é august, ele é illicit affairs, ele é this is me trying, ele é ‘tis the damn season, ele é champagne problems, ele é marjorie…). Um álbum mais leve saber-me-á bem.
Este será também um trabalho mais focado na natureza – segundo Lorde, em momentos de “desgosto, luto, profundo amor ou confusão”, o mundo natural é o seu abrigo, é o seu sítio perfeito (não se limita à praia). O heterónimo dela neste ciclo será a personagem que ela descreveu na apresentação do álbum: uma mulher “sexy, brincalhona, selvagem e livre”, com múltiplos amantes, ligada à terra e ao passado, mas ao mesmo tempo moderna e de olhos no futuro.
Uma vez mais, nada disto é inédito ou particularmente original. Nos últimos anos estes movimentos de regresso à natureza têm estado na moda. Veja-se, lá está, folklore e evermore, por exemplo, bem como a estética cottage core, mesmo Petals For Armor até certo ponto. O heterónimo de Lorde que descrevi acima, aliás, lembra-me a Mulher Selvagem de Mulheres que Correm com os Lobos.
Tudo isto faz sentido como resposta ao mundo atual: cada vez mais tecnológico e, claro, com uma pandemia. Solar Power, aliás, fala mesmo em atirar o telemóvel para a água – e Lorde já veio avisar que não vai voltar para as redes sociais.
Como li algures – ironicamente na Internet – há dez anos vínhamos para as internetes para fugir ao mundo real. Agora fugimos para o mundo real para escapar às internetes.
Solar Power sai então a 20 de agosto – um tudo nada demasiado perto do fim do verão para o meu gosto, se é um álbum estival. Bem, eu este ano também não vou ter férias de verão, só posso desfrutar da época ao fim-de-semana, por isso…
Fica para o ano.
Estou a fazer por não elevar demasiado as minhas expectativas para este álbum. É muito difícil que Solar Power seja melhor que Melodrama ou Pure Heroine. Consta que esse terá sido um dos motivos para Ella ter demorado tanto tempo a cozinhar este trabalho. Eu pelo menos não levarei a mal se não conseguir atingir o mesmo nível estratosférico – parecendo que não, a miúda é humana!
Dito isto, continua a ser Lorde. Não baixo assim tanto a fasquia.
É possível que Ella lance outro single antes de 20 de agosto. Há rumores de que Stoned at the Nail Salon poderá sair nos próximos dias. Deveria ter esperado? Deveria ter escrito sobre as duas músicas no mesmo texto? Talvez, mas não me apeteceu ficar à espera: o blogue já estava parado há muito tempo. Além disso, aqui o estaminé faz nove anos hoje, queria assinalá-lo com um texto novo.
Logo vejo se escrevo sobre Stoned at the Nail Salon ou sobre qualquer outro single que venha a ser lançado antes do álbum. Em princípio não o farei: quero começar a trabalhar noutros projetos e escrever sobre outras coisas no próximo texto deste blogue. Posso desde já adiantar que este será um texto de Músicas Ao Calhas sobre uma personagem recorrente aqui no estaminé. Não quero ter pressa com este (já tenho stress que chegue noutras áreas da minha vida), mas não devo demorar muito.
Um brinde rápido a este blogue, um dos orgulhos da minha vida – e um agradecimento a todos os que o têm visitado. Encerro este texto com uma pequena playlist baseada em Solar Power – que poderá vir a crescer com o tempo. Agora que acabaram de ler, se tiverem possibilidades para isso, ide aproveitar o sol... mas não se esqueçam do protetor solar!