Músicas Ao Calhas - What Have You Done e Hand of Sorrow
Esta é a primeira entrada de Músicas Ao Calhas em mais de um ano. As faixas em questão - What Have You Done e Hand of Sorrow, dos Within Temptation - são as primeiras de uma pequena lista de canções sobre as quais pretendo escrever, mais cedo ou mais tarde.
What Have You Done e Hand of Sorrow fazem parte do álbum The Heart Of Everything, publicado em 2007, o quarto da carreira da banda holandesa Within Temptation. Este álbum marca o ponto alto da banda neste estilo musical, que haviam vindo a aperfeiçoar desde Mother Earth - como não estou familiarizada com os nomes "corretos", prefiro definir este estilo como, vá lá, gótico/medieval, em contraste com a sonoridade mais urbana em The Unforgiving. É um álbum que tem vindo a crescer na minha preferência nos últimos dois anos - The Silent Force costumava ser o meu preferido mas, agora, esta posição tem vindo a ser desafiada, tanto por The Heart of Everything como por Hydra. THOE tem mais variedade que The Silent Force, sem perder a coesão e, apesar de deixar cair muitos dos elementos celtas de que tanto gosto em TSF, tal como dei a entender antes, assemelha-se a uma versão melhorada do álbum de 2004. Algumas daquelas que considero as melhores canções dos Within Temptation - The Howling, Forgiven, The Truth Beneath the Rose - fazem parte deste CD.
"Wish that I had other choices than to harm the one I love"
What Have You Done foi o primeiro single deste álbum e uma das primeiras músicas que conheci da banda. Logo desde início, a canção mexeu comigo, sobretudo por causa da letra. What Have You Done conta a história de dois amantes que se tornam inimigos mortais, história essa que, das primeiras vezes que ouvi a música, me afligiu verdadeiramente. Para essa emotividade, contribuem as interpretações de ambos os cantores (mais sobre isso adiante). À semelhança do que acontece com a larga maioria das músicas dos Within Temptation, a letra aplica-se a muitas obras de ficção, incluindo a minha - mais em específico, o meu terceiro livro. Uma das primeiras de que me recordei, quando conheci What Have You Done, foi as Brumas de Avalon (mais uma vez), em específico um certo momento em O Prisioneiro da Árvore. Outro exemplo é uma trilogia que li recentemente - falarei melhor sobre ela adiante.
What Have You Done possui várias versões reduzidas. A faixa completa tem mais de cinco minutos de duração e, como toda a gente sabe, o ouvinte comum da rádio tem um tempo de atenção inferior a quatro minutos. Na minha opinião, só é possível apreciar devidamente a música ouvindo a versão completa. What Have You Done começa com um crescendo de orquestra, repetindo cada vez mais alto a sequência que se tornará a imagem de marca da faixa. Seguem-se os vocais suaves de Sharon antes do primeiro "What Have you Done, now" gritado por Keith Caputo, e de a música explodir.
Um dos momentos de que mais gosto em What Have You Done é da maneira como Keith canta o verso "I won't show mercy on you now". Outro ponto forte é a sequência de piano que se seguie a "It's over now, what have you done", antecedendo os primeiros dois refrões - um breve momento de acalmia, para absorver a música, antes de tornar a acelerar.
Há quem não goste da constante repetição de "what have you done" por parte de Keith, mas eu gosto: ajuda a manter o ritmo frenético, sobretudo os crescendos após os primeiros refrões.
Ao segundo refrão segue-se um novo abrandamento, uma sequência instrumental mais lenta, misteriosa, com vocais sussurrados, antes de a bateria e as guitarras regressarem, retomando o ritmo até à terceira estrofe. Aqui a canção ganha um tom diferente, de alguma esperança.
Em suma, o tratamento musical de What Have You Done, bem como as interpretações dos dois vocalistas, contribuem para a emotividade da canção. Não é de surpreender que esta me tenha perturbado das primeiras vezes que a ouvi.
Foi com o álbum The Heart of Everything que os Within Temptation entraram no mercado norte-americano. Tendo What Have You Done sido o primeiro single, este recebeu alguma crítica por se assemelhar a Bring Me to Life, dos Evanescence. É de facto possível encontra várias semelhanças, à vista desarmada, entre Bring Me to Life e What Have You Done - para mim, a mais óbvia (à parte dos dois vocalistas) é o início do terceiro verso de ambas as faixas. Mesmo eu tenho colocado ambas as faixas lado a lado nas minhas playlists ao longo de todos este anos, de forma inconsciente. Não me choca a ideia de que pelo menos algumas destas semelhanças sejam intencionais.
Outra música que acho semelhante a esta é Awake and Alive, dos Skillet.
No entanto, as comparações estabelecidas entre as bandas Evanescence e Within Temptation têm começado a irritar-me (apesar de eu mesma as ter feito). Tendo em conta o meu viés de quem está mais familiarizado com a discografia da banda holandesa, para mim os Evanescence são um one-hit-album-wonder, que, tanto quanto sei, nunca mais fizeram nada de interessante depois de Fallen. Além de que Sharon é, na minha opinião, muito melhor vocalista que Amy Lee. A voz de Sharon é versátil, atinge agudos impossíveis, enquanto Amy parece estar em constante sofrimento.
De qualquer forma, o problema deste estilo musical mais pesado é encontrarmos muitos puristas na Internet.
What Have You Done tem dois videoclipes. Um primeiro (mostrado acima), menos conhecido, e outro oficial. No primeiro, Keith desempenha o papel de um agente que persegue uma criminosa (Sharon), com quem tivera um relacionamento. Eu gosto deste vídeo, mas a banda não. Alegam que o vídeo dá pouca atenção aos membros da banda que não Sharon e que as cenas na selva são pouco verosímeis. Daí terem filmado um segundo. Este (abaixo)tem um tom mais sombrio, contando uma história de violência doméstica.
Em suma, considero What Have You Done um clássico. No entanto, também devo dizer que concordo quando dizem que o single não se encontra entre os melhores dos Within Temptation. Tenho, aliás, andado algo cansada da música nos últimos tempos.
"He surely would flee but the oath made him stay"
Hand of Sorrow possui algumas semelhanças com What Have You Done no que toca à história. Pelo menos era o que me parecia antes de me sentar e analisar melhor a canção, para escrever este texto.
Hand of Sorrow começa com uma sequência de notas de piano, que se tornam a imagem de marca da canção, antes de se juntarem as guitarras, a bateria e a orquestra. A produção musical nesta faixa é sólida, de resto. A música não é tão dramática e frenética como What Have You Done, mas cumpre o seu papel. Na verdade, o maior destaque de Hand of Sorrow é a sua letra.
Segundo o que descobri na Internet, a letra de Hand of Sorrow foi inspirada na Saga do Assassino, de Robin Hobb. Não conheço a obra, embora julgue ter visto o primeiro volume entre os livros do meu irmão. Segundo o que li, um dos temas da saga é o conflito entre lealdade, ambições, honra e os sacrifícios que estes implicam - e é precisamente sobre isso que a letra de Hand of Sorrow fala: a história de uma criança enjeitada que é criada para ser mercenária. Desde início, a história que eu envisionei era semelhante a What Have You Done: o protagonista tem uma amada mas, por causa do seu dever, não pode amá-la, deve mesmo considerá-la inimiga. No entanto, vendo melhor, a letra vai mais longe do que isso. Hand of Sorrow reflecte sobre o que é certo e o errado, se valores como a lealdade e a honra justificam o sacrifício de entes queridos (não necessariamente matá-los, como em What Have You Done), se a violência é aceitável como forma de evitar mais violência. O que, no fundo, são questões debatidas em muitas obras de ficção - não apenas nesta saga, também noutras sobre as quais já falei aqui no blogue, bem como nos meus livros.
Começo a perceber, de resto, que, se olharmos para elas a fundo, todas as obras de ficção decentes, em que haja um mínimo de conflito, acabam por abordar questões semelhantes, mais cedo ou mais tarde. É aí que reside a força de Hand of Sorrow.
E dos Within Temptation em si.
Os Within Temptation preparam-se para regressar a Portugal no próximo verão, para participar no festival metaleiro Vagos Open Air. Eu gostava de ir vê-los, mas é pouco provável que o faça. Para começar, o festival situa-se perto de Aveiro, ou seja, fica-me fora de mão. Além disso, não conheço mais ninguém que vá e não me agrada muito a ideia de ir sozinha a um festival de heavy metal (que não é o meu género preferido) para ir ver apenas uma banda. Eu fico com pena mas, em princípio, esta terá de ficar para a próxima.
Um dos motivos pelos quais deixei o blogue um pouco de lado no último mês foi o facto de o início deste ano ter sido a primeira altura desde princípios de 2013 - ou mesmo antes, se considerar a trilogia dos Green Day ¡Uno! ¡Dos! ¡Tré! - em que nenhum dos meus artistas preferidos lançou música nova para eu analisar no blogue. Os Sum 41 e os Simple Plan têm estado em estúdio - com estes últimos andando a ser simpáticos o suficiente para irem deixando pistas nas redes sociais - mas ainda teremos de esperar algum tempo antes de podermos ouvir qualquer coisa em concreto.
No entanto, no início deste mês, tive a surpresa agradável de descobrir que o single Fly, de Avril Lavigne, será lançado em breve - mais concretamente no dia 16. Não estava à espera de tê-lo tão cedo, só contava com ele em junho (depois de tanto drama e adiamento nos últimos anos, no que à Avril diz respeito, uma pessoa começa a arredondar por cima...). Não quero escrever muito mais sobre isso, estou a guardá-lo para a mais que previsível entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas. Apenas digo que estou com altas expectativas (no que toca a baladas, a Avril não costuma errar) e espero que estas se confirmem.
Dois dias antes, será lançado o novo produto da colaboração entre Steve Aoki e os Linkin Park, Darker than Blood. Tendo em conta que gosto imenso de A Light that Never Comes (mais do que a música verdadeiramente merece), estou curiosa em relação a esta nova música. Espero, sobretudo, que dê para eu montar um AMV, tal como fiz com a primeira colaboração da banda com Aoki.
Contem, então, com duas entradas - uma para cada música nova - na próxima semana. Vai saber bem ter material musical novo para analisar, isto vários meses depois da reedição de Reckless. À parte essa, tenho outras entradas planeadas para os próximos tempos, incluindo as Músicas Ao Calhas que referi no início. Continuem desse lado...