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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Vinte anos de Meteora e outras coisas que mexem com as emoções #2

Segunda parte a análise a Meteora. Podem ler a primeira parte aqui.

 

Single-Breaking_The_Habit_Cover.jpg

 

Breaking the Habit foi a primeira música dos Linkin Park que conheci, em 2004. Este foi um ano marcante para mim em múltiplos aspetos, alguns bons, alguns maus, que ajudaram a definir muitas das minhas paixões de hoje em dia. Foi quando descobri as MTVs desta vida e, com ela, inúmeros artistas e bandas, músicas em praticamente todos os géneros musicais. Isso na verdade daria azo a um texto por si só (talvez o escreva no próximo ano). 

 

Para este, o que interessa é que a MTV, durante os intervalos, costumava passar excertos dos vários videoclipes em rotação naquele momento – incluindo, por exemplo, My Happy Ending e Nobody’s Home de Avril Lavigne – e Breaking the Habit era um deles. Ainda assim, na altura a música não me cativou logo, só o faria anos mais tarde. 

 

Diz que Breaking the Habit foi uma letra que Mike tentava escrever havia cinco anos. Durante os trabalhos de Meteora, eles compuseram um instrumental de dez minutos, eletrónico, com violinos, com a ideia de usá-lo como interlúdio. Os colegas, no entanto, convenceram Mike a convertê-la numa canção como deve ser. Mike voltou a pegar na ideia antiga e conseguiu concluí-la em duas horas. 

 

Mike refere muitas vezes Breaking the Habit como exemplo quando as pessoas parecem convencidas de que os Linkin Park só fazem música pesada e assim se devem manter e/ou quando as pessoas – incluindo os próprios colegas – acusam Meteora de ser Hybrid Theory parte 2.

 

– Breaking the Habit não tem guitarras – costuma dizer ele – não tem o Chester aos gritos, tem violinos, é uma música muito eletrónica. Nunca se encaixaria em Hybrid Theory. Estão a ver? Meteora é completamente diferente de Hybrid Theory!

 

Claro que aqui estou a exagerar para efeito cómico, mas Mike não está errado. Breaking the Habit é quiçá o maior exemplo da expansão do som dos Linkin Park em Meteora. E estou certa de que ninguém imagina Meteora (ou os próprios Linkin Park) sem Breaking the Habit. É demasiado icónica. 

 

 

Uma palavra para a demo incluída em Meteora20, cantada por Mike. A letra é ligeiramente diferente da versão do álbum, mas não é disso que quero falar – é da vozinha do Mike. Sei que isto não foi de todo trabalhado para ser editado como deve ser. É apenas Mike cantando para “um microfone mau”, sem efeitos, sem sequer se esforçar por cantar bem – ele não é nenhum Chester, mas todos sabemos que o Mike consegue cantar melhor do que aquilo. É apenas um rascunho da melodia para servir de guia para Chester fazer aquilo que melhor fazia. O próprio Mike admitiu que se expôs ao embaraço ao incluir esta demo em Meteora20. 

 

Dito isto tudo, sabendo isto tudo… eu fartei-me de rir quando ouvi esta demo pela primeira vez. 

 

E de qualquer forma, como disseram no YouTube, é assim que soamos quando nós, simples mortais, tentamos cantar como Chester. Ainda assim, eu acho que consigo cantar um bocadinho melhor do que aquilo, mas pronto. 

 

Durante muito tempo pensou-se que a letra de Breaking the Habit era sobre toxicodependência – talvez inspirada por Chester ou, como cheguei a ler num sítio qualquer, por um amigo ou conhecido de Mike. Mike desmentiu essa teoria há pouco tempo. Nesta fase do campeonato – Hybrid Theory e Meteora – as letras dos Linkin Park eram mais abstratas, focando-se menos em situações específicas e mais numa determinada emoção. Mike chegou a explicar que às vezes, quando ele e Chester escreviam letras em conjunto, cada um deles pensava em cenários diferentes. 

 

E, conforme referem neste artigo, o facto de as letras se focarem mais nas emoções em si em vez de cenários mais concretos poderá ter sido fulcral para Meteora e Hybrid Theory terem repercutido tanto entre adolescentes. Gente ainda sem a inteligência emocional para compreenderem o que estavam a sentir e porquê.

 

 

E a letra de Breaking Bad é particularmente sombria, mesmo quando comparada com o resto de Meteora. O narrador está em sofrimento profundo, em guerra consigo mesmo, possivelmente sem que os outros em volta reparem. 

 

O verso “You all assume I’m safe here in my room” chega a ser assustador. Sobretudo se o imaginarmos num contexto de família: pais que não sabem o que se passa quando os filhos estão sozinhos. Podem estar a consumir drogas, podem estar a ser abusados por pessoas próximas ou online, podem estar a auto-mutilar-se ou, pura e simplesmente, a sofrer com depressão, ansiedade ou outra doença mental. O próprio Chester costumava dizer que a sua mente era um lugar hostil, que ele não devia explorar sozinho. 

 

Na mesma linha, em “Clutching my cure”, suspeito que a cura poderá não ser bem uma cura. Pelo contrário, poderá ser um “coping mechanism” pouco saudável.

 

O narrador percebe, no entanto, que algo tem de mudar, que tem de terminar este ciclo – de uma boa forma ou de uma má forma (não me peçam para explicar a má forma). Os versos “I’ll never fight again and this is how it ends” podem ser interpretados como apontando para a segunda opção.

 

Eu no entanto prefiro acreditar que, bem, o hábito foi quebrado da melhor forma: o narrador abandonou a situação tóxica, largou as más práticas e procurou ajuda. Prefiro acreditar que Breaking the Habit deixa uma mensagem de esperança, semelhante a Somewhere I Belong, apesar do tom sombrio. 

 

Regressando à génese da música, como vimos acima, Mike escreveu a letra. Ao lê-la, o Chester reviu-se de tal maneira que se desfez em lágrimas. Durante as gravações, tinha de interromper a cada dois versos para chorar. 

 

 

Depois disto, Breaking the Habit passou a ser a música preferida do Chester, passou a ser a música do Chester, a história dele – mesmo que tenha sido o Mike a escrevê-la sobre outra coisa qualquer. Depois de ter sabido desta, arrependi-me de pelo menos parte das críticas que teci a One More Light por o Mike ter escrito letras do ponto de vista do Chester. Penso ter ouvido o Chester dizer há uma data de anos, já não me lembro onde, que quando cantava Breaking the Habit ao vivo sentia tudo de novo – dá para ver em vídeos como este. Breaking the Habit tornou-se tão a música do Chester que ninguém a cantou no concerto de homenagem no. Hollywood Bowl e o Mike nunca a tocou na digressão Post Traumatic. 

 

Falta falar sobre o videoclipe. Nunca liguei muito aos videoclipes dos Linkin Park (aqui entre nós, os AMVs que montei ficaram melhores que os respetivos vídeos oficiais), mas deste tenho de falar. Um vídeo animado, realizado por Joe Hahn em colaboração com estúdios de animação japoneses. 

 

Linkin Park e anime sempre casaram bem, em parte graças a este vídeo. Uma grande parte do impacto da música dos Linkin Park refletiu-se nos AMVs, começando nos primórdios do YouTube (ou mesmo antes?). Eu mesma contribuí para isso, ainda que vim vários anos de atraso. Mike revelou, aliás, que queria lançar um AMV para Lost, precisamente para prestar homenagem a isso. Só que is estúdios de animação japonesa são muito ciosos do seu material e não deixaram. 

 

É uma grande pena. 

 

Regressando ao vídeo de Breaking the Habit, na preparação desta análise, vi-o por completo pela primeira vez em vários anos e… au! Começa logo com uma cena de morte por suicídio: de Chester. 

 

Acho estranho isto não ter sido mais comentado ao longo dos últimos anos, que eu tenha visto pelo menos. Mas, sinceramente, foi pelo melhor. 

 

 

De resto, o vídeo mostra várias personagens em situações más, em sofrimento. A partir de certa altura, no entanto, as cenas começam a rebobinar. Da maneira como vejo, é a determinação do elenco em abandonar os maus hábitos que faz com que as situações voltem para trás, que faz com que os finais das histórias mudem.

 

E eu daria tudo para que o mesmo tivesse acontecido na vida real.

 

Chegámos finalmente a Numb – um caso óbvio de “last but not least”, provavelmente a música mais conhecida dos Linkin Park, a par de In the End. As notas de teclado na introdução são absolutamente icónicas, daquelas que toda a gente conhece. Quando era mais nova, costumava erguer a minha mão fechada durante a introdução, para a abrir quando entravam as guitarras elétricas – como que libertando a explosão (também fazia isso com Pushing Me Away). 

 

Também gosto imenso do piano nesta música.

 

Pode-se argumentar que Numb funciona como um resumo, uma conclusão do conceito de Meteora, pelo menos em termos de letra. Para além de falar de apatia e de cansaço, é a que melhor explora a ideia de supressão e mesmo mudança da própria identidade para agradar a outra pessoa. Uma vez mais, esta situação poderia aplicar-se a relações românticas – sobretudo se uma das partes se apaixonou por uma ideia que tinha da pessoa e não pela pessoa em si. 

 

Mas Numb marcou a adolescência de inúmeros por um motivo – mais do que qualquer outra explorando temas assim em Meteora, pois foi single. Toda a gente se identifica com Numb a certa altura da sua vida. Mesmo nas famílias mais saudáveis, todos têm uma ideia, uma expetativa de quem os filhos são, de quem se vão tornar. Procuram empurrá-los numa determinada direção, muitas vezes com boas intenções, até. O próprio Mike escreveria vários anos mais tarde, em Invisible, sob essa perspetiva.

 

 

No entanto, quase sempre (para não dizer sempre) os filhos contrariam esses planos. Faz parte do crescimento: a partir de certa altura, todos nós temos de nos libertar das expectativas dos demais, cometer os nossos próprios erros, traçar o nosso próprio caminho, abraçarmos quem realmente somos. Daí Numb ter uma mensagem tão universal (que eu sempre achei semelhante à de Nobody’s Fool, de Avril Lavigne). 

 

Eu adoro Numb. Foi uma das primeiras a cativar-me em 2007, no tal mp3 cheio de música dos Linkin Park. Mas, tenho de confessar: gosto um bocadinho mais de Numb/Encore.

 

Estava com receio de que o Collision Course fosse esquecido no meio do hype em torno de Meteora20. Afinal de contas, o vigésimo aniversário é só em finais do próximo ano. Felizmente não foi o caso – têm falado dele nalguns entrevistas.

 

Não que alguma vez tenha dado muita rotação a Collision Course – devia fazê-lo. No entanto, Numb/Encore tem elevado valor nostálgico para mim. Foi a segunda canção dos Linkin Park que conheci e a primeira a cativar-me. Fartava-se de ver o videoclipe na MTV e afins – há certas cenas do vídeo que ficaram logo gravadas na minha memória (espero que metam o vídeo em HD em breve, como fizeram com os de Meteora). Também me lembro de a ouvir na rádio da minha escola secundária.

 

Uma das partes que mais gosto é do acompanhamento, que reutiliza o melhor da versão original: a sequência no teclado e o piano. Gosto das partes do Jay Z quanto baste – nunca liguei muito à letra de Encore. É o típico braggadocio do rap que nunca foi a minha praia, mas que aqui tolero. 

 

 

Tirando isso, creio que o principal motivo pelo qual adoro Numb/Encore é nostalgia – pelo menos noventa por cento. Não consigo explicar, só sei que o meu sangue se enche de serotonina ao ouvir esta música. 

 

Nas últimas digressões, os Linkin Park ganharam o hábito de incluir o refrão de Numb/Encore no início e no fim das apresentações de Numb – alterando um dos versos para “Cooking raw with the LA boys”. Fizeram-no no Rock in Rio 2014, por exemplo (embora tenham mantido o "Brooklyn"), e na versão ao vivo de Numb imortalizada no One More Light Live. Gosto da piscadela de olho. 

 

Os Hybrid Theory, aliás, fizeram o mesmo no Pavilhão Atlântico. Eles por sua vez cantaram “Cooking raw with the HT boys”, o que faz sentido. Mas, aqui entre nós, tenho uma certa pena que não tenham cantado “Cooking raw with the Lagos boys” (eu explico mais tarde), mas pronto.

 

Não posso falar de Numb/Encore sem falar de Numb/Encore/Yesterday (títulos alternativos são Yesternumb ou Yesternumbencore). Como vimos acima, os Grammys ignoraram criminalmente Meteora, mas ao menos Numb/Encore foi nomeada para Melhor Dueto cantado ou em rap (não sei se é essa a tradução) e ganhou. Jay Z e os Linkin Park foram convidados para atuar na cerimónia dos Grammys, mas não lhes apeteceu cantar Numb/Encore outra vez – já o tinham feito no Roxy Theatre e no Live 8 – quiseram fazer algo diferente. Como Sir Paul McCartney ia estar presente na cerimónia, Mike e Brad Delson (guitarrista) resolveram fazer qualquer coisa com uma música dos Beatles. Yesterday encaixava-se bem num mash-up com Numb/Encore e Sir Paul aceitou cantá-la com Jay Z e os Linkin Park.

 

 

Ficou uma versão muito gira. Não existe áudio oficial, mas estava incluída no tal mp3 do meu irmão – só anos mais tarde é que me apercebi que Sir Paul também cantava. Na altura estava a ter aulas de guitarra e um dia o meu professor comentou comigo que Yesterday era das canções com mais versões no mundo. Eu falei-lhe desta, mas tive uma branca e não me lembrava do nome do Jay Z – só me recordava que era o namorado da Beyoncé (acho que ainda não estavam casados). 

 

Fica esta historieta pessoal.

 

Este mash-up também tem um valor especial porque consta que foi um dos momentos mais felizes da vida de Chester: cantar ao lado de Sir Paul, um dos seus heróis. Fico feliz por ele. 

 

Passemos agora às B-sides presenteadas em Meteora20. Essencialmente são cinco: Lost, Fighting Myself, More the Victim, Massive e Healing Foot. As outras que não são versões beta de outras músicas estão incompletas – ou então são Sold My Soul to Your Mama. Das cinco que referi acima, a única de que não gosto muito é Healing Foot. Adoro todas as outras, cada uma pelos seus próprios motivos, conforme explicarei de seguida.

 

Começando por Lost, claro. Este foi o primeiro single de Meteora20, lançado em meados de fevereiro. Como Mike e os outros já se fartaram de contar, Lost esteve muito perto de entrar no alinhamento final de Meteora. No entanto, era demasiado parecida com Numb (mais sobre isso adiante) e decidiram deixá-la de fora. Mike e os outros hoje garantem que sempre gostaram da música e que esperavam lança-la como B-side ou assim, mas não calhou. Quando avançaram para Minutes to Midnight, decidiram não olhar para trás, fazer tábua rasa dos seus métodos e esqueceram-se de Lost.

 

 

Ainda assim, partes do instrumental de Lost já eram conhecidas dos fãs mais hardcore da banda. Dá para ver no vídeo acima Chester cantando sobre este instrumental no Making of Meteora – Mike já confirmou que foi uma fase do desenvolvimento de Lost. O instrumental também aparece num par de vídeos antigos da LPTV.

 

Eu simpatizo com estes fãs ​​– e com aqueles, como este, que andavam há quase vinte anos à espera de Healing Foot (mais sobre isso já a seguir). Não tenho e nunca terei este nível de hardcore pelos Linkin Park, mas estive perto disso há uns quinze anos, mais coisa menos coisa, com Avril Lavigne. Ainda hoje tenho esperança de ouvir Daydream por completo na voz dela e de ouvir vocais neste instrumental espetacular (mesmo que até nem seja uma música dela).

 

Regressando a Lost, esta foi encontrada numa hard drive qualquer, quando os membros da banda e os seus colaboradores andavam à procura de material para Meteora20, praticamente pronta para ser editada.

 

Percebo porque é que Lost ficou de fora. Tem de facto muitas semelhanças com Numb em termos de estrutura: uma sequência de notas de teclado e/ou eletrónicas na abertura que servem de imagem de marca, guitarras elétricas juntando-se a elas (convidando-me a fazer o gesto que descrevi acima, de libertar a explosão), Chester cantando-a toda, Mike dizendo algumas frases no pré-refrão.

 

A voz de Chester soa tão bonita que dói. Como Brad gosta muito de assinalar, suave nas estâncias, poderosa e agressiva no refrão. Não admira que tenha deixado uma data de homens adultos a chorar no YouTube.

 

 

Confesso que gosto um bocadinho mais da mistura de 2002. É um pouco menos eletrónica, os instrumentos ouvem-se melhor. E fez com que me apercebesse que Lost também tem semelhanças com In the End, sobretudo na terceira parte.

 

A letra fala de alguém que está preso ao passado, a um passado doloroso. O narrador não consegue libertar-se das más recordações, sobretudo quando está sozinho, sem nada que o distraia da sua própria cabeça. É um tema muito Linkin Park, um tema muito Chester. Um cenário que se encaixa no “You all assume I’m safe here in my room” de Breaking the Habit, feridas que não saram, dor difícil de controlar, como em Crawling, uma mente que é um lugar hostil, como em Heavy e Papercut.

 

Lost está a ser o maior sucesso dos Linkin Park em anos, deixou, como referido acima, muita gente emocionada ao ouvir Chester de novo. Por um lado fico confusa – não me lembro de uma reação assim quando saiu Cross Off em 2019 ou quando saíram as faixas inéditas de Hybrid Theory no vigésimo aniversário, como She Couldn’t e Pictureboard.

 

Bem, não vou dizer que não compreenda. Cross Off não é uma música de Linkin Park (mas é excelente, oiçam-na). Por sua vez, She Couldn’t e Pictureboard têm qualidade de demos. Em contraste, Lost estava pronta para ser editada e… é fantástica.

 

Por isso sim, concordo com a opinião popular. Não lamento que não tenha sido editada com o resto da Meteora original, sobretudo se o preço fosse deixar Numb de fora – inconcebível! E, de certa forma, Deus escreveu direito por linhas tortas pois Lost está a ter o momento que merece, mesmo que com vinte anos de atraso. Dificilmente o teria se Lost tivesse sido lançada apenas como B-side.

 

Fighting Myself foi o segundo avanço de Meteora20, lançado algumas semanas depois de Lost. De início, pensei que era outra que estivera perto de alinhar na edição-padrão de Meteora. Pelos vistos não foi o caso. Consta que, durante muito tempo, Mike pensava que só existia uma versão com o seu rap, sem a voz de Chester. Mas depois alguém encontrou os ficheiros com os vocais e conseguiram fazer a mistura. Mike disse que, ainda assim, Fighting Myself não está bem no ponto. Se fosse para editá-la como deve ser em Meteora, ainda passaria por uma última ronda de produção.

 

 

Mike percebe melhor disto do que eu, mas a mim a música parece-me acabada. Enfim.

 

Gosto muito de Fighting Myself. É clássico Linkin Park: acompanhamento rock (com um sample lindíssimo da voz de Mike), rap e melodia de Chester. Gosto do ritmo do rap, combina bem com o instrumental, sobretudo com a bateria. 

 

Um dos meus momentos preferidos ocorre depois do segundo refrão, com a bateria e os acordes de guitarra. Recorda-me a terceira parte de Papercut, durante o “The face inside is right beneath the skin”.

 

O tema de Fighting Myself é muito parecido com o de Lost: sofrimento interior, esforço por ocultar esses sentimentos dos demais (com fracos resultados), incapacidade em deixar o passado no passado. Na terceira parte da música, Chester repete algumas vezes a expressão “inside of me”, o que me recorda a música com o mesmo nome de Dead By Sunrise

 

Destas cinco inéditas, na minha opinião, More the Victim é a mais interessante em termos de letra. Fala sobre pessoas que, lá está, gostam de se fazer de coitadinhas, que entram em competição para decidir quem tem a vida mais difícil. Conheço pessoas assim – aliás, acho que é uma coisa muito portuguesa. 

 

E nunca gostei. Concordo que existem pessoas com pior sorte na vida que outras e existem "problemas de primeiro mundo". Mas ninguém tem exclusividade sobre o sofrimento. Há quem se afogue em três metros de profundidade, há quem se afogue em meio metro. Ouvir alguém desabafar e responder com "Ah, isso não é nada comparado com os meus problemas" é de uma profunda falta de empatia – talvez mesmo uma variante da ditadura do pensamento positivo. Problemas são problemas, isto não é um concurso. 

 

 

Consta que a letra de More the Victim foi inspirada por um conhecido de Chester. Alguém que tentava pintar-se como menos afortunado que qualquer um. 

 

Se me permitem o humor negro, este tipo tentou mesmo competir com Chester Bennington por quem tinha uma vida mais difícil? 

 

Parece que o Chester estava verdadeiramente irritado enquanto contava a história ao Mike. Este praticamente empurrou-o para dentro da cabine de gravação, para que o Chester pudesse canalizar a sua raiva para a música. 

 

Em termos de sonoridade, esta é outra que é clássico Linkin Park: rap de Mike, melodia de Chester. Gosto imenso do instrumental – das notas de abertura, dos violinos e sobretudo da bateria. E adoro o refrão, adoro a interpretação de Chester. Dá-me vontade de dar headbangs, de cantar em altos berros. 

 

Aparentemente, os Linkin Park acharam que era demasiado pop para Meteora (ou talvez se estivessem a referir a Cumulus, uma versão beta de More the Victim que de facto é mais pop que o produto final). Talvez tivessem razão, mas fico com pena que não a tivessem aproveitado para Minutes to Midnight. Eu diria que é a minha preferida das B-sides, mas é difícil escolher. 

 

Existe uma história engraçada por detrás do título Healing Foot. Durante um concerto, Brad irritou-se com um problema técnico qualquer, pontapeou uma porta e partiu o pé (homens…). O evento inspirou o título para uma das demos de Meteora, Broken Foot, e mais tarde, uma outra, Healing Foot. 

 

 

É algo que eles fazem: usar palavras ao calhas como nomes provisórios para demos e ficheiros de música. Por vezes esses títulos sobrevivem até ao produto final, como por exemplo Faint e Figure.09. 

 

Broken Foot também foi editada em Meteora20. Infelizmente não parece ter grandes semelhanças com Healing Foot. Seria engraçado se Broken Foot fosse uma versão beta de Healing Foot. 

 

Como referi acima, esta é outra música de que os fãs estavam à espera há quase vinte anos. Desta feita, foi por causa deste excerto dos Making Of Meteora, do baterista Rob Bourdon tocando bateria sobre o instrumental de Healing Foot. 

 

Esta música abre com uma sequência de notas agudas de piano que lhe servem de imagem de marca, antes de os outros instrumentos se juntarem – como Numb ou Lost. Há aqui uma certa incongruência entre o piano, que soa quase a uma canção de embalar, o resto do acompanhamento mais pesado e a voz agressiva de Chester. Eu gosto.

 

Tirando isso, como disse acima, é a de que gosto menos das inéditas de Meteora. Não me diz muito.

 

A última música sobre a qual quero falar é Massive. Não que tenha muito a dizer sobre a sua letra e instrumental – ambos são OK. Para mim Massive é especial por ser uma nova prova de que Mike começou a cantar antes de Minutes to Midnight. Hybrid Theory teve So Far Away, de que ainda hoje gosto bastante, Meteora tem Massive. 

 

 

É possível que Mike tenha gravado estes vocais apenas para servirem de guia para Chester mas, sinceramente? Não sei se soaria melhor na voz de Chester – não teria o mesmo carácter, pelo menos. Gosto imenso da interpretação de Mike e não sou a única – são vocais naturais, sem efeitos. O problema é que a mistura não está muito bem feita – os instrumentos por vezes sobrepõem-se à voz de Mike. 

 

O pior é que aquele totó nem sequer se lembrava de ter cantado em Massive. Andava a estranhar os tweets que recebeu na altura em que Meteora20. E não concorda com os elogios (A sério, Shinoda…?). 

 

Se quisessem editar Massive em Meteora ou noutro álbum qualquer, Mike teria de ser o principal vocalista. Chester ficaria nos vocais de apoio, talvez no refrão, harmonizando com Mike, como tanto gosto. 

 

Como disse acima, existe mais material extra em Meteora20, mas sobre o qual não tenho muito a dizer. Os instrumentais em geral são muito fixes e vou mantê-los em rotação.

 

E é isto Meteora, essencialmente. Continuo a preferir Hybrid Theory e Living Things por uma quesão de sentimentalismo, mas consigo ver porque é o preferido de muitos. Além disso – no que toca à edição-padrão, claro – durante muito tempo liguei mais à sonoridade das músicas do que às letras (tal como já tinha acontecido com Hybrid Theory). Escrever esta análise permitiu-me dar a devida atenção a essa faceta e compreender ainda melhor porque é que Meteora ressoou com tantos de nós, sobretudo enquanto adolescentes. 

 

Ao mesmo tempo, continua a ter muitas semelhanças com Hybrid Theory. Compreendo o motivo pelo qual os Linkin Park sentiram necessidade de fazer tábua rasa para Minutes to Midnight – mesmo que nem esse álbum nem os posteriores tenham tido a aclamação que os dois primeiros tiveram. Eu pelo menos acho que veio muita coisa boa depois de Meteora… mas vou guardar essa conversa para textos futuros.

 

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Já que falo disso, em princípio, o próximo álbum dos Linkin Park sobre o qual escreverei será A Thousand Suns. No ano passado, dei-lhe a oportunidade que lhe devia há muito tempo e não me arrependi. 

 

Por outro lado, fi-lo no início da invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Ouvir A Thousand Suns numa altura em que se temia que os russos recorressem a armas nucleares foi… desagradável.

 

Estou a pensar escrever essa análise em 2025, a propósito do seu décimo-quinto aniversário. Depois, em 2027, lá escreverei sobre Minutes to Midnight e já terei coberto todos os álbuns de estúdio dos Linkin Park. Isto é… se nada mudar entretanto.

 

Mais sobre isso na próxima parte deste texto. Sim, ainda não acabámos, ainda há muito sobre que falar. Devo avisar, algumas das coisas serão pesadas. 

 

Em todo o caso, obrigada pela vossa visita. Continuem por aí.

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